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Sistemas de registro, custódia, compensação e liquidação de debêntures

CAPÍTULO III – MERCADO DE DEBÊNTURES

1. FUNCIONAMENTO DO MERCADO DE DEBÊNTURES NO BRASIL

1.2. Sistemas de registro, custódia, compensação e liquidação de debêntures

Atualmente, a CETIP – Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip), mantém dois sistemas que são utilizados para o registro da colocação e negociação de debêntures: o Sistema de Distribuição de Títulos (SDT) e o Sistema Nacional de Debêntures (SND).

O SDT – Sistema de Distribuição de Títulos foi criado em 1.986 e tem por finalidade operacionalizar e dar suporte às colocações públicas de valores mobiliários, realizadas pelas sociedades anônimas de capital aberto, necessariamente registradas na CVM. Trata-se de sistema eletrônico que permite a colocação das debêntures no mercado primário, por meio dos underwriters, sem a necessidade de emitir boletim de subscrição, sendo a emissão automática.349

Após a colocação, o sistema eletrônico efetua o lançamento das debêntures subscritas, mediante depósito nas posições dos adquirentes, e as transfere automaticamente para o SND, após a liquidação financeira.350

Já o SND - Sistema Nacional de Debêntures foi criado no mesmo ano do SDT, pela ANDIMA (atualmente, ANBIMA) e outras entidades representativas do mercado, com o objetivo de tornar as operações financeiras mais eficientes e seguras, por meio da escrituração das colocações de títulos privados351, no âmbito do mercado secundário. O sistema foi transferido, em 1o de julho de 2.008, para a Cetip S/A Balcão Organizado de Ativos e Derivativos, sociedade constituída após a abertura de capital da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip)352. 349 Estudos especiais, p. 35. 350 Estudos especiais, p. 35. 351

“O Sistema foi estruturado nos moldes do SELIC - Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que havia sido lançado em novembro de 1979 para efetuar o controle escritural das operações realizadas com papéis públicos.”

352 A Cetip foi criada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 1.984, passando a operar a partir de 1.986.

As linhas a seguir retratam o momento vivido pelo Brasil no ano de sua inauguração: “Em 1986, em uma década que marcou o Brasil com grandes transformações, nascia a Cetip. À época, diversas mudanças aconteciam em âmbito político, econômico, social e cultural. A empresa — instituída pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 1984, e que passou a operar em março de 1986 — surgiu como o porto seguro das instituições financeiras e ajudou o Brasil a superar diversos desajustes financeiros e seus planos econômicos.” Além da origem, as funções da central são destacadas em seu sítio eletrônico, a saber: “A Cetip é a integradora do mercado financeiro. É uma companhia de capital aberto que oferece serviços de registro, central depositária,

A Cetip, por sua vez, opera o mercado de balcão de debêntures em todas as suas etapas: registro/negociação, custódia, compensação e liquidação financeira de operações. Integra os sistemas de liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário, no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)353.

No tocante à normatização do SPB, a Lei no 10.214, de 27 de março de 2.001, que resultou da conversão da Medida Provisória no 2.115-16/2001, passou a regular a atuação das câmaras e dos prestadores de serviços de compensação e de liquidação.

Além disso, a Resolução no 2.882, do Conselho Monetário Nacional, estabeleceu os princípios básicos de funcionamento do SPB, seguindo as recomendações efetuadas pelo BIS - Bank for International Settlements e pela IOSCO - International Organization of Securities Commissions, destacando-se os seguintes: princípios da eficiência, segurança, integridade e confiabilidade.354

Ainda, a Lei no 10.214/2011, em seu art. 2o, especifica os sistemas e procedimentos compreendidos no Sistema de Pagamentos Brasileiro, dentre eles, “as entidades, os sistemas e os procedimentos relacionados com a transferência de fundos e de outros ativos financeiros, ou com o processamento, a compensação e a liquidação de pagamentos em qualquer de suas formas.”

Já os sistemas específicos de compensação e liquidação de operações com títulos e valores mobiliários, aplicáveis às debêntures, integram o SPB e dependem de “autorização concedida às respectivas câmaras ou prestadores de serviços de compensação e de liquidação, pelo Banco Central do Brasil ou pela Comissão de Valores Mobiliários, em

negociação e liquidação de ativos e títulos. Por meio de soluções de tecnologia e infraestrutura, proporciona liquidez, segurança e transparência para as operações financeiras, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do mercado e da sociedade brasileira. A empresa é, também, a maior depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior câmara de ativos privados do país.” (Disponível em: http://www.cetip.com.br/Institucional/Historia-HaMaisDe25AnosACompanhiaIntegraOMercadoFinanceiro#!. Acesso em: 01/12/2013).

353 O Banco Central do Brasil (BACEN), em reforma introduzida nos anos de 2.001 a 2.002, colocou em

funcionamento o Sistema de Transferência de Reservas (STR), de modo a aperfeiçoar a administração de riscos, o que deu origem a uma nova fase do Sistema de Pagamentos Brasileiro, permitindo a liquidação em tempo real, em caráter irrevogável e incondicional, o que possibilitou a redução dos riscos de crédito e de liquidez nas operações interbancárias, bem como minimizou o chamado risco sistêmico. Ver informações em: http://www.bcb.gov.br/?SPBINTROD.

354 O art. 3o da Resolução CMN no 2.882 traça as regras gerais a serem observadas nos sistemas de pagamentos,

suas áreas de competência”, confome disposto no inciso III, parágrafo único, do artigo 2o anteriormente referido.

Com relação ao funcionamento do SDT – Sistema de Distribuição de Títulos, onde ocorre a colocação pública de debêntures no mercado primário, devem ser observados os seguintes procedimentos355:

(a) Registro da emissão perante a CVM por companhia aberta. Se se tratar de companhia fechada, devem-se efetuar dois registros na CVM: de companhia aberta e da colocação pública de valores mobiliários;

(b) Contratação de instituição financeira (pode ser uma ou mais), que será a coordenadora ou líder para a distribuição dos títulos no mercado;

(c) Cadastro no SDT, tanto da sociedade emissora como do título a ser emitido, elaboração e envio do modelo de boletim de subscrição à CVM. Com o registro da emissão perante a CVM, passa-se ao lançamento dos debenturistas no sistema.

O SND – Sistema Nacional de Debêntures, por sua vez, conforme seu manual de operações, registra todas as debêntures de colocação pública aprovadas pela CVM. Com o registro da emissão naquela Autarquia, a Cetip efetua o registro das debêntures no SND e, na sequência, deposita-as no módulo de distribuição de títulos (SDT). Com a colocação das debêntures no mercado, a emissão dos boletins de subscrição e a liquidação financeira, os títulos subscritos são lançados na conta de cada participante (debenturista).356

355

Estudos especiais, pp. 41-43.

356 Manual de Operações do SND, p. 4. Disponível em: http://www.cetip.com.br/Upload/manuais_de_operacoes.

Carvalhosa destaca que o SND, o SDT e a Cetip “são disciplinados pelas normas de autorregulação, representadas pelos respectivos Regulamentos de Operações dos três segmentos.”357

Além dos sistemas da Cetip, a BMF&Bovespa possui dois sistemas para negociação de títulos privados de renda fixa: (i) Bovespa Fix; e (ii) Soma Fix.

O primeiro é definido como o segmento de negociação de títulos e valores mobiliários de renda fixa no mercado de bolsa administrado pela BM&FBOVESPA, sendo que os participantes desse segmento farão o registro da oferta no sistema para manifestar sua intenção de compra ou venda de determinado ativo e as negociações serão realizadas em uma ou mais rodas autorizadas pela própria bolsa. O Bovespa Fix é uma plataforma de negociação eletrônica de ativos.

Já o Soma Fix é a negociação de títulos e valores mobiliários de renda fixa privada no mercado de balcão organizado da BM&FBovespa, com funcionamento assemelhado ao do Bovespa Fix e, também, em plataforma de negociação eletrônica de ativos. Na fase de pós-negociação, a BMF&Bovespa possui câmara de compensação, liquidação e gerenciamento de riscos de operações no segmento Bovespa e central depositária de ativos (anteriormente denominada CBLC).

A doutrina revela, ainda, que “grande parte das operações do mercado secundário (e também, entre nós, primário) de debêntures são realizadas no mercado de balcão organizado”.358

Cumpre destacar, por outro lado, que a emissão de debêntures também pode se dar no mercado de balcão não organizado, que é aquele em que as operações são realizadas entre as instituições financeiras e as sociedades distribuidoras de valores mobiliários, sociedades que tenham por objeto a compra de valores mobiliários em circulação no mercado, para os revender por conta própria, e as sociedades ou agentes autônomos que tenham a

357 Ob. cit., p. 817, nota de rodapé 371. 358 Carvalhosa, ob. cit., p. 816.

função de mediação de valores mobiliários, desde que não realizadas em bolsa ou em sistemas administrados por entidades de mercado de balcão organizado.359

Em razão dos sistemas centralizados de custódia e compensação e de sua forma escritural, as debêntures “vêm cada vez mais se restringindo aos investidores institucionais”360

.

Comparativamente, nos Estados Unidos, a New York Stock Exchange (NYSE) possui a plataforma de negociação eletrônica chamada NYSE Bonds, que é uma das maiores plataformas centralizadoras do mercado de bonds norte-americano, sendo que a compensação e a liquidação são realizadas pela National Securities Clearing Corporation (NSCC), uma subsidiária da The Depository Trust & Clearing Corporation (DTCC), de maneira centralizada, melhorando a eficiência do sistema e reduzindo os custos e os riscos da atividade.361

Importantes mudanças foram realizadas no mercado de bonds norte-americano para dar mais transparência às operações realizadas. Em julho de 2.002, introduziu-se o Transaction Reporting and Compliance Engine (TRACE), que passou a obrigar os participantes do mercado a informar à NSCC sobre todas as negociações realizadas com bonds ofertados publicamente, tornando a informação disponível para o público em geral.

Da mesma forma, os bonds ofertados publicamente devem ser registrados na Securities and Exchange Commission (SEC) ou podem ser colocados em ofertas privadas aos

359 Art. 21, §3o, c.c. art. 15, I, II e II, ambos da Lei no 6.385/1.976. 360 Carvalhosa, ob. cit., p. 816.

361 O mercado secundário norte-americano responde por 99% de todas as transações realizadas com valores

mobiliários naquele país. Existem dois principais mercados para a negociação de valores mobiliários nos Estados Unidos, conforme nos explica Palmiter (Ob. cit., pp. 2-3): “There are two principal markets for public trading of

securities in the United States: exchange markets and over-the-counter markets. On the exchange markets buy and sell orders arrive at a centralized location where ‘specialists’ maintain a ‘book’ of orders to match buyers and sellers – a continuous auction. The New York Stock Exchange (NYSE) is the largest and most famous stock exchange. In the over-the-counter (OTC) markets buying and selling occurs between securities firms that have access through computer terminals and price sheets to information on bidding and selling prices offered by other securities firms. The most famous OTC market is NASDAQ, an electronic ‘spider’s web’ originally created by the nonprofit National Association of Securities Dealers to permit its members linked by computer to quote prices and make trades with each other (NASDAQ is now an independent nonprofit organization). Securities firms that use NASDAQ act as intermediaries (brokers) in matching customer orders or as principals (dealers) trading for their own account. In addition to the exchanges and the OTC markets, new computer-based trading systems create possibilities for investors (particularly large institutional investors and securities firms) to trade directly without the need for additional intermediaries. Known as electronic communication networks (ECN’s), these alternatives trading systems allow their subscribers to trade privately and at less expense.”

chamados accredited investors – são os investidores qualificados ou institucionais. Além disso, as sociedades emissoras contratam agências de risco para avaliarem a sua credibilidade e a sua capacidade financeira para honrar os compromissos de pagamento assumidos nas escrituras de emissão.362