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3 VIAGENS, VIAJANTES E SUAS HISTÓRIAS

3.2 Enoque, Isaías e suas visões celestiais

“Como o profeta ou o místico, o cientista também se obriga a enfrentar o escuro e imprevisível reino da realidade incriada.” (ARMSTRONG, 1999, p. 179).

Antes de iniciar a apresentação dos textos de Enoque e Isaías, gostaria de introduzir uma breve discussão sobre o que é este livro tão misterioso e, ao mesmo tempo tão conhecido, chamado Bíblia.

A Bíblia canônica protestante é composta por 66 livros e a Bíblia canônica católica por 73 livros, que foram escritos durante um período de mais de mil anos. Esses livros apresentam lendas, histórias, poesias, narrativas, discursos, leis, teses, cartas e relatos sobre a vida de Jesus, antes e depois de seu nascimento. Nesses livros, são apresentados todos os tipos de personagens, desde reis, belas mulheres, políticos, até pastores e prostitutas. Há ainda a descrição de emoções contraditórias como alegria e tristeza, amor e ódio, guerra e paz, fé e dúvida. É por toda essa riqueza que artistas, pensadores e escritores têm nas escrituras bíblicas uma grande fonte de inspiração. “Foi em parte graças a esse aspecto cultural que a

Bíblia se tornou uma das pedras fundamentais sobre as quais repousa a civilização ocidental.”

(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2004, p. 217).

Foi todo esse contexto histórico descrito na Bíblia que

[...] levou São Paulo a pregar entre os gentios, desenvolveu a interpretação figural e preparou-a para a influência que iria exercer na Antigüidade tardia e na Idade Média. A visão que Auerbach apresenta do texto bíblico e desse método interpretativo usado por Paulo reconhece uma mescla possível entre religião e arte de forma dinâmica, cada uma mantendo sua respectiva autonomia. Por um lado, a experiência religiosa de Paulo é central para que o novo método seja desenvolvido; por outro, ele cria uma tradição que vai influenciar a história do pensamento ocidental e deixar uma herança expressiva para a produção literária até em nossos dias. (MAGALHÃES, 2000, p. 111).

Assim, a partir dos séculos XVIII e XIX, a Bíblia passou por um processo de desmitificação e começou a ser estudada também como uma obra literária. Uma discussão muito produtiva e atual dentro deste aspecto é a levada avante principalmente por Harold Bloom e Jack Miles (1997) que defendem a Bíblia como sendo criação literária, um livro que deve ser considerado livre da base dos dogmas, impostos pela teologia e pelas autoridades eclesiásticas. Mesmo que os teólogos estudem os gêneros e estilos literários bíblicos e

acreditem que isso seja fazer literatura, a proposta dos dois autores é mais ampla: eles acreditam que seja necessário descobrir a versatilidade de Deus, a genialidade dos autores dos livros, a engenhosidade na construção dos personagens.

Atesta-nos isso o fato de a Bíblia ser um livro quase que impossível de se ler na ordem em que se apresenta, pois é, na verdade, uma mistura de várias narrativas. Ela é uma verdadeira biblioteca, na qual são reunidos vários textos de autores e épocas diversas. E o mais interessante é que algumas partes dessas narrativas antigas podem ter sido transmitidas em livro, ao passo que outras não, elas continuaram sendo transmitidas ou de forma oral ou através de outros escritos que não foram selecionados para fazer parte do “livro do cristianismo”.

O primeiro, segundo a tradição dos estudos bíblicos, que procurou colocar essas narrativas numa forma escrita fixa, foi o escritor responsável pela fonte javista ou J.

O javista trabalhou principalmente com a forma que a narrativa tomou entre os clãs e grupos que formaram a tribo meridional de Judá, e ele incluiu principalmente aquelas tradições e elementos dos temas básicos que eram mais próprios do sul. (CERESKO, 1996, p. 71-72).

O que o javista fazia, na época da liga tribal, era combinar as narrativas e as tradições das várias tribos reunindo-as numa narrativa única. O javista se demonstrava, na maioria das vezes, um talentoso narrador de histórias, além de possuir uma profunda visão teológica.

Já uma experiência um pouco diferente da divindade surgiu ao norte, entre aqueles que deram origem depois ao movimento profético.

Grupos e indivíduos do norte sentiram particularmente o poder e a transcendência de Deus, um Deus distante e terrível. A atitude adequada para com esse Deus é a reverência e o temor, no sentido de obediência e de devotado amor filial. (CERESKO, 1996, p. 74).

Segundo essa tradição, os seres humanos dos relatos bíblicos eram movidos pelo temor, pela obediência e pela devoção que tinham à divindade ali apresentada. Esses personagens, talvez por sua origem, eram muito ricos e possuiam muito mais profundidade em relação ao seu tempo, destino e consciência. Para Auerbach, mesmo que eles estivessem envolvidos em acontecimentos que lhes ocupassem por completo, eles

[...] não se entregam a tal acontecimento a ponto de perderem a permanente consciência do que lhes acontecera em outro tempo e em outro lugar; seus pensamentos e sentimentos têm mais camadas e são mais intrincados. (AUERBACH, 1971, p. 9).

Neste ponto, acredito ser necessário retomar o fato de que estou tratando dos textos bíblicos como obras literárias, sejam eles canônicos ou não. Mas, a Bíblia, mesmo se considerarmos somente os textos canônicos, é uma reunião de livros que, em geral, não têm nada em comum um com o outro. Ler a Bíblia de Gênesis ao Apocalipse como lemos, por exemplo, Dom Quixote, de Cervantes, do começo ao fim, parece loucura e tarefa que dificilmente conseguiremos levar a cabo, mesmo que haja quem o faça.

Va ricordato che la Bibbia è un’autentica biblioteca i cui testi sono stati redatti in un arco di mille anni, in un’area geografica che spazia da Gerusalemme a Babilonia fino a Roma, e che sono stati scritti in ebraico, aramaico e greco.

(BIANCHI, 2006, p. 90). 80

De tal forma, a Bíblia, por ser contada por várias vozes, enquanto literatura é polifônica, pois nos oferece diversas versões e visões da história do cristianismo e do judaismo. Mais um ponto que se acrescenta ao nosso desafio de encarar os livros bíblicos como literatura e, enquanto tal, desvinculados de dogmas e, principalmente, da defesa de uma escolha de fé.

A essência da polifonia consiste justamente no fato de que as vozes, aqui, permanecem independentes, e, como tais, combinam-se numa unidade de ordem superior à da homofonia. E se falarmos de vontade individual, então é precisamente na polifonia que ocorre a combinação de várias vontades individuais, realiza-se a saída de princípio para além dos limites de uma vontade. Poder-se-ia dizer assim: a vontade artística da polifonia é a vontade de combinação de muitas vontades, a vontade do acontecimento. (BAKHTIN, 2005, p. 2).

E a vontade aqui é falar da influência de Deus na trajetória da humanidade. Dessa maneira, levando-se em consideração o caráter literário e artístico da polifonia, o estudo da Bíblia, do ponto de vista da literatura, é por si só legítimo, já que nenhum outro livro influenciou tanto a literatura ocidental.

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80

É bom lembrar que a Bíblia é uma autêntica biblioteca, cujos textos foram escritos em um arco de mil anos, em uma extensão geográfica que vai de Jerusalém a Babilônia, até Roma, e que foram escritos em hebraico, aramaico e grego.

Para Alcaraz (1998, p. 198):

A Bíblia inteira pode ser abordada sob o aspecto literário (Gabel-Wheeler 1993). Obviamente, há livros nos quais o literário ou poético se destacam especialmente. Podemos citar como exemplos o livro de Jó, os Salmos, o profeta Isaías e o Cântico

dos Cânticos. Os místicos cristãos têm continuado nas pegadas dos autores

sagrados, utilizando-se da linguagem poética tanto para falar de Deus como para falar com Deus. Se o universo religioso recorre à criatividade da linguagem para expressar o indizível, de igual modo a expressão literária encontra no universo religioso uma mina inexaurível. Na mitologia greco-latina religião e literatura formam uma simbiose de tal maneira que é impossível conceber a existência de uma delas sem a outra. Já nas religiões monoteístas que se consideram históricas e não mitológicas a situação é um pouco diferente.

Vista de tal maneira, a Bíblia, ao mesmo tempo em que se ocupa em conhecer o ser humano e os acontecimentos que o cercam, engloba lenda, história e teologia, tornando- se um material de garimpo vastíssimo para a literatura que a sucedeu.

Mas os fatores históricos e sociais não são os únicos que são importantes na criação literária. Há também os fatores artísticos como gênero e estilo, que mudam com o passar do tempo. E é à alteração desses fatores que se pode atribuir as mudanças nas formas de criação literária, segundo a percepção do autor.

Porém, na cultura semita antiga, no contexto em que nasceu a Bíblia, os textos eram escritos com outra mentalidade. O autor em si não era importante e sim a relação que ele tinha com um grupo específico ou com seu povo. É possível perceber a veracidade dessa constatação quando pensamos que os nomes dos autores bíblicos só eram conservados quando considerados importantes pela comunidade para a qual a narrativa era endereçada.

O nome de Isaías ou Jeremias demonstra aos crentes que Deus atua no meio de seu povo através de homens concretos, num momento preciso da história. Para o semita, não é importante o autor em si mesmo. Ele só é importante pelo que representa: a garantia do testemunho legítimo acerca da ação de Deus por seu povo. (ADABIA, 2000, p. 36).

Dessa maneira, sem mais me prolongar falando a respeito de toda a teoria que envolve os textos bíblicos, a literatura apocalíptica e outras questões levantadas até aqui, lhes apresento o profeta Isaías, segundo o que nos relatam alguns estudiosos de textos apócrifos como Rost (2004) e Tricca (1992).

O profeta Isaías era filho de certo Amós, que vivia em Jerusalém, e tinha visões divinas. Ele atuou principalmente na segunda metade do século VIII a.C. Assistiu à queda de Israel e de Samaria e viu, assim, a desolação de Jerusalém. Em seus escritos, ele fala pouco

sobre sua vida. Dentre as raras informações que temos, uma delas é de que sua esposa também tinha o dom da profecia, e seus filhos tinham nomes simbólicos: Shear-Iashub (“um resto voltará”) e Maher-shalal-hash-bas (“despojo rápido-presa veloz”). Seu nome, Isaías, siginifica “Iaweh concede a salvação”. Ninguém sabe ao certo como terminou sua vida, apesar de todas as histórias que envolvem a forma como ele morreu.

O profeta descreve a sua missão como se ele tivesse sido escolhido como confidente das deliberações de um conselho divino que lhe tivesse delegado o anúncio e a execução de suas decisões e decretos. Mas esta não era tida por ele como uma tarefa fácil e agradável, segundo suas próprias palavras. Ele teria que proclamar a ruína do reino de Israel e o povo se recusaria a acreditar nele. O discurso profético, quase que invariavelmente, tratando-se de mensagens de consolo, conforto, advertência ou condenação, não se referia a questões simples, pessoais ou exclusivamente religiosas. Muito pelo contrário, essas mensagens diziam respeito à vida de todo um povo, uma nação, ao caráter da sociedade israelita, sendo transmitidas a um rei individualmente ou ao seu povo de forma geral.

A vida de Isaías como profeta teve início com sua vocação por parte de Iahweh, e, sua importância, como pessoa e profeta, é atestada pelos quarenta e cinco anos de duração de seu ministério profético, segundo os relatos bíblicos.

A notável amplidão da visão de Isaías constitui outro elemento que dá vigor à sua poesia. Ele oferece uma idéia profunda das implicações das decisões e da política dos reis da Assíria e da Judéia no cenário internacional, e ao mesmo tempo, das atitudes e decisões do rei e do povo nas profundezas de seus próprios corações – e ele consegue mostrar o vínculo entre as duas. (CERESKO, 1996, p. 202).

Isaías é considerado pelos estudiosos da Bíblia como sendo o principal representante bíblico da literatura escatológica. Reiterando o que já foi dito, são consideradas narrativas escatológicas todas aquelas que apresentam afirmações que se refiram ao futuro, quando as condições históricas e do mundo estarão tão mudadas que será possível falar de um “novo estado das coisas”.

Para muitos, o profeta Isaías possuía um temperamento forte e aristocraticamente equilibrado, o que pode ter lhe facilitado a convivência com a corte e as classes mais altas. Além disso, esse seu temperamento pode ter contribuído também para que ele se afastasse e se opusesse a esses grupos da sociedade quando se fez necessário. A partir de então, ele se uniu a seus discípulos e passou a desenvolver um trabalho mais íntimo e formativo junto a eles e ao povo.

O livro que tem como título Ascensão de Isaías, começou a ser escrito no II século a. C. e foi encerrado no final do II século d. C. É tido, principalmente por sua temática, como um apocalipse judaico, rico em informações a respeito do êxtase de Isaías e o início de sua viagem celestial. A visão se dá quando Isaías estava reunido com outros quarenta profetas, que vinham de diferentes lugares para lhe cumprimentar. Neste exato momento, enquanto profetizavam, as portas dos céus se abriram e todos viram o que aconteceu e ouviram a voz do Espírito Santo de Deus.

E a visão do santo profeta não foi deste mundo aqui, mas uma visão do mundo misterioso no qual não é permitido ao homem penetrar. (TRICCA, 1992, p. 83).

Foi o rei Ezequias, a quem Isaías se dirigia, através de palavras de fé e justiça, quem reuniu a todos para que vissem e ouvissem o que estava acontecendo.

E o rei havia convocado o povo todo e todos os profetas que conseguira, e que atenderam ao convite; e Miquéias e Ananias o ancião, e Joel e Josheb, ele colocou à sua direita. (TRICCA, 1992, p. 82).

Daí, enquanto Deus falava através do espírito de Isaías e todos o ouviam, a consciência do profeta lhe foi tomada e ele não viu ou ouviu mais ninguém. Os olhos permaneciam abertos, mas a boca estava calada. Foi então que ele teve uma visão. Foi-lhe enviado um anjo do sétimo firmamento para guiá-lo nesta viagem. O mundo que se apresentou através da visão a Isaías representava o reino que se delineia após a morte.

Pois tu deves ainda retornar à tua prisão mortal, mas perceberás o caminho pelo qual te farei subir ao céu; pois é para isso mesmo que fui enviado a ti. (TRICCA, 1992, p. 84).

Isaías é escolhido para esta missão porque era testemunha do sofrimento ao qual estava sendo submetido o povo de Jerusalém, sua terra. Não que Isaías não sofresse, pois mesmo os profetas eram perseguidos, já que os governantes, para se manterem no poder, os acusavam de falsos profetas. Nosso profeta também é acusado e guardas são enviados para prendê-lo. É nesse instante que Isaías tem outra visão, a da vinda do cordeiro.

Ele havia, de fato, anunciado o advento do Bem-amado do sétimo céu, sua transfiguração, sua descida entre os homens, a forma humana que ele iria assumir, como haveria de ser rejeitado, os tormentos que ele iria sofrer por parte dos filhos

de Israel, a vida e a doutrina de seus doze apóstolos, sua crucificação na véspera do

Sabbath entre dois homens da iniqüidade, e sua sepultura. (TRICCA, 1992, p. 76).

Das histórias que se conhece, Manassés, o rei que assumiu o poder de Judá após a morte de Ezequias, completamente transtornado pela ira que lhe causavam as visões do profeta, mandou que o cortassem ao meio com uma serra de madeira. Mas, mesmo tomado pela dor, Isaías continuava a ter suas visões, o que irritava ainda mais ao rei e aos seus seguidores. As visões só cessaram quando o corpo foi completamente serrado.

Mesmo tendo tido o profeta a visão que anunciava o provável salvador, a narrativa de visão que mais interessa para esta pesquisa, é a tida por Isaías quando ele estava ao lado do leito do Rei Ezequias convalescente e sobre a qual passarei a discorrer agora.

Durante essa visão, o profeta fala inspirado pelo poder do espírito, e sua alma é elevada até que ele não enxergue mais ninguém à sua volta e nem mais fale com voz audível.

Foi um anjo, que habita o sétimo céu assim como Jesus Cristo, quem veio anunciar a visão a Isaías.

E o anjo que lhe fora enviado para revelar-lhe esta visão, não era um anjo deste firmamento, nem um destes anjos gloriosos deste mundo: era um anjo descido do sétimo céu. (TRICCA, 1992, p. 82).

Cabe ressaltar aqui que o testemunho do profeta sobre sua visão apresenta todos os movimentos narrados em forma ascendente, ou seja, tudo está localizado acima da terra, nos céus, tanto o que chamamos de paraíso quanto o que denominamos inferno. O anjo, que é o guia do profeta, toma-o pela mão e diz que Isaías verá o pai ao final daquela viagem. O primeiro lugar que visitam é o firmamento, onde vêem Samael e onde está localizado o reino de Satã.

E subimos, o anjo e eu, ao firmamento, e vi Samael e seus poderes; lá estava o reino da carnificina e das obras de Satã, da disputa e das discórdias. (TRICCA, 1992, p. 84).

O profeta diz existir uma semelhança muito grande entre o mundo superior (o firmamento) e o mundo inferior (a terra). Do firmamento eles passam ao céu propriamente dito. Ali eles vêem, ao centro, um trono, que divide o céu em direita e esquerda, onde ficavam os anjos. Os da direita eram anjos esplendorosos e perfeitos, que cantavam louvores ao trono.

E os anjos que estavam à esquerda cantavam após os primeiros; mas suas vozes não se pareciam com as vozes dos anjos da direita, e o seu esplendor era bem diferente. (TRICCA, 1992, p. 84).

Os louvores, tanto da direita como da esquerda, eram sempre dirigidos àquele que está no sétimo céu, ou seja, a Deus. Passam os dois, então, ao segundo céu, que é semelhante ao primeiro, mas o que está sentado no trono tem mais glória que o do primeiro céu. “Sim, grande era a glória do segundo céu; e o enviado para guiar os teus passos. E te direi a quem deverás adorar no sétimo céu.” (TRICCA, 1992, p. 85). Nesse céu, Isaías é avisado para adorar somente àquele que está no sétimo céu e a mais ninguém.

Vão, em seguida, ao terceiro céu. Lá não há nada que lembre a terra. O terceiro céu também é semelhante ao primeiro e ao segundo.

E eu disse ao anjo que estava comigo: “Mas se o esplendor celeste vai mudando diante dos meus olhos à medida que subo os diferentes graus do céu, e se aqui não há conhecimento nenhum do mundo, seria então em vão que estaríamos dando-lhe um nome aqui embaixo? (TRICCA, 1992, p. 86).

No quarto céu, há a mesma estrutura dos outros e o louvor também é constante. Só o que aumenta é a glória, de céu a céu. Mesmo a divisão entre os anjos em direita e esquerda é igual.

E o esplendor e a glória dos anjos que se encontravam à direita eram maiores que a dos anjos colocados à esquerda. E a glória daquele que reinava sobre a terra era mais brilhante que a dos anjos colocados à direita, e a glória de uns e outros era superior à dos anjos dos céus inferiores. (TRICCA, 1992, p. 86).

No quinto céu, tudo igual, a glória aumenta, mas a glória da direita sempre supera a da esquerda. Dali passam ao éter do sexto céu, onde os anjos estão envoltos por uma imensa glória.

E ele me disse: “Sim, aqueles do sexto céu e do céu superior, onde não há lado esquerdo, nem trono no meio, é lá que habita aquele que não tem nome [Deus], e o Bem-amado [Jesus] cujo nome é um mistério que todos os céus não poderiam penetrar.” (TRICCA, 1992, p. 87).

No sexto céu, todos os anjos são iguais. Nesse momento, Isaías canta junto com os anjos.

E as coisas que se diziam eram bem diferentes. Mais suaves eram as vozes, mais brilhante era a luz. Tão brilhante que a luz que havia visto nos cinco céus me parecia só trevas comparada com aquela que nestes lugares resplandecia. (TRICCA, 1992, p. 88-89).

Dali, os viajantes passam ao éter do sétimo céu, onde uma voz quer bloquear a passagem de Isaías: “Subirá o último degrau aquele que habita entre os estrangeiros?” (TRICCA, 1992, p. 89).

Mas outra voz não permite que isso aconteça: “Sim, que seja permitido ao santo profeta Isaías subir até aqui, pois eis o seu hábito”. (TRICCA, 1992, p. 90). O profeta pede explicações ao anjo:

E interroguei o anjo que estava comigo, e disse-lhe: “quem é aquele que queria impedir-me; quem é aquele que concordou que eu subisse?” E ele me disse: “Aquele que quis te impedir habita acima dos esplendores do sexto céu. E aquele que obteve para ti a autorização de subir é o Deus teu Senhor, o Senhor Cristo, que