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Américo41 explica que: “o PSJ é um nome fantasia, porque o nome original dele é o Projeto de Combate à Pobreza Rural no Estado do Ceará (PCPR)”. Para o extensionista o PSJ é um nome fantasia criado, pelo governador Tasso, para substituir o antigo PAPP, cujo objetivo se define em atender as comunidades rurais carentes com recurso a fundo perdido. Entretanto, para efeito de publicidade e mais popularidade, Tasso Jereissati adotou o nome do Santo mais reverenciado pelo nordestino, sobretudo, padroeiro do Ceará42.

Ivone43, extensionista social e conselheira no CCSJ, diz que: “a meta do PSJ é atender as comunidades rurais, é minimizar a pobreza rural com projetos que venha gerar emprego e renda para a população carente do interior do Estado”. Explicou que nos últimos anos o PSJ facilitou para o homem do campo, por exemplo, energia e água. Diz que é grande vantagem para região onde a dependência da cultura do carro-pipa e da lamparina ainda é uma realidade constante.

Perguntado sobre a pertinência das demandas comunitárias, Américo afirmou: “todos os projetos são pertinentes e dificilmente ocorrem projeto destoante, que não representem os anseios das comunidades”. Ainda acrescentou: “de tudo as comunidades precisam, por isso fica difícil eleger a prioridade número um”. O conselheiro destacou o trabalho do Cmds e a orientação da Ematerce para os agricultores. Ele frisou: “[...] a gente tem se reunido e discutido com eles, discutido as prioridades, ver o que eles precisam dessas prioridades aqui, qual é a principal, que beneficia mais gente, que traz melhor retorno para vocês, que vai melhorar a produção e a qualidade de vida de todos”. Ele reconheceu que a prática da extensão rural no Ceará está baseado no modelo tradicional de difusão de tecnologias e afirma que: “fazer extensão é educar o homem do campo, politizar, transforma-lo, conscientizá-lo dos direitos e deveres”.

Américo questionou as autoridades públicas por não oportunizar ao agricultor educação básica para o exercício da cidadania rural. Para ele: “os associados muitas vezes

41 A entrevista com América foi feita pela manhã após o término da reunião do Cmds no dia 8/11/2000 no

auditório da Secretaria de Educação do Município de Quixeramobim.

42 No Nordeste geralmente, os governos estaduais, dão nomes aos programas de desenvolvimento rural de

santos de grande importância e valor no imaginário popular do sertanejo nordestino.

43 A entrevista com a extensionista social Ivone aconteceu no dia 17/10/2000 em sua sala da própria

por questão de educação e falta de conhecimento, discernimento, muitas vezes eles acham que o que é importante para eles é uma estrada, mas se eles não têm nem carro. Quando o principal problema seria o abastecimento d’água”.

De acordo com Américo, a falta de instrução dos associados é, às vezes, elemento impeditivo à discussão e à maior participação dos mesmos na alocação de recursos e, também, a investigar realmente o que está sendo aplicado ou distribuído. Perguntado sobre a fiscalização por parte dos sócios, disse: “a maioria não sabe nem quanto veio, ele não sabe nem quanto foi àquele projeto [conquistado]”. O conselheiro se refere ao grau de desinformação dos associados, de desinteresse em relação às atividades participativas da própria associação. Portanto, ele salienta que os perigos de manipulação e mau gerenciamento dos recursos sempre são mais fáceis em associações onde o nível de instrução dos beneficiários é fraco.

Diferentemente do ponto de vista de Américo, a extensionista social da Ematerce, Ivone, salienta que: “os sócios têm conhecimento, porque os recursos aplicados vêm diretamente para a conta em nome da associação comunitária – uma conta aberta no Banco do Brasil S/A em nome do presidente e do tesoureiro da associação”. Portanto, esses, enquanto responsáveis, prestam esclarecimentos sobre o andamento das finanças aos associados seja com relação aos recursos que entrou e como foram gastos. O entendimento da maioria dos entrevistados aproxima-se da versão do técnico, de que é um comportamento comum dentro das associações, os beneficiários não fiscalizar, não exigir prestação de contas, etc. Geralmente o conselho fiscal e a comissão de gerenciamento e acompanhamento do projeto não funcionando ativamente, poderá ocorrer mais facilmente desvios de recursos e o mau gerenciamento dos mesmos.

Com a experiência de mais de vinte anos na extensão rural e conhecedor da história de muitos programas implementados no Ceará, Américo contou que existe esperteza e influência política, por exemplo: “[...] existem muitos prefeitos que não sabem barganhar projetos, por isso não recebem como os outros mais espertos recebem”. Ele se mostra encantado com o município de Quixerambobim, pois conseguiu mais projetos do que outros municípios mais necessitados da região do Sertão Central. Militão também compartilha da mesma opinião de Américo quanto a esse assunto. O líder sindical acrescenta um ingrediente importante – a parceria existente entre as entidades no

município. Contudo, destacou: “[...] a influência dos políticos locais com a coordenação estadual do PSJ em Fortaleza”.

Sobre o peso das lideranças no processo, Américo associa o sucesso do programa em Quixeramobim: “as lideranças [locais] são mais fortes, são mais organizadas e têm acesso as secretarias de governo com mais facilidades, enquanto os [municípios] mais pobres, os mais carentes, os mais humildes têm mais dificuldades de chegar lá, tem menos acesso, por isso dificulta a liberação de recursos para eles”.

A divulgação do PSJ em Quixeramobim, no ponto de vista de Ivone: “motivou as comunidades a participarem mais”. Ivone enfatiza: “as comunidades estão mais atentas e sempre em alerta”. Ainda sobre o assunto, diz: “quando uma comunidade vê que o projeto saiu para ela, a outra comunidade vizinha já quer também elaborar o seu para ser beneficiada também”.

Tanto para Ivone quanto para Américo, o trabalho participativo está diretamente ligado ao coletivo, ao conjunto, a integração entre os sujeitos participantes. Américo explica que existe uma certa repulsa do sertanejo em lidar com trabalhos coletivos como mutirões, por exemplo. Segundo ele: “o individualismo herdado dos antepassados gerou uma prática individualista, que muitas vezes emperram o trabalho coletivo. O sertanejo não tem costume de trabalhar em sistema coletivo, porque sempre foi depositário de assistencialismo, o que criou uma cultura do conformismo e do comodismo”. O conselheiro faz referência à cultura política sertaneja afirmando que: “[...] a maioria são moradores de proprietários rurais. Eles são acostumados a ser sempre dirigido e não a dirigir os negócios deles”.