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3 ENERGIA EÓLICA E CONCRETIZAÇÃO DO PROJETO CONSTITUCIONAL

3.7 O SENTIDO PLENO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL

Conforme visto no capítulo anterior, o desenvolvimento nacional no sentido furtadiano ganha uma conotação diferente de apenas crescimento econômico. Ganha a conotação de crescimento econômico com combate as heterogeneidades sociais, com a busca da autonomia tecnológica, com a busca da soberania, com combate às desigualdades regionais e com equilíbrio ambiental. Ou seja, consiste na própria superação do subdesenvolvimento brasileiro.

Na seção 3.3 discorre-se apenas sobre os aspectos da energia eólica que levam ao crescimento econômico, que é um vetor importantíssimo do desenvolvimento nacional porém não o único. Assim, a compreensão da energia eólica como uma hipótese de concretização do

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desenvolvimento nacional só se completa ao se discorrer sobre a energia eólica como possibilidade de combate às desigualdades regionais, como possibilidade de fortalecer a soberania nacional, como possibilidade de ser uma “janela de oportunidade” para a inovação tecnológica nacional e assim fortalecer a indústria nacional de insumos para esse setor, como possibilidade de contribuir para o equilíbrio ambiental. Pois todos esses elementos são aspectos próprios das diversas dimensões que a compreensão de desenvolvimento nacional deve considerar. Assim, não se pode vê-los de maneira estanque, em separado, mas sim concatenados, dando forma à compreensão de desenvolvimento nacional assumida pela constituição, que é o vetor da superação do subdesenvolvimento.

Nesse sentido, a energia eólica configura-se com uma hipótese ótima de concretização da superação do subdesenvolvimento. Contudo, não se pretende aqui afirmar que a energia eólica é única hipótese de concretização desse projeto, mas, sim, que é um setor da economia com possibilidades reais de contribuir com a concretização do projeto constitucional de superação do subdesenvolvimento.

3.8 CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO

Este capítulo buscou confrontar o setor de energia eólica no Brasil com o projeto constitucional de superação do subdesenvolvimento para, assim, demonstrar que o setor da energia eólica reúne condições e possibilidades de concretizar esse projeto em muitos aspectos.

Não se pretendeu aqui defender que a energia eólica concretizaria o projeto constitucional em sua plenitude, mas, sim, que esse setor da economia reúne vários aspectos que contribuem para essa realização.

Verificou-se também insuficiências e, portanto, constatou-se a necessidade de ajustes no regime jurídico desse setor. Entretanto, não se pretendeu adentrar em quais os tipos de ajustes necessários, apenas apontar brechas, uma vez que o capítulo 5 se dedicará a investigar quais os ajustes prioritários para tornar esse setor da vida econômica do país ainda mais próximo da imposição constitucional de superar o subdesenvolvimento.

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4 ENERGIA EÓLICA: EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS

A energia eólica é uma fonte energética que passa hoje por um processo de crescimento. Dados recentes da World Wind Energy Association (WWEA, 2012) demonstram que até o fim de junho de 2012 o total de capacidade instalada no mundo atingiu 254.000 MW. Esse dado, comparado com o mesmo no ano de 2007, demonstra um crescimento 160.200 MW em cerca de cinco anos, pois, em 2007, a capacidade instalada da energia eólica no mundo era de 93.800 MW (ANEEL, 2009, p. 79).

O maior mercado de energia eólica no mundo é a China. Em 2011 os maiores potenciais instalados estavam na China, seguida pelos Estados Unidos, pela Índia e pela Alemanha (CGEE, 2012). Contudo, o cenário mundial do mercado de energia eólica tem sido muito instável nos últimos anos devido aos efeitos da crise econômica mundial. Isso é tanto verdade que na primeira metade de 2012 o ranking entre os principais mercados se altera, porque a Índia manteve seu mercado estável, a China teve um leve decréscimo e os países mais afetados pela crise econômica, Estados Unidos e os países da zona do Euro, voltaram a dar resposta. Ainda assim, a China se mantém na liderança, seguida por Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Índia, que juntos representam 74% da capacidade instalada de energia eólica global (WWEA, 2012).

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Gráfico 4. Capacidade de instalação

Fonte: WWEA, 2012.

Dado um breve panorama sobre a energia eólica no mundo, este capítulo tem por objetivo analisar de forma mais detida a experiência com energia eólica de três países: China, Estados Unidos e Dinamarca. O motivo desse recorte é buscar experiências em países que ao mesmo tempo demonstrem pujança no setor de energia eólica e também guardem características simétricas e assimétricas com o Brasil. A China justifica-se por ser o maior expoente mundial da atualidade, mas também por ser um país que guarda características de semiperiferia, embora ela tenha implementado uma política ofensiva de catch up. Assim, sob alguns aspectos, a China funciona como país central e, nesse sentido, demonstra grande esforço para garantir sua soberania perante o sistema mundo. Os Estados Unidos justificam-se por serem um grande expoente mundial, são o principal país central e hegemônico da atualidade e que, nessa quadra, encara a energia eólica como uma alternativa. A Dinamarca, em que pese não estar entre os países de maior capacidade instalada de energia eólica no mundo, tem 25% do total de sua oferta de eletricidade de origem eólica, sendo essa a maior proporção de energia eólica numa matriz energética no mundo. Além disso, é pioneira no desenvolvimento da energia eólica offshore, sendo o principal país em capacidade instalada offshore. Ainda, a história demonstrou que,

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devido à escassez de recursos naturais energéticos em solo dinamarquês, o sucesso da energia eólica na Dinamarca se deu como alternativa advinda do esforço de inovação para lidar com a crise de petróleo da década de 1970.

Mesmo nessa análise mais detida, o objetivo não é esgotar todos os aspectos que se relacionem com a energia eólica em cada um desses países, mas sim buscar uma análise dos dados que classificam cada país como um expoente da energia eólica e, a partir daí, construir uma abordagem com foco na questão da inovação e da política de fomento. Leia-se: financiamento da energia eólica em cada país.