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3 ENERGIA EÓLICA E CONCRETIZAÇÃO DO PROJETO CONSTITUCIONAL

3.3 ENERGIA EÓLICA E DESENVOLVIMENTO NACIONAL

Tendo em vista o cenário da energia eólica explicitado acima e a consideração do desenvolvimento nacional como objetivo da República definido constitucionalmente, é possível assumir que a energia eólica no Brasil detém a capacidade de concretizar em alguns aspectos o desenvolvimento nacional na leitura aqui defendida, com o sentido de superação do subdesenvolvimento. Acerca desses aspectos aprofunda-se agora em diante.

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Considerando apenas os índices de crescimento econômico, o que configura um dos elementos da superação do subdesenvolvimento, constata-se que o processo de crescimento econômico em curso atualmente levará a um aumento da demanda de energia elétrica de 4,7% em dez anos (BRASIL, 2012), conforme supramencionado na seção 3.1.2.. Logo, admite-se que o aumento da oferta de energia elétrica no país torna-se uma questão fundamental para responder aos desafios de crescimento econômico apresentados pela conjuntura da atualidade.

Considerando o potencial eólico brasileiro de 143 mil MW com oscilação de velocidade acima de 5%, o que é reconhecido como potencial ótimo (ANEEL, 2009), conforme supramencionado na seção 3.1; considerando os resultados do PROINFA de 1,5 GW de capacidade eólica já instalada no país, conforme supramencionado na seção 3.1.1; considerando os resultados dos leilões de mais 1,5 GW de capacidade eólica já contratada e em fase de construção, conforme supramencionado na seção 3.1.2.; considerando que uma usina eólica no Brasil gera 40% de sua capacidade instalada, enquanto que na Europa a média é de 20% (CGEE, 2012); considerando que durante o ano de 2012 entraram em funcionamento trinta e oito novos parques eólicos, totalizando cento e oito parques eólicos em funcionamento no país (ABEEÓLICA, 2013, p. 2); assume-se que a geração de energia eólica é um potencial energético brasileiro.

Considerando que a energia eólica corresponde a 3% do fornecimento de energia elétrica no mundo, conforme supramencionado na seção 3.1; considerando, como exemplo, a Dinamarca (país que terá sua política de energia eólica estudada detalhadamente no próximo capítulo), que tem mais de 20% de sua matriz energética na fonte eólica, é possível assumir que há viabilidade na geração de eletricidade a partir da fonte eólica.

Considerando que a velocidade dos ventos é maior no período de estiagem e que no período seco os níveis de reservatórios hídricos diminuem consideravelmente, conforme supramencionado na seção 3.1, há uma complementaridade sazonal entre a fonte hídrica, principal fonte de energia elétrica no Brasil, e a fonte eólica. Nesse sentido, a fonte eólica pode vir a ser um elemento decisivo para garantir a segurança de suprimento nos períodos de estiagem44. Contudo, é necessário que se cumpra com os desafios tecnológicos de transmissão, ou seja, incorporação ao SIN, tema que será abordado adiante.

44 “As interconexões do sistema brasileiro (Figura 1) permitem que o Operador Nacional do Sistema, ONS,

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Além de a energia eólica ser uma possibilidade de concretização do desenvolvimento nacional, assim o faz respondendo a outro objetivo da República definido no artigo 3º da Constituição: o combate a desigualdades regionais.

Isso se dá porque a maior parte do potencial eólico brasileiro está concentrado na região nordeste do Brasil, conforme supramencionado na seção 3.1, uma região historicamente fora do eixo principal de geração de riquezas no país, que se concentrou no sudeste. Nesse sentido, o desenvolvimento do potencial eólico no nordeste é um elemento para combater esse tipo assimetria regional, pois a implantação de usinas eólicas no nordeste vem acompanhada de geração de empregos diretos e indiretos, da necessidade de formação de mão-de-obra especializada, da instalação da cadeia produtiva de suprimento da energia eólica na própria região a fim de evitar problemas logísticos45, o que sem dúvida leva a um crescimento econômico da região, no mínimo. Assim, “o aproveitamento desse potencial demandará investimentos na infraestrutura e nas telecomunicações, além de necessitar da oferta de serviços sociais de suporte a núcleos técnicos para operação e manutenção dos parques que darão impulso à economia regional” (CGEE, 2012, p. 28). Um exemplo concreto dessa situação acontece no Ceará: em Fortaleza, uma indústria de torres de turbinas eólicas, produzindo duzentas torres de 75 a 85 metros, gera em média duzentos e cinquenta postos de trabalhos anualmente. Além de movimentar a economia local com compras de mercadorias e serviços, aproximadamente R$ 38.000,00 por MW são gastos anualmente com empresas locais pelo fornecimento de mercadorias e serviços para projetos de energia eólica (CEARÁ, 2010, P.64-65). De acordo com a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), apenas a fabricação de aerogeradores

complementaridades sazonais que naturalmente ocorrem em algumas regiões. Adicionalmente, a capacidade de

geração a gás natural cumpre um papel importante no sentido de manter a segurança de suprimento, pois funciona de forma sincronizada à geração hidrelétrica, aumentando a energia firme do sistema e minimizando o desperdício por vertimento. [...] No entanto, as iniciativas do Governo têm demonstrado uma tendência de expansão mais direcionada à contratação de fontes renováveis e alternativas em detrimento da contratação de termelétricas à base de energia fóssil.” NOGUEIRA, Larissa Pinheiro Puppo. Estado atual e perspectivas futuras para a indústria eólica no Brasil. P. 12 – 13. Dissertação UFRJ/ COPPE, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/larissa_nogueira.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2012.

45 Moana Simas defende que a infraestrutura é o principal gargalo para a consolidação da energia eólica no Brasil e

credita isso às dificuldades de transporte sob três aspectos essenciais: 1. Condição de tráfego nas rodovias brasileiras devido às péssimas condições físicas das rodovias, sobretudo no Nordeste; 2. Dificuldade no transporte de equipamentos devido à pouca disponibilidade de caminhões para o transporte, haja vista especificidades comprimento dos caminhões, com cerca 40m, para transportarem pás, por exemplo; 3. Dificuldades na infraestrutura de cabotagem devido à falta de estrutura de armazenamento nos portos brasileiros. SIMAS, Moana Silva. Energia eólica e desenvolvimento sustentável no Brasil: estimativa da geração de empregos por meio de uma matriz insumo- produto ampliada. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Energia) – EP/FEA/IEE/IF da Universidade São Paulo – USP. São Paulo, 2012. P. 110-111.

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gera mais de doze mil empregos, e estima-se a criação de cerca de vinte mil empregos diretos com mão-de-obra local na construção de parques eólicos até 2016 (SANTOS, 2012).

Do ponto de vista socioeconômico, a geração de empregos e renda em regiões carentes demonstra um papel relevante das externalidades positivas decorrentes da geração eólica. O pagamento referente aos arrendamentos é feito diretamente aos proprietários das áreas, representando geração e injeção de renda por, no mínimo, vinte anos em regiões que, em sua maioria, são bastante carentes, com economias estagnadas, inclusive no semiárido brasileiro. (MELO, 2013, p. 126).

No que diz respeito à competitividade, é importante considerar dois elementos fundamentais: o preço e o tempo médio de instalação de uma usina eólica. O preço médio do KWh da energia eólica, desde o início do PROINFA (que fomenta a instalação de uma indústria nacional de insumos para energia eólica no país através da sua demanda enquanto política pública do índice de 60% de nacionalização), caiu em 60%; posicionando o MWh da energia eólica em torno de R$ 200,00 por MWh, enquanto a biomassa é de R$ 156,00 por MWh e a hidráulica é R$ 78,00 por MWh (BRASIL, 2012), conforme supramencionado na seção 3.1.1.

A competitividade da energia eólica no país aumentou tanto após o PROINFA, que a partir de 2009 a energia eólica começou a efetivamente fazer parte do sistema de leilões para contratação de energia elétrica no país, sendo que no leilão A-5 de dezembro de 2012 85% desse certame foi contratado através da fonte de energia eólica. E já houve leilões em 2011 em que o preço médio do KWh da energia eólica ficou em R$ 99,00.

Outro elemento que aumenta a competitividade da energia eólica é o curto prazo para instalação do empreendimento eólico, cerca de três anos, conforme supramencionado no item 3.2.. Esses dois elementos (preço e curto prazo) aliados à tendência de crescimento da energia eólica no país, ilustrada pela meta do Plano Decenal de Expansão de Energia 2021 de que 16 mil MW de energia elétrica sejam oriundos de fonte eólica, conforme supramencionado na seção 3.1.2., levam à constatação de que há uma tendência atual de aumento da competitividade da energia eólica no Brasil – elemento que contribui, no mínimo, para o crescimento econômico.

Considerando que a exploração do potencial eólico brasileiro demanda a instalação de indústrias que formam a cadeia produtiva da energia eólica, basicamente composta por indústrias de aerogeradores, de torres e de pás, que por sua vez vêm a demandar indústrias de suprimentos para essa cadeia produtiva, é possível constatar que a exploração do potencial eólico brasileiro tende a fortalecer a indústria nacional, elemento fundamental para a superação do

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subdesenvolvimento. No sentido de ilustrar as demandas de mercado oriundas do crescimento da energia eólica no país, o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos – CGEE (2012, p. 33) aduz que “neste cenário de crescimento da participação desta fonte na matriz elétrica nacional, uma infraestrutura de suprimento, fabricantes, formação de mão de obra e conhecimento das tecnologias do setor se fazem necessários”, conforme supramencionado na seção 3.2..

No que diz respeito à indústria de insumos para energia eólica no país, percebe-se que, considerando apenas a indústria de aerogeradores – em 2007 existia no Brasil apenas uma indústria de aerogeradores, a WOBBEN WIND POWER (alemã), e atualmente estão instaladas no país a IMPSA (argentina), a GE (norte-americana), a GAMESA (espanhola), a WEG/MTOI (Joint Venture Brasil/Espanha), estão em fase de construção a ALSTOM (francesa), VESTAS (dinamarquesa), FUHRLANDER (alemã), SUZLON (indiana), e estão em negociação a SIEMENS (alemã) e GUODIAN UNITED POWER (chinesa), conforme supramencionado na seção 3.1.1 –; considerando a composição atual da indústria de energia eólica no país, demonstrada na figura abaixo (SÃO PAULO, 2012, p. 38); considerando que a crise econômica mundial acarretou o desaquecimento do mercado dos Estados Unidos e da Alemanha e que isso impactou diretamente no aquecimento do mercado de insumos para energia eólica na América do Sul, tornando essa região a mais atrativa para o mercado mundial, conforme supramencionado na seção 3.1.1; constata-se que a indústria de insumos para energia eólica está numa curva em ascensão. Essa é a tendência.

É verdade, também, que essa ascensão da indústria pode se dar de maneira a contribuir apenas com o crescimento econômico, ou de maneira a contribuir com a superação do subdesenvolvimento. Esse tema será abordado no capítulo 5 sob a perspectiva dos ajustes de financiamento e inovação necessários para aproximar mais a realidade da energia eólica no Brasil do projeto constitucional de superação do subdesenvolvimento.

Diante do exposto nesta seção, a exploração do potencial eólico brasileiro se configura no mínimo como uma hipótese de alavancagem do crescimento econômico. Contudo, para que a exploração do potencial eólico brasileiro contribua para além do crescimento econômico do país, no sentido da superação do subdesenvolvimento, é necessário que o funcionamento do mercado de insumos para energia eólica responda também aos ditames da soberania nacional e da produção tecnológica nacional, estudados a seguir.

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Figura 2: Indústria eólica no Brasil (aerogeradores, torres e pás)

Fonte: São Paulo, 2012.