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EMISSÕES SIMULTÂNEAS DE DEBÊNTURES

CAPÍTULO II – ALTERAÇÕES DO REGIME PELA LEI Nº 12.431/2011

7. EMISSÕES SIMULTÂNEAS DE DEBÊNTURES

A LSA estabelecia na redação anterior do §3o do art. 59 que a companhia não poderia: (i) efetuar nova emissão de debêntures antes de colocados todos os títulos das séries323 de emissão anterior, ou antes do cancelamento das séries não colocadas; e (ii) negociar nova série da mesma emissão antes da colocação integral da série anterior ou do cancelamento do saldo não colocado.324

Essa proibição de emissões simultâneas restringia as oportunidades de uso das debêntures para a captação de recursos no mercado de renda fixa (ou de dívida), restringindo o desenvolvimento desse mercado. Yazbek, ao citar Pinheiro Guimarães, explica que a redação anterior do referido parágrafo servia “para evitar que a companhia emissora acessasse ‘novamente mercado que já se mostrou pouco receptivo às debêntures de emissão ou série anterior”, bem como levava em conta a “preocupação com a ‘derrama’ irresponsável de títulos e com os efeitos desta para as séries anteriores”.325

Presumir que os debenturistas e o mercado seriam prejudicados com lançamentos simultâneos, é antecipar uma preocupação que cabe somente àqueles que pretendem subscrever o título. É o próprio mercado que deve avaliar os riscos, por meio das informações divulgadas pela sociedade emissora, existindo mecanismos suficientes para protegê-los.

323

Como nos ensina Pinheiro Guimarães (Ob. cit., p. 611), “as séries são conjuntos de debêntures que, embora sejam da mesma emissão e devam se da mesma espécie, podem ser diferentes quanto ao valor nominal e aos direitos conferidos. As garantias que vierem a ser constituídas em favor dos debenturistas devem beneficiar igualmente todas as debêntures da mesma emissão.” E prossegue o referido doutrinador, “se a emissão tem uma única série, a padronização das debêntures é completa. Na emissão com duas ou mais séries, a padronização somente é obrigatória quanto à espécie, podendo as demais condições – valor nominal, taxa de juros, prêmio de reembolso, participação no lucro ou conversibilidade em ações – ser distintas.”

324 A redação revogada era a seguinte: “§3º. A companhia não pode efetuar nova emissão antes de colocadas

todas as debêntures das séries de emissão anterior ou canceladas as séries não colocadas, nem negociar nova série da mesma emissão antes de colocada a anterior ou cancelado o saldo não colocado.”

A regra revogada era anacrônica e parecia ter sido idealizada no período pós encilhamento326, quando as informações e comunicações não fluiam na velocidade dos tempos atuais e levavam as pessoas a negociarem os títulos com assimetria informacional.

Em benefício do desenvolvimento do mercado, a Lei no 12.431/2011 revogou o parágrafo 3o do artigo 59 da LSA, anteriormente vigente, conferindo-lhe nova redação nos seguintes termos:

“§ 3o A assembleia geral pode deliberar que a emissão terá valor e número de série

indeterminados, dentro dos limites por ela fixados.”

Dessa feita, o novo regime jurídico passou a permitir a emissão simultânea ou concomitante de novas debêntures, sejam elas de nova emissão ou de nova série, o que certamente beneficia o desenvolvimento do mercado de renda fixa e coloca à disposição das companhias mecanismos que ampliam os instrumentos de gestão financeira.327

Tome-se, como exemplo, uma grande companhia que tenha diversos projetos em seu pipeline. Para financiá-los, o melhor instrumento disponível é o título debenturístico. Imagine-se que dois projetos precisam ser lançados na mesma “janela de oportunidade” do mercado e, para tanto, dependem do lançamento simultâneo de debêntures. Considere, ainda, que a companhia prefira lançar duas emissões distintas, uma para cada projeto, de modo a alocar adequadamente os custos financeiros e de emissão. No regime anterior à Lei no 12.431/2011, tal pretensão seria inviável. Os prejuízos ao desenvolvimento do mercado e à expansão da atividade econômica eram inequívocos.

326 De acordo com Carvalhosa (Ob. cit., pp. 655-656), “o movimento especulativo no mercado mobiliário do Rio

de Janeiro que trouxe a República e o errático Ministério de Rui Barbosa incentivou, em seus estertores, ou seja, no final de 1892, o movimento das debêntures, emitidas pelas companhias fantasmas criadas com o intuito de lesar o público e enriquecer seus incorporadores. No desastre econômico e social que se instalou na praça do Rio de Janeiro nos anos de 1890 e 1892 lançou-se, como último recurso, a emissão de debêntures por companhias fictícias. Não tendo mais público para lançar ações, usaram o expediente de emitir debêntures voltadas, segundo os ‘manifestos’, à consolidação e fusão ‘dos grandes grupos’. Os investidores tiveram os títulos ao portador (debêntures) a derradeira oportunidade de perder seu patrimônio.” Ao narrar a pesquisa de Jeffrey Needell, que escrevera a obra Belle époque tropical, conclui o jurista que “a avalancha de debêntures no período de encilhamento caracterizava-se, nos aspectos criminosamente especulativos, pelas informações privilegiadas a que tinham acesso os intermediários e os burocratas.”

327 Yazbek (Ob. cit., p. 581) destaca que a retirada da proibição permite “um maior aproveitamento das

oportunidades de captação de recursos eventualmente surgidas durante o período de colocação de uma emissão. A abertura de tal possibilidade mostra-se ainda mais relevante quando se pensa em companhias de grande porte, que podem ter distintos projetos para financiar ao mesmo tempo e para as quais, desta maneira, não se mostra razoável cria restrições daquela natureza.”

Atualmente, com a nova redação do art. 59, inexiste proibição ao lançamento simultâneo de debêntures pela mesma companhia, ampliando-se a autonomia da vontade neste ponto. Nem por isso os debenturistas ficaram desprotegidos. Elevaram-se os padrões de transparência e se aperfeiçoaram os “mecanismos informacionais”, na opinião de Yazbek328, permitindo aos debenturistas amplo acesso às informações dos emissores.