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Os escritos de Karl Marx sobre classes sociais dividiram-nas, basicamente, em duas grandes classes antagônicas (burgueses e proletários) ligados por uma relação de exploração (opressores e oprimidos). No Manifesto do Partido Comunista Marx afirmou: ―toda a sociedade está se dividindo, cada vez mais, em dois grandes campos hostis, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e o proletariado‖ (MARX E ENGELS, 1998, p. 5). Já no 1° Manuscrito Econômico filosófico, ele também destacou e reafirmou essa proposição, como vemos:

a distinção entre capitalistas e proprietário fundiário, bem como entre trabalhador rural e trabalhador industrial, deixa de existir e toda a sociedade se deve dividir em duas classes, os possuidores de propriedade e os trabalhadores sem propriedade‖ (MARX, 1989, p. 157).

A divisão da sociedade em classes sociais é encarada por Marx como uma categoria histórica7, visto que essa divisão não ocorreu em todas as sociedades

indistintamente, mas é resultante de um crescente desenvolvimento da divisão do trabalho social e do surgimento da propriedade privada. Foi nesse momento que os não produtores (detentores dos meios de produção) e os produtores diretos (trabalhadores destituídos de propriedade, exceto sua força de trabalho) se enfrentaram pela primeira vez na condição de explorados e exploradores, ―os possuidores de propriedade e os trabalhadores sem propriedade‖ (MARX, 1989, p. 157).

Essa afirmação vem ratificar o que disse Santos (1991, p. 19): ―o conceito de classes sociais se constitui teoricamente dentro do conceito de luta de classes. A luta de classes é, pois o conceito-chave para se compreender as classes sociais‖.

Na sociedade capitalista as relações dos homens entre si são mediadas pela propriedade e pelo uso dos meios de produção. Dessa forma, aqueles que detêm esses meios (capitalistas) se beneficiam de modo diferenciado daqueles que não os detêm (trabalhadores). Na realidade, as relações que se travam entre trabalhadores e capitalistas são movidas por interesses notadamente distintos e antagônicos.

Como muito bem caracterizou Marx (1989, p. 116): ―o trabalhador, em relação ao patrão, não se encontra de modo nenhum na situação de vendedor livre [...] o capitalista é sempre livre para empregar o trabalho e o operário vê-se obrigado a vendê-lo‖.A igualdade não passa de mera injunção formal presente na legislação. Como o trabalhador é destituído dos meios de produção, vê-se obrigado a vender sua única propriedade, sua força de trabalho, para sobreviver. Assim, sua força de

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Conforme Galliano (1981, p. 210-211) ―[...] a divisão em classes é resultado da evolução histórica da sociedade. [...] Quando Marx fala, por exemplo, de ‗proletariado‘ e ‗burguesia‘, esses termos têm para ele um sentido específico e concreto conferido pela relação estrutural dessas duas classes dentro da sociedade capitalista. Daí decorre que as classes sociais não são realidades imutáveis. À medida que a sociedade evolui, novas classes sociais surgem, se desenvolvem e se modificam, enquanto outras desaparecem. Reciprocamente, cada novo estágio do desenvolvimento da sociedade aparece como resultado da ascensão e da luta das classes sociais que o caracterizam‖.

trabalho torna-se também uma mercadoria, contudo, como esta não existe fora do trabalhador, este cede sua disposição de trabalho por um tempo determinado em troca de um salário. Esse salário reflete apenas a ínfima parte do produto do trabalho, sendo apenas o indispensável para existirem como trabalhadores.

Desse modo, como os trabalhadores precisam garantir cotidianamente os meios de subsistência precisam lutar pela possibilidade de realizarem sua atividade, isto é, pela oportunidade de trabalharem, visto que é o capital que demanda segundo os seus parâmetros de produtividade a absorção da força de trabalho.

O valor do trabalho fica completamente destruído se não for vendido a todo instante. O trabalho não pode nem ser acumulado nem poupado, ao contrário das autênticas mercadorias. O trabalho é vida e se não for todos os dias permutada por alimentos depressa sofre danos e morre (MARX, 1989, p. 116).

Pelo exposto é possível afirmar que os trabalhadores não podem ficar sem trabalho, haja vista que dele necessita para sua existência. Os capitalistas sabem disso e não somente fazem crescer o número de trabalhadores, mas criam, também, uma superpopulação, a qual forma um grande exército industrial de reserva, à espera de uma oportunidade de trabalho.

No consumo da força de trabalho pelo capital não somente o operariado trabalha sobre o controle e disposição do capitalista, mas também o produto é propriedade deste, não do produtor imediato, o trabalhador (MARX, 1983). Assim, ―quanto mais objetos o trabalhador produzir, menos ele pode possuir e mais se submete ao domínio do capital‖ (MARX, 1989, p. 159). Segundo Marx a realização do trabalho para o trabalhador se dá como alienação, visto que o trabalhador vê o produto de seu trabalho como algo estranho a ele e nele não se reconhece, como aponta:

[...] o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer, não pertence à sua natureza, portanto ele não se afirma no trabalho, mas nega-se a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz, não desenvolve livremente as energias físicas e mentais, mas arruína o espírito. Por conseguinte, o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades (MARX, 1989, p. 162).

Enquanto para o trabalhador o trabalho é sacrifício para o capitalista é sinônimo de garantia de mais riquezas. O emprego de trabalhadores pelos capitalistas só faz sentido porque eles esperam não somente serem revertidos os fundos aplicados em salários, matérias primas e objetos de trabalho, mas desejam lucrar através de suas aplicações (MARX, 1989) e, mais do que isso, anseiam por extrair mais valia do trabalho. Segundo Marx (1983, p. 162) ―a mais valia se origina de um excedente quantitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho‖. Assim, apreendemos que os capitalistas buscam não a satisfação de necessidade, mas o dinheiro acrescido, a acumulação de capital e para isso se utilizam do trabalho como fonte criadora de valor.

Portanto, a relação que se estabelece entre trabalhadores e capitalistas enriquece apenas estes, enquanto aumenta o domínio do capital sobre aqueles. Torna-se perceptível, nesse momento, uma relação de oposição e antagonismo. O trabalhador como sai perdendo nesse jogo rebela-se contra o capital e passa a lutar pelo reconhecimento e garantia de direitos.

A origem da luta de classes para Marx (2008, p. 67) deu-se

À medida que a burguesia se desenvolve, desenvolve-se também no seu interior um proletariado moderno: desenvolve-se uma luta entre a classe operária e a classe burguesa, luta que antes de ser sentida por ambos os lados, percebida, avaliada, compreendida, confessada e proclamada abertamente, manifesta-se previamente apenas por conflitos parciais e momentâneos, por episódios subversivos.

Desse modo, segundo Marx a luta de classes materializou-se através de lutas e conflitos concretos. Essas lutas em nível mundial se fizeram presentes, especialmente, em meados do século XVIII, quando diversas invenções começaram a revolucionar a manufatura e o transporte na Inglaterra, substituindo muitos artesãos que produziam com ferramentas simples em suas próprias casas, devido aos altos custos dos equipamentos para produção, que estavam fora do alcance econômico da maioria dos trabalhadores. Com a Revolução Industrial, mudou também o quadro urbano, com uma grande massa de trabalhadores morando nas cidades em condições insalubres.

Surgiu, assim, um vasto operariado fabril formado por ex-artesãos e um grande número de pessoas sem trabalho. ―Além disso, o trabalhador sente a cada momento que o burguês o trata como uma coisa, como sua propriedade‖ (ENGELS,

2008, p. 54), pois vivenciavam longas jornadas de trabalho, falta de higiene e salários insuficientes para sanar suas necessidades e de suas famílias. Desse modo, são impulsionados a lutar para assegurar uma melhor posição e uma condição mais humana, apesar de que, até o final do século XVII e início do século XIX, a organização de trabalhadores foi proibida em diversos países.

De acordo com Engels (2008) a primeira e mais brutal forma de luta foi o crime e ressalta que, com a expansão da indústria o número anual de prisões também cresceu. Contudo,

Os operários logo perceberam que o crime não ajudava em nada. O criminoso só podia protestar contra a sociedade existente sozinho, como indivíduo; todo o poder da sociedade caía sobre cada criminoso, e o esmagava com sua imensa superioridade. Além disso, o roubo [...] nunca se tornou a expressão universal da opinião pública dos trabalhadores, embora muitos deles pudessem aprová-lo em silêncio (ENGELS, 2008, p. 54).

Outra forma de luta das classes trabalhadoras foi a resistência à introdução da maquinaria, o que foi levado a cabo através de perseguições aos primeiros inventores e destruição de máquinas8. Essa forma de protesto ficou restrita a algumas localidades e no fim somente os trabalhadores eram punidos, enquanto a maquinaria era reintroduzida.

Foram resultados também de revoluções e motins no século XVIII, significativas conquistas em vários países, de que são exemplos os Estados Unidos, país pioneiro na construção de uma Constituição Federal baseada nos princípios de cidadania, apesar das diversas restrições aos negros, mulheres e índios; e a França, cuja população através dos diversos motins denunciou a situação de miséria e desemprego, culminando na Carta Magna de 1791. Estas conquistas, embora repletas, ainda, de concepções conservadoras, era o prenúncio de mudanças substantivas (SINGER, 2005).

Na Inglaterra um importante avanço foi a aprovação da lei de 1824, a qual concedeu o direito de associação e greve, que havia sido revogada no final do século XVIII. Haja vista que, durante esse período toda organização dos trabalhadores foi limitada, devido à clandestinidade e a necessidade de manter-se em segredo.

8 Um movimento na Inglaterra que usou a quebra das máquinas e que ficou mundialmente conhecido

Conforme Engels (2008, p. 55-56) na Inglaterra

Em todas as seções da indústria sindicatos foram formados com a intenção manifesta de proteger o operário isolado contra a tirania e negligência da burguesia. Seus fins eram negociar, en masse, como força, com os empregadores; regular a taxa de salários segundo o lucro dos últimos, elevá-la quando se oferecia a oportunidade, e mantê-la uniforme em cada ofício por todo o país.

Marx (2008, p. 62) corroborou com a afirmação de Engels ao falar sobre o objetivo da organização sindical: ―os sindicatos têm por fim impedir que o nível de salários desça abaixo da soma paga tradicionalmente nos diversos ramos da indústria e que o preço da força de trabalho caia abaixo de seu valor‖. Contudo, sabemos que essa finalidade até atendia os interesses e necessidades da época, porém, hoje, com as diversas inflexões ocorridas no mundo do trabalho e mesmo na esfera do Estado, as lutas do movimento sindical, precisam atuar nesse âmbito também, mas, sobretudo, deve superá-la. Daí ser tão relevante sua atuação para além dos direitos trabalhistas e corporativistas.

Foi no fim do século XIX e início do século XX que os direitos, especificamente, os direitos sociais, contaram com amplo alargamento, como já abordado, processo concomitante com a luta da classe trabalhadora que se fez sempre presente. Ora de forma mais combativa, ora de forma mais pontual, devido às diversas limitações e desafios colocados historicamente e diferenciadamente nos diversos países do mundo9.

Entretanto para Marx as lutas das classes trabalhadoras só fazem sentido à medida que tomam consciência de sua situação comum. Por isso, Marx faz uma importante distinção entre consciência de classe em si e consciência de classe para si:

A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum, interesses comuns. Por isso, essa massa é já uma classe diante do capital, mas não o é ainda para si mesma. Na luta [...] essa massa reúne-se, constitui-se em classe para si mesma. Os interesses que defende tornam-se interesses de classe (MARX, 2008, p. 67).

Como classe em si os trabalhadores reconhecem-se como classe

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As nações mais atuantes em termos de conquistas de direitos, nesse período, bem como de lutas da classe trabalhadora, foram os países desenvolvidos, nos quais se destacaram Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos (SINGER, 2005).

subalterna, com interesses comuns e antagônicos à classe burguesa. Porém, somente quando os trabalhadores tomam consciência de sua situação e objetivos e passam a lutar por seus objetivos, como sujeitos da história, tornam-se então classe para si. Esses momentos que parecem distintos, na realidade não o são, Iamamoto (2007) chama a atenção que estas dimensões são inseparáveis para a formação histórica das classes em Marx, elas se dão em um processo de transição (de classe em si para classe para si) e não de uma concepção de dualidade. Assim,

Em sua luta revolucionária, não basta o proletariado, assumir-se enquanto classe (consciência em si), mas é necessário assumir-se para além de si mesmo (consciência para si). Conceber-se não apenas como um grupo particular com interesses próprios dentro da ordem capitalista, mas também se colocar diante da tarefa histórica da superação dessa ordem. A verdadeira consciência de classe é fruto dessa dupla negação: num primeiro momento, o proletariado nega o capitalismo assumindo sua posição de classe para depois negar-se a si próprio enquanto classe, assumindo a luta de toda sociedade por sua emancipação contra o capital (IASI, 2007, p. 32).

A luta de classes na concepção de Marx é considerada como fator primordial para a busca e consolidação de direitos e, mesmo que a vitória não seja o seu resultado imediato, as lutas servem para unir, cada vez mais, os trabalhadores (MARX E ENGELS, 1998). Contudo, embora para Marx essas lutas parciais e momentâneas (motins, greves, entre outras) fossem importantes, era imprescindível que a luta se estendesse para um âmbito mais geral de transformação da própria realidade social como um todo. Essa luta daria origem a uma revolução que destronaria a própria ordem social vigente.

Para esse autor eram os proletários que deveriam destruir a relação de exploração pautada na propriedade privada, resultante do modo de produção capitalista (MARX E ENGELS, 1998). Apesar de tantos anos passados, a frase de encerramento do Manifesto do Partido Comunista (1998, p. 46) é extremamente atual, numa sociedade notadamente marcada pela divisão de classes e desigualdade social, e ainda ressoa em diversos movimentos de trabalhadores que lutam contra a opressão e exploração: ―Proletários de todos os países, uni-vos!‖. 2.2 O ESTADO BRASILEIRO E AS LUTAS DOS TRABALHADORES POR DIREITOS

No Brasil o Estado possui um legado histórico de repressão e autoritarismo, contudo, temendo as movimentações e conflitos, diversas vezes precisou ceder e criar, paulatinamente, e ainda que não tão amplamente quanto nos países desenvolvidos, um sistema de proteção social, visando amenizar os conflitos e dar legitimidade ao sistema de poder.

O processo de reconhecimento e garantia dos direitos sociais deu-se, mais concretamente, no início do século XX, quando algumas necessidades da população começaram a ser atendidas pelo Estado10. Esse processo foi determinado, fundamentalmente, a exemplo do que aconteceu nos países desenvolvidos, pela organização e lutas das classes trabalhadoras, representadas, principalmente, pelo movimento operário e sindical, resistindo e denunciando a opressão que lhe era imposta pela classe dominante e reivindicando a melhoria, tanto das condições de trabalho, quanto de vida.

Nesse período, o Estado passou a regulamentar e garantir os direitos sociais inspirados no padrão bismarckiano de origem alemã e posteriormente no beveridgiano, inglês. Porém, desde o final do século XIX já se esboçavam alguns direitos sociais, contudo, não ultrapassavam o âmbito dos profissionais do Estado.

É importante salientar que esse processo deu-se tardiamente, visto que diversos países desenvolvidos já contavam com significativos avanços no campo dos direitos. Aliás, o Brasil é marcado notadamente por sua inserção tardia em diversos processos que nos países desenvolvidos já se faziam presentes desde muito tempo, assim, podemos falar de capitalismo, industrialização, proteção social e neoliberalismo tardios.

Esse fato ocorreu em virtude da própria história e cultura brasileira, na qual durante muito tempo – desde o seu descobrimento até o século XIX – apresentou-se como uma colônia de Portugal, tendo como principal atividade a agricultura, cuja mão de obra era escrava.

Somente no final do século XIX, esse quadro começou a mudar, mais substancialmente, com a abolição da escravatura e o fim do regime monárquico,

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Ressalta-se, também, que ainda no século XIX e início do século XXI era vigente no país, a exemplo de outros países desenvolvidos o pensamento liberal formulado por Adam Smith, o qual pregava que no mercado os indivíduos eram juridicamente iguais e autônomos, sendo capazes de firmar acordos que não deviam interessar a ninguém para atender suas necessidades, não devendo o Estado intervir nessa relação. Apregoando a suposta premissa de que todos tinham as mesmas oportunidades e que era feita uma justa distribuição de bens, de acordo com a capacidade e talento de cada um.

vivenciando o país um novo cenário: a instituição de um regime republicano presidencialista e federalista, o incentivo ao trabalho livre assalariado executado, em grande parte, por mão de obra estrangeira e o crescimento das indústrias, que foi ainda maior durante a Primeira Guerra Mundial, já que nesse momento houve diminuição da concorrência européia (FÜCHTNER, 1980).

O novo cenário social que se apresentava no país, conseqüentemente, trouxe consigo tensões sociais crescentes e o surgimento de novos problemas sociais, face às condições precárias de trabalho e de vida na época. A questão social, já existente, embora não reconhecida, começou a revelar-se mais intensamente. Nesse contexto, as classes trabalhadoras passaram a ser mais presentes, reivindicando seus direitos.

Partilhamos da perspectiva utilizada por Netto (2001), o qual aborda a questão social como constitutiva do desenvolvimento capitalista. Desse modo, ―a ‗questão social‘ está elementarmente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital/trabalho – a exploração‖ (NETTO, 2001, p. 45), não podendo ser suprimida sem a eliminação do capital. Assim, cada novo estágio de desenvolvimento do capitalismo traz consigo novas expressões da antiga questão social. O Estado em meio às pressões dos trabalhadores passou a intervir mais concretamente, ainda que por muito tempo, a questão social fosse questão de polícia.

Portanto, a garantia e conquistas alcançadas no âmbito dos direitos no Brasil deram-se permeadas pela organização e mobilização de determinados setores da sociedade que lutaram pelo efetivo atendimento de suas necessidades e não foram meros presentes do Estado. Santos (2005, p. 82) salientou a relevância da luta na conquista de direitos:

A luta por direitos se realiza enquanto ação política, na medida em que a regulamentação de um determinado direito numa sociedade fundada no antagonismo de classe, não acontece naturalmente, mas é na maioria das vezes, produto da organização coletiva, da correlação de forças e da articulação entre luta institucional, parlamentar e luta popular, extra- parlamentar.

O estudo dessas lutas, manifestações e resistências demonstram suficientemente que, aquilo que foi consubstanciado em leis não foram dádivas ou benesses do Estado, mas um reconhecimento jurídico/legal das reivindicações dos

trabalhadores.

Dessa forma, como se apreende foram as classes trabalhadoras por meio de seu movimento operário e sindical, a força motriz de lutas que decorreram em importantes conquistas de direitos, durante quase todo o século XX. No Brasil, de acordo com Füchtner (1980) as primeiras associações de trabalhadores não foram organizadas de acordo com as profissões, mas eram associações urbanas de trabalhadores dos mais diversos ramos, nas quais eram realizados diversos programas para melhoria da situação social destes. Tais associações eram o prenúncio da resistência às condições de trabalho impostas pelo capitalismo emergente no Brasil. Segundo ele, a primeira organização de trabalhadores, baseada em profissões data de 1853: a Associação Tipográfica Fluminense, em Niterói.

Rezende (1986, p. 9) afirma, também, que se pode buscar ―as ‗raízes remotas‘ do movimento operário em sociedades de cunho mutualista, antes mesmo de 1888‖. Morais Filho (1978) reforça essa idéia e acrescenta dois casos de organizações operárias, com características de associação de classe, de trabalho livre, com finalidade de reivindicações: a Liga Operária, fundada em 1870 e a União Operária, instituída em 1880 pelos operários do Arsenal da Marinha. Morais Filho (1978, p. 182) ressalta que

É bem compreensível essa quase ausência total de organismos de tal natureza nos tempos do Império. Numa sociedade escravocrata, toda ela baseada no trabalho servil, com a indústria em seus primeiros ensaios, espalhada por um longo território, com escassa densidade populacional, não era possível encontrar clima próprio à organização coletiva do trabalho. Pouco ainda possuíamos de trabalho verdadeiramente urbano, exercido em grandes centros, que justificasse a aproximação dos poucos ocupantes de profissões livres em coalizões ou reuniões para tratar de seus interesses.