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Pensamento e ação dos Papas

4. Encerramento do Ano Santo em Fátima

É, sem dúvida alguma, mais uma demonstração visível da ligação do Santo Padre a Fátima a sua decisão de encerrar o Ano Santo de 1950 para o estrangeiro naquele Santuário mariano. Manifestação de estima, benevolência e importância que o Papa dá a Fátima. Esta decisão exteriorizava por si a pertinência que a mensagem de Fátima tinha para o mundo. Fátima era definitivamente reconhecida como “altar do mundo”.

Como fizemos referência na primeira parte deste trabalho, neste ano do Jubileu do grande retorno e do grande perdão de todos os homens, mesmo os mais afastados da fé cristã, incluía uma mensagem de paz, penitência e oração, propostas que impregnam a mensagem de Fátima. É o próprio Papa que diz ter tido presente a mensagem de Fátima na escolha e preparação do ano Santo. Foi igualmente durante este ano jubilar que o Papa Pio XII proclamou o Dogma da Assunção219. Refiram-se ainda as visões do Santo Padre nos jardins do Vaticano do “milagre

do sol” em 1950220, à semelhança do observado em Fátima a 13 de outubro de 1917, e às quais

Pio XII atribuiu significado, como sendo uma confirmação da proclamação do Dogma.

217 Cf. Luciano GUERRA, “Pio XII e Fátima”, in Carlos AZEVEDO, Luciano CRISTINO (coord.), Enciclopédia de Fátima, Principia, Estoril, 2007, pp. 413 e 414.

218 VOZ DA FÁTIMA, Ano XXV, n.º 285, 13 de junho de 1946, p. 2.

219 Dogma definido por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus a 1 de novembro de 1950.

Constituição que ao definir o Dogma da Assunção em Corpo e Alma de Nossa Senhora a exalta mais uma vez como Rainha como podemos ver no ponto 40 desta Constituição: “por fim preservada da corrupção do sepulcro e, tendo vencido a morte como seu Filho, foi elevada em corpo e alma à glória do Céu, onde resplandece como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos”.

220 Por quatro vezes, 30 e 31 de outubro 1 e 8 novembro em 1950, o Santo Padre diz ter visto nos jardins do

Vaticano o milagre do sol. Este acontecimento veio a público pela voz do cardeal Tedeschini como legado do Papa em Fátima por ocasião do encerramento do Ano Santo.

60 Na própria Constituição Apostólica relativa ao Ano Santo, podemos ver, no seu ponto 2, um reflexo do que de importância, graça e maravilha Fátima teve para, e no pontificado de Pio XII, como incremento de manifestação e devoção mariana no mundo. Um pontificado num tempo difícil, mas maternalmente acolhido:

“O nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios”221.

Ao longo destes anos o Pio XII concretizou várias iniciativas, umas mais discretas outras mais visíveis, que tiveram Nossa Senhora de Fátima como referência, como é a coroação de Nossa Senhora em 1946, ou até a inauguração da Capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima na Basílica de Santo Eugénio em Roma, a 2 de junho de 1951. Dois dias depois, a 4 de junho, numa audiência concedida a peregrinos portugueses é o próprio Papa que afirma ser o Papa de Fátima. Respondendo ao entusiasmo de um peregrino que exclama: “Viva o Papa de Fátima!”, o Santo Padre responde: “Sou eu!” Será o próprio cardeal Tedeschini que vindo a Fátima dirá que o Papa tem o seu olhar sempre fixo em Fátima. Isto pode contribuir para explicar o facto de por duas vezes no espaço de quarenta dias, Pio XII ter realizado a consagração do género humano ao Imaculado Coração de Maria222.

Em pleno Ano Jubilar, em finais de outubro de 1950, acontece em Roma o Congresso Internacional Mariano, onde Fátima é objeto de debate e estudo na secção portuguesa. Vários foram então os temas apresentados no que se refere a Fátima, de que destacamos aquele que foi apresentado pelo cónego José Galamba de Oliveira, condensando a tese de que as aparições e revelações de Fátima só podiam ser sobrenaturais pelos efeitos morais que daí resultaram. Fátima é eco vibrante do que no Evangelho se ensina, referia o padre italiano A. M. Lanz. Já o padre Limpens fala do carácter universal de Fátima, vendo os factos de Fátima como um apelo da Mãe do Céu aos seus filhos223. Fátima é levada aos altifalantes do mundo, para que se veja

a sua mensagem, para que se ouça a sua mensagem, mas principalmente para que se viva a sua mensagem.

221 PIO XII, Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/

apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html, acedida em 01 de maio de 2017.

222 Cf. Januário dos SANTOS, A Mensagem de Fátima e os Papas, Edição JANISAN, Cucujães, 1986, p. 56. 223 VOZ DA FÁTIMA, Ano XXVIII, n.º 339, 13 de dezembro de 1950, p. 2.

61 Focamo-nos agora na mensagem de encerramento do Jubileu que o Santo Padre proferiu a 13 de outubro de 1951, precedido de um Congresso com projeção mundial subordinado ao tema geral: A mensagem de Fátima e a paz224.

Para o encerramento é então nomeado Legado a latere, a mais alta e distinta representação em nome do Papa, o cardeal Frederico Tedeschini. O mesmo cardeal fez notar que o maior objetivo do binómio Pio XII – Fátima é “afastar a guerra e assegurar a paz”. Pio XII revesse, em muito, naquilo que Fátima tem a dizer ao mundo. Os caminhos pelos quais o Papa quer conduzir a Igreja são os caminhos da Paz. Algo que está em consonância com o seu lema: Opus

justitiae pax (a paz é obra da justiça). O lema que não é só uma bonita frase, mas é considerado

como um programa e princípio de ação225.

O Santo Padre reconhece mais uma vez o manancial de graças que de Fátima saem. É a universalidade das graças de Fátima e que se tornaria ainda mais consistente com todas as peregrinações que se iniciaram com a imagem da Virgem Peregrina. O Papa faz menção à coroação de Nossa Senhora de Fátima como Rainha do mundo que percorre o planeta, através da Virgem Peregrina, e que reúne junto a si tantos filhos, mesmo os mais dispersos:

“Sob o materno olhar da Celeste Peregrina não há antagonismos de nacionalidades ou estirpes que dividam, não há diversidade de fronteiras que separem, não há contraste de interesses que desavenham; todos por momentos se sentem felizes de se verem irmãos”226. Com todas estas graças, afirmava o Papa que era a própria Regina Mundi a indicar que tomava sob a sua proteção este Ano Santo. A Virgem Peregrina que percorre o mundo “indica- nos o seguro caminho da paz”, mostrando e prolongando aquilo que se indicava como um dos fins principais do Ano Santo, a Paz. Nossa Senhora de Fátima como portadora das bênçãos do Ano Santo.

Pio XII deixava o desafio a todos aqueles que estavam no Santuário de Fátima a tornarem- se “apóstolos do Deus da paz”. O desejo de paz é o desejo veemente do Papa. Invocando incessantemente a Rainha do mundo e da paz, pede-Lhe “que se digne apressar a hora em que de um extremo ao outro do mundo se realize o hino angélico: “Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade”227. Sempre e uma vez mais a centralidade de Deus e o Imaculado Coração de

Maria como caminho até Deus.

Resta-nos a constatação de que Pio XII não poupou palavras e atos para sublinhar a importância de Fátima e da sua mensagem para o futuro do mundo. Se a vida de Pio XII se foi

224 As teses centrais deste congresso eram: A mensagem de Fátima e a paz no trabalho, A mensagem de

Fátima e a paz na família, A mensagem de Fátima e a paz no mundo.

225 Gaston CASTELLA, Historia de los Papas, Vol. 3, Victorio DOMÍNGUEZ (trad.), Espasa-Calpe,

Madrid, 1970, p. 186.

226 VOZ DA FÁTIMA, Ano XXIX, n.º 350, 13 de novembro de 1951, p. 1. 227 VOZ DA FÁTIMA, Ano XXIX, n.º 350, 13 de novembro de 1951, p. 2.

62 entrevendo e entrecruzando com Fátima, como são exemplo disso o dia da sua ordenação episcopal e as visões do milagre do sol, também podemos ver no dia da sua morte uma candeia de sol a iluminar a sua vida, pela coincidência do dia da sua morte com o de Francisco Marto, 4 de abril.

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