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2.4 Revisão de Pesquisas sobre Qualidade de Auditoria

2.4.2 Em Instituições Financeiras

A auditoria é particularmente relevante em indústrias onde a incerteza da informação é maior (AUTORE; BILLINGSLEY; SCHNELLER, 2009). Esse preceito se aplica ao setor bancário, tendo em vista que a complexidade das operações e a dificuldade de avaliar o risco das carteiras geram incertezas quanto às informações. Kohlbeck (2005) destaca a importância da auditoria em bancos, afirmando que atende não só aos stakeholders externos, mas também à própria administração, pela agregação da expertise dos auditores, especialmente em operações mais complexas. O BCBS (2008) também ressalta a necessidade de auditorias como elemento de suporte à supervisão do sistema, dada a crescente complexidade das normas contábeis e dos instrumentos financeiros, incluindo a estimação do valor justo. Fields, Fraser e Wilkins (2004) sintetizam essa preocupação, ao afirmarem que se a auditoria em um banco falha em sua função de divulgar adequadamente considerações regulatórias importantes pode expor tanto os acionistas quanto os próprios clientes a riscos desnecessários.

A crise financeira global de 2008 é citada por Cameran e Perotti (2010) para justificar a percepção de que as demonstrações de instituições bancárias são mais nebulosas que as de entidades não financeiras, tendo em vista a dificuldade de se monitorar externamente os riscos de intermediação, incluindo empréstimos, outros ativos financeiros e operações com derivativos. Como consequência, segundo os autores, em ambientes dessa natureza a auditoria tem o papel particularmente importante de mitigar a assimetria de informações.

Coerente com esse entendimento, Kanagaretnam, Lim e Lobo (2010) destacam que as evidências obtidas em outros segmentos operacionais sobre a qualidade da divulgação financeira não necessariamente se repetem no sistema bancário, dado que os bancos operam

em ambiente fortemente regulamentado, monitorados pelos bancos centrais e/ou outras agências reguladoras. Somando esse aspecto à importância da indústria bancária para a economia, para os autores é surpreendente que haja poucas evidências na literatura sobre as implicações do trabalho dos auditores para a qualidade das informações no setor. A surpresa com o fato de o papel dos auditores no monitoramento dos riscos dos bancos ainda não ter sido adequadamente discutido é compartilhado por Zagonov (2011), que ressalta, especialmente, a proteção de uma das principais partes interessadas na saúde financeira dos bancos, os depositantes. Para Fields, Fraser e Wilkins (2004), o papel de intermediação desempenhado pelos bancos é vital para o funcionamento da economia - tanto para as corporações quanto para os indivíduos -, não se justificando que os pesquisadores contábeis pouco investiguem sobre os vários relacionamentos entre as instituições financeiras e seus auditores.

Ettredge, Xu e Yi (2010), Kanagaretnam, Krishnan e Lobo (2010) e Cameran e Perotti (2010) também chamam a atenção para a deficiência de estudos sobre auditoria no mercado financeiro. De forma geral, os estudos sobre auditoria excluem as instituições bancárias da amostra, dadas as particularidades desse segmento econômico, seja em relação aos ativos e às operações, seja em relação às exigências de regulação e de controles internos.

Entre os poucos trabalhos identificados na literatura sobre qualidade de auditoria em instituições bancárias, Jhol, Jubb e Houghton (2003) examinaram dados do sistema financeiro da Malásia em três períodos distintos – antes, durante e após a crise da Ásia – para identificar se as big five e os auditores especialistas realizavam serviços de auditoria de melhor qualidade, associado ao nível dos acrruals discricionários25. Os resultados sugeriram que, sem considerar as condições econômicas, a qualidade percebida do auditor (big five ou especialista) é associada com o menor nível dos accruals anormais. Ao se avaliar especificamente o período pré-crise, constatou-se não haver diferença no nível de gerenciamento de resultados praticado - clientes ou não das principais firmas de auditoria.

Kanagaretnam, Lim e Lobo (2010) avaliaram o efeito da reputação do auditor, representada pelas big five e pelo grau de especialização do auditor, na prática do gerenciamento de resultados de instituições bancárias, usando uma amostra de bancos internacionais e modelos de gerenciamento da PCLD. Os resultados demonstraram que, isoladamente, tanto o tipo de auditor (big five ou não) quanto o grau de especialização da

25

Nesse trabalho, os autores utilizaram o modelo de Jones, modificado por Dechow, Sloan e Sweeney (1995) para a identificação dos accruals anormais, o que não é muito comum em estudos sobre instituições financeiras, onde prevalecem os modelos de accruals específicos e não os de acumulações agregadas.

auditoria são relevantes para restringir a prática do gerenciamento de resultados. Testados conjuntamente, apenas a especialização do auditor apresentou relevância estatística.

Anteriormente, Kanagaretnam, Krishnan e Lobo (2009) também tinham utilizado o tamanho da firma (big five ou não) e expertise da auditoria como proxies da reputação do auditor para examinar se interferem na percepção do mercado sobre a avaliação da PCLD por parte dos bancos. Isoladamente, foi constatada relação positiva entre o componente discricionário da provisão e o retorno das ações para os auditados por big five, mas os testes adicionais revelaram que a expertise na indústria bancária e não o tamanho da firma é a proxy de reputação do auditor mais relevante para mitigar a assimetria de informação entre gestores e investidores, aumentando o valor informacional da provisão discricionária para perdas.

Para avaliar a independência do auditor na indústria bancária, Kanagaretnam, Krishnan e Lobo (2010) utilizaram a prática do gerenciamento de resultados em relação à PCLD como proxy de qualidade da auditoria, analisando sua relação com a remuneração paga aos auditores. Os resultados indicaram não haver associação entre remuneração não esperada e a prática do gerenciamento para os grandes bancos. Para as instituições financeiras de pequeno porte, porém, foi constatada relação positiva e estatisticamente relevante entre a PCLD anormal e a remuneração dos auditores.

O tamanho da firma (big four) também foi utilizado por Zagonov (2011) para avaliar se os bancos dos países integrantes do grupo G-10 auditados pelas maiores firmas de auditoria são percebidos pelo mercado como de maior credibilidade, encontrando evidências empíricas nesse sentido, com a ressalva de que essa associação depende essencialmente das previsões regulatórias e dos padrões contábeis adotados em cada país.

Jin, Kanagaretnam e Lobo (2011) avaliaram a capacidade de variáveis contábeis e de qualidade de auditoria, medidas em período anterior à crise financeira iniciada em 2007, para prever os bancos norte-americanos que faliram durante a crise. No que se refere às variáveis representativas de qualidade de auditoria, os resultados evidenciaram que os bancos auditados por big four ou por auditores com maior especialização na indústria bancária têm menor probabilidade de insolvência.

No Brasil, não foi encontrado nenhum trabalho que avalie especificamente a qualidade das auditorias em bancos, com a ressalva de que Santos (2008) analisou a relação entre a troca da firma de auditoria e a opinião emitida pelos auditores de instituições financeiras, no período de 1997 a 2007. Sem tratar de uma métrica de qualidade mais diretamente, o autor constatou que a opinião dos auditores externos não foi afetada pelas trocas obrigatórias da firma de auditoria, ou seja, não foi verificada associação entre a emissão de pareceres

modificados e a troca de auditoria realizada em atendimento às regras de rodízio, embora tenha constatado uma maior propensão à troca voluntária do auditor que emitiu parecer com opinião modificada.