• Nenhum resultado encontrado

6.1. Conceito

Nos termos do artigo 314 do Código Penal, o crime consiste em extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.

6.2. Objetividade jurídica

O objeto jurídico é a Administração Pública (nos enfoques patrimonial e moral).

6.3. Objeto material

O objeto material é o livro oficial ou outro documento.

Livro oficial é o livro criado por força de lei para registrar anotações de interesse para a Administração Pública. Podem ser: a) Todos aqueles que, pelas leis e regulamentos, são guardados em arquivos da administração pública com a nota de que assim se devem considerar; b) todos os que, embora aparentemente possam conter fatos que, a juízo do funcionário que os guarda, não apresentam a característica de oficialidade, lhe são confiados como se a tivessem.

A definição de documento pode ser extraída do próprio artigo 232, “caput”, do Código de Processo Penal, segundo o qual “consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”. Para a incidência do delito, o documento deve ser público, podendo ser de natureza privada, desde que esteja sob custódia da Administração Pública.

47

6.4. Conduta típica

O artigo 314 do Código Penal prevê três verbos nucleares: a) extraviar; b) sonegar; c) inutilizar.

Trata-se de crime de tipo misto alternativo, ou crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Logo, se realizadas duas ou mais condutas no mesmo contexto fático, o agente responderá por crime único.

Extraviar significa fazer sumir ou se perder, ou seja, fazer com que algo não chegue ao seu destino. Imaginemos, por exemplo, um servidor do Ministério Público, encarregado de efetuar transporte de processos da sede do Ministério Púbico para o fórum, deixa, intencionalmente, cair no bueiro um dos procedimentos da pilha que transportava no percurso.

Sonegar significa ocultar, não partilhar a informação, deixar de mencionar ou de descrever. É o caso, por exemplo, de o funcionário público responsável pela movimentação de processos de determinado cartório judicial, deixar, dolosamente, de fornecer determinado processo solicitado por advogado.

Inutilizar significa tornar inútil ou inválido para o fim a que se destina. É o caso, por exemplo, de o funcionário público responsável pela movimentação de processos de determinado cartório judicial, derrubar, dolosamente, café sobre laudo pericial inserido em determinado processo, tornando-o totalmente inutilizável e gerando prejuízos ao andamento do procedimento.

Convém sinalar, por pertinente, que configura o delito ainda que o extravio, sonegação ou inutilização do livro oficial ou documento seja parcial, conforme se extrai da parte final do artigo 314 do Código Penal.

6.5. Sujeito ativo

Trata-se de crime próprio ou especial, pois exige que o sujeito ativo ostente a qualidade de funcionário público. E, para configurar o delito em comento, não basta o sujeito ativo ser funcionário público, sendo, ainda, necessário que tenha atribuição de guarda do livro oficial ou documento.

48 Se a conduta for praticada por funcionário público que não exerce qualquer função relacionada ao livro oficial ou documento, ou, ainda, por particular, não incidirá o crime do artigo 314 do Código Penal, mas o previsto no artigo 337 do Código Penal, consistente em “Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público”.

6.6. Sujeito passivo

O sujeito passivo é o Estado. O particular também pode ser sujeito passivo desse crime se a conduta do agente público lhe acarretar algum dano.

6.7. Elemento subjetivo

É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.

Não se exige nenhum fim específico (elemento subjetivo do tipo).

Não há previsão de modalidade culposa. Assim, será atípica a conduta de funcionário público que recebe documentos sigilosos oriundos de determinando procedimento para cumprimento de diligência, e, de maneira descuidada e negligente, joga-os no lixo juntamente com outros papéis de contas pessoais, causando, assim, o sumiço do importante documento público.

6.8. Consumação

Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou resultado cortado. Logo, o delito se consuma no momento em que o funcionário público extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em

razão do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente,

49

6.9. Tentativa

Por se tratar de crime plurissubsistente, viabilizando o fracionamento do iter criminis, admite-se a tentativa.

Imaginemos, por exemplo, um servidor do Poder Judiciário, encarregado de movimentar processos judiciais, dirigir-se até a lixeira para jogar fora determinado processo, sendo detido pelo superior hierárquico no exato momento em que movimentava seu braço para deixar o processo no lixo.

6.10. Subsidiariedade expressa

O crime previsto no artigo 314 do Código Penal é expressamente subsidiário, uma vez que o próprio tipo penal dispõe que incidirá “se o fato não constitui crime mais grave.”

Assim, se, por exemplo, o funcionário público que detém o documento em razão do cargo inutilizá-lo, em face de vantagem indevida oferecida por um particular, responderá pelo crime de corrupção passiva (CP, art. 317), já que o fato é mais grave do que o descrito no artigo 314 do Código Penal.

50

6.11. Mapa mental

6.12. Questões referências

1) Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PJC-MT Prova: FUNCAB - 2014 - PJC-MT - Investigador - Escrivão de Polícia

Umbelino, policial civil encarregado de efetuar o transporte de inquéritos policiais da delegacia para o fórum, por descuido, não percebeu quando um dos procedimentos caiu da pilha que transportava no percurso entre a delegacia e o fórum, motivando a instauração de um procedimento de polícia judiciária para apurar o desaparecimento do inquérito policial. Uma vez provada todas essas circunstâncias, Umbelino:

A) Incidiu no crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento previsto no artigo 314 do Código Penal.

51 C) incidiu no crime de sonegação de papel ou objeto de valor probatório previsto no artigo 356 do Código Penal.

D) incidiu no crime de subtração ou inutilização de livro ou documento previsto no artigo 337 do Código Penal.

E) incidiu no crime de supressão de documento previsto no artigo 305 do Código Penal.

2) Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: TJ-AL Prova: FGV - 2018 - TJ-AL - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Caio, Oficial de Justiça, após cumprir diversos mandados de citação referentes a várias ações penais, retornou para sua residência com os documentos que comprovavam a efetiva citação dos denunciados. Em razão de seu descuido e do grande número de mandados, colocou dois deles em cima de seu carro enquanto guardava sua bolsa na mala do veículo, mas os esqueceu lá quando deu a partida do carro, acabando por extraviar os documentos, o que gerou prejuízo no curso da ação penal e benefício para os acusados dos respectivos processos.

Considerando apenas as informações narradas, o comportamento de Caio configura:

A) crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento; B) crime de subtração ou inutilização de livro ou documento;

C) crime de sonegação de papel ou objeto de valor probatório; D) crime de prevaricação;

E) conduta atípica.

Gabarito:

52

CAPÍTULO 7: EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS

Documentos relacionados