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5 CONCEITUAÇÃO DO PROBLEMA

5.2 Encerramento da Atividade

O encerramento da atividade de uma pedreira é conseqüência de vários fatores, sendo os principais: exaustão das reservas, problemas econômicos e problemas ambientais. O fechamento de uma pedreira pode ser considerado como o decorrer natural de uma atividade finita, porém deve ser encarado de forma planejada, não legando às gerações futuras problemas ambientais, áreas de risco geotécnico, ou mesmo locais propícios à favelização.

Segundo Caldeira (2004), vem-se observando recentemente uma pressão mundial para o fechamento de uma mina exaurida de modo responsável sob o ponto de vista ambiental, econômico e social. Desta forma se acresce à atividade mais um desafio além dos já enfrentados, como a constante pesquisa por novas reservas, dificuldade de obtenção de novos direitos minerários, legislação ambiental cada vez mais restritiva e, por conseqüência, maior oneração do setor produtivo, dentre outros.

Caldeira (op cit.) enfatiza ainda as dificuldades e desafios enfrentados pelo setor produtivo e os órgãos fiscalizadores para o estabelecimento de critérios gerais e/ou específicos visando garantir o sucesso de um processo de fechamento de uma mina.

Segundo Lima (2002) e Hollands (1993), Waggitt e McQuade (1994), Danielson e Nixon (1999) apud Caldeira (2004) estes critérios devem ser específicos à mina a ser fechada e variarão de acordo com as características locais e intrínsecas de cada local e atividade.

O tema fechamento de mina é relativamente recente e no Brasil ainda não existem critérios bem definidos das atividades que envolvem esta questão. Hoje se observam em toda a RMRJ antigas áreas de pedreiras abandonadas sem qualquer tratamento geotécnico, ecológico ou mesmo paisagístico. Estas atividades foram paralisadas sem

em conta como hoje. A maioria dessas pedreiras se localizava no centro, em áreas nobres da cidade, como a zona sul e em áreas de subúrbio do Rio de janeiro e foram encerradas para dar lugar à expansão urbana (Figuras 13, 14, 15, 16, 17 e 18).

Figura 13 – Pedreira localizada na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, paralisada na década de 90, sem nenhum tipo de recuperação ambiental. Hoje se observa a implantação de dois túneis da linha amarela que cortam o maciço.

Figura 14 – Pedreira localizada no bairro de jacarepaguá zona oeste do município do Rio de Janeiro, paralisada na década de 80. Observa-se um paredão único contrastando com a área verde ao redor. Nota-se que a praça de trabalho da antiga pedreira ocorre um processo de sucessão vegetal natural. Abaixo na foto se observa uma enorme ocupação desordenada (favela do Rio das Pedras), gerando também um impacto paisagístico forte,

ocupação da faixa marginal de proteção do rio Arroio do Anil, desmatamento e geração de esgotos domésticos sem tratamento e aporte destes a rede de drenagem natural.

Figura 15 – Antiga pedreira localizada no bairro da Gamboa, centro do Rio de Janeiro. Observa-se que foi paralisada sem a devida recuperação ambiental e hoje funciona uma escola municipal bem próxima ao paredão deixado pela antiga atividade. No topo e nos flancos da rocha se observam inúmeras habitações de baixa renda implantadas sem nenhuma obra de contenção geotécnica.

Figura 16 – Antiga Pedreira sem o devido planejamento, localizada próximo a central do Brasil paralisada na década de 60. A área hoje é utilizada como garagem de uma empresa de ônibus. No topo da antiga pedreira houve uma ocupação desordenada hoje chamada de favela da pedra lisa, no lado esquerdo da foto se observa à favela da providência.

Figura 17 – Pedreira localizada em Jacarepaguá zona oeste do município do Rio de Janeiro, paralisada em 2001. Esta área foi paralisada sem que as medidas de recuperação fossem implantadas e hoje mostra nítidos contrastes entre a área da cava e a área de mata ao redor gerando um forte impacto paisagístico. Nota-se também o acúmulo de água nas antigas áreas de exploração.

Figura 18 – Pedreira paralisada no final da década de 90 pelo poder público devido à implantação da linha amarela. Esta pedreira mostra uma cava formada por um banco único com mais de 80 metros de altura resquícios de uma exploração com a utilização de martelos pneumáticos manuais comum em todas as pedreiras antes da década de 80 . A porção inferior da cava assim como o flanco direto já foi lavrado em um sistema de bancos sobrepostos. A paralisação mais uma vez se deu sem planejamento e sem a devida recuperação da área degradada.

Quanto à legislação específica, segundo Caldeira (op. cit.) o Brasil, apesar de possuir uma extensa gama de leis que regulamentam a proteção ambiental e esta ser matéria constitucional através da Lei 9605, de 1988, o Brasil possui apenas uma regulamentação específica para a gestão de processo de fechamento de mina, sendo esta editada pelo DNPM através da Portaria no 237, de 18 de outubro de 2001, alterada pela Portaria no 12, de 22 de janeiro de 2002, a qual instituiu as Normas Reguladoras da Mineração - NRM. A NRM no 20 dá instrução sobre os procedimentos administrativos e operacionais em caso de fechamento de mina, suspensão e retomada de operações mineiras, estabelecendo os diversos documentos que devem integrar o plano de fechamento na apresentação do Plano de Aproveitamento Econômico.

Para a concepção de um plano de fechamento de mina este deve envolver aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais. Se uma atividade já está instalada há muito tempo em um determinado sítio, e durante toda a sua atividade nunca houve a preocupação de que forma deverá ser realizado o seu descomissionamento, dependendo das condições físicas do terreno, pode ser inviável seu fechamento sem deixar um passivo ambiental. Desta forma, o projeto de fechamento de mina deveria ser exigido pelo órgão ambiental dentro do estudo prévio de viabilidade do empreendimento.

Conforme descrito por Lima (op. cit.), hoje se observam dois tipos de plano de fechamento de um empreendimento mineral: um plano de fechamento conceitual e um plano de fechamento atualizado durante a operação do empreendimento.

Plano de fechamento conceitual – exigido durante o processo de licenciamento da atividade. Trata-se de um plano em bases conceituais visando assegurar que o empreendimento pode encerrar suas atividades de forma técnica e econômica sem incorrer em passivos ambientais em longo prazo e sem trazer prejuízos ao bem estar social, ou seja, que os procedimentos de fechamento a serem adotados são viáveis e não causarão prejuízos às gerações futuras.

Plano de fechamento atualizado durante a operação do empreendimento – devido à dinamicidade característica da atividade de mineração, sujeita a mudanças operacionais, aparecimento de novas tecnologias, restrições adicionais que podem ser geradas pelo

mercado (qualidade, teor, substituição do bem mineral) ou pelos órgãos de fiscalização, os planos de fechamento devem ser atualizados durante a vida útil do empreendimento.

Tendo em vista os erros passados, bem como a necessidade de um compromisso mais formal entre as mineradoras, o Estado e a sociedade, se observa a preocupação nas renovações de licença de operação das pedreiras, realizadas pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro - FEEMA, no ano de 2004, ao exigir propostas de uso futuro, dentro do zoneamento permitido, projeção de cava final, estimativa de vida útil, bem como plano de recuperação de área degradada atualizado e amarrada cronologicamente com as fases de lavra.

Em renovações de licenças passadas, o nível de exigências foi bem menor e o controle sobre a atividade foi dificultado pela falta de documentos técnicos que indicassem de que forma a atividade seria exercida, já que os Planos de Controle Ambiental – PCA antigos eram genéricos e contendo o mínimo de informações necessárias à avaliação dos técnicos dos órgãos ambientais. Outra dificuldade encontrada pelo órgão ambiental é a falta em seus quadros funcionais de profissionais da área de mineração, como engenheiros de minas e geólogos. Isto dificulta também o entendimento da atividade de uma forma mais ampla, pois sem experiência na área muitas vezes os técnicos do órgão ambiental deixam passar despercebidos aspectos importantes da atividade de mineração, tornando, às vezes, irreversível o impacto ocasionado.

Sob este aspecto, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Estado do Rio de Janeiro - CREA-RJ e a Associação Fluminense dos Engenheiros de Minas – AFEM, vêm desenvolvendo um forte trabalho na área, exigindo que a avaliação dos projetos ambientais ligados à mineração sejam realizados por profissionais legalmente habilitados para tal.

Este estudo deve envolver todos os aspectos relativos à atividade e deve mostrar quadros futuros de como a atividade se desenvolverá, amarrar geograficamente e temporalmente as áreas a serem recuperadas durante o desenrolar da atividade e prever e compromissar o empreendedor para, ao final da atividade, reintegrar a área minerada ao ambiente que a envolve e deixá-la apta ao seu uso futuro.

É importante deixar claro também que, apesar das dificuldades, o fechamento de mina é hoje preocupação tanto dos órgãos ambientais como do empreendedor que deseja deixar sua área valorizada ao final da atividade de mineração.

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