Revisão de Literatura
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.4 CORPO LÚTEO
2.4.2 Formação e Composição do CL
cristalizaram o produto do CL, um hormônio esteroide que foi chamado de progesterona por suas características pró gestacionais (NISWENDER et al., 2000).
Com isso, evidenciamos o antigo interesse da humanidade por esta estrutura intrigante e fundamental para a sobrevivência das espécies. Muitos aspectos permanecem por ser desvendados, tornando o corpo lúteo uma glândula ainda repleta de questões a serem respondidas, como veremos a seguir.
2.4.2 Formação e Composição do CL
A formação do CL após a ovulação é resultado de um dinâmico e complexo processo de luteinização das células do folículo, regulado por luteotrofinas (FERREIRA-‐ DIAS; SKARZYNSKI, 2008; SKARZYNSKI; FERREIRA-‐DIAS; OKUDA, 2008), essencial para que possa ser sintetizada a progesterona (MURPHY, 2004). Esta glândula transitória (FERREIRA-‐DIAS et al., 2011), de natureza efêmera, torna-‐se única no ovário de mamíferos (MIYAMOTO et al., 2009), e é essencial para que a gestação possa se estabelecer (BOWEN-‐SHAUVER; GIBORI, 2004).
Logo após a ovulação, ocorre uma desestruturação e reorganização da parede folicular, ruptura da membrana basal ocorrendo uma invasão de fibroblastos e vasos sanguíneos da teca interna para o corpo lúteo em desenvolvimento ao mesmo tempo que ocorre a hipertrofia das células da granulosa (BERGFELT, 2009; GASTAL, 2011).
A luteinização envolve a morfogênese estrutural e funcional das células da granulosa produtoras de estrógeno para células luteais produtoras de progesterona (MURPHY, 2004; BERGFELT; ADAMS, 2007; BERGFELT, 2009). O grau de migração e mistura das células derivadas do folículo na formação do CL difere entre as espécies. O tecido folicular sofre um extensivo rearranjo, envolvendo a diferenciação e crescimento das células luteais grandes e pequenas (ROBERTO DA COSTA et al., 2005) e proliferação de células não luteais (células do sistema imune e fibroblastos), além de grande angiogênese (TAMANINI; DE AMBROGI, 2004; ROBERTO DA COSTA et al., 2005; FERREIRA-‐DIAS et al., 2006), sendo que todos os tipos celulares encontram-‐se em grande proximidade (DHARMARAJAN; BRUCE; MEYER, 1985; FARIN et al., 1986).
No início do desenvolvimento do CL um aspecto importante é a taxa de crescimento tecidual e proliferação celular (FARIN et al., 1986; ROBERTO DA COSTA et al., 2005; FERREIRA-‐DIAS et al., 2006), que resulta em taxa mitótica comparável aos tumores de maior crescimento (JABLONKA-‐SHARIFF et al., 1993) e à placentação (FRASER; LUNN, 2001).
Mudanças na expressão de enzimas esteroidogênicas e proteína de regulação aguda esteroidogênica com o objetivo de produzir grandes quantidades de progesterona acontecem durante este processo (MURPHY, 2004). Durante a luteinização, as gap
junctions presentes entre as células da granulosa e da teca antes da ovulação voltam a se
reestabelecer, tornando o parênquima luteal altamente conectado, sugerindo um alto grau de comunicação intercelular (REYNOLDS; REDMER, 1994). A luteinização é considerada terminada entre os dias 3 a 5 após a ovulação (GINTHER, 1992).
Apesar da ideia de que o CL seja formado apenas de células luteais, ele possui uma mistura heterogênea de tipos celulares, com aspecto anatômico e funções biológicas distintas (SKARZYNSKI; FERREIRA-‐DIAS; OKUDA, 2008).
Existem dois tipos de células esteroidogênicas, as células luteais grandes e pequenas classificadas por diferenças morfológicas (células luteais pequenas são escuras e medem cerca de 10µm e células luteais grandes são claras com cerca de 40µm) e bioquímicas (VAN NIEKERK et al., 1975; KELLY et al., 1988; ROBERTO DA COSTA et al., 2005; SKARZYNSKI; FERREIRA-‐DIAS; OKUDA, 2008). Além disso, provavelmente relacionado com a maior capacidade secretória das células luteais grandes, elas possuem maior quantidade de retículo endoplasmático liso e rugoso, complexo de Golgi e grânulos secretórios em comparação com as células luteis pequenas (STOUFER, 2004). Acredita-‐se que as células luteais pequenas sofrem diferenciação em células luteais grandes com o progresso do CL (VAN NIEKERK et al., 1975; LEI; CHEGINI; RAO, 1991).
De acordo com Ginther (1992), as células da teca não serão precursoras das células luteais pequenas, uma vez que anterior à ocorrência da ovulação, elas iniciam um processo de degeneração e substituição por fibroblastos hipertrofiados, diferindo do encontrado em outras espécies (VAN NIEKERK et al., 1975). Entretanto Watson (2000) encontraram células da teca entre as células luteais grandes no CL do meio do diestro, gerando ainda um debate com relação ao papel das células da teca na formação do corpo lúteo.
Ao longo do tempo de desenvolvimento do corpo lúteo, as quantidades de células produtoras de progesterona vão sofrendo alterações. Uma variação na proporção entre células luteais grandes e pequenas foi encontrada ao longo do ciclo estral, sendo que ela diminuiu de 46% no d4 a d5, para 38,5% no d8 a d9 para 24,3% no d12 a d 13 (WATSON; SERTICH, 1990). De acordo com Roberto da Costa et al. (2005), não houve diferença no número de células luteais pequenas ao longo do desenvolvimento do CL contrastando com o aumento do número de células luteais grandes entre o corpo hemorrágico (CH) e o CL no meio do diestro. Em seguida, os números novamente diminuem, comparáveis com o CH.
As outras células que formam o CL são fibroblastos, pericitos, células musculares lisas, células do sistema imune (macrófagos, linfócitos) e células endoteliais do folículo pós ovulatório (NISWENDER et al., 2000).
Não existe um grande número de estudos histológicos da composição celular e formação do CL em equinos diferindo de outras espécies tais como bovinos e ovinos. Por isso, muitas das informações utilizadas são extrapoladas do conhecimento obtido nos outros modelos animais.
No início da fase luteal, as células luteais produtoras de progesterona estão em intensa mitose (AGUILAR et al., 2006). A maioria das células que estão em proliferação durante o processo de formação do novo CL são células endoteliais que se encontram em condições de hipóxia. Por isso uma intensa angiogênese regulada por fatores angiogênicos, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) produzido pelas próprias células luteais se inicia (AL-‐ZI’ABI et al., 2003).
A maturação do CL primário é considerada completa entre os dias 5 e 10 pós ovulação (meio do diestro). O corpo lúteo da égua é funcional por cerca de 14 a 15 dias durante o ciclo não fertilizado (DAEL; HUGHES, 1993), até sofrer luteólise.
2.4.3 Tipos de Corpo Lúteo
A morfologia do CL primário após a ovulação não é única e uniforme, sendo dois tipos descritos após a ovulação. A formação de corpo hemorrágico, que é um corpo lúteo com uma cavidade preenchida de sangue, ocorre em 50 a 70% dos ciclos de forma