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7.1. Conceito

Nos termos do artigo 315 do Código Penal, o crime consiste em dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.

Embora sejam figurantes semelhantes, o crime previsto no artigo 315 do Código Penal não se confunde com o crime de peculato (CP, art. 312).

No crime de peculato, o funcionário público desvia dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, em benefício próprio ou alheio. No crime previsto no artigo 315 do Código Penal, o funcionário público desvia verbas ou rendas públicas em proveito da própria Administração Pública.

Trata-se, pois, de conduta menos grave, já que o funcionário público não busca se locupletar ilicitamente, mas desviar a finalidade da verba ou renda pública, em proveito da própria Administração Pública.

Assim, se um ordenador de despesas de determinado órgão público utilizar verba legalmente destinada à construção de um ginásio municipal para a construção de hospital, responderá pelo crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas (CP, art. 315), e não por peculato (CP, art. 312), já que não empregou a verba em benefício próprio ou de outrem, mas em favor da própria Administração Pública.

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7.2. Objetividade jurídica

O objeto jurídico é a Administração Pública,

especificamente em relação à regularidade da destinação das verbas ou rendas públicas para atender à finalidade prevista em lei.

Em que pese empregar a verba ou renda pública em prol da própria Administração Pública, não é dado ao funcionário público determinar a prioridade da sua destinação.

O legislador, nesse caso, tutela a regularidade administrativa, visando a evitar conduta arbitrária ou, até mesmo, conveniente ao gestor público no que diz respeito à destinação das verbas e rendas públicas.

7.3. Objeto material

O objeto material são as verbas e rendas públicas.

Verbas públicas consistem nos valores previstos em lei orçamentária para execução de determinado serviço público ou atividade de interesse público.

Rendas públicas são os valores pertencentes ou arrecadados pela fazenda pública.

7.4. Conduta típica

O verbo nuclear do tipo consiste em “dar”, no sentido de empregar ou utilizar rendas ou verbas públicas em finalidade diversa da estabelecida em lei.

Assim, responde por emprego irregular de verbas públicas e não por peculato o delegado de polícia que usa para reformar os banheiros dos policiais verba destinada especificamente ao conserto da área da carceragem.

Trata-se de norma penal em branco homogênea, já que o emprego da renda ou verba pública deve ser verificado na lei que prevê sua

54 regular destinação. A expressão “lei” compreende as leis ordinárias, complementares, e, à evidência, a Constituição Federal, não incidindo o delito se empregada renda ou verba pública em desacordo com decreto ou portaria, por exemplo.

A diferença para o peculato doloso (CP, art. 312) consiste no fato de o emprego da verba ou renda pública é em favor da própria administração pública, ao passo que no peculato o desvio de dinheiro, valores ou bem público ou particular é em favor do próprio agente ou de terceiros.

7.5. Sujeito ativo

Trata-se de crime próprio ou especial, pois exige que o sujeito ativo ostente a qualidade de funcionário público. E, para configurar o delito em comento, não basta o sujeito ativo ser funcionário público, sendo, ainda, necessário que tenha poder de gestão em relação às verbas ou rendas públicas, como, por exemplo, Governadores de Estado, Secretários Estaduais ou Municipais, Delegado de Polícia Regional, Juiz Diretor do Fórum.

7.6. Sujeito passivo

O sujeito passivo é o Estado. O particular também pode ser sujeito passivo desse crime se a conduta do agente público lhe acarretar algum dano.

7.7. Elemento subjetivo

É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. Não se exige finalidade específica, não importando se o emprego irregular da verba era justo ou não.

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7.8. Consumação

Trata-se de crime material ou causal, consumando-se com a efetiva aplicação da verba pública em finalidade diversa da estabelecida em lei, ainda que não tenha resultado qualquer prejuízo à Administração Pública.

7.9. Tentativa

Por se tratar de crime plurissubsistente, viabilizando o fracionamento do iter criminis, admite-se a tentativa.

Imaginemos, por exemplo, um Secretário Municipal desviar verbas reservadas para a construção de um hospital, destinando-as para a construção de uma creche. O Ministério Público toma conhecimento, e, de imediato, ajuíza ação civil pública, onde é concedida liminar para impedir o emprego da verba pública em desacordo com a lei. Nesse caso, o Secretário Municipal deu início à execução do delito, mas não alcançou a consumação, por força da liminar concedida na ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público.

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7.10. Mapa mental

7.11. Questões referência

1) Ano: 2020 Banca: VUNESP Órgão: Câmara Municipal de Pindorama - SP Prova: VUNESP - 2020 - Câmara Municipal de Pindorama - SP - Procurador Jurídico

Considere a seguinte situação hipotética: o servidor municipal X tem sob sua responsabilidade R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais destinados ao abastecimento de cinco veículos oficiais do setor que coordena; entretanto, em janeiro último, utilizou, parte desse montante, R$ 300,00 (trezentos reais), para o conserto de duas impressoras a laser, um computador e o bebedouro, utilizados por todos que ali exercem suas funções. Diante disso, a conduta do servidor municipal X configura

A) peculato culposo. B) excesso de exação. C) peculato.

57 D) emprego irregular de verbas ou rendas públicas.

E) advocacia administrativa.

2) Ano: 2011 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRE-ES Prova: CESPE / CEBRASPE - 2011 - TRE-ES - Analista Judiciário - Área Administrativa - Específicos

Texto associado

Em cada um dos próximos itens, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada no que se refere

aos institutos de direito penal.

Um ordenador de despesas de determinado órgão público federal utilizou verba legalmente destinada à compra de computadores para a reforma dos banheiros da instituição, que estavam em situação precária. Nesse caso, o ordenador não cometeu crime, uma vez que a verba foi empregada em prol da própria administração pública.

Certo Errado

Gabarito:

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