Revisão de Literatura
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.4 CORPO LÚTEO
2.4.7 Endocrinologia do Corpo Lúteo
funcional do CL, em conjunto com uma diminuição do diâmetro e área, e redução no fluxo sanguíneo (GINTHER et al., 2007b; BERGFELT; ADAMS, 2011).
2.4.7 Endocrinologia do Corpo Lúteo
As concentrações séricas de progesterona são dependentes da quantidade de tecido esteroidogênico, fluxo sanguíneo e capacidade do tecido esteroidogênico de produzir progesterona. A quantidade de tecido esteroidogênico é dependente do número e tamanho das células luteais, que aumentam no decorrer do desenvolvimento luteal (NISWENDER et al., 2000).
Com o evento da ovulação, tanto estradiol como inibina caem no início do diestro (BERGFELT, 2009). Ocorre um aumento imediato de progesterona no momento da ovulação, iniciando-‐se cedo na fase luteal e acompanhada por um aumento nos receptores de progesterona e proliferação de células luteais grandes até o meio da fase luteal (ROBERTO DA COSTA et al., 2005).
Após a ovulação ocorrem aumentos periódicos de baixa magnitude de LH que serão luteotróficos e garantirão o desenvolvimento e manutenção do CL, e resultam no aumento das concentrações de progesterona. Paradoxalmente, este aumento da progesterona fará com que aconteça um feedback negativo no LH e consequente diminuição dos seus níveis até atingirem o nível basal novamente ao redor do dia 6 pós ovulação. As concentrações de progesterona vão aumentando até o dia 8 pós ovulação (GINTHER et al., 2007b; AURICH, 2011). A partir de então, as concentrações de progesterona diminuem levemente sem o suporte luteotrófico do LH e se mantêm moderada durante o meio e final do diestro (BERGFELT, 2009), quando decrescem até o momento da luteólise aproximadamente no dia 14 (AURICH, 2011).
2.4.7.1 Esteroidogênese
Em mamíferos, o CL produz 2 a 3 vezes mais esteroides do que o folículo (MURPHY, 2004). Na égua, é no meio da fase luteal que as concentrações de
progesterona ficam altas e o número de receptores de progesterona nas células luteais grandes é maior. Estas células são as responsáveis pela regulação da síntese de progesterona nesta espécie. A queda de progesterona no final do diestro pode ser explicada pela redução no número de células luteais grandes (ROBERTO DA COSTA et al., 2005) por um feedback negativo autócrino-‐parácrino que ocorre no CL em regressão (RUEDA et al., 2000), ou por um mecanismo de dessensibilização à progesterona no CL (DIAZ; WILTBANK, 2004). O papel endocrinológico de produção de progesterona das células luteais pequenas em éguas não parece importante (ROBERTO DA COSTA et al., 2005), entretanto ainda não existe uma posição absoluta com relação a esta questão. Neste trabalho levanta-‐se o questionamento se a progesterona é luteotrófica ou luteolítica na égua, sugerindo um provável papel dual, tendo as duas funções em momentos diferentes (FERREIRA-‐DIAS et al., 2007).
A esteroidogênese necessita como substrato o colesterol, tornando essencial seu fornecimento constante (STOCCO; TELLERIA; GIBORI, 2007). Geralmente ele é sintetizado no fígado (KRISANS, 1996) e atinge o corpo lúteo transportado na forma de lipoproteínas. As duas formas mais comuns utilizadas para chegar ao CL são a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL) (PATE; CONDON, 1982; HWANG; MENON, 1983), variando entre as espécies (STOCCO; TELLERIA; GIBORI, 2007).
O CL também é capaz de produzir colesterol a partir de acetato em situações com diminuição de lipídeos e in vitro. Entretanto, a maioria do colesterol é obtida da corrente sanguínea na forma de LDL e HDL (NISWENDER et al., 2000). A molécula de LDL possui 2500 moléculas de colesterol e seu transporte para as células luteais é por endocitose mediada por receptor. Os endossomos se unem aos lisossomos, fornecendo o LDL do seu receptor, liberando as moléculas de colesterol. O mecanismo de transporte com HDL difere do primeiro, sendo que a molécula se liga a proteína de membrana e o colesterol é transportado. Atualmente, receptor scavenger classe B tipo 1 (SR-‐BI) é considerado o mediador da entrada de HDL, sendo que o HDL permanece na superfície celular (ACTON et al., 1996).
Os colesteróis na célula formam gotas lipídicas que serão hidrolizadas pela colesterol esterase, ativada pela fosforilação da proteína quinase A (PKA). A primeira etapa no processo esteroidogênico é o transporte do colesterol para a membrana mitocondrial externa. A forma com a qual este transporte é realizado ainda não é
esclarecida, entretanto devido a sua natureza hidrofóbica, o colesterol não é capaz de difundir pelo citosol e atingir a mitocôndria sem ligar-‐se às proteínas carreadoras. A proteína 2 carreadora de esterol (SCP-‐2) parece ter um papel no movimento intracelular do colesterol (SEEDORF; ELLINGHAUS; ROCH NOFER, 2000). Após sua chegada à membrana mitocondrial externa, o colesterol é transportado para a membrana mitocondrial interna passando pelo espaço aquoso intermembrana (STOCCO; TELLERIA; GIBORI, 2007).
O transporte do colesterol para a membrana mitocondrial interna é considerada o passo limitante na esteroidogênese. A proteína StAR (proteína esteroidogênica reguladora aguda), o receptor benzodiazepínico tipo periférico e o ligante endógeno deste receptor, além da lipase hormônio sensível são necessários para o transporte para a membrana mitocondrial interna, onde ocorrerá a clivagem da cadeia lateral do colesterol (NISWENDER et al., 2000; STOCCO; TELLERIA; GIBORI, 2007).
Após chegar ao seu destino, a membrana mitocondrial interna, o colesterol inicia a transformação para hormônio esteroide. A enzima clivadora de cadeia lateral P450 (P450scc) e a 3 β-‐hidroxiesteróide desidrogenase, localizadas no retículo endoplasmático liso são comprometidas com a transformação do colesterol em progesterona. Um aumento importante na expressão destas duas enzimas ocorre na formação do CL (KAYNARD et al., 1992) e nas organelas nas quais elas se encontram, tornando-‐o capaz de produzir grandes quantidades de progesterona (STOCCO; TELLERIA; GIBORI, 2007). O colesterol é transformado em pregnenolona pela P450scc, que é transportada para o retículo endoplasmático liso, associado intimamente à mitocôndria. Nele, a 3-‐β hidroxiesteróide desidrogenase converte a pregnenolona para progesterona, que vai difundir para fora da célula, não existindo evidência de armazenamento em grandes quantidades no tecido luteal (NISWENDER et al., 2000; VANDERWALL, 2011).
A distribuição da progesterona na corrente sanguínea é sistêmica e irá agir nas células alvo que contêm o receptor de progesterona (VANDERWALL, 2011).
Interessante é o fato de receptores de progesterona somente terem sido encontrados em células luteais grandes em equinos e a ausente ou inconsistente detecção de enzimas esteroidogênicas nas células luteais pequenas (ROBERTO DA COSTA et al., 2005; FERREIRA-‐DIAS et al., 2007). Supõe-‐se que as células luteais pequenas em éguas sejam apenas precursoras das células luteais grandes que
aumentam em tamanho e função ao longo do desenvolvimento do CL (VAN NIEKERK et al., 1975; ROBERTO DA COSTA et al., 2005). Os dois tipos de célula luteal podem ser distinguidos morfológica e funcionalmente (LEI; CHEGINI; RAO 1991). Ambos estão presentes ao longo da formação, desenvolvimento e regressão do CL (FERREIRA-‐DIAS et al., 2002). A quantidade de células luteais grandes no CL recém formado foi menor do que no restante do ciclo. Notou-‐se um paralelismo entre as quantidades de células luteais grandes e produção de progesterona, provavelmente por elas terem um importante papel na síntese de progesterona.
No corpo albicans, apesar de não haver diferença na quantidade de células luteais grandes, as células apresentavam sinais de morte celular como degeneração citoplasmática (vacúolos e fragmentação) e nuclear. Portanto eram incapazes de síntese de progesterona. Diferindo destes achados, a quantidade de células luteais pequenas não variou no CL ao longo das diferentes fases (FERREIRA-‐DIAS et al., 2002).
Discordando desta afirmação, Watson (1999) demonstrou que células luteais pequenas têm a enzima esteroide 17α-‐hidroxilase/17,20liase (citocromo P450c17), dando evidência do seu potencial esteroidogênico. Também identificaram células da teca entre as células luteais grandes no CL maduro (WATSON, 2000). Este mesmo grupo detectou produção in vitro de progesterona quando células luteais pequenas foram cultivadas, reforçando a hipótese anterior (BROADLEY et al., 1994), sendo que uma conclusão sobre este ponto ainda não foi alcançada.
2.4.8 Alteração da Função Luteal
Em um animal não gestante, espera-‐se que a duração do CL seja entre 14 e 15 dias (DAELS; HUGHES, 1993). Alterações nesta duração de fase luteal, seja ela diminuição ou aumento, são consideradas anormais. No passado, a persistência do corpo lúteo era denominada função luteal prolongada, independente de sua etiologia (GINTHER, 1992). Uma vez iniciada a utilização da ultrassonografia, um diagnóstico mais preciso de sua causa pode ser determinado, mostrando diversas origens tais como piometra, mucometra, ovulações secundárias e folículos anovulatórios hemorrágicos (GINTHER, 1992).