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Elizabeth Harkot-de-la-Taille

No documento Perspectivas em linguística forense (páginas 151-170)

Vinte e quatro de março de 1989: começa o derramamento de petróleo do navio Exxon Valdez, no Alasca, cuja duração de vários dias vem a torná-lo um dos piores desastres ecológicos dos EUA. Seu capitão, Joseph J. Hazelwood,  é acusado de embriaguez no momento do acidente. Gravações de sua voz antes e após o acidente são examinadas por especialistas da fala. É possível concluir se estava ou não alcoolizado? Se sim, que papel tal conclusão tem no processo? O jornal americano The

New York Times, datado de 25 de fevereiro de 1990, noticia: especialistas da fala

concluem que o capitão soava intoxicado no momento do acidente. Porém, Iva Cheung, em resenha da palestra “Language Detectives II” de Lorna Fadden (Simon 1 Fraser University) ao Encontro da Associação dos Editores do Canadá (EAC-BC), em fevereiro de 2015, conclui: a linguística forense sendo então uma ciência muito nova e esse sendo o primeiro uso desse tipo de evidência em tribunal, o júri pode ter sentido insegurança em relação a tal prova e inocenta Joseph J. Hazelwood.

Em 1994, Kurt Cobain é encontrado morto com um bilhete ao lado. Perguntas que se impõem: o bilhete é de sua autoria? É suicídio ou homicídio? O bilhete traz informações capazes de contribuir para a solução do caso? A carta próxima ao corpo de Cobain era endereçada a seu amigo imaginário de infância, Boddah, considerado sua alma pelo músico adulto. O cotejo entre a carta, traços da personalidade de Cobain e registros linguísticos seus destaca coincidências reiteradas entre seu modo

Disponível em https://www.ivacheung.com/2015/02/lorna-fadden-language-detectives-ii-eac-bc-

1

de falar, seus assuntos preferidos e seu posicionamento predominantemente negativo diante dos acontecimentos e das relações humanas. A análise da carta reforça a conclusão de suicídio (Fitri e Sudjana, 2013).

A jovem Jenny Nicholl desaparece em 2005. Nove dias depois, seu pai e amigos recebem mensagens de texto enviadas por seu telefone. Essas mensagens são comparadas com mensagens suas anteriores. Elas revelam algo? Grant (2010) relata que, inicialmente, mensagens de autoria conhecida de Jenny e do suspeito foram analisadas por Coulthard, que estabeleceu diferenças importantes e reiteradas no uso que cada um faz da língua, como no emprego de abreviações, no espaçamento entre palavras e no uso de formas dialetais. Em seguida, as mensagens enviadas após seu desaparecimento, em número de quatro, foram analisadas pelo linguista e suas características confrontadas com as de cada conjunto anterior. O perito considerou as mensagens enviadas após o desaparecimento inconsistentes com as conhecidas como de autoria de Jenny. No tangente ao suspeito, David Hodgson, namorado de Jenny, Coulthard afirmou que "traços linguísticos nos textos de Sr. Hodgson e do suspeito são compatíveis com terem sido produzidos pela mesma pessoa" (Grant, 2010, p. 516-517, tradução nossa ). Pressionado pela corte, o perito enfatizou que tudo o que 1 podia ser dito a respeito da evidência linguística é que o acusado pertencia ao grupo de autores possíveis. Hodgson foi condenado sete anos mais tarde, mesmo sem o corpo da vítima ter sido encontrado.

Em 2013, Robert Galbraith, ex-militar e novato na literatura, publica sua primeira obra, um romance policial, The Cuckoo’s Calling (O Chamado do Cuco, no Brasil; Quando o Cuco Chama, em Portugal). Com boa aceitação para um autor desconhecido, ocupa o 4.159o lugar, na lista de vendas da Amazon. Dúvidas e rumores começam a circular sobre outra pessoa ter escrito o livro. Um possível tuíte e um telefonema ao The Sunday Times afirmam que Robert Galbraith é pseudônimo de J. K. Rowling — alguns se perguntam: quem teria a vivência no jet set mostrada na história, a competência para descrição primorosa de roupas femininas, a escrita impecável e elegante? Além disso, Galbraith e Rowling têm o mesmo agente e editor.

The Sunday Times contrata linguistas forenses, Peter Millican, da Universidade de

Oxford e Patrick Juola, da Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, para analisar

The Cuckoo’s Calling e compará-lo linguisticamente com textos de outros autores

conhecidos do público (The Sunday Times, 15/07/2013). As análises apontam semelhanças consistentes com a escrita de J. K. Rowling, que veio a confirmar ser a

Todas as traduções do inglês são de responsabilidade da autora. 1

autora do romance policial. Em 14 de julho de 2013, The Sunday Times, publica: "J. K. Rowling, o cuco no ninho do romance policial. A escritora de Harry Potter foi revelada como a autora de uma história policial aclamada".

Como se pode observar pelos exemplos, uma das tarefas de um(a) linguista forense é investigar a língua escrita ou falada, usualmente em peças participantes de um processo, a fim de delimitar um perfil linguístico e verificar se ele corresponde em algum grau ao perfil obtido pela análise de outras produções linguísticas de autoria conhecida.

Nesses casos, a hipótese de base da linguística forense assume que cada pessoa faz uso da língua, dentro de limites socioculturais, à sua própria maneira, de modo a fazer incidir em sua fala ou escrita hábitos linguísticos e preferências individuais e sociais (e.g. o tamanho mais usual das palavras e dos períodos, os regionalismos etc). A ocorrência de um conjunto parcial desses traços de maneira semelhante em dois documentos orais ou escritos indica, com alta probabilidade de acerto, serem de mesma autoria (Coulthard, 2005). As escolhas disponíveis ao falar e ao escrever são tão amplas e de tantas ordens que se torna extremamente difícil alguém imitar de modo competente a fala ou escrita de outrem e praticamente impossível duas pessoas diferentes falarem ou escreverem, separadamente, com estilos muito próximos.

Um problema atual preocupante em escolas e universidades consiste no plágio (Ver Sousa-Silva, neste volume ), que pode ser cometido por desonestidade, descuido 1 ou desconhecimento das regras da escrita acadêmica. Para a esperança de muitos, hoje, há disponível um número de programas para cotejo quase imediato entre um texto submetido e grandes quantidades de produções linguísticas, com capacidade de indicar possíveis indícios de plágio. Variam de preço e qualidade; porém, alguns são capazes de "varrer" todo o conteúdo da Web em segundos e destacar, num texto submetido, trechos nos quais possivelmente há plágio, inclusive informando a referência provável da fonte. Sem dúvida, uma ajuda ímpar, tanto para professores quanto para os próprios alunos autores, que podem observar se escreveram ou não de acordo com as regras acadêmicas e corrigir o necessário antes de entregar seus trabalhos.

Quando o plágio é tema de um processo jurídico, o linguista forense entra em cena, solicitado a analisar os documentos em pauta e a elaborar um laudo técnico. O

O leitor(a) pode também se remeter a Coulthard (2015). 1

plágio está dentro da categoria de autoria questionada, assim como a carta de suicídio de Kurt Cobain, as mensagens de texto partidas do telefone de Jenny Nicholl e o livro The Cuckoo’s Calling, por mais diferentes que pareçam ser. Já quanto às gravações de voz do capitão do navio Exxon Valdez, foneticistas forenses analisaram suas falas em outras mensagens de trabalho cotejando suas características com as do dia e em torno do horário do acidente (ver Gomes e Dresch, neste volume).

No Brasil, esse tipo de solicitação pode ocorrer a partir do próprio interessado, o que abre espaço para críticas de outras ordens, na medida em que a parte contratante do trabalho de análise tem interesse em determinado resultado. Essa área profícua e promissora encontra ainda um território de conquista diante de si, no âmbito jurídico brasileiro.

Passemos agora ao objeto central deste capítulo: a descrição da análise linguístico-discursiva de dois textos envolvendo participantes de um processo "real".

ESTUDO DE CASO: CARTA-AMEAÇA DE MORTE 1

16/05/2003 - 18h47

Nicéia Pitta é condenada por calúnia e difamação

da Folha Online 2

O Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo condenou hoje a ex-primeira dama da cidade, Nicéia Pitta, a seis meses de detenção em regime aberto, segundo a rádio CBN. A pena será revertida a pagamento de multa.

A análise que segue foi publicada anteriormente como parte de um trabalho completo, nos anais do 1

III Simpósio Internacional Sobre Análise Do Discurso: Emoções, Ethos e Argumentação, 2008, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: UFMG. v. 1. Para esta publicação, foram feitas algumas correções e inserções na análise e discussão. As peças, sendo anteriores à reforma ortográfica do Português que vigora integralmente desde 2016, são mantidas, e é observada aqui a ortografia vigente no período do processo.

Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u75014.shtml. Acesso em: 05 2

A condenação diz respeito a um processo por calúnia e difamação aberto pelo empresário Jorge Yunes, que foi acusado por Nicéia, em um programa de TV, de ser o autor de duas cartas anônimas com ameaça de morte.

Nicéia havia sido absolvida em primeira instância.

Esta seção descreve os procedimentos para a confecção de um laudo técnico de autoria, no âmbito criminal. No contexto, Jorge Yunes foi publicamente acusado de ter escrito e enviado uma carta-ameaça de morte a Nicéia Pitta, pessoa com quem mantinha ou mantivera contato social frequente. A acusação pública foi feita pela própria Nicéia. Junto com essa peça, oito páginas de uma entrevista transcrita — concedida por Jorge a um canal de televisão após a acusação —, assim como sua gravação, compunham os materiais de base para análise . 1

A carta-ameaça de morte recebida por Nicéia era datada de 23/03/2000 e consistia em uma página preenchida por palavras recortadas de revista ou jornal, entrepostas a palavras escritas à mão, num total de sessenta e seis palavras. Era imputada a Jorge, cliente do advogado solicitante do laudo.

A entrevista transcrita continha por volta de 2.500 palavras e versava sobre a relação de Jorge com a família de Nicéia, em especial, com Nicéia e sobre a acusação que esta imputara a Jorge. Foi concedida pelo cliente à TV Record, ao programa Fala

que te escuto, sem data. As duas partes, Jorge Yunes e Nicéia Pitta, pertenciam à elite

político-financeira da capital paulista.

A análise tinha por objetivo comparar os dois textos — a carta e a transcrição da entrevista — a fim de estabelecer a ocorrência (e, se sim, em que grau) de características de autoria comum. Partindo da premissa de que a pessoa "se fala" ao fazer uso da língua, pode-se circunscrever seu universo sociocultural, com boa margem de segurança, por meio de exemplos de sua produção discursiva. Isso significa perseguir seu estilo, seu ethos , como manifestação de "si próprio" por meio 2 do discurso, como manifestação do chamado sujeito discursivo. "O estilo é o

O acesso por Internet a processos julgados é oferecido há menos de uma década, em São Paulo. 1

Processos anteriores, realizados em papel, podem ser consultados desde que o interessado conheça o Foro em que correu e se desloque até ele. Por esse motivo, discorro unicamente sobre as peças que recebi.

Como nos debruçamos sobre uma "pessoa" de discurso, estilo e ethos são aqui considerados 2

homem", destaca Discini (2003), a partir de Buffon . E o estilo, ou ethos, é 1 discursivamente ancorado e discursivamente recuperável.

A eficácia da persuasão de um sujeito em um dado contexto ancora-se na construção dos efeitos de sentido de identidade, produzidos por meio das diferentes imagens de si que o sujeito veicula ao tomar a palavra (Harkot-de-la-Taille, 2007). Seus dizeres ganham estatuto de ações e, juntamente com as paixões manifestadas, articulam sentidos que vêm a ser percebidos, pelo destinatário, como atinentes ao seu "caráter" e reveladores do sistema de valores subjacente ao contexto de ação. Estudos visando aos mecanismos de construção discursiva do "eu" e do "outro" mobilizaram e continuam mobilizando consideráveis reflexões, a exemplo de Almeida (2015, 2016), Barros (2011), Cruz (2009), Discini (2015) e Harkot-de-La-Taille (2016), entre muitos outros.

O vínculo entre as imagens de si do sujeito, isto é, as representações de si e do outro e suas práticas sociais, exprime-se no papel da mediação simbólica que as primeiras exercem quando as segundas instauram o vínculo social e as modalidades de efeitos de identidade que a ele se ligam. As identidades simbolizam-se pelas representações narrativizadas, essas últimas passíveis de atribuir uma configuração determinada a esses vínculos sociais em curso de instauração (Ricoeur, 2004).

Os laudos periciais acerca da autoria de textos buscam dar subsídios à corte, com base em marcas linguístico-discursivas, para estabelecer ou recusar relações de identidade entre o sujeito do discurso — "de papel" — e uma pessoa — sujeito "de carne e osso". Para tanto, é necessário o cotejo de no mínimo dois exemplares distintos, dos quais um é de autoria conhecida. Aqui, foram examinadas essas duas peças, sendo a primeira a carta imputada a Jorge, o falante da segunda, uma entrevista pública. O corpus foi trabalhado pela perspectiva da semiótica discursiva, com apoio principal em Barros (2001) e Fiorin (1990).

Foram analisadas semelhanças e diferenças nos níveis lexical, morfológico, sintático e semântico, além dos temas e figuras identificados nos textos, os percursos narrativos e as categorias fundamentais em sua base. De tal análise resultaram quatro

Conde de Buffon pronunciou a célebre fórmula "O estilo é o próprio homem" em seu discurso de 1

ingresso na Academia Francesa, em 1753, página 31. Disponível em http://www.lusosofia.net/textos/ bufon_george_louis_discurso_sobre_o_estilo.pdf, acesso em 05/02/2017.

tipos de dados sobre o sujeito discursivo : suas inclinações afetivas e morais, seus 1 hábitos comportamentais e, finalmente, suas disposições intelectuais, a fim de formular uma hipótese consistente a respeito da autoria da peça imputada a Jorge, a carta-ameaça de morte, se possivelmente dele ou não.

Nas duas peças processuais em questão, quatro aspectos iniciais devem ser destacados:

a) por focalizarem relações polêmicas, as construções retórico- discursivas relativas ao "eu" e ao "outro" são centrais;

b) por serem, a primeira, uma carta-ameaça e a segunda, uma entrevista na qual Jorge se defende da acusação de tê-la escrito e enviado, as representações identitárias veiculadas são simplificadoras e se aproximam da estereotipagem, no modo de o sujeito projetar a si mesmo e ao outro;

c) por serem gêneros diferentes, é necessário manter presente ao longo da análise e de sua discussão o conceito sociolinguístico de variação intrafalante , isto é, o conhecimento de que o comportamento linguístico de 2 toda pessoa varia em situações de comunicação distintas;

d) por pertencerem uma ao registro escrito e outra ao registro oral, é de se esperar, nesta, mais frequentes deslizes linguísticos, falhas de coesão e até mesmo possíveis reformulações afetando a coerência do todo, e, naquela, maior controle da linguagem, provavelmente, maior coerência e coesão.

Convém ressaltar que o/a analista tem plena consciência de que o estilo da carta anônima possa ter sido forjado, a fim de criar um efeito de sentido de identidade passível de "esconder" seu/sua autor(a). Tal hipótese, porém, não pode interferir na análise, que deve ser o mais isenta possível.

Os textos analisados são aqui referidos por Carta (carta-ameaça de morte

O sujeito discursivo não é igual à pessoa em "carne e osso", mas se refere à instância construída pelo 1

dizer, que gera um simulacro de sujeito, dotado das características identificáveis por meio de sua produção linguística.

Para saber mais sobre variação intrafalante e conhecer uma excelente proposta de como neutralizá-la 2

recebida por Nicéia, imputada a Jorge), e Entrevista (de Jorge à TV Record). A investigação, na busca de delinear o(s) perfil(is) linguístico-discursivo(s) das peças e subsidiar a conclusão de autoria comum ou não, organiza-se em três passos: a) destaque das semelhanças linguísticas e discursivas entre os dois textos; b) explicitação das diferenças linguísticas (lexicais, morfológicas, sintáticas, semânticas) e discursivas (coerência e coesão, temas e figuras, por exemplo) entre os dois textos; e c) discussão sobre a sustentação da hipótese de autoria comum dos textos.

SEMELHANÇAS ENTRE AS PEÇAS

A Carta e a Entrevista apresentam um nível de semelhança pouco informativo. O exame lexical revela que, à exceção de palavras e formas gramaticais [e, não, de, do, da, na, com, para/ "pra", em, tudo, sempre, nunca, bem, que, você, sua

(adjetivo possessivo), se (pronome), se (condicional), a (artigo definido), um/uma (artigo indefinido), formas dos verbos ser e estar], sete vocábulos são comuns a ambos 1 os textos: "crime", "ter", "dar", "meditar", "poder", "imaginar" e "acusações". O leitor pode observar o modo de emprego dos seis primeiros, em cada um dos textos, conforme explicitado no quadro que segue. O último, "acusações", é reiterado e exige discussão mais detalhada, conduzida adiante, em "Diferenças significativas entre as

peças":

Palavra Carta Entrevista Crime "... Tancredo Neves, Pedro Collor, PC Farias, Elma Farias (crimes nunca esclarecidas (sic.)"

"... ela já cometera um crime... confessara um crime... porque ela participara dessa reunião..."

"eu compareci à promotoria pública... peticionei... pedindo desde já... dando a notícia do crime que ela cometera contra mim... vários crimes e dei a oportunidade a D. Nicéia..." "... ter que processar... e já está sendo... já está comunicado o

crime...

"distribuí numa/a uma das varas criminais a comunicação éh... a notícia do crime para que se possa..."

A Carta continha 66 palavras e a Entrevista, cerca de 2500. Uma palavra conta como um 1

Quadro 1: Semelhanças lexicais entre Carta e Entrevista

A observação dos exemplos é suficiente para se perceber que, apesar da ocorrência comum, um único dos seis itens lexicais é empregado com alguma semelhança de valor linguístico . Trata-se de "meditar", no sentido de "pensar para 1 amadurecer a ideia". Na Carta, o modo imperativo determina que o destinatário Nicéia o faça, enquanto o entrevistado Jorge limita-se a interpretar o surgimento de mais detalhes da acusação a uma possível meditação de Nicéia. "Meditar", no dicionário on-line Caldas Aulete, é verbo transitivo indireto e intransitivo; na Carta é ordem a Nicéia com objeto direto ("medite e reflita ‘TUDO’") e, na Entrevista, atribuição suposta, também a Nicéia, com verbo intransitivo ("... talvez meditando

Ter

(verbo) "Você não tem idéia da complicação que se meteu (sic)"

"... ela tem inúmeras contradições..."

"... tem um problema de um exu/ exibicionismo"

"... isto tudo não me magoou porque eu tenho os recursos como qualquer cidadão tem..."

"... ela vem e diz que tem notícias..."

"... o que D. Nicéia não tem o alcance de entender..." "... minha mulher tem problema de saúde..."

"... para fugir da responsabilidade penal que certamente lhe advirá ela só tem uma saída..."

"D. Nicéia ainda tem o nome de Pitta."

"... as informações preliminares que a Promotoria Pública

tem o dever de trazer à população de São Paulo..." Dar

(verbo) "... e me dá uma pena..." "... eu acho que ela quis dar uma notícia..." "... o dinheiro que ela vai receber como se tivesse dinheiro pra lhe dar ela vai destinar aos pobres..."

"... para dar uma sobrevivência àquela inocente filha..."

Meditar

(verbo) "... medite e reflita ‘TUDO’... (sic.)"

"... no dia seguinte... talvez meditando mais ou até já estivesse dito aquilo..."

Poder

(verbo) "A morte está bem mais próxima do que se possa

imaginar."

... eu espero que ela possa exibir isso na justiça..." "... a notícia do crime para que se possa eventualmente instaurar um inquérito..."

Imaginar

(verbo) "A morte está bem mais próxima do que se possa

imaginar."

"... eu imaginava até então que aquilo fosse um desejo do encontro de filho com pai..."

"isto... imagine... eu tenho documentado isso..." "... cada um imagina o que quiser..."

Valor no sentido Saussuriano do termo (Saussure CLG). 1

mais ou até já estivesse dito aquilo...". Embora gramaticalmente distintas, ambas as ocorrências veiculam aproximadamente o mesmo sentido.

Situação diferente observamos em "crime", que na Carta significa assassinato, enquanto na Entrevista cobre um conjunto de usos e sentidos relacionados a procedimentos ou transgressões legais, nenhum próximo a assassinato. Os exemplos de emprego dos outros vocábulos comuns tampouco participam de efeitos de sentido próximos. Como um último exemplo, tomemos "ter": uma única ocorrência na Carta, "... você não tem idéia...", e dez na Entrevista; nenhuma das dez ocorrências se assemelha a "não ter ideia" ou a alguma forma sinônima sua, tal como "(não) ter noção". Chama a atenção uma expressão tão corrente, na Língua Portuguesa, não ter aparecido sequer uma única vez na Entrevista, em cerca de 2500 palavras.

Além dos itens lexicais coincidentes, quatro temas são abordados em ambos os documentos, o que não surpreende, uma vez que a Entrevista foi motivada pela acusação de autoria da Carta: a ausência de coerência de Nicéia; a falta de confiabilidade das acusações de Nicéia; as consequências nocivas das acusações feitas

No documento Perspectivas em linguística forense (páginas 151-170)