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1.1 O diretor de escola: breve histórico do cargo e políticas públicas nacionais

1.1.2 Escola de Gestores

Além do Progestão, política idealizada pelo CONSED, o Brasil contou com uma política nacional de formação de gestores que incluiu uma série de ações a partir de 2005, que constituíram o Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica. Gomes, Santos e Melo (2009) apontam que o MEC coordenou as seguintes iniciativas:

1) Curso de Extensão em Gestão Escolar (100h), implementado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) em 2005, com a parceria da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e das secretarias estaduais de educação; 2) Curso de Atualização em Gestão Escolar (180h), que estava previsto para ser implementado em 2008 pela SEB/MEC, em parceria com instituições federais de ensino superior (IFES), secretarias estaduais e municipais de educação; e 3) Curso de Pós-Graduação lato sensu em Gestão Escolar (400h), implementado a partir de 2006/2007, pela SEB/MEC, em parceria com IFES, secretarias estaduais e municipais de educação (GOMES, SANTOS e MELO, 2009, p. 264).

Sendo o projeto de maior relevância o item 3 destas ações (Curso de Pós- Graduação lato sensu em Gestão Escolar – 400h), muitas vezes o título do programa e o curso de especialização se confundem.

A justificativa para a criação do Programa parte da necessidade de formar gestores escolares que traduzam em suas posturas profissionais a “concepção do caráter público da educação e da busca de sua qualidade social, baseada nos princípios da gestão democrática, olhando a escola na perspectiva da inclusão social e da emancipação humana” (MEC, 2007, p. 04).

Uma das Universidades que oferece o curso de pós-graduação do Escola de Gestores é a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A partir dos documentos disponíveis no sítio desta instituição foram criados os quadros 4 e 5, contendo os objetivos e a estrutura curricular da especialização – ao quadro 4 foi acrescentado mais um objetivo (o de número 2) constante do Projeto do curso (MEC, 2007). Vale

salientar que os cursos oferecidos pelas diversas universidades federais não se diferenciam16 quanto às disciplinas (estrutura curricular) e formato, uma vez que sua idealização parte do MEC e a plataforma Moodle com os conteúdos é a mesma, sendo alterado apenas o seu layout.

QUADRO 4 - Objetivos do curso de Pós-graduação Escola de Gestores Ordem Objetivos

1. Formar, em nível de pós-graduação lato sensu, especialistas em Gestão Escolar para atuarem nas escolas públicas de Educação Básica do Estado de Minas Gerais, visando à ampliação de suas capacidades de análise e resolução de problemas.

2. Contribuir com a qualificação do gestor escolar na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação escolar básica com qualidade social.

3. Incentivar os gestores a refletir sobre a gestão democrática e a desenvolver práticas colegiadas de gestão no ambiente escolar que favoreçam a formação cidadã do estudante;

4. Propiciar aos gestores oportunidades de lidar com ferramentas tecnológicas que favorecem o trabalho coletivo e a transparência da gestão da escola;

5. Propiciar oportunidades aos gestores para o exercício de práticas inovadoras nos processos de planejamento e avaliação da gestão escolar;

6. Possibilitar aos gestores oportunidades para ampliação de capacidades para: analisar e resolver problemas à luz dos princípios que regem a gestão democrática, elaborar e desenvolver projetos e atividades na área de gestão com o suporte das novas tecnologias de informação e comunicação;

7. Desenvolver uma compreensão pedagógica de gestão democrática, situada nos contextos micro e macro da escola, superando as concepções fragmentadas do processo educacional e contemplando as dimensões da construção e formação como objeto do trabalho pedagógico;

8. Estimular o desenvolvimento de práticas de gestão democrática e de organização do trabalho pedagógico que contribuam para uma aprendizagem efetiva dos alunos, de modo a incidir, progressivamente, na melhoria do desempenho escolar.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em UFOP (2016b) e MEC (2007).

Os grifos adicionados ao texto dos objetivos indicam que o curso visa à mudança de paradigmas relacionada ao conceito de gestão (a democrática) preconizada na Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), a partir do inciso VIII do artigo 3º do título II - dos Princípios e Fins da Educação Nacional. Para Gomes, Santos e Melo (2009, p. 265), “a gestão democrática, o direito à educação e a qualidade social da educação são consideradas, do ponto de

16 Foram comparados nesta pesquisa, a partir dos sítios das respectivas Universidades, as matrizes

curriculares e os objetivos dos cursos de especialização do Programa Escola de Gestores da UFAM, UFOP e UFMG. Além destes, foi pesquisado o Projeto do Curso de especialização em gestão escolar (lato sensu) (MEC, 2007) a partir do qual os cursos das IFES são estruturados.

vista do Programa Nacional Escola de Gestores [...], os princípios referenciais da política de gestão escolar”. Portanto, o curso está construído sobre o tripé: O direito à educação e a função social da educação básica; Políticas de educação e a gestão democrática da escola; e Projeto Político-Pedagógico e Práticas Democráticas na Gestão Escolar (UFOP, 2016b).

Trazendo a discussão para a dimensão administrativa, haja vista que o foco desta pesquisa será detectar as principais dificuldades administrativas da gestão de escola de educação básica, vê-se que não há preocupação direta com uma formação neste âmbito da gestão, embora haja no currículo disciplinas que tratam do uso de novas tecnologias em função da gestão, como se pode depreender do quadro de número 5:

QUADRO 5 - Estrutura Curricular do Curso de Pós-graduação em gestão escolar do Programa Escola de Gestores

Bloco Disciplianas/Salas

Ambiente Temáticas/atividades do bloco

I Introdução ao

Ambiente Moodle e ao Curso

- II Fundamentos do

Direito a Educação a) Direito à Educação: fundamentos históricos e filosóficos; b) Conhecimento, currículo e cultura escolar.

III Políticas e Gestão

Escolar a) Política educacional e gestão escolar; b) Financiamento da educação e a gestão escolar; c) Gestão democrática da educação escolar e sistemas de ensino.

IV Planejamento e Práticas da Gestão Escolar

a) Avaliação Institucional e da Aprendizagem; b) Trabalho Pedagógico e Cotidiano Escolar;

c) Telemática, Sistemas de Gestão e Ferramentas Tecnológicas.

V Tópicos Especiais a) Conselhos Escolares;

b) Qualidade da Educação Básica; c) Saúde na Escola.

VI Projeto

Vivencial/Disciplina Transversal

O trabalho do cursista nessa Sala Ambiente se desenvolverá desde o início do curso, articulando-se com as demais Salas Ambientes e culminará no Trabalho de Conclusão do Curso (TCC).

VII Oficinas Tecnológicas A Sala Ambiente Oficinas Tecnológicas consiste no suporte tecnológico e no desenvolvimento de aprendizagens relativas à utilização dos diversos recursos das Tecnologias da Informação e Comunicação no campo da gestão da educação.

Como se pode observar, o currículo do curso aqui discutido apresenta uma gama de conhecimentos ao gestor escolar, que pode gerar um/uma grande impacto/mudança na maneira como ele desenvolve suas atividades de direção, capacitando-o para gerir uma instituição de um campo educacional, que nas últimas décadas sofreu mudanças importantes, “sobretudo em relação aos marcos legais, à sistemática de financiamento, ao processo de gestão dos sistemas de ensino e à ampliação do acesso à escola” (MEC, 2007, p. 03).

O substrato conceitual não pode ser subjugado, pois é a partir deste que a visão do profissional que está à frente da instituição ganha novos contornos. As disciplinas do curso conceituam e contextualizam de acordo com as leis nacionais o trabalho do diretor de escola, além de apresentar possibilidades de ferramentas tecnológicas para o uso na própria administração institucional – apenas nesse sentido o viés administrativo é abordado.

Por serem outros os objetivos do Programa Escola de Gestores – principalmente a formação do gestor voltada para a gestão democrática, inclusão social e emancipação humana (MEC, 2007) –, vê-se que a abordagem da dimensão administrativa da gestão escolar no curso mantém certa superficialidade. Este quadro se agrava quando se avalia a disponibilidade de vagas para diretores da Rede Estadual de Minas Gerais. As tabelas 1 e 2 apresentam o número de vagas do programa em duas universidades federais, a saber, UFOP e UFMG.

Tabela 1: Cursistas do Escola de Gestores por edição e rede de ensino

2012 2013 2015

Número de vagas 432 438 449

Municipal 307 260 265

Rede estadual 73 171 184

Não declarado 52 7 0

Fonte: adaptada pelo autor a partir de dados encaminhados por e-mail pelo programa na UFOP, 2016.

Considerando todas as edições do programa na UFOP a quantidade de diretores da rede estadual participantes é em média 50% menor que a rede municipal. Na UFMG as duas primeiras edições nem tiveram vagas oferecidas para a rede estadual, como se pode observar na tabela 2:

Tabela 2 – Cursistas do Programa Escola de Gestores da UFMG por rede

2008 2010 2012 2014

Número de vagas 400 400 400 400

Municipal 338 364 333 237

Rede estadual Não oferecido Não oferecido 35 163

Não declarado 62 36 32 0

Fonte: adaptada pelo autor a partir de dados encaminhados por e-mail pelo programa na UFMG, 2017.

Mesmo com o aumento das vagas do curso de especialização do Escola de Gestores para a rede estadual na edição de 2014 na UFMG, ainda permanece predominante a oferta à rede municipal de ensino (quase 60% das vagas). É notória também a inexistência da edição de 2016 nesta universidade, já que novas turmas eram formadas a cada biênio.

A partir da análise da oferta de vagas e dos parâmetros curriculares do programa em tela é possível apontar para a insuficiência tanto dos conteúdos relacionados à dimensão administrativa da gestão de escola de educação básica quanto das vagas disponibilizadas para a rede estadual de educação de Minas Gerais.

A próxima seção trata da política pública do “Diretor Principal”, que não chegou a ser implementada nas redes de ensino, mas que trazia consigo uma proposta de formação para diretores de educação básica que se faz relevante no contexto construído neste trabalho.

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