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EMENTA: ADMINISTRATIVO AÇÃO CIVIL PÚBLICA IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. convênio entre prefeitura e união. aquisição de veículo. ambulância. preliminar afastada. empresa. inexistência de conluio com os corréus. superfaturamento. comprovação do prejuízo. CONDENAÇÃO MANTIDA. APLICAÇÃO DAS PENAS. 1. Há que se considerar que a doutrina especializada já refutou os argumentos de inconstitucionalidade material de dispositivos da Lei n. 8.429/92, que possui assento no artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal, não subsistindo, desta forma, razão para o acolhimento das arguições de inconstitucionalidade, tanto formal, quanto material. No mesmo sentido, há precedente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 2. Em que pese a existência

de provas nos autos de que os corréus, então gestores públicos, tenham cometido falhas inescusáveis na condução do certame que culminou na compra da ambulância, com sobrepreço, em relação à concessionária ré não há provas de que tenha concorrido para o direcionamento da licitação. 3. Os elementos probatórios constantes no feito são fartos em apontar as condutas ilícitas dos réus, incorrendo no tipo descrito no artigo 10, incisos V, VIII e XII, da Lei n° 8.429/92. (TRF4 5002421-77.2016.4.04.7012, TERCEIRA TURMA, Relatora

MARGA INGE BARTH TESSLER, juntado aos autos em 23/03/2018)

a.3) da imprescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário

No dia 08 de agosto de 2018, o Supremo Tribunal Federal julgou o do RE n. 852.475

124 O expediente de inserção dos valores ilícitos nos custos dos contratos foi detalhado por Paulo Roberto Costa em seu depoimento colhido na Ação Penal nº 5026212 82.2014.4.04.7000, em audiência realizada no dia 08.10.2014. Segundo o ex-Diretor de Abastecimento, ao apresentarem suas propostas, as empreiteiras participantes do cartel somavam 3% ao seu BDI (Benefícios e Despesas Indiretas), majorando os preços, a fim de retirar do patrimônio da Petrobras o montante necessário para fazer frente às vantagens indevidas acertadas com agentes públicos. Tal proceder foi corroborado pelo depoimento de Eduardo Hermelino Leite (que atuava no núcleo da empresa CAMARGO CORREA), no qual expressamente consignou “QUE desse modo, o pagamento das propinas não impactava no lucro da CAMARGO CORREA, pois estavam embutidas como custo, sendo arcado pela PETROBRAS”.

em repercussão geral, sob relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, e firmou tese pela imprescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário fundada na prática de atos dolosos de improbidade administrativa.

A partir da interpretação restritiva do art. 37, §5 da CRFB/88, formou-se maioria de seis Ministros no STF125 em defesa da tese da imprescritibilidade das ações de ressarcimento

em caso de dolo. O STJ já vinha entendendo pela imprescritibilidade, embora sem operar a distinção entre casos culposos e dolosos (v.g. no AgRg no AREsp 663951/MG, Rel, Min. Humberto Martins, 2ª Turma, j. 14/04/2015, entre outros).

Saliente-se, ademais, que no julgamento do RE 669.069, de relatoria do Ministro Teori Zavascki, j. em 03/02/2016, firmou-se a tese de que é prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil, não tendo havido qualquer pronunciamento em relação aos atos de improbidade administrativa. Assim, não cabe invocar esse precedente para limitar no tempo a pretensão ressarcitória dos demandantes no caso dos autos.

Portanto, decidida definitivamente a questão pelo plenário do STF, não há espaço para alegação de perda da pretensão pelo decurso do tempo em relação ao pedido de ressarcimento integral dos danos quando haja comprovação de dolo na conduta dos agentes ou beneficiários. A efetiva recuperação de ativos decorrentes de corrupção não pode ser prejudicada com prazos prescricionais.

Em relação às outras sanções, defende-se que os prazos de prescrição decorrentes dos atos de improbidade administrativa que coincidam com condutas tipificadas na lei penal, conforme sucede no caso dos autos, sejam os prazos de prescrição aplicados aos respectivos crimes, dada a acentuada gravidade de ambas as categorias de atos, nos termos do art. 109 do Código Penal. Essa é a posição atual da 1ª Seção do STJ no ERESp 1.656.383.

Quanto aos requeridos que ocupam ou ocuparam cargo eletivo, o termo inicial da prescrição deve ser calculado apenas após o término do mandato que encerrar o exercício da função (REsp 1153079/BA, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 29/04/2010).

Desse modo, apenas em relação a FERNANDO BEZERRA DE SOUZA deve ser

reconhecida a prescrição das sanções, visto que deixou no final do ano de 2010 o cargo de

Secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (art. 23, I, da Lei 8.429/92). Contudo, permanece o dever de ressarcir o erário pelos atos de improbidade praticados.

a.4) extensão da pretensão de ressarcimento.

Três agentes envolvidos nos atos ímprobos objeto da presente demanda faleceram de modo que o espólio deve responder pela reparação do dano.

A Constituição Federal, no artigo 5º, XLV, prevê que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido ”.

O artigo 8º da Lei 8.429/92 é claro ao dispor que o sucessor do agente que causou lesão ao patrimônio público e enriqueceu ilicitamente está sujeito às cominações das sanções previstas pelos atos ímprobos até o limite da herança. A jurisprudência é clara nesse sentido também:

PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE 125 Luiz Edson Fachin, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Celso de Mello e Carmen Lúcia.

ADMINISTRATIVA - FALECIMENTO DO RÉU (EX-PREFEITO) NO DECORRER DA DEMANDA - HABILITAÇÃO DA VIÚVA MEEIRA E DEMAIS HERDEIROS REQUERIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - POSSIBILIDADE - ARTS. 1055 E SEGUINTES DO CPC - ART. 535 DO CPC. 1. Não pode o jurisdicionado escolher quais fundamentos devem ser utilizados pelo magistrado, que pauta-se na persuasão racional para "dizer o direito." Não-violação dos arts. 535, 165 e 458, II, do CPC. 2. A questão federal principal consiste em saber se é possível a habilitação dos herdeiros de réu, falecido no curso da ação civil pública, de improbidade movida pelo Ministério Público, exclusivamente para fins de se prosseguir na pretensão de ressarcimento ao erário. 3. Ao requerer a habilitação, não pretendeu o órgão ministerial imputar aos requerentes crimes de responsabilidade ou atos de improbidade administrativa, porquanto personalíssima é a ação intentada. 4. Estão os herdeiros legitimados a figurar no pólo passivo da demanda, exclusivamente para o prosseguimento da pretensão de ressarcimento ao erário (art. 8º, Lei 8.429/1992). Recurso especial improvido. (REsp 732.777/MG, 2ª Turma, Rel. Ministro Humberto Martins, DJ 19/11/2007, p. 218)

Pelos processos de inventário juntados a este inicial, não foi possível identificar a transferência de patrimônio de EDUARDO HENRIQUE ACCIOLY CAMPOS,

ILDEFONSO COLARES FILHO e SEVERINO SÉRGIO ESTELITA GUERRA aos

herdeiros, razão pela qual são demandados apenas os espólios dos referidos, através dos inventariantes.

a.5) a perda da aposentadoria pelo regime do plano de seguridade dos congressistas (pssc).

Entre as sanções cabíveis para a prática de atos de improbidade administrativa, destaca-se a perda da função pública, consoante o artigo 37, § 4º, da Constituição Federal, e o artigo 12 da Lei nº 8.429/92, que fulmina os vínculos jurídicos decorrentes da relação mantida com a Administração Pública. Por isso mesmo, caso o agente ímprobo já tenha passado para a inatividade, a sanção de perda da função pública acaba por ensejar a cassação da própria aposentadoria concedida. Essa orientação também é amparada em recentes precedentes do C. Superior Tribunal de Justiça, como se vê nos seguintes arestos:

PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA. ANÁLISE DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. INCABÍVEL AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE.

(...)

4. A ausência de previsão expressa da pena de cassação de aposentadoria

na Lei de Improbidade Administrativa não constitui óbice à sua aplicação na hipótese de servidor aposentado, condenado judicialmente pela prática de atos de improbidade administrativa.

5. Trata-se de consequência lógica da condenação à perda da função pública,

pela conduta ímproba, infligir a cassação da aposentadoria ao servidor aposentado no curso da Ação de Improbidade.

6. Agravo Regimental não provido.

(AgRg no AREsp 826.114/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/04/2016, DJe 25/05/2016)

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

(...)

2. A Lei 8.429/92 não comina, expressamente, a pena de cassação de

em sentença transitada em julgado. Todavia, é consequência lógica da condenação à pena de demissão pela conduta ímproba infligir a cassação de aposentadoria a servidor aposentado no curso de Ação de Improbidade.

(...)

4. Segurança denegada.

(MS 20.444/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/11/2013, DJe 11/03/2014)

No caso em tela, parte dos demandados ocupam os cargos de Deputado Federal e Senador da República, e, portanto, fariam jus ao “Plano de Seguridade dos Congressistas” (PSSC) instituído pela Lei n.º 9.506/97, da qual se destacam os seguintes dispositivos:

Art. 2º O Senador, Deputado Federal ou suplente que assim o requerer, no prazo de trinta dias do início do exercício do mandato, participará do Plano de Seguridade Social dos Congressistas, fazendo jus à aposentadoria:

I - com proventos correspondentes à totalidade do valor obtido na forma do § 1º: a) por invalidez permanente, quando esta ocorrer durante o exercício do mandato e decorrer de acidente, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificadas em lei;

b) aos trinta e cinco anos de exercício de mandato e sessenta anos de idade;

II - com proventos proporcionais, observado o disposto no § 2º, ao valor obtido na forma do § 1º:

a) por invalidez permanente, nos casos não previstos na alínea a do inciso anterior, não podendo os proventos ser inferiores a vinte e seis por cento da remuneração fixada para os membros do Congresso Nacional;

b) aos trinta e cinco anos de contribuição e sessenta anos de idade.

§ 1º O valor dos proventos das aposentadorias previstas nos incisos I e II do caput será calculado tomando por base percentual da remuneração fixada para os membros do Congresso Nacional, idêntico ao adotado para cálculo dos benefícios dos servidores públicos civis federais de mesma remuneração.

§ 2º O valor da aposentadoria prevista no inciso II do caput corresponderá a um trinta e cinco avos, por ano de exercício de mandato, do valor obtido na forma do § 1º.

(…)

Art. 4º Para os fins do disposto nesta Lei considerar-se-á:

I - tempo de contribuição, aquele reconhecido pelos sistemas de previdência social do serviço público, civil ou militar, e da atividade privada, rural e urbana;

II - tempo de exercício de mandato, o tempo de contribuição ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas ou ao Instituto de Previdência dos Congressistas.

§ 1º A apuração do tempo de exercício de mandato e do tempo de serviço será feita em dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano como de trezentos e sessenta e cinco dias.

§ 2º Para a concessão dos benefícios do Plano de Seguridade Social dos Congressistas, serão desconsiderados os períodos de tempo excedentes a trinta e cinco anos, bem como os concomitantes ou já considerados para a concessão de outro benefício, em qualquer regime de previdência social.

Assim, de acordo com a Lei n.º 9.506/97, o PSSC concede aos parlamentares federais os seguintes benefícios:

aposentadoria com proventos integrais, após 35 anos de exercício de

mandato e 60 anos de idade, para ambos os sexos.

aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de exercício de

mandato, após 35 anos de contribuição e 60 anos de idade, para ambos os sexos. Neste caso, os proventos serão calculados à razão de 1/35 (um trinta e cinco avos) por ano de mandato.

especificada em lei ou acidente de trabalho, com proventos integrais.

aposentadoria por invalidez permanente, nos demais casos previstos em lei,

com proventos proporcionais calculados à razão de 1/35 (um trinta e cinco avos) por ano de mandato, assegurado o mínimo de 26% (vinte e seis por cento) do subsídio parlamentar.

pensão por morte do segurado, paga aos dependentes definidos em lei. A

pensão corresponderá ao valor dos proventos de aposentadoria que o segurado recebia ou a que teria direito, assegurado o valor mínimo de 13% (treze por cento) do subsídio parlamentar.

De se notar, desta forma, que a prática de ato de improbidade administrativa em razão do exercício mandato parlamentar deve acarretar a cassação da aposentadoria

eventualmente concedida e/ou a perda do direito à contagem e fruição do período contributivo, ainda que proporcional, na forma especial prevista no PSSC, como

decorrência ínsita à previsão constitucional e legal da sanção de perda da função pública, ainda que o mandato já tenha findado.

Neste ponto, vale destacar que o caráter contributivo do regime previdenciário e vislumbrado enriquecimento sem causa do Estado não configuram óbice ao pedido ora formulado, seja porque se trata da medida de natureza sancionatória, própria do sistema de responsabilização pela prática de atos de improbidade administrativa, como decorrência da própria sanção de perda da função pública, seja, ainda, porque o período contributivo envolvido apenas não deve ser utilizado para concessão de benefícios do próprio PSSC, ao qual o agente ímprobo se vinculou justamente em razão da função pública no exercício da qual praticou os atos de improbidade administrativa perseguidos, podendo ser considerado tal período para fins de contagem recíproca e aproveitamento no Regime Geral de Previdência Social.

Realmente, ao tratar da penalidade de cassação de aposentadoria em procedimento administrativo disciplinar, em decorrência da prática de ato de improbidade administrativa – situação análoga à presente –, o E. Supremo Tribunal Federal já reconheceu que não há incompatibilidade com o caráter contributivo do regime previdenciário. Confira-se o seguinte aresto:

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DISCIPLINAR. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. ART. 142, I E § 2º, DA LEI N. 8.112/90. INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO APÓS A INATIVIDADE. POSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DISCIPLINAR. PRESIDENTE DA REPÚBLICA. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA.

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