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5. APURAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.6 Análise da Significância das Variáveis e Hipóteses de Pesquisa

5.6.7 Risco de Litigância contra os Auditores

O impacto do risco de litigância na qualidade dos serviços realizados pelos auditores é examinado a partir da hipótese de que há uma associação relevante e positiva entre esses dois fenômenos, sob o fundamento de que a expectativa de uma ação punitiva cria incentivos econômicos e reputacionais para que os auditores atuem de forma mais restritiva em relação à ação oportunista da administração.

Na apuração da medida indicativa do risco de litigância (RL), pela relação entre o volume de processos administrativos sancionadores julgados pelo BCB e pela CVM contra os auditores e o número de auditores em atuação no SFN, chama a atenção, inicialmente, o fato de que o número desses processos é relativamente pequeno. Conforme demonstrado na Tabela 12: os dois órgãos reguladores/fiscalizadores julgaram 46 processos administrativos contra auditores nesses dez anos; esse volume foi menor na segunda metade da década avaliada, indicando uma redução dos questionamentos, o que pode estar associado ao ambiente de questionamentos pós-Enron vivenciado no início dos anos 2000; o maior número de julgamentos foi realizado pela CVM.

Tabela 12: Número de processos administrativos sancionadores julgados pelo BCB e pela CVM contra auditores independentes, entre 2001 e 2010.

Regulador 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total

BCB 2 0 5 1 0 1 3 4 1 0 17

CVM 7 4 4 3 3 1 1 2 1 3 29

Total 9 4 9 4 3 2 4 6 2 3 46

No que se refere aos testes de associação entre as proxies de qualidade de auditoria e a variável RL, os testes empíricos com a proxy QAPCLD revelou relação positiva entre as

variáveis, coerente com a hipótese de pesquisa. Ao se utilizar a QADER foi evidenciada relação

negativa com o risco de litigância, resultado contrário ao previsto. Para a proxy de qualidade de auditoria baseada no comportamento dos resultados com TVM não foi encontrada relação estatisticamente significante entre as variáveis.

De forma equivalente ao verificado no caso da variável representativa do Comitê de Auditoria, a hipótese de pesquisa H7 é corroborada, tendo em vista a destacada prevalência do

modelo que utiliza o processo de constituição da PCLD como referência para se apurar a medida de qualidade de auditoria. Em síntese, de acordo com os critérios estabelecidos, é possível afirmar que nos momentos em que são aplicadas mais penalidades administrativas aos auditores, os trabalhos desenvolvidos por esses profissionais são de melhor qualidade.

sancionadores contra os auditores poder ser considerado pequeno no período examinado, esses profissionais reagem ao risco de penalidades com maior zelo em suas ações.

5.6.8 Rigor do Ambiente Regulatório

Historicamente, a resposta mais comum a crises de credibilidade nos serviços de auditoria tem sido a instituição de normas profissionais mais rigorosas, sob o argumento de que isso seria determinante para disciplinar a atuação dos auditores e a qualidade dos trabalhos desenvolvidos. O fato mais marcante para a profissão foi, na sequência do colapso da Arthur Andersen, em razão do escândalo da Enron, a substituição do processo de auto regulação da profissão, com a instituição do PCAOB e a definição de responsabilidades mais objetivas no âmbito da SOX.

Nesse contexto é testada a hipótese de que um ambiente regulatório mais rigoroso aumenta a qualidade das auditorias desenvolvidas nas instituições bancárias brasileiras. De acordo com os critérios expostos na letra “i” da Seção 4.2.2, o período de 2001 a 2010 considerado no estudo é dividido em três subperíodos, conforme o nível de rigor das novas profissionais vigentes na data-base da demonstração financeira examinada: de 2001 a 2002 (AR0102), de 2003 a 2009 (AR0309) e 2010 (AR10). Como é julgado que esses subperíodos

apresentam níveis crescentes de rigor e as variáveis são do tipo dummy, nos testes de associação com as proxies de qualidade de auditoria são avaliadas a AR0102 e a AR10, para as

quais são esperados sinais negativo e positivo, respectivamente, como condição para a confirmação da hipótese.

Nos testes empíricos realizados com a variável dependente QAPCLD não foram

encontradas relações estatisticamente relevantes. Ao se utilizar as variáveis QATVM e QADER,

porém, foi constatado que os trabalhos desenvolvidos nas demonstrações financeiras dos exercícios 2001 e 2002 (AR0102), quando as normas profissionais de auditoria são consideradas

menos rigorosas, apresentaram variações mais acentuadas na parcela discricionária do resultado com TVM e na posição líquida em derivativos, indicando auditorias de pior qualidade. Para as auditorias nas demonstrações referentes ao exercício de 2010 (AR10), ao

contrário, foi encontrada associação positiva com as proxies de qualidade de auditoria baseadas em TVM e derivativos.

Tendo por base os parâmetros de análise definidos no Quadro 6, conclui-se que a combinação desses resultados é consistente com a hipótese de pesquisa H8, apresentando

evidências de que nos momentos em que o ambiente regulatório é mais rigoroso as demonstrações financeiras registram menos indícios de manipulação, sugerindo auditorias de

maior qualidade.

5.6.9 Performance da Instituição Financeira

Os indicadores de performance da instituição financeira auditada também podem ser compreendidos como incentivos para a atuação dos auditores independentes, partindo do pressuposto de que os bancos com pior desempenho tendem a atuar de forma mais agressiva na elaboração de suas demonstrações financeiras para limitar a divulgação desse tipo de situação e que os auditores estarão mais expostos a esse tipo de pressão. Assim, é esperado que as auditorias realizadas em instituições com melhores indicadores de rentabilidade e de capitalização sejam de melhor qualidade, por sofrerem menos pressão oportunista da administração.

Para o indicador de retorno sobre os ativos (RSA) foi constatada relação positiva com QAPCLD e negativa com QADER. Para a medida de qualidade baseada em TVM não foi

encontrada relação significante com RSA. Considerando a destacada prevalência das medidas de qualidade baseada na constituição da PCLD, dada sua maior confiabilidade, conclui-se pela confirmação da hipótese de pesquisa H9A.

No que se refere aos indicadores de capitalização, seja o baseado na relação entre o patrimônio líquido e os ativos totais (CAP) ou o Índice de Basileia (IB), divulgado pelo BCB, os resultados são não conclusivos. Isso porque: (i) não foram encontradas relações significantes quando associados à QAPCLD, a proxy de qualidade de auditoria mais confiável;

(ii) para a proxy QADER foi identificada relação significativa e positiva com CAP; e (iii) para a

proxy QATVM foi constatada relação significativa e negativa com IB. Assim, a hipótese de

pesquisa H9B não é corroborada.