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5.3 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO DISTRITO FEDERAL – ELEMENTOS PARA A

5.3.3 Emprego e renda no Distrito Federal

Já nos primeiros anos de ocupação do território do DF, ficou delineada que a estrutura de ocupação do espaço urbano seria marcada por forte desigualdade social – que permanece até os dias de hoje. Os trabalhadores da construção civil responsáveis pela construção do Plano Piloto, a maioria de baixa renda, foram alocados nas áreas classificadas como invasões ou núcleos urbanos provisórios, e os funcionários públicos, a maior parte advinda da capital fluminense, foram acomodados na região central, o Plano Piloto. Portanto, já no período de construção da cidade, Brasília se tornou o retrato do Brasil: um local marcado pela desigualdade sócio-espacial entre o Plano Piloto e as demais localidades que surgiram ao redor desta área central e planejada.

O gráfico 6, a seguir, apresenta a renda média domiciliar mensal em salários mínimos de 2010, por RA e mostra a existência de 3 claras subdivisões de renda no DF. Há uma zona de elite, formada pelos Lagos Norte e Sul, Sudoeste/Octogonal, Park Way e Plano Piloto, com renda média mensal superior a 20 salários mínimos, bem acima da média do DF – 9,7 salários mínimos por domicílio. No segundo bloco estão as RAs com renda de classe média alta e classe média baixa, cujos rendimentos oscilam próximo a média do DF supramencionada; tem-se aqui as seguintes cidades satélites: Águas Claras, Cruzeiro, Guará, Taguatinga, Núcleo Bandeirante e Sobradinho I e II, com rendimentos entre 8 e 12 salários mínimos. Ainda no segundo bloco, tem-se também uma classe média com menor poder aquisitivo, compreendendo as seguintes RAs: Candangolândia, Gama, Riacho Fundo I e São Sebastião, com renda domiciliar mensal variando entre 5 e 8 salários mínimos. E no terceiro e último bloco de RAs, encontram-se as cidades satélites com as populações de mais baixa renda do DF, com renda domiciliar mensal menor que 5 salários mínimos: Ceilândia, Samambaia,

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Recanto das Emas, Santa Maria, Brazlândia, Riacho Fundo II, Planaltina, Varjão, Estrutural e Itapoã. O destaque negativo fica por conta das localidades Estrutural e Itapoã.

A figura 1, exposta a seguir, ilustra bem a segregação sócio espacial entre as 30 RAs existentes a partir da distribuição desigual da renda no DF. O cinturão que circunda o Plano Piloto, formado pelos Lagos Norte e Sul, Sudoeste e Park Way, é detentor das maiores rendas médias, criando uma ilha de prosperidade com altos rendimentos no coração do DF. Na medida em que vai se afastando do Plano Piloto, o rendimento médio cai e vai se configurando a criação de periferias cada vez mais precarizadas e de rendimentos cada vez menores na mesma proporção do afastamento do Plano Piloto. Nota-se que salvo algumas exceções, como a cidade satélite Estrutural – que surgiu como periferia próxima ao Plano

2,3 2,5 2,9 3,4 3,6 3,6 4,1 4,3 4,3 4,5 4,6 4,7 6,2 6,5 7,4 8,3 8,5 9 9 11,1 11,8 12,3 13,4 19,8 21,3 21,6 21,8 23,4 26,6 9,7 Estrutural Itapoã Varjão São Sebastião Paranoá Recanto Das Emas Samambaia Planaltina Riacho Fundo II Santa Maria Brazlândia Ceilândia Riacho Fundo I Gama Candangolândia N. Bandeirante Taguatinga Sobradinho I Sobradinho II Guará I e II Vicente Pires Cruzeiro Águas Claras Sudoeste/ Octogonal Park Way Brasília Jardim Botânico Lago Norte Lago Sul Distrito Federal

Renda Mensal em Salários Mínimos (SM) de 2010/11

Gráfico 6: Renda Domiciliar do DF por RA, em Salários Mínimos, em 2010/11.

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Piloto – a regra é que as zonas de exclusão social se posicionem em locais cada vez mais distantes da área central e planejada do DF.

Destaca-se também que os altos salários da área central se justificam pela concentração de funcionários públicos do Governo Federal e do GDF que, se residem em tais localidades, também concentram a maioria dos postos de trabalho do funcionalismo público distrital e federal. No DF, as moradias mais próximas dos postos de trabalho são também as mais valorizadas – fenômeno inverso das demais metrópoles brasileiras em que os centros urbanos sofreram processo de degradação e consequente desvalorização imobiliária. O elemento fundamental da valorização da área central de Brasília se dá não apenas por abrigar a estrutura burocrática do Estado brasileiro, mas também pelo tombamento da região feito pela UNESCO, impondo um rígido controle sobre o processo de ocupação da região em estudo.

Figura 1 – Renda média domiciliar mensal em Salários Mínimos DF, por Região Administrativa em 2008.

Renda Familiar Mensal em Salários Mínimos (SM) de 2008.

Legenda: Maior que 20 SM De 10,1 a 20 SM De 5,1 a 10 SM De 3,1 a 5 SM De 1 a 3 SM Fonte: Codeplan, 2008.

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O emprego formal é um importante indicador de mobilidade de uma cidade. Os movimentos pendulares que tem por ação o labor são os mais comuns e ditam a estrutura da mobilidade dos centros urbanos. Assim, o índice de locomoção dos indivíduos na cidade é proporcional ao quantitativo de emprego disponível, uma vez que o trabalho leva os indivíduos a deslocamentos típicos do tipo casa-trabalho-casa. O gráfico 7, a seguir, indica que nos últimos anos, o DF vem aumentando significativamente o número de postos de trabalho, passando de 730 mil pessoas empregadas no ano 2000, para mais de 1,25 milhões em janeiro de 2012 – evidenciando que o número de pessoas empregadas aumentou em 71,4% nos últimos 12 anos. Em tal período, a taxa de desocupação da população economicamente ativa recuou de 23% em 2000, para 11% em 2012, representando algo próximo a 150 mil pessoas sem trabalho.

Brasília foi construída para abrigar a capital político-administrativa do país e tem na Administração Pública uma de suas maiores fontes empregadoras. O ano de 2010 fechou com cerca de 205 mil pessoas empregadas neste setor, absorvendo mais de 23% da população ocupada do DF – aspecto identificado como 8% maior que o verificado nas Regiões Metropolitanas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre, por exemplo, confirmando a vocação de Brasília voltada para o setor público.

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 P o p u la çã o E co n o m ic a m e n te A ti v a

Fonte: PED/DF (SEDEST/GDF, DIEESE e SEADE/SP).

Gráfico 7: Evolução da população economicamente ativa do DF (N° de empregados e desempregados entre 2000 e 2011)

População Empregada População Desempregada

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Este segmento de trabalho perde apenas para o setor de serviços que emprega quase 600 mil pessoas – algo em torno de 50% da população ocupada do DF, conforme indicação da tabela 2, exposta a seguir.

O segmento de serviços e a administração pública geraram menos empregos do que a média total de postos de trabalho criados no DF nos últimos dez anos, com crescimento de 56,3% e 29,4%, respectivamente. Faz-se importante ainda destacar o segmento da construção civil, que aumentou em 146% o que representa 3,5 vezes a mais que a média total da geração de empregos. Outro setor que cresceu acima da média foi o comércio, com alta de 82% para o período analisado. O aumento em mais de 2000% dos outros setores da economia, a saber: agropecuária, serviços domésticos, representações diplomáticas e outros serviços não classificados na PED, demonstra a diversificação que vem sofrendo a economia do DF nos últimos anos – fator que também contribuiu para o crescimento na geração de empregos na UF em análise.

Tabela 2 – Estimativa do número de pessoas ocupadas por setor de atividade econômica - Distrito Federal 2000/2011 (em milhares)

Setores da

economia 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Var. 00/11 (em %) Serviços 408 409 489 502 545 565 604 536 536 590 593 637 56,3 Adm. Pública 158 160 177 185 179 195 171 176 188 198 205 204 29,4 Comércio 105 111 138 143 161 171 159 177 180 188 183 192 82,1 Construção Civil 28,8 27,6 36,1 29,6 35,1 36,4 48,2 51 56 60 69 71 146,5 Ind.Transformação 26,8 27,8 31,5 32,4 31,8 35,6 40,8 42 49 42 52 47 75,3 Outros (1) 4,7 7,6 10,2 9,1 7,7 8,8 10,5 114 115 110 103 103 2.091 Total 731 743 882 901 960 1.012 1.034 1.096 1151 1.188 1.206 1.253 71,4 Onde: (1) Englobam: serviços domésticos, agricultura, pecuária e extração vegetal e mineral; embaixadas, consulados e representações políticas e outras atividades não classificadas.

Fonte: PED/DF (SEDEST/GDF, DIEESE e SEADE/SP). Apoio: Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT

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6 A CULTURA DO AUTOMÓVEL NA SINGULARIDADE BRASILIENSE