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1.2 O Realismo metódico para fundamento da Ciência Filosófica

1.2.2 Elementos sistemáticos na Crítica da razão pura: a idealidade em

A Epistemologia trazida por Kant sob a idealização metodológica da situação do conhecimento (relação sujeito-objeto como assimétrica), em conformidade com a pressuposição dos juízos de conhecimento (apoiada no modelo das ciências), funda-se, de modo derivado, na consideração dos constituintes que movem à formação da consciência teórica ou faculdade do pensamento que, como dirá Türcke, “ao ser estabelecida como um hábito fixo (..) deixa esquecido o processo de sua gênese”116.

116 Como relata C. Türcke (O Nascimento mítico do Logos, p. 81-90) deve ser comparado nesse

sentido a perda representada pela necessidade, não satisfeita, das fontes da transformação do mito em Logos, em cuja gênese o ponto de vista teórico se mostra assentado no comportamento prático. Segundo relata Türcke, o episódio grego da Ilíada configura o estágio de passagem ou resgate da fonte da razão: Aquiles somente alcança o ponto de vista teórico após descobrir a maneira de disciplinar-se a si mesmo, dominando seus impulsos e afetos como o lugar de uma síntese intelectual, num esforço psico-físico no qual a consciência teórica, “sem destinar-se contra tais

impulsos, afetos, desejos” se realiza após “voltar os seus próprios impulsos, a sua própria energia contra si mesma”, compondo nisso a “estrutura básica da reflexão, revelada, autenticamente, pelo Aquiles homérico e, sucessivamente, escondida pela transformação do mito em logos”(p. 89).

Respectivo à gênese do ponto de vista teórico da razão, a identificação da faculdade do entendimento (Verstand) às necessidades analíticas do método das ciências, assenta o imperativo, mantido como pressuposto, de assentar a noção do sujeito cognoscente conforme o fundamento da natureza concebida como fisiológica. A questão parece aqui mover-se pelo paradoxo, pois, como assinalado por Heidegger (O que é uma Coisa?, p. 145), a primazia concedida por Kant ao elemento intuitivo deveria dar a entender, segundo ele, como a explicação para “que até o próprio

Kant, apesar do significado fundante do conhecimento, transfira à discussão sobre o pensamento o trabalho principal da análise do conhecimento”. Por intermédio dessa discussão deveria ser

entendido ao mesmo tempo a perda da primazia exclusiva do pensamento. Mas a caracterização da investigação da fundação categorial como obtida aqui para voltar-se à determinação da natureza compreendida exclusivamente segundo a concepção fisiológica (cfe. Prolegomena, § 23), aponta paradoxalmente à busca de fundamentar a essência do pensamento a partir, principalmente, do trabalho da análise do conhecimento, cuja importância é assegurada, entretanto, como assinala Heidegger no título de uma Seção do texto, pela “A Primazia aparente do pensar. O entendimento

puro relacionado com a intuição pura”(p. 143). Na consideração de P. Ricouer (O Conflito das Interpretações, p. 322), torna-se clara a bipartição da razão kantiana e o concomitante privilégio a

apenas uma das suas dimensões. Segundo ele, porque “reflexão não é intuição”, tornara-se necessário “distinguir a tarefa da reflexão de uma simples crítica do conhecimento. (..) [Pois] A

Na tendência da razão de se desenvolver embasada em pressupostos como faculdade do pensar se reafirma o pensamento teórico-especulativo, sob o reflexo da cisão fundada pelo conceito numênico, do ponto de vista do seu interesse especulativo (Vernunft)117,

do lado avesso da fundação dedutiva das categorias, igualmente de modo negativo.

À base da disjunção doutrinária idealista, o reconhecimento da dupla transcendentalidade da faculdade do pensamento, uma ligada às operações lógico-empíricas e outra às operações metafísicas evanescentes, o desenvolvimento especulativo da faculdade do pensamento (razão) depende da omissão da carência da tematização do incondicionado, a fim de que a abordagem crítica assente o compromisso de, enquanto vinculada a pressupostos empíricos, espelhar-se na abordagem realista (dogmática) do conhecimento, não de fora das

limitação fundamental de uma filosofia crítica reside no seu cuidado exclusivo para com a epistemologia. [Aqui] A reflexão é reduzida a uma única dimensão: as únicas operações canônicas do pensamento são aquelas que fundamentam a objetividade das nossas representações. Esta prioridade dada a epistemologia explica porque é que, em Kant, apesar das aparências, a filosofia prática é subordinada à filosofia teórica: a segunda crítica, em Kant, tira de fato todas as suas estruturas à primeira. Uma única questão regula a filosofia crítica: o que é a priori e o que é que é empírico no conhecimento? Esta distinção é a chave da teoria da objetividade. Ela é pura e simplesmente transposta para a segunda Crítica; a objetividade das máximas da vontade repousa sobre a distinção entre a validade do dever, que é a priori, e o conteúdo dos desejos empíricos”. Assim, complementa Ricouer: “é contra esta redução da reflexão a uma simples crítica que eu digo, com Fichte (..), que a reflexão é menos uma justificação da ciência e do dever, do que uma reapropriação do nosso esforço para existir; a epistemologia é apenas uma parte desta tarefa mais vasta: nós temos de recuperar o ato de existir, a posição do si em toda a espessura de suas obras”.

117 Na medida em que o primeiro exercício da razão se manifesta como crítico, o texto da Crítica da razão pura justifica a distinção a priori entre uso constitutivo e uso especulativo da razão pura,

o primeiro referido à Analítica e o segundo à Dialética transcendental, como momento de explicitação das condições gerais transcendentais da razão. Mas, por considerar suficiente na Analítica transcendental fazer uso da pressuposição, na Dialética transcendental, onde parece que explicitaria o surgimento da faculdade teórica do pensar, realiza a investigação da esfera da razão

abordagens lógico-empíricas, mas fora deste idealismo (transcendental118

no segundo sentido), pela auto-exclusão da sua autonomia em prol da fundamentação científica do conhecimento da experiência, pela legitimação emprestada119 do pressuposto do modelo da ciência

(Matemática e Física).

Essa pretensão transcendental da razão tem, todavia, de sustentar o reconhecimento da relação simétrica, mesmo que projetada pelas idéias da razão, no domínio hipotético120, como necessidade de afirmar pela faculdade do pensamento o domínio conceitual a priori especifico de cada (faculdade de) conhecimento.

A abordagem das condições do representar a priori121 no domínio do puro pensamento é o que surge, assim, quando parecia a Kant inquirir o desenvolvimento da constituição do Sistema da Filosofia. Disse:

(Vernunft) na qual é levado, propriamente, ao esquecimento a elucidação das condições da faculdade teórica da razão.

118 Aqui encobre-se uma outra nuance de sentido à palavra “transcendental” porque se nos é

concedido pensar o que está além do limite do conhecimento determinado, a admissão de exclusão deste limite como pertencente ao objeto de conhecimento designa uma inconseqüência do modelo de pensamento. Por isso tem de se visto o entendimento do fenômeno do conhecimento, a unificação do “objeto mais (+) seu limite”. Tal união caracteriza o que se chama aqui de fenômeno

amplo do conhecimento.

119 Apoiado e dependente, o modelo kantiano da razão filosófica, da esfera lógico-empírica da

ciência (dimensão realista), na legitimação do caráter a priori das formas puras espaço-temporais (elo da cadeia das pressuposições do apriorismo formal), surge e é estabelecido para a Filosofia o vínculo fundado para condicionante da relação de conhecimento existente como relação não- simétrica sujeito/objeto, a partir da estrutura da consciência (Ich denke) pensada como teórica.

120 Devido à manutenção do status hipotético da razão kantiana sustentado na faculdade do

pensamento por um princípio não tematizado, mas pressuposto, mantido como faculdade teórica, o elemento ontológico permanece imanente ao princípio especulativo sem receber, entretanto, um tratamento reflexivo do ponto de vista suprasensível transcendental.

121 Acerca do problema das fontes do conhecimento, Kant foi categórico no início da Crítica da razão pura (B 29).: “Parece-nos, pois, apenas necessário saber (..) que há dois troncos do conhecimento humano, porventura oriundos de uma raiz comum, mas para nós desconhecida, que são a sensibilidade e o entendimento”.

Acerca do método próprio de uma Filosofia transcendental, nada pode ser dito aqui, pois só nos ocupamos de uma crítica das condições da nossa faculdade, para saber se podemos construir o nosso edifício e até que altura, com o material que temos (os conceitos puros a priori), o podemos elevar122.

A faculdade de representação é o que está à frente aqui para assegurar na esfera do pensamento especulativo a referência do pensamento puro (conceito de coisa em geral) ao conteúdo empírico dos fenômenos123.

Diante dessa autonomia da critica124, a faculdade do pensamento deixa passar à frente, por intermédio do seu exercício de auto-crítica, um conceito meramente especulativo (coisa-em-geral), cuja justificação transcendental aparece como elemento de urgência no tema da faculdade do pensamento: a não problematização do interesse objetivo, constitutivo e efetivo da distinção entre princípios e conceitos sintéticos, face a esse conceito (coisa em geral) designa o contorno do desdobramento positivo125 que deveria rigorosamente se seguir da faculdade de

122 Kritik der reinen Vernunft, B 766 (grifo do autor).

123 No entanto, na medida em que “a matéria dos fenômenos pela qual nos são dadas coisas, no espaço e no tempo, apenas pode ser representada na percepção e, por conseguinte, a priori”,

destoa aqui, do fato de que o conceito, como “uma regra da síntese das percepções, que não são

intuições puras e, portanto, não se podem dar a priori”, enquanto sua síntese seja posta como

devendo se elevar só a posteriori à intuição que lhe corresponde, que deva resultar desse princípio apenas um princípio da síntese de intuições empíricas possíveis, para valer pura e simplesmente como conceito transcendental de algo.

124 À frente do pano de fundo, fundamentador dessa distinção, tem de ser visto, por um lado, a lógica da verdade (faculdade do entendimento como fundada a priori), e por outro, a pedra-de-

toque da verdade das regras (faculdade da razão como faculdade do pensamento a priori). No primeiro caso as categorias são expressas como condição de possibilidade do conhecimento puro; no segundo caso, a proposição transcendental torna possível, originariamente, a unidade sintética do conhecimento empírico (Kritik der reine Vernunft B 743).

125 Enquanto domínio das Idéias da razão, a consideração positiva do uso dos conceitos

representação a priori a partir da constatação da existência das relações puras do pensar126.

Essa faculdade de representação reitera aqui, de modo redundante, apenas a justificação da capacidade prévia do exercício de critica da faculdade transcendental. Kant ensaia, todavia, a ida ao encontro da faculdade fundamentadora das puras relações, a partir da investigação da idéia de uma força fundamental, como “o problema de uma representação sistemática da multiplicidade de forças”, concernente à tentativa (hipótese) de estabelecer o progresso metódico127 do

conhecimento, como um princípio lógico da razão. Disse Kant:

partir do ponto de vista determinante, senão apenas do ponto de vista regulativo, subjetivamente necessário.

126 A doutrina do Idealismo transcendental, considerada desde o ângulo de uma faculdade

transcendental no exercício de sua auto-crítica, concede estofo para que possa ser pensada a existência simultânea do conhecimento sintético a priori (do conceito que representa a priori o conteúdo empírico dos fenômenos), e das proposições sintéticas (contrapostas ao objeto do conceito acima, referidas a coisas em geral cuja intuição não pode ser dada a priori), extraindo o sentido de serem proposições sintéticas transcendentais disso, que elas somente podem ser dadas “segundo conceitos a priori”(entendimento ou faculdade de pensar a priori), pela qual deve ser procurada empiricamente a unidade sintética daquilo “que não pode ser representado

intuitivamente a priori (das percepções)”. Assim, é de acordo com essas proposições sintéticas

que a experiência – a fundamentação científica do conhecimento (juízos sintéticos a priori) da experiência – é tornada possível. Se, de um lado, o conhecimento sintético a priori do conceito que representa a priori o conteúdo empírico dos fenômenos fornece a simples regra da síntese daquilo que pode dar a percepção a posteriori, de outro lado, as proposições sintéticas contêm a regra para procurar empiricamente a unidade sintética do que não pode ser representado intuitivamente a

priori.

127 Kritik der reinen Vernunft, Ak 351. Contrariamente à omissão do debate das faculdade devido à

pressuposição do apriorismo formal na Primeira Crítica, na Crítica da faculdade do juízo (Kritik der Urteiskraft, Ak XXIII (nota)), Kant afirma: “Geralmente só ficamos conhecendo as nossas

faculdades pelo fato de que as experimentamos. Essa ilusão dos desejos vazios é por isso somente a conseqüência de uma disposição benfazeja na nossa natureza”. No sentido de que a própria

necessidade subjetiva da razão não deve ser encarada, em geral, como nociva à razão teórica, para Kant é impossível alienar pura e simplesmente a particular capacidade transcendental do juízo. Diz ele: “O conceito das ligações segundo fins e o conceito das formas da natureza segundo fins é,

pois, pelo menos, um princípio a mais para submeter os fenômenos da natureza a regras”, ou seja,

lá “onde as leis da causalidade segundo o mero mecanismo da natureza não chegam”. Em continuação, pergunta: e se não fosse feito esse uso finalistico da faculdade de juízo? Restaria então, forçosamente, segundo ele, fazer uso da faculdade buscando que a natureza fosse

Entre as diversas espécies de unidade segundo conceitos do entendimento, conta-se também a unidade da causalidade de uma substância, a que se denomina força128. Os diferentes fenômenos

antropológico-teleológica, diz Kant, o motivo pelo qual “foi colocado na nossa natureza o pendor

para a apetição vazia conscientemente assumido” parece ter a ver com a descoberta da

possibilidade das faculdades, omitida na dedução transcendental. Kant conclui, asserindo: “Ao que

parece, se nós não nos determinássemos a aplicar as nossas faculdades antes de nos termos certificado da suficiência da nossa capacidade para a produção de um objeto, essa aplicação permaneceria em grande parte sem utilização”. Todavia, como conciliar o pano de fundo recém

exposto com o aconselhamento de Kant, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (BA 41- 2), no fato de que pais atenciosos para com o futuro e para o fato de que “não sabemos na primeira

juventude quais os fins que se nos depararão na vida” para os filhos, onde tais pais então “procuram (..) mandar ensinar aos filhos muitas coisas e tratam de lhes transmitir a destreza no uso dos meios para toda sorte de fins, de nenhum dos quais podem saber se de futuro se transformará realmente numa intenção do seu educando, sendo entretanto possível que venha a ter qualquer deles”, motivo pela qual, diz Kant, eles acabariam nisso já por descurar da “tarefa de formar e corrigir o juízo dos filhos sobre o valor das coisas que poderão vir a eleger como fins”?

O exame kantiano parece aqui equivocar-se, pois visa antecipar uma atividade meramente teórico-

formal, como conceitualização teórica, em relação a uma linguagem e atividade fundadas

praticamente (incondicionadamente). Pois, não pode ser em detrimento deste aprendizado prático (incondicionado) que deve ser antecipada a exigência de formação do juízo moral; antes, depende da formação da habilidade prática o desenvolvimento da faculdade do juízo moral. Unicamente a partir de uma linguagem concreta, portanto, sobre a fundação do primado prático da razão, é possível se abrir o horizonte de sentido e de significado de cada fim (Zweck) aprendido e desenvolvido. Portanto, como uma habilidade auto-consciente, e não como uma habilidade teórica ou formal, é que principia a autonomia da razão como maioridade, na medida em que unicamente isso realiza a verdadeira e necessária fundamentação das condições do pensamento. Nesse sentido, a minoridade da razão representa o ponto de vista inverso, a saber, acreditar que a questão exige a fixação de um ponto de vista teórico, e não uma tomada de posição prática, positiva, ativa e agente (pragmática), visto que não pode ser falseado o fundamento de todas as condições (do pensar) realmente obtidas. O início da correção desta perspectiva meramente teórica foi apresentado por Schelling como problema da fundamentação do incondicionado da razão, sistematicamente, a partir do imperativo técnico da investigação da natureza, no Cartas Filosóficas sobre o

Dogmatismo e o Criticismo (Philosophische Briefe über Dogmatismus und Kritizismus). Para uma

apresentação do debate entre as abordagens kantiana e schellinguiana, cfe. Utteich, L.C., Ensaio

Introdutório à leitura de Cartas Filosóficas sobre o Dogmatismo e o Críticismo, de Schelling, in: Conjectura, Caxias do Sul, v.10, n.2 (2005), p. 137-159.

128 A hipótese da razão, representada segundo a idéia de uma força única, tornará explícito o que

foi em seguida recusado pelo interesse primeiro, subjacente e condicionante dos limites da faculdade teórica do pensamento, como elemento ontológico. A propósito desta noção, Popper (Conjecturas e Refutações, Cap.8 O Status da Ciência e da Matemática, p. 211-226) recorda: Newton havia “proposto uma espécie de geometria cósmica: Euclides suplementado por uma

teoria (que também podia ser representada geometricamente) do movimento de pontos de massa, sob a influência de forças. Além do conceito de tempo, ele acrescentara à geometria euclidiana somente dois conceitos essencialmente novos: o conceito de massa, ou de ponto de massa material e a noção de força com uma direção, ainda mais importante: ‘vis’ em latim, ‘dynamis’ em grego – de onde o nome ‘dinâmica’ aplicado à teoria de Newton”. Tendo Kant amparado seu modelo nesta

teoria, vista como “um sistema do mundo universalmente válido, que descrevia as leis do

movimento cósmico de modo mais simples e mais claro, com precisão absoluta”, tal ciência do

cosmos, da natureza, que Newton alegava ter sido baseada na experiência, a cujos princípios funcionais teria chegado “por meio da indução, a partir da experiência”, na afirmação de que “a

verdade da sua teoria podia ser derivada logicamente da verdade de certas afirmações baseadas na observação” (referindo-se às leis de Kepler sobre o movimento elíptico dos planetas), por Kant

de uma mesma substância mostra, à primeira vista, tal heterogeneidade, que se tem de admitir de início quase tantas espécies de faculdades quantos os efeitos produzidos, tal como na alma humana a sensação, a consciência, a imaginação, a memória, o engenho, a discernimento, o prazer, o desejo, etc.129

Se devesse ser instituído o debate acerca destas puras relações do ponto de vista do questionamento do seu quid juris, teria de ser delineada a constituição do princípio formador da razão (Vernunft), do ponto de vista metódico, a partir do surgimento da própria consciência teórica (Ich denke).

Por isso, a fim de contornar isso, o debate é transladado para o que distingue propriamente as operações dos métodos filosófico e matemático: ao primeiro, pela faculdade do pensamento transcendental, cabe executar a análise do conceito (como realização da atividade filosófica); ao segundo, obter a exposição da intuição pura para fundamento da construção do conceito das grandezas (quanta) matemáticas.

pudesse ser derivada da observação. De outro lado, a insinuação da noção de “força única”, concebida pela razão, a partir da qual pode ser concebido um primeiro princípio do Sistema transcendental, é o questionamento levantado por Reinhold, inspirado na tradição wollfiana- leibniziana, para resgate da idéia da força única da razão para princípio universal da razão. Cfe. Schrader, Wolfgang, Introdução ao Über das Fundament des philosophischen Wissens, de Reinhold. Veremos no Capítulo 2 como se desenvolve a carência e o fornecimento do primeiro princípio sistematizante na Filosofia Transcendental.

129 Kritik der reinen Vernunft, B 676/677. Em analogia com esse conceito de força pode ser

pensado o que disse Kant na asserção segundo a qual “um corpo em movimento manteria por si a

linha reta sempre na mesma direção (...) se uma outra força [não] influi[ssse] ao mesmo tempo sobre ela numa direção diferente” – na qual então seria modificada para um movimento curvilíneo

–, a fim de tornar claro qual faculdade atua para estabelecer a idéia da unidade da causalidade da substância, nessa noção de força, se a razão (Vernunft) como faculdade dos princípios ou entendimento (Verstand) como faculdade das regras, atestando-se nisso a indistinção, à ação da razão teórica, no pronunciamento da razão (Vernunft), à favor da visão lógica do entendimento vinculada à abordagem analítica, identificada aos limites físicos de um conceito fisiológico da natureza. A exigência de desenvolvimento de um estatuto diferenciador mais claro entre a forma do princípio e a forma da regra constituirá a tarefa de Reinhold, à qual expomos no Capítulo 2.

Visto que na Filosofia o método para alcançar a certeza apodítica é designado dogmático, a definição do conhecimento (Metafísica), do ponto de vista somente da crítica do conhecimento filosófico (o uso da razão por conceitos), abrangerá, diz,

tudo o que existe (uma coisa no espaço e no tempo) para saber se e em que medida se trata ou não de um ‘quantum’, se neste deve ser representada uma existência ou uma falta de existência, até que ponto esse algo (que preenche o espaço e o tempo) é um primeiro substrato ou uma simples determinação, se tem uma relação da sua existência a qualquer outra coisa como causa ou efeito e, finalmente, se quanto à existência, encontra-se isolado ou