Revisão de Literatura
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.4 CORPO LÚTEO
2.4.4 Regulação do Corpo Lúteo
denominados de corpos lúteos suplementares (GINTHER, 1990).
Finalmente, o tecido cicatricial resultante da regressão do corpo lúteo denomina-‐ se corpo albicans e pode ser detectado no final do diestro e início do estro como uma área hiperecogênica no ovário. Esta denominação se aplica independente da origem do CL (BERGFELT, 2009).
2.4.4 Regulação do Corpo Lúteo
A regulação da formação, função e regressão luteal abrangem uma gama enorme de fatores, a respeito dos quais ainda muito pouco é compreendido (FERREIRA-‐DIAS; SKARZYNSKI, 2008), a despeito dos avanços alcançados em seu conhecimento (FERREIRA-‐DIAS et al., 2011). O levantamento da literatura disponível sobre este assunto mostra os fatores e mecanismos conhecidos, as dúvidas sobre seu verdadeiro papel e importância, deixando evidente o amplo campo de pesquisa para ser explorado, com o intuito de tentar esclarecer e desvendar o funcionamento do corpo lúteo em éguas.
Atualmente, um grande número de fatores têm sido relacionados com a regulação do CL equino, abrangendo a progesterona (ROBERTO DA COSTA et al., 2005), prostaglandinas, óxido nítrico, fatores de crescimento e angiogênicos (FERREIRA-‐DIAS et al., 2006; 2011; GALVÃO et al., 2012), e citocinas produzidas pelas células imunes no CL, como o TNFα e INFγ (SKARZYNSKI; FERREIRA-‐DIAS; OKUDA, 2008).
Por definição, os hormônios luteotróficos são aqueles que suportam o crescimento e função do CL (NISWENDER et al., 2000) e o LH e PGE2 são considerados os
principais representantes (FERREIRA-‐DIAS; SKARZYNSKI, 2008). O LH liberado de forma pulsátil pela hipófise é um dos reguladores de síntese e secreção de progesterona pelo CL mais potentes em animais domésticos (NISWENDER et al., 2002). Entretanto, apesar de ter sido considerado por décadas o único hormônio responsável pela ovulação e formação, desenvolvimento, manutenção e função secretória do CL (GINTHER, 1992), sabe-‐se que o mecanismo de controle do CL é bem mais complexo, e pode envolver fatores produzidos tanto dentro do CL como fora do ovário.
Atualmente mediadores e fatores autócrinos e/ou parácrinos parecem também desempenhar uma função importante. Citocinas podem ser responsáveis por desenvolvimento e manutenção luteal (REYNOLDS; REDMER, 1999; BERISHA; SCHAMS, 2005), prostaglandinas e outros metabólitos do ácido araquidônico (PGE, PGF, LT), neuropeptídeos (noradrenalina), hormônios peptídeos (ocitocina), óxido nítrico, fatores de crescimento, VEGF, FGF, EGF, GH, PRL, esteroides (17β estradiol e progesterona)
também são envolvidos nestes mecanismos luteotróficos (SKARZYNSKI; FERREIRA-‐ DIAS; OKUDA, 2008).
Alguns dos trabalhos que fornecem argumentos, demonstrando a função destas substâncias na regulação luteal são citados abaixo.
Os dados de um estudo sugerem a presença de um sistema intraluteal de geração de óxido nítrico (ON), que pode ter papel na regulação do CL. A óxido nítrico sintase endotelial (eNOS) e a óxido nítrico sintase induzida (iNOS) foram detectadas no
citoplasma de células luteais grandes e células endoteliais. A eNOS provavelmente tem uma função relevante na angiogênese nos estágios inicias e efeito oposto na luteólise. Já foi demonstrado também que o ON induz apoptose em CL humano (VEGA et al., 2000) e bovino (KORZEKWA et al., 2006). Em equinos a eNOS aumenta no final da fase luteal provavelmente participando na luteólise também nesta espécie (FERREIRA-‐DIAS et al., 2011).
De acordo com a literatura, Ferreira-‐Dias et al. (2011) encontraram produção in
vitro de progesterona estimulada por LH maior em CL recente em comparação com CL
no meio do diestro. O grupo propôs uma maior sensibilidade do CL no início do diestro aos baixos níveis de LH do que no CL no meio do diestro. Fisiologicamente é no meio do diestro que as concentrações de LH estarão mais baixas (GINTHER, 1992; GINTHER et al., 2005) e portanto sua função deve ser mais importante no início da fase luteal e menor com o passar do tempo.
O TNFα adicionado in vitro às células luteais de corpo lúteo recente aumentou a
proliferação endotelial (COSTA et al., 2006), o que pode indicar um papel deste fator de estimulante de fatores angiogênicos no início da fase luteal, além de ter um efeito positivo na produção de progesterona e PGE2 (GALVÃO et al., 2012). Uma diminuição na
produção luteal de PGF2α também foi detectada in vitro quando adicionado o TNFα à
células de corpo lúteo recente, e um aumento da mesma foi encontrado quando as células do CL do meio do diestro ou em regressão foram tratadas. Os autores sugerem
um papel desta citocina na modulação da produção intraluteal de PGF2α. variável de
acordo com a fase do CL (GALVÃO et al., 2012). Com isso, este fator apresenta importante influência tanto na angiogênese como na produção de prostaglandinas e progesterona tempo dependente (FERREIRA-‐DIAS; SKARZYNSKI, 2008).
Outro fator investigado pelo mesmo grupo foi o IFNγ, que não causou nenhum efeito in vitro na produção de progesterona e prostaglandinas pelas células do corpo lúteo recente. Entretanto uma diminuição de PGE2 e progesterona foi provocada nas
células do CL em regressão quando IFNγ e TNFα foram adicionados, aliada a uma diminuição na viabilidade celular e aumento da apoptose. Provavelmente num momento mais tardio da fase luteal, estas substâncias sejam importantes na luteólise (GALVÃO et al., 2012).
PGE2, VEGF e IGF (FERREIRA-‐DIAS et al., 2011) parecem ter papel mais tarde
durante a fase luteal. A IGF, por exemplo, apresenta efeito estimulatório da esteroidogênese e protege células contra a apoptose (WATSON et al., 2005). Em CL equino, a interação de ON e PGE2 pode participar dos mecanismos luteoprotetores
requeridos para formação e manutenção do ciclo estral como sugerido em bovinos (KORZEKWA et al., 2007; FERREIRA-‐DIAS et al., 2011). VEGF também foi detectado no CL em éguas (TAMANINI; DE AMBROGI, 2004) e o estímulo luteotrófico e angiogênico no CH suporta uma neovascularização extremamente rápida coordenada com desenvolvimento não vascular durante o processo de luteinização (FERREIRA-‐DIAS, 2006).
A progesterona tem efeito luteotrófico (ROTCCHILD, 1981) e influencia a síntese de esteroide pelo CL (CHAPPEL et al., 1997; KOTWICA; REKAWIECKI; DURAS et al., 2004) em muitas espécies. A ação da progesterona de forma autócrina por meio do receptor de progesterona parece manter a função endócrina do CL, pois suprime o início da apoptose (SKARZYNSKI; OKUDA, 1999). A expressão de seus receptores no CL equino aumenta concomitantemente com o aumento da progesterona circulante em células luteais grandes, enquanto não encontraram expressão em células luteais pequenas (ROBERTO DA COSTA et al., 2005; FERREIRA-‐DIAS; SKARZYNSKI, 2008).
Ainda não está estabelecido se a progesterona afeta a secreção da PGE2, uma vez
que os resultados de experimento mostraram que as células luteais grandes e pequenas
pregnenolona não provocou aumento na síntese de progesterona, diferindo dos achados em bovinos (FERREIRA-‐DIAS et al., 2006b; FERREIRA-‐DIAS; SKARZYNSKI, 2008).
Os mecanismos protetores contra os efeitos nocivos do estresse oxidativo também são fundamentais para a manutenção da função luteal (AL-‐GUBORY et al., 2012). Altos níveis de enzimas antioxidantes são encontrados, incluindo a SOD (superóxido desmutase), catalase, glutationa peroxidase, glutationa transferase e glutationa redutase, garantindo a proteção das células luteais contra as espécies reativas de oxigênio produzidas durante a esteroidogênese (CHEW et al., 1984). Esses radicais livres podem ter papel também na lise e apoptose do CL (RILEY; BEHRMAN, 1991).
Um recente estudo demonstrou curiosamente a presença de receptores para melatonina no tecido luteal equino independente da influência do fotoperíodo. Também mostraram que a melatonina inibiu a produção de progesterona estimulada pelo eCG e foscolina por um mecanismo de inibição direta na P450scc. Com isso, o papel da melatonina na esteroidogênese fica claramente evidenciado (PEDREROS; RATTO; GUERRA, 2011).
Fica evidente, com base nos resultados encontrados a respeito da regulação luteal, a complexidade do suporte trófico do CL ao longo de sua formação, desenvolvimento, função e lise em equinos, tornando fundamental a realização de novos estudos.
2.4.5 Características Morfológicas do Corpo Lúteo
A fossa ovulatória é o resultado de um rearranjo estrutural único do ovário equino que é estabelecido antes da puberdade (GINTHER, 1992). Diferente do que ocorre em outras espécies domésticas o CL é totalmente contido no estroma ovariano, o que torna a avaliação por palpação muito difícil e subjetiva. O exame ultrassonográfico por sua vez é uma forma imediata e objetiva (GINTHER, 1995), sendo a abordagem mais atual para pesquisadores, clínicos responsáveis pelo manejo reprodutivo, pois permite uma avaliação precisa, eficiente e segura do ovário e da glândula luteal, além do controle do desenvolvimento e detecção de um potencial mau funcionamento (BERGFELT; ADAMS, 2007).