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PREVIDÊNCIA SOCIAL

4.1 A GÊNESE DA INTERVENÇÃO DA CUT NA POLÍTICA PREVIDENCIÁRIA

Foi na década de 1990 que a CUT passou a inserir, mais nitidamente em sua agenda sindical a temática das políticas sociais, fato que, também, foi determinado pelas mudanças em seu direcionamento, de combativa à propositiva. Apesar, de que no III CONCUT, em 1988, já tenha aparecido um item sobre as políticas sociais, apresentando algumas deliberações e posicionamentos da CUT defendendo ações contra a privatização das estatais; pela democratização de serviços básicos; reforma urbana; políticas de saúde e Previdência Social; reforma agrária; etc. (COSTA, 2000).

Costa (2000) realizou um estudo sobre a participação da CUT na definição e gestão das políticas públicas, demonstrando a inserção dessa Central nesse processo. Seu estudo revelou – algo já esperado, quando consideramos a inflexão sofrida pela CUT – a relação que a CUT passou a ter com o Estado na construção das políticas sociais: de conciliação e não embate.

Na perspectiva dessa autora a participação é positiva, tendo em vista que contribui para edificação da cidadania, passando a se posicionar diante de políticas, até então, esquecidas ou relegadas a outros movimentos sociais, tais como a política afirmativa de gênero e contra a discriminação racial.

Trabalhadores passou a apresentar linhas de ações relativas às políticas sociais, nas mais diversas áreas (Meio Ambiente, Criança e Adolescente, Seguridade Social, Habitação, entre outras).

No V CONCUT, em 1994, foi reconhecido que a Central deveria priorizar em sua atuação pela luta das políticas públicas, superando o estágio dos sindicatos filiados à CUT, os quais tem incluído em suas negociações com o patronato a prestação de serviços privados na área da saúde e educação, e mais recentemente Previdência, tanto os trabalhadores do setor privado, quanto do setor público. Esse aspecto dos sindicatos filiados era contraditório com a luta pela Central de direitos sociais, pois de um lado defendiam o papel do Estado para viabilizar as políticas públicas e de outro os sindicatos encaminhavam acordos para garantias de seguro saúde, planos de assistência médica e escolas privadas.

As táticas usadas pela CUT para interferir na definição e gestão das políticas públicas foram os conselhos paritários, as Câmaras setoriais, a estruturação da Secretaria de Políticas Sociais e mesmo propostas resultantes de discussões em suas plenárias enviadas ao Senado e/ou Câmara dos Deputados.

Ao analisar essas formas de ação em torno das políticas sociais apreendemos, também, conforme a configuração das políticas hoje e a atuação dos sindicatos, que tais táticas tem desmobilizado os trabalhadores, porque trazem como resultado a conciliação de classes, o não enfrentamento, porque ―transformam a luta da Central em co-participação na gestão da falência do Estado‖ (COSTA, 2000).

Apesar disso há os que aprovam a participação nos conselhos argumentando que a inserção da CUT é importante porque democratiza as políticas públicas, concede oportunidade de participação popular, permite fiscalização e controle e apresentação de propostas. Ao que nos parece, nesse sentido, o sindicalismo cutista desvirtuou o seu papel resumindo sua atuação sindical a mera participação e negociação. Que ainda que seja relevante nessa conjuntura, não deve ser superiorizada como a forma ideal de luta.

Ao restringir a luta da central simplesmente à essas táticas conciliadoras a CUT tem limitado suas ações a aspectos pontuais e não tem conseguido grandes conquistas, como é exemplo sua atuação diante das mudanças efetivadas na Previdência Social.

Entretanto, as ações da Central em estudo em torno da política previdenciária não são recentes. Se retrocedermos à gênese da CUT, já vamos ver

reivindicações em torno dessa política determinantes para os trabalhadores tanto no presente, quanto no passado e, especialmente, no futuro.

Vejamos na tabela abaixo quais as ações que a CUT empreendeu em torno da Previdência Social, antes mesmo de sua fundação até o Governo Collor.

Quadro II*

Lutas da CUT em torno da Previdência Social até o Governo Collor

EVENTO DATA AÇÃO

I CONCLAT 21, 22 e 23 de

Agosto de 1981. Um dos temas discutidos foi a Previdência Social Protesto Contra o

Pacote da Previdência 02 de junho de 1982 contra o Decreto Lei 1.910 sobre a Grande mobilização em Brasília Previdência Social. As

mobilizações se estenderam até 16 de junho, data da aprovação do

projeto. Jornada de Abril

contra o Governo Collor

Abril de 1991 Em defesa da, entre outras políticas, Previdência Social.

Dia Nacional de Luta em Defesa da Previdência Social.

21 de fevereiro de

1992 Atos públicos e protestos em todo o Brasil.

* Construído de acordo com a Cronologia de Lutas da CUT (2009).

Como podemos apreender desse quadro as ações da CUT em prol da Previdência Social datam de período anterior até mesmo a sua criação, quando as vertentes que darão origem à Central discutiram essa política no I Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, em 1981, no qual foi instituído a Comissão Nacional Pró CUT. Em 1982 tal movimento invadiu as ruas contra a aprovação da Lei 1.910, a qual definia a elevação das alíquotas de contribuição dos segurados e das empresas em geral destinadas ao custeio da Previdência Social e a contribuição dos aposentados em geral e dos pensionistas para custeio da assistência médica.

É interessante notar que durante quase toda a década de 1980 as lutas da CUT em torno dessa política tenham sido tão poucas, fato que pode ser justificado devido o crescimento e extensão da Previdência nesse período. Foi somente na

década de 1990 que as lutas reapareceram durante o Governo Collor de Mello para defesa da Previdência Social, tendo em vista que esse Governo marcou a adoção de políticas neoliberais no Brasil e a primeira tentativa de contrarreformar a Previdência Social, que foi, porém, impedida pela saída antecipada de Collor da Presidência da República.

Como vimos anteriormente, foi especialmente, na década de 1990 que a CUT passou por mudanças substanciais em seu direcionamento. Esse fato contribuiu para determinar seu modo de atuação nos períodos de contrarreformas da Previdência Social.

As lutas posteriores da Central pela defesa da Previdência Social se darão no solo de discussões neoliberais para retirada e/ou minimização de direitos previdenciários, durante os Governos de FHC e Lula.

Analisaremos agora qual foi o posicionamento da CUT diante das discussões para as contrarreformas da Previdência em 1998 e 2003. A análise de sua postura e propostas demonstra claramente a fraqueza de sua atuação, o que resultou – sem atribuir unicamente à CUT essa derrota para os trabalhadores – nas aprovações das contrarreformas propostas pelos Governos FHC e Lula e, consequentemente, em perdas para os trabalhadores, os principais prejudicados com essas inflexões na Previdência, como já analisamos.

4.2 ATUAÇÕES DA CUT DIANTE DA CONTRARREFORMA PREVIDENCIÁRIA NO