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3. AVALIAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS 50 

3.1. O QUE É UM PROJETO SOCIAL 50 

Um dos objetivos principais de qualquer tipo de organização, privada ou pública, lucrativa ou não lucrativa; é a geração de resultados através da alocação e processamento dos recursos disponíveis à mesma. Todavia, a realização dessas ações, por si só, não garantem que os resultados alcançados estejam dentro das expectativas estabelecidas a priori. Nesse sentido, o uso do planejamento, conjunto coordenado de ações visando à consecução de determinados objetivos (FERREIRA, 2006), enquanto instrumento de gestão, tem se tornado uma prática considerada útil e necessária às organizações para que essas consigam atingir seus alvos dentro de padrões previamente estabelecidos. Essa coordenação de um conjunto ações por vezes pode ser traduzida dentro do ambiente organizacional através do conceito de projeto.

Atualmente, tal expressão, por sua capacidade de aplicabilidade em diferentes realidades, tem sido comumente usada em diferentes situações sociais (FIA, 2006): a realização de uma intenção – meu projeto de vida é construir uma família, uma doutrina ou filosofia de vida – nosso projeto é construir um Brasil mais justo, uma proposta – eis aqui o

projeto de lei que será apresentado ao presidente, um croqui de uma obra – na próxima reunião o arquiteto apresentará um esboço do projeto, dentre outras. Porém, em um caso

particular, o termo projeto tem sido usado para identificar empreendimentos específicos realizados por diferentes tipos de organizações, independentemente do contexto ou ambiente nos quais essas estão inseridas.

Nessa perspectiva, a noção de projeto historicamente está ligada às áreas de engenharia, sendo um dos marcos a aplicação do gráfico criado por Henry Gantt ao planejamento de obras no início do século XX, e de desenvolvimento de programas de computadores, que tem como referência a criação dos métodos Pert (Program Evolution and

Review Thechnique) e CPM (Critical Path Method) em meados do mesmo século (CODAS,

1987). Nesse contexto, a execução de um projeto poderia ser resumida à realização de atividades interligadas para se alcançar objetivos, dentro de prazo e custo pré-determinados. Entretanto, nas últimas décadas do século XX, observaram-se diversas mudanças (como, por

exemplo, a internacionalização de empresas e o desenvolvimento de tecnologias da informação) que influíram diretamente no ambiente organizacional. Junto com tais mudanças, viu-se também a ampliação de conceitos relacionados a projetos, como também do próprio termo, por meio da incorporação de conhecimentos oriundos da administração, economia, história, antropologia, psicologia, etc. (CODAS, 1987).

Por isso, de acordo com Codas (1987), diversos aspectos relacionados à execução de projetos sofreram sensíveis alterações, sendo uma delas os papéis do gerente de projetos, “cujo perfil foi sendo modificado, passando de frio planejador de redes de atividades ao articulador sensível aos problemas humanos, solucionador de conflitos, versátil ante mudanças drásticas de situação e ciente dos problemas do ambiente que circunda o projeto” (p.34). Atualmente, além dos objetivos (escopo), tempo e custo, considera-se também outros elementos no processo de planejamento de projetos, como qualidade, recursos humanos, comunicação, riscos e aquisições (PMBOK, 2004).

Cohen e Franco (1998, p.85), fazendo referência à Organização das Nações Unidas, definem projeto como “um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados”. Já Codas (1987, p.34) o define como um “sistema interligado de atividades de relativa complexidade, não-repetitivas, com objetivo pré-especificado, com restrições de custo e prazo, e recursos agrupados no início e dispersos no fim”. Uma terceira definição apresenta projeto como “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo” (PMBOK, 2004, p.5).

Apesar de gravitarem em torno do mesmo objeto, cada definição apresenta nuances singulares. Por isso, adotar a definição de um autor específico acarretaria reduzir a noção de projeto, visto que todas as nuances são pertinentes ao conceito. Portanto, optou-se por definir projeto a partir das três referências absorvendo, assim, as contribuições particulares de cada uma. Entende-se projeto, então, como um empreendimento singular, temporário e planejado, composto por atividades essencialmente não-contínuas, que tem como objetivo, previamente determinado, a criação de um produto, serviço ou resultado exclusivo, dentro de um contexto de custo, prazo e recursos restritos.

O adjetivo singular significa que não existem dois projetos iguais; já o temporário

indica que o mesmo possui uma duração finita ao longo do tempo. O termo planejado introduz a idéia de programação sistemática das atividades, que são caracterizadas como essencialmente não-contínuas por se distinguirem das atividades funcionais: atividades

realizadas regularmente, que “se repetem sempre do mesmo modo, com pequenas variações ao longo do tempo [...] [e sem] perspectiva de término” (MAXIMIANO, 1997, p.22). A criação de um produto, serviço ou resultado exclusivo se refere ao caráter idiossincrático dos objetivos do projeto; já as restrições de custo, prazo e recursos demonstram os limites nos quais o projeto está inserido, que podem ser ocasionados, tanto por orientação dos demandantes ou financiadores do projeto, quanto pelo contexto no qual a organização está inserida.

A utilização do adjetivo social, por sua vez, em conjunto com o conceito de projeto, não gera alterações no que se refere às características desse tipo de empreendimento ou quanto o modus operandi do mesmo. Seu emprego tem como razão especificar o escopo dos mesmos e o público alvo para o qual suas ações são direcionadas.

De acordo com a Cepal (1995) e Coutinho et al. (2006), qualificar um projeto como social significa dizer que as ações empreendidas têm como objetivo satisfazer determinadas necessidades de grupos sociais que eles não teriam como saciá-las de maneira autônoma através do mercado. Ele é, segundo a Cepal (1995, p.5), a “unidade mínima de alocação de recursos que através de um conjunto integrado de atividades, pretende transformar uma parcela da realidade, reduzindo ou eliminando um déficit, ou solucionando um problema”.

Nogueira (1998) define projeto social como

processos de conversão de intencionalidades políticas em conseqüências sobre a sociedade. Resultam da, e requerem a, mobilização de recursos cuja natureza, quantia atributos básicos, relações recíprocas, compatibilidade e convergência determinam seus conteúdos particulares e seus resultados (p.12 – tradução nossa).

Retomando as características de um projeto mencionadas acima, verifica-se que, por se tratar de um empreendimento temporário, um conceito comum na literatura sobre projetos é o de “Ciclo de Vida”, que, de acordo com Maximiano (1997, p.28), é definido como a “seqüência de fases que vão do começo ao fim de um projeto”. A divisão do projeto em fases tem como razão a definição e apresentação de todas as atividades que precisam ser feitas para o alcance do(s) objetivo(s) proposto(s). Essa idéia permite a visualização das atividades a serem realizadas de maneira sistemática, o que permite àqueles responsáveis pelo projeto melhor controle gerencial das operações a serem efetuadas. A adoção de tais práticas tem como justificativa o reconhecimento de que “quanto mais detalhado for o projeto, maior a possibilidade das atividades necessárias serem previstas e priorizadas, aumentando a possibilidade de alcançar o que se propôs inicialmente” (FIA, 2006, p.10).

Todavia, o conceito de ciclo de vida não traz em si uma prescrição das quais fases compõem o mesmo, sendo que, como bem destacado por Maximiano (1997) e no PMBOK (2004), cada projeto deve possuir um ciclo de vida adequado à sua realidade. Contudo, independentemente de quais fases componham um projeto, a característica que marca a transição entre as mesmas é o término e a aprovação de um ou mais produtos, que são o resultado mensurável e verificável do trabalho realizado (PMBOK, 2004).

Nesse sentido, um projeto é, nas palavras de Nóbrega (1982, p.43), um modelo, “uma simulação da realidade de forma que se possa viabilizar o produto final”. Sua função é a de servir como um “marco referencial, como memória [e como] instrumento de controle” (p.43) para o processo de execução, de forma que se possa, através da comparação com a concepção original, orientar os passos para o alcance de um resultado previamente estipulado.

A avaliação, por sua vez, inserida no contexto de projetos sociais, consiste em um instrumento de gestão que permite aos envolvidos no projeto verificar os resultados gerados a partir dos esforços empreendidos. Abaixo será apresentado o conceito mais detalhadamente.