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2. BASILÉIA 2 E REGULAÇÃO BANCÁRIA INTERNACIONAL

2.2. Basiléia 1

2.2.3. Emenda de 1996 Risco de mercado

A incorporação do risco de mercado em Basiléia 1 reflete a mudança na forma de operação dos bancos, a partir do processo de desregulamentação dos sistemas nacionais, ocorrido na década de 1980 (Francis, 2006). Dentro de um contexto de maior volatilidade econômica, houve uma diminuição das barreiras entre as atividades de bancos e demais intermediários financeiros, numa tendência de crescimento da importância dos bancos universais. Títulos financeiros e instrumentos securitizados passaram a ter maior importância nos balanços bancários. Estas transformações foram reforçadas pelo desenvolvimento das operações de securitização de crédito, dos instrumentos derivativos e dos processos de fusão e aquisição nos mercados financeiros (não somente entre bancos, mas combinando bancos e outros agentes financeiros).

Deste modo, variações nos preços dos ativos financeiros aumentaram sua importância relativa no desempenho dos bancos. A maior diversidade e complexidade de suas atividades, a crescente interpenetração entre as economias, num contexto de desenvolvimento da tecnologia da informação, contribuiu para o surgimento de novos riscos e maior potencial de contágio. Estes fatos colaboraram para uma maior importância dos riscos associados às carteiras de trading dos bancos30, em detrimento aos riscos associados aos ativos mantidos até o vencimento.

De acordo com Claessens, Underhill e Zhang (2003), o Acordo de Basiléia em seu formato original, recebeu uma série de críticas do setor privado, relativas à falta de incentivos para que as instituições financeiras adotassem modelos de riscos mais sofisticados que o estabelecido pelo capital regulatório. Em grande parte estas críticas refletiam os impactos sobre

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Em adição ao demonstrado na Tabela 2, foi dado tratamento especial para derivativos relacionados a taxas de juros e de câmbio, como operações de swaps, de futuros e opções, pelo fato de que seus riscos de crédito não estão associados com o valor de face destes contratos, mas com o custo de reposição potencial de caixa em caso de default das contrapartes. Os montantes equivalentes de crédito destes instrumentos dependem de fatores como a maturidade do contrato e a volatilidade das taxas e preços em que se baseiam. Seu cálculo pode ter como base o valor da exposição por meio da marcação a mercado (método de exposição corrente), ou sua estimação com base num percentual sobre o valor nocional (método do valor original).

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A carteira de trading é referente aos instrumentos financeiros, que são mantidos intencionalmente com o objetivo de revenda no curto prazo, ou com vistas ao aproveitamento de diferenciais entre os preços de compra e venda, ou entre variações de taxas, posições mantidas para aproveitamento da posição casada de intermediários e market makers, ou de instrumentos utilizados como hedge de elementos da carteira de trading (BCBS, 1996:1).

os custos no setor. Esta posição foi explicitada em 1993, por meio de documento divulgado pelo Instituto Internacional de Finanças (Institute of International Finance

IIF), representante do setor bancário privado internacional.

Este fato gerou o início de um processo consultivo entre o BCBS e o setor privado, com a intenção de aperfeiçoar os mecanismos de adequação de capital tendo em vista o reconhecimento das práticas de gerenciamento de riscos adotadas pelo mercado. No mesmo ano, o BCBS apresentou uma proposta com a possibilidade da utilização de ferramentas de Value-at- Risk (VaR), que embora tenha sido bem aceita pelo mercado, foi considerada rudimentar em comparação aos mecanismos que os bancos internacionais já adotavam (Guttmann, 2006). Deste modo, as discussões evoluíram, até o formato final da emenda para incorporação do risco de mercado, divulgada em janeiro de 1996.

Esta Emenda apresentou uma inovação com relação à forma original de Basiléia 1, ao possibilitar que os bancos calculassem seu nível de exposição por meio de modelos internos. De acordo com Carvalho (2005), este fato significou um abandono da perspectiva tutelar de supervisão bancária, com a introdução de mecanismos de incentivos. Para este autor, o avanço da complexidade das operações bancárias, com a erosão da especialização em operações típicas de bancos comerciais, e com o desenvolvimento dos mecanismos de securitização de crédito, tornou o Acordo, nos moldes de 1988, obsoleto.

Segundo Carvalho (2005), esta mudança em direção a mecanismos de incentivo pode ser considerada um indicativo do reconhecimento da capacidade limitada por parte das autoridades de supervisão em antecipar atitudes imprudentes dos bancos e detê-los de forma adequada. Este fato reflete um novo ambiente, no qual houve a expansão das possibilidades de inovação financeira e de escape de formas rígidas de supervisão pelos bancos, derivada dos processos de desregulamentação e liberalização financeira.

O risco de mercado no Acordo de Basiléia é entendido como “o risco de perdas em posições dentro e fora dos balanços provenientes dos preços de mercado” (BCBS, 1996:1). São abrangidos como passíveis de requerimentos, os riscos relacionados a taxas de juros, preços de ações, taxas cambiais e commodities.

As exposições relacionadas a taxas de juros e ações são obtidas pelo valor de mercado das carteiras de trading dos bancos. As exposições de taxas de câmbio e commodities se referem ao banco como um todo. Há duas formas alternativas de cálculo destes riscos: a forma padronizada (standard) e modelos internos.

O cálculo padronizado utiliza um critério de building block, no qual são segmentados e somados os riscos específicos, provenientes dos emissores de cada papel separadamente, e os riscos gerais, correspondentes à carteira sob análise. Para a mensuração dos riscos de preço em opções, há uma gradação de sofisticação do modelo exigido, quanto maior for o engajamento neste tipo de operações. Os critérios e diferentes ponderações para estas exposições são fornecidos pelo BCBS.

Os modelos internos possuem como base cálculos de Value-at-Risk (VaR)31, calculados em base diária, com um horizonte de dez dias, com intervalo de confiança no 99º percentil, monocaudal. Adicionalmente, devem atender a uma série de precondições, tais como a existência de requisitos de gerenciamentos de riscos, de padrões qualitativos para o controle dos modelos, manuais especificando os fatores de risco de mercado considerados, padrões quantitativos estabelecendo parâmetros estatísticos comuns para a mensuração dos riscos, manuais para a realização de testes de estresse, procedimentos de validação e checagem externa dos modelos, e regras para os bancos que usam um misto entre os modelos internos e a forma padronizada.

Os modelos internos são relativos essencialmente ao cálculo dos riscos gerais. Os riscos específicos podem ser calculados pelos bancos, limitados a um mínimo de 50% do critério padronizado para os mesmos ativos. Quanto ao tipo de modelo adotado, é dada liberdade para que os bancos escolham o mais adequado.

Outro ponto relevante deste documento foi a inserção de uma categoria de capital adicional para a cobertura do risco de mercado (tier 3). Este grupo corresponde a dívidas

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As medidas de VaR procuram medir a perda máxima esperada de um ativo em um dado horizonte temporal e com um dado grau de confiança definido (Jorion, 1997:19).

subordinadas de curto prazo32, limitado a 125% da parcela do tier 1 utilizada para a cobertura do risco de mercado.