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3. AVALIAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS 50 

3.2. DEFININDO AVALIAÇÃO 53 

3.2.3. TIPOS DE AVALIAÇÃO 58

3.2.3.3. Em função de que avalia 62

A avaliação pode, ainda, ser classificada a partir da procedência do avaliador e também, em um caso particular, com base no envolvimento de determinados sujeitos no processo. Referente à procedência do avaliador, tem-se basicamente três tipos de avaliação: a interna, a externa e a mista.

A avaliação interna concerne àquela que é realizada por pessoas vinculadas à organização promotora do projeto, porém que não estão envolvidas diretamente com a execução do projeto. Nesse caso, pressupõe-se a existência de funcionários da organização que sejam especialistas, possuindo, assim, conhecimento metodológico e substantivo da área em questão, além detalhes característicos do projeto. Um outro tipo de avaliação, muito próximo da anterior, é a auto-avaliação, que é aquela realizada pelas próprias pessoas envolvidas com as atividades do projeto (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; AGOSTINI, 2001; COHEN; FRANCO, 1998; UNESCO, 1987; REIS, www.rits.org.br).

Ambas possuem vantagens e desvantagens semelhantes. Como vantagem tem-se uma maior profundidade no conhecimento das características do projeto, o que redunda em um gasto menor de esforço e recursos (financeiros, tempo, etc.) no processo. No caso da auto- avaliação, é provável que esse conhecimento seja maior devido ao envolvimento dos avaliadores com o cotidiano das atividades, o que, consequentemente, permite aos mesmos saberem detalhes que nem sempre estão disponíveis para pessoas não envolvidas diretamente com o projeto. (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998; REIS,

www.rits.org.br).

Já as desvantagens giram, basicamente, ao redor de duas questões: maior intensidade do viés no julgamento e independência dos avaliadores e os aspectos políticos que podem permear o processo de avaliação. A primeira questão esbarra em uma intervenção mais intensa da subjetividade dos avaliadores no processo, o que aumenta consideravelmente a probabilidade dos mesmos mitigarem aspectos negativos e majorarem os aspectos positivos (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998). Em casos de prestação de contas para órgãos financiadores, a apresentação de resultados negativos ou não satisfatórios implicaria em uma demonstração de incompetência por parte de uma ONG, por exemplo, na execução de sua proposta, o que poderia acarretar em perda de crédito e de credibilidade junto aos mesmos. Assim, acredita-se que dificilmente uma organização agiria em favor de

situações que prejudicariam a si mesma. Além disso, acredita-se também que dificilmente se teria como minimizar a imparcialidade quanto à escolha dos aspectos metodológicos, visto que, como afirmam Cohen e Franco (1998), as pessoas internas à organização poderiam se identificar, tanto com os objetivos do projeto, quanto com a forma escolhida para atingi-los, uma vez que esses foram formulados e/ou executados por elas mesmas ou por pessoas que compartilham valores semelhantes aos seus.

A segunda questão diz respeito ao jogo de interesses que envolve os atores organizacionais, que afeta tanto a forma como esses executam suas atividades quanto o juízo que os mesmos fazem de alguns fatos. Nesse caso existe o risco de que os responsáveis pela avaliação distorçam os resultados de uma avaliação, beneficiando ou prejudicando atores que se coloquem como aliados ou opositores, respectivamente (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998). Em outros casos, é possível que os resultados possam ser enviesados no sentido de se buscar um ‘bode espiatório’, seja ele interno ou externo à organização, para se responsabilizar pelo mau êxito do projeto (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994).

O segundo tipo de avaliação dentro deste critério á a avaliação externa: aquela realizada por especialista (ou organização) contratado e que não possuem vínculo formal direto ou indireto com a organização executora do projeto (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998; REIS, www.rits.org.br). As vantagens e desvantagens deste tipo de avaliação verificadas na literatura são colocadas como diametralmente opostas às da avaliação interna. Acredita-se que a avaliação externa tem como vantagem o fato de especialistas de fora da organização possuírem uma maior experiência e domínio do conhecimento técnico e metodológico do processo de avaliação. Entretanto, isso não implica, necessariamente, a ausência de pessoas com experiência e competência semelhante dentro da organização. Outra vantagem apontada é uma menor influência da subjetividade do avaliador na análise dos resultados (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998). Essa maior objetividade, por conseguinte, tende a oferecer maior credibilidade às conclusões alcançadas junto aos financiadores devido ao fato de que avaliadores externos, supostamente, seriam mais independentes, ou seja, isentos de influências do contexto político interno da organização; do que avaliadores internos. Contudo, esse argumento é questionado por Cohen e Franco (1998, p.111), visto que “aqueles que contratam o avaliador podem ter preconceitos com relação ao desempenho do projeto, e interesses sobre a sua eventual continuação, o que pode orientar a seleção da avaliação e influir sobre sua opinião”. A desvantagem, por sua vez,

se refere a um menor conhecimento substantivo do projeto, o que limita a percepção dos avaliadores de todos os fatores que o influenciam, além de exigir dos mesmos maiores esforço e recursos para se inteirarem sobre o objeto a ser avaliado (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998).

Na tentativa de aproveitar as vantagens e reduzir as desvantagens dos dois tipos apresentados anteriormente, combinou-se os mesmos em um terceiro tipo, a avaliação mista, com o objetivo de se otimizar o processo. Nesse, trabalha-se com uma equipe composta por membros e especialistas alheios à organização executora visando minimizar os riscos relativos à subjetividade dos avaliadores e aproveitar as competências de cada um (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994; COHEN; FRANCO, 1998; REIS, www.rits.org.br).

Um último tipo dentro deste critério é a avaliação participativa. De acordo com Cohen e Franco (1998), esse tipo de avaliação se distingue das três imediatamente anteriores por envolver, também, a população diretamente beneficiada pelo projeto. Eles aconselham, inclusive, que nesses casos os beneficiados participem não somente da avaliação, mas de todas as fases do projeto, o que pode acarretar uma maior legitimidade da organização frente àqueles. O objetivo, segundo os autores, é aproximar os avaliadores da comunidade-alvo e permitir a interferência desses em elementos importantes do processo. A justificativa para esta atitude se fundamenta no fato de que, sendo a comunidade-alvo talvez a mais interessada na realização do projeto, é importante observar o que ela define como prioridade, no que se refere aos objetivos previamente estabelecidos e aos efeitos desejados. Além disso, acredita-se que uma maior proximidade com a comunidade pode, tanto facilitar a realização das atividades do projeto, quanto reduzir os custos do mesmo, uma vez que existe a possibilidade de repassar a responsabilidade por algumas ações para os beneficiados.

Além dos critérios e tipos de avaliação supramencionados, Aguilar e Ander-Egg (1994) apresentam outros. Porém, ao analisá-los, verificou-se que todos remetem a elementos contidos e/ou mencionados anteriormente. Cohen e Franco (1998) semelhantemente apresentam outros dois critérios, tipos de avaliação em função da escala dos projetos e em função dos destinatários da avaliação. No caso do primeiro, os autores distinguem entre projetos grandes e pequenos, levando em consideração o número de pessoas afetadas e a magnitude dos recursos aplicados. Porém, acredita-se que, tanto em projetos grandes quanto pequenos, pode-se existir ou não processos de avaliação sistematizados, o que faz com que este não seja um critério adequado para se estabelecer uma tipologia de avaliação, o que não quer dizer que o tamanho do projeto não gere implicações para o processo. Já em relação ao

segundo, acredita-se ser mais uma característica do processo do que, necessariamente, um critério para definição de tipologia de avaliação, uma vez que uma avaliação orientada para um determinado público pode assumir diferentes configurações dependendo de quem avalia.