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INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA CELERIDADE PROCESSUAL, AMPLA DEFESA E RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO.

1. Discute-se nos autos a competência para processar e julgar ação civil pública de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal contra servidores públicos e particulares envolvidos na prática de crimes de descaminho de cigarros oriundos do Paraguai e destinados ao Estado de Sergipe.

2. Não há na Lei 8.429/92 regramento específico acerca da competência territorial para processar e julgar as ações de improbidade. Diante de tal omissão, tem-se aplicado, por analogia, o art. 2º da Lei 7.347/85, ante a relação de mútua complementariedade entre os feitos exercitáveis em âmbito coletivo, autorizando-se que a norma de integração seja obtida no âmbito do microssistema processual da tutela coletiva.

3. A ratio legis da utilização do local do dano como critério definidor da competência nas ações coletivas é proporcionar maior celeridade no processamento, na instrução e, por conseguinte, no julgamento do feito, dado que é muito mais fácil apurar o dano e suas provas no juízo em que os fatos ocorreram.

4. No caso em análise, embora haja ilícitos praticados nos Estados do Paraná, São Paulo e Sergipe, o que poderia, a princípio, caracterizar a abrangência nacional do dano, deve prevalecer, na hipótese, a informação fornecida pelo próprio autor

da demanda de que a maior parte dos elementos probatórios da ação de improbidade encontra-se situada em São Paulo. Ressalte-se, ainda, ser tal localidade alvo da maioria dos atos ímprobos praticados e sede dos locais de trabalho dos servidores públicos envolvidos.

5. Interpretação que se coaduna com os princípios da celeridade processual, ampla defesa e duração razoável do processo.

6. Conflito conhecido para declarar competente o juízo federal de São Paulo, o suscitante.

(CC 97.351/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 10/06/2009)

No caso concreto, a maior parte dos elementos probatórios desta ação encontra-

se em Curitiba/PR pois é a localidade em que foram apurados os fatos pela Polícia Federal e

pelo Ministério Público Federal e onde estão em curso as ações de improbidade administrativa e as ações penais em desfavor de pessoas não detentoras de foro por prerrogativa de função relacionadas à Operação Lava Jato.

Portanto, analisadas as diferentes perspectivas pelas quais se pode entender a delimitação da competência territorial para as ações de improbidade administrativa, conclui-se que o foro federal da Seção Judiciária do Paraná é competente para o processamento e julgamento desta demanda, no caso concreto. Em síntese:

a) no caso de reconhecimento de dano de âmbito nacional, o foro da Seção Judiciária do Paraná é competente de modo igual aos demais foros federais das capitais dos Estados e do Distrito Federal para o julgamento desta demanda;

b) no caso de prevalência da localidade onde está a maior parte dos elementos probatórios (consoante jurisprudência do STJ), é o foro da Seção Judiciária do Paraná o competente.

presente feito, insta ressaltar que em outras ações de improbidade ajuizadas em razão de enriquecimento ilícito, dano ao erário e violação aos princípios da Administração Pública decorrentes do pagamento de propina no âmbito da Petrobras, já foi reconhecida a competência da Justiça Federal de Curitiba.

Diante disso, em vista da extensão nacional do dano e da localização dos elementos probatórios, e em atenção aos princípios da celeridade processual, da ampla defesa e da duração razoável do processo, firma-se a competência da Seção Judiciária de Curitiba para o processamento e julgamento desta demanda.

Assim, com base no artigo 2º da Lei n.º 7.347/85, c/c o artigo 93, inciso II, da Lei n.º 8.078/90, resta evidenciada a competência do foro federal da Seção Judiciária do Paraná para processar e julgar a presente ação civil pública de responsabilização por atos de improbidade administrativa praticados em meio ao esquema de corrupção instalado na Petrobras.

d.4) Continência com a ação civil pública por ato de improbidade administrativa nº 5025933-28.2016.4.04.7000.

A presente Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa é continente em relação à AIA referida em epígrafe, sob o aspecto objetivo, porquanto imputados atos de improbidade em maior extensão, veiculando, de consequência, pretensão condenatória mais ampla em relação à empresa QUEIROZ GAVÃO. Ademais, a presente demanda traz ampliação subjetiva e objetiva em relação à contida, porquanto aqui figuram como demandados os demais réus, integrantes do esquema ilícito narrado, aos quais são imputados atos de improbidade e/ou concurso e benefício decorrente dos atos ímprobos e formulada pretensão condenatória, além da postulação de tutela provisória cautelar.

Naquela ação a AGU propôs tal demanda contra a QUEIROZ GAVÃO por ser consorciada à GALVÃO ENGENHARIA nos contratos 0800.0033808.07.2 (terraplanagem RNEST) e 0800.0060702.10.2 (UHDT COMPERJ).

E) A TUTELA PROVISÓRIA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS E VALORES DOS DEMANDADOS.

Considerando o expressivo enriquecimento ilícito deslindado e o gravíssimo prejuízo experimentado pela PETROBRAS, com fundamento no artigo 7º da Lei nº 8.429/92, no artigo 12 da Lei nº 7.347/85 e nos artigos 294 e seguintes do Código de Processo Civil, requerer-se a concessão de tutela provisória de indisponibilidade de bens e valores, pelos fundamentos a seguir expostos.

O artigo 7º, da Lei nº 8.429/92159, com fundamento na diretriz constitucional (artigo

37, § 4º, da Constituição Federal160), prevê a medida cautelar de indisponibilidade de bens

e valores com vistas a assegurar a aplicação das sanções devidas pela prática de atos de

improbidade administrativa. O dispositivo legal prevê expressamente que a medida cautelar dessa natureza englobe bens suficientes para assegurar a perda do acréscimo patrimonial

ilícito e a reparação dos danos causados ao erário, tendo restado pacificada a 159 Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

160 Art. 37. § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça sobre a sua incidência também para assegurar a aplicação da multa civil, sanção pecuniária prevista na Lei de Improbidade

Administrativa161.

Ressalta-se, a respeito do dano causado ao erário, que a responsabilidade dos réus é

solidária, na medida em que tenham agido conjuntamente, nos termos do artigo 275162 c/c o

artigo 942, caput, 2ª parte163, ambos do Código Civil, e c/c o artigo 5º da Lei n.º 8.429/92. No

mesmo sentido caminha a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça164.

A indisponibilidade de bens e valores integrantes do patrimônio dos demandados que ora se postula é medida impostergável para garantir o resultado útil deste processo em que se persegue a aplicação das sanções previstas no artigo 12, inciso I, da Lei n.º 8.429/92, porquanto se afigura estrondosa a lesão causada ao patrimônio público e desmedido o locupletamento ilícito obtido pelos réus em detrimento da Petrobras.

O fumus boni iuris necessário à medida ora postulada restou bem evidenciado na petição inicial da presente ação civil pública, porquanto minuciosamente narrado, com base em alentados e robustos elementos probatórios, o esquema de corrupção de que participaram os demandados para o favorecimento ilícito em detrimento da Petrobras. Efetivamente, bem evidenciada está a participação dos agentes públicos e também dos ex-agentes públicos ou terceiros que com eles se conluiaram, seja concorrendo ou induzindo para os atos de improbidade perpetrados, seja deles beneficiando-se na espécie, bem assim o desmedido locupletamento ilícito obtido, tendo sido realizada na exordial desta ação a cabal delimitação das condutas individualmente protagonizadas.

Como já enfatizado, a totalidade da vantagem ilícita vertida ao esquema engendrado na espécie, no importe de, ao menos, R$ 108.153.206,05, bem como o superfaturamento de R$ 781.715.443, constituem efetivo prejuízo ao erário, por ser indene de dúvida que o custo do locupletamento foi repassado à PETROBRAS por meio da fixação de preços para os negócios que contemplavam o montante da propina e a inflação dos lucros, pois que evidentemente as contratações entabuladas eram propiciadas pela própria corrupção, com o que a estatal arcou com o prejuízo.

Tendo em vista que o esquema ilícito instalado na Diretoria de Abastecimento da

PETROBRAS:

i) foi articulado e sustentado por integrantes da cúpula do Partido do Movimento

Democrático Brasileiro (PMDB), com base na própria estrutura partidária, o demandado VALDIR RAUPP DE MATOS e tal agremiação são responsáveis pela reversão do referido

locupletamento ilícito, visto que ele corresponde a prejuízo evidente suportado pela

PETROBRAS, no total de, ao menos, R$ 108.153.206,05, correspondente ao valor da propina paga, bem como o prejuízo de, no mínimo, R$ 487.167.408,45, referente aos contratos nos quais foi apurada, até o presente momento, a rubrica do lucro;

161 Precedentes: MC 24.205/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2016, DJe 19/04/2016, AgRg no REsp 1383196/AM, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 10/11/2015, REsp 1161049/PA, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/09/2014, DJe 29/09/2014, AgRg no REsp 1414569/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 13/05/2014.

162 Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

163 Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

164 REsp 678.599/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/10/2006, DJ 15/05/2007, p. 260.

ii) foi articulado por integrantes da cúpula do Partido Socialista Brasileiro (PSB), com base na própria estrutura partidária, os demandados EDUARDO HENRIQUE ACCIOLY

CAMPOS, FERNANDO BEZERRA DE SOUZA COELHO e tal agremiação são

responsáveis pela reversão do referido locupletamento ilícito, visto que ele corresponde a prejuízo evidente suportado pela PETROBRAS, no total de, ao menos, R$ 40.724.872,47, correspondente ao valor da propina paga, bem como prejuízo no valor de, no mínimo, R$ 217.982.240,29 (duzentos e dezessete milhões, novecentos e oitenta e dois mil, duzentos e quarenta reais e vinte e nove centavos), no qual está incluído o dano ao erário decorrente do lucro ilicitamente auferido no contrato e aditivos de tubovias de interligações da Refinaria Abreu e Lima obtido pela QUEIROZ GALVÃO.

iii) foi evitada a sua descoberta por SEVERINO SERGIO ESTELITA GUERRA e

EDUARDO HENRIQUE DA FONTE DE ALBUQUERQUE SILVA, que enriqueceram

ilicitamente no valor de R$ 10.000.000,00, correspondente ao valor da propina paga, bem como concorreram para o prejuízo R$ 97.781.450,00 causado pelo consórcio de empresas que pagaram os valores indevidos;

iv) foi sustado pelo Grupo QUEIROZ GALVÃO e seus executivos e funcionários - ANDRÉ

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