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Em relação às conjunções adversativas, pode-se notar que na peça periciada

No documento Perspectivas em linguística forense (páginas 107-112)

Diana Luz Pessoa de Barros & José Luiz Fiorin

A. Em relação às conjunções adversativas, pode-se notar que na peça periciada

11) Entretanto, passo a demonstrar que

12) Entretanto, como se vê da sua publicação

enquanto "mas" e "porém", as adversativas mais frequentes na língua, aparecem apenas uma vez e, além dessas, não há nenhuma outra adversativa no texto.

Nos despachos e sentenças do Juiz de Direito, ao contrário, além dos usos de "mas" e "porém", há uma nítida preferência pela conjunção "contudo" (quatro vezes).

Já nas peças do Escritório de Advocacia, da mesma forma que na peça periciada, a preferência é pela conjunção "entretanto", de cujo uso arrolamos a seguir dois exemplos entre os muitos que ocorreram:

13) Entretanto, em ponto algum negou

14) Entretanto, com a má fé que lhe é habitual, a Agravante

Além da questão de preferência entre seus sinônimos ("todavia", "contudo") e de frequência, os casos citados mostram também o mesmo tipo de posição no texto. As peças do Escritório de Advocacia e a peça periciada preferem que a conjunção entretanto encabece, não só a oração, como também o parágrafo. Nos despachos e sentenças do Juiz de Direito, ao contrário, o único uso de entretanto não encabeça nem mesmo oração:

15) Não se aplicando entretanto os contratos internacionais

O uso de adversativas aponta claramente que há as mesmas escolhas nas peças do Escritório de Advocacia e na peça periciada, e opções diferentes na peça periciada e nas sentenças do Juiz de Direito.

B. O Dicionário Aurélio traz para o nome "sorte" também as acepções de modo,

maneira, forma, jeito, sentidos com que ocorre na locução adverbial "de qualquer sorte". Trata-se de uma locução adverbial de modo, pouco usada, que tem como sinônimos, bem mais frequentes no Português do Brasil, "de qualquer forma", "de

qualquer modo", "de qualquer maneira ou de qualquer jeito". O Juiz de Direito não a utiliza nem uma única vez em seus despachos e sentenças examinados, dando preferência às locuções mais usuais.

Chama a atenção, portanto, o uso dessa locução, na peça periciada e nos textos produzidos pelo Escritório de Advocacia, em que esse uso pode ser considerado idioletal, tal sua frequência e preferência entre as demais:

na peça periciada:

16) Entretanto, passo a demonstrar que ainda quando esse primeiro fundamento da suspeição contra mim arguida não estivesse extinta por preclusão, de

qualquer sorte não teria procedência alguma. nos textos do Escritório de Advocacia:

17) E ainda quando (admitindo, unicamente para argumentar) tivessem existido,

de qualquer sorte não mais poderiam ser alegadas, porque estariam

definitivamente cobertas pela coisa julgada

18) De qualquer sorte, nem mesmo fumus boni iuris tem a impetrante.

C. As locuções adverbiais "ao invés" e "ao contrário" são apresentadas no Dicionário Aurélio como expressões sinônimas. Delas, a mais usual na língua é "ao

contrário".

O Juiz de Direito não faz uso de "ao invés" em seus despachos e sentenças, o que indica que essa locução não é uma marca de estilo em seus textos. Já na peça periciada pode ser encontrada a locução "ao invés":

19) Na verdade, ao invés, a súmula do aludido acórdão foi publicado

Embora menos frequente na língua, "ao invés" é usual também nas peças produzidas pelo Escritório de Advocacia, o que atesta seu emprego idioletal nesses textos:

20) Afirmando, ao invés, que não lhe cabe essa prova

21) Disse, ao invés, que o conflito

22) Não o fizeram, porém, pedindo, ao invés, que fosse nomeado

D. Os pronomes indefinidos "algum" e “nenhum" distinguem-se, segundo

Celso Cunha (1972), pelo caráter afirmativo do primeiro e negativo do segundo. No entanto, "posposto a um substantivo, algum assume na língua atual significação negativa, mais forte do que a expressa por nenhum. De regra, o indefinido adquire este valor em frases onde já existem expressões negativas, como não, nem, sem" (p. 250).

São os empregos alternativos de "nenhum", por definição negativo, e "algum", quando em uso também negativo, que examinamos nas peças. O Juiz de Direito, em apenas dois casos, nos despachos e sentenças analisados, emprega o pronome "algum" posposto e com sentido negativo. Prefere usar o pronome "nenhum" e, principalmente, a negação do pronome, também indefinido, qualquer. Vejamos os exemplos:

23) como o que ocorreu sem dúvida alguma

24) diz que não houve de forma alguma

25) não possuindo nenhum imóvel próprio

26) e nenhum indébito a lhe ser restituído

não deixam qualquer dúvida a respeito

Os dois primeiros exemplos são os únicos casos de posposição de "algum" com sentido negativo. Observe-se que constituem expressões já quase lexicalizadas pela frequência do uso e que não assinalam, por isso, uma escolha do falante entre o pronome "algum" posposto e "nenhum", posposto ou anteposto. Os dois exemplos seguintes refletem a preferência pelo pronome "nenhum", em qualquer das posições. O modo predileto, porém, nesses textos, de assinalar o caráter negativo com pronome

indefinido aparece no último exemplo com "não....qualquer".

Na peça periciada, ao contrário, é clara a opção pelo uso negativo do pronome "algum" posposto, como se vê nos exemplos que seguem:

27) em ponto algum havendo o acórdão

28) vez alguma se referindo a ponto algum do voto.

Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma característica idioletal do autor do texto, que pode ser encontrada também nas peças produzidas pelo Escritório de Advocacia. Vejamos alguns exemplos entre os numerosos encontrados nessas peças:

29) sem qualificativo algum

30) não faz distinção alguma, de espécie alguma

31) Entretanto, em ponto algum negou

32) E nulidade alguma, de espécie alguma, subsiste

Pode-se observar que nos casos de posposição do pronome "algum" com sentido negativo encontrados na peça periciada e nas do Escritório de Advocacia, há dois tipos de usos: o primeiro, "de regra", no dizer de Celso Cunha (1972), emprega expressões negativas ("não" e "sem"); o segundo, menos usual ainda, não faz uso de expressões negativas, ficando seu sentido negativo a cargo apenas do pronome posposto. Em suma, a peça periciada e os textos do Escritório de Advocacia têm mesmos hábitos linguísticos no que diz respeito aos pronomes indefinidos "nenhum" e "algum", e distinguem-se, nesse aspecto, das sentenças e despachos do Juiz de Direito.

E. O advérbio de tempo "ora" é definido no Dicionário Aurélio como agora,

atualmente, presentemente. É empregado com distribuição irregular nos textos examinados: nunca ocorre nas sentenças e despachos do Juiz de Direito; é muito frequente nas peças do Escritório de Advocacia em situações como "ora Agravado,

ora Agravante, ora Autora":

33) anteriormente interposto pelos ora Agravados

34) a impetrante, ora Autora

O vocábulo é utilizado da mesma forma na peça periciada, como mostra o exemplo:

35) a ora Excipiente

No documento Perspectivas em linguística forense (páginas 107-112)