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ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 33-39)

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2) ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

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2) ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

2.1) A EDUCAÇÃO

A educação, holística e socialmente entendida, apresenta-se frequentemente como uma forma de atividade graças à qual os adultos garantem às crianças e adolescentes, aos jovens a apropriação de saberes, de técnicas, de capacidade suscetíveis de possibilitar e, nos melhores casos, enriquecer a vida individual e coletiva, na perspetiva de valores, geralmente os dominantes, da comunidade social (Grácio, 1995). A educação é algo que abrange todos os seres vivos existentes, sendo o processo educativo fundamental e para a continuidade da vida. Corroborando com esta linha de pensamento Costa (2002) refere que o desenvolvimento de práticas e a aquisição de ideias e de valores através da educação é uma necessidade vital para a própria sociedade. Os pássaros, por exemplo, quase logo que nascem são “obrigados” a aprender, sendo expulsos do ninho, tendo que experienciar logo o processo de aprendizagem de voo. Este exemplo poderá ser um pouco fora da área de estudo onde está inserido este RE, mas com ele consegue-se perceber o quão necessário é o processo educativo. Do mesmo modo que os pássaros mencionados, também os seres humanos seres humanos vivenciam o processo educativo e as suas aprendizagens sem que estas sejam forçadas ou propositadas, ocorrendo de forma informal e espontânea. A educação processa-se em qualquer momento e em qualquer lugar, quer este seja formal ou institucionalizado (Grácio, 1995). Em casa, na rua, na igreja, todas as pessoas passam e vivenciam experiências de aprendizagem de várias ordens, experiências para aprender, outras para ensinar e ainda vivências onde têm que aprender e ensinar simultaneamente. O fazer, o saber, o ser e o conviver são aspetos que estão presentes todos os dias da nossa vida e são orientados pela educação. A educação apresenta-se como uma necessidade de ordem natural ou vital (Grácio, 1995).

Desde que o homem existe a educação apresenta-se como um elemento fundamental da construção da comunidade. A educação

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operacionaliza-se na medida em que constrói e reconstrói a cultura, constrói e democratiza saberes, inclui autores, rememora a história, mitos e ritos, todos estes aspetos servem para construir a sociedade. Exemplo da influência deste papel cultural da educação é o que aconteceu com todos nós no momento em que nascemos, desde o primeiro minuto de vida fora do útero da mãe, sentimos e necessidade de aprender tendo esta aprendizagem o objetivo de nos integrar na sociedade onde forçosamente estamos a ser incluído. Esta influência intitula-se de educação, uma vez que nos foram transmitidos os hábitos, costumes e valores que imperam junto dos que fazem parte da sociedade onde cada um de nós nasceu.

A educação cria e molda os homens à imagem da sociedade onde se incluem, através da transferência de uns para os outros dos sabres que legitimam essa mesma sociedade. Cada sociedade tem um conjunto de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, através do processo educativo e da transmissão que lhe está implícita, constroem estas mesmas sociedades. Já em tempos longínquos, onde as tribos indígenas eram abundantes, uma das rezas que estas realizavam demonstra o poder que a educação tem nos homens e como esta se processa: “Tudo o que se sabe adquire-se aos poucos por viver muitas

e diferentes situações de trocas entre pessoas, com o corpo, com a consciência, com o corpo e a consciência. As pessoas convivem umas com as outras e o saber flui, pelos actos de quem sabe e faz, para quem não sabe e aprende. Mesmo quando os adultos encorajam e guiam os momentos e situações de aprendizagem das crianças e adolescentes, são raros os momentos especialmente reservados apenas para o acto de ensinar” (Brandão,

1993, p.18). Depreende-se desta reza que a educação se trata uma troca entre seres, de influência mútua e não de professor para aprendiz unicamente. A educação não se processa apenas como relação vertical e hierárquica entre adulto e imaturo, mas também como relação horizontal e igualitária (Grácio, 1995).

Analisando a palavra educação, percebe-se que esta é polissémica, possuindo um leque alargado de definições e conceitos. Cabanas (2002) faz

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uma comparação deste termo com um poliedro de várias faces, tendo cada uma aspetos distintos das restantes. Antes de se caracterizar tão nobre palavra, torna-se pertinente compreender a etimologia da mesma, para assim retirar desta as origens que estão na base de cada uma das faces deste poliedro. Segundo Mialaret (1976) podemos dizer que a palavra educação tem origem em termos latinos, tais como os verbos “educare” e “educere”. Este último proveniente do termo “ex–ducere”, que significa, literalmente, conduzir (à força) para fora. Quanto ao primeiro conceito, “educare”, o seu significado é traduzido como amamentar, criar, alimentar. É possível, então através da junção destas duas ideias orientadoras chegar a duas expressões práticas da ação de educar, por um lado, a ideia de conduzir, de orientar, de impor uma direção, por outro, a ideia de oferta, dádiva que alimenta, possibilitando o crescimento (Mialaret, 1976). Estas duas ideias são convergentes, unindo-se e sendo peças constituintes do conceito de Educação onde a aprendizagem do educando é direcionada e orientado pelo educador, tendo os ensinamentos transmitidos por este último o objetivo de fazer com que o primeiro interveniente do processo ensino e aprendizagem cresça, se forme, se torne num ser dotado de saberes.

Para Platão (427 – 347 a.C.), educação é a formação que desde a infância exercita a indivíduo na virtude e lhe inspira o vivo desejo de chegar a ser um cidadão perfeito capaz de governar e de ser governado de acordo com a justiça. Mialaret (1976) refere que educação é uma ação exercida sobre um sujeito ou grupo de sujeitos, que é aceite por estes e que tem como objetivo provocar modificações profundas, fazendo com que estes sujeitos se tornem elementos ativos da ação sobre si exercida. Não são meros recetores de informação mas sim elementos ativos do processo de transmissão e aquisição de conhecimentos. De acordo com Savater (1997), a educação é um bem essencial para o desenvolvimento humano, sendo mesmo um instrumento fundamental na luta contra as fatalidades e preconceitos sociais.

A educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controlo do processo de ensino e aprendizagem. O ensino formal trata-se de um momento em que a educação é sujeita à pedagogia, em que se criam

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situações específicas para se exercer, onde são utilizados métodos para transmitir ao aprendiz conhecimentos. É neste preciso momento que surgem a instituição escola, o papel de aluno e o de professor.

Podemos dizer que a escola, como instituição de formação, deve influenciar o ser humano para uma nova atitude perante a vida, dotando-o de capacidade para, mudar, saber como e porquê mudar, adaptar e criar. Na formação da personalidade, é fundamental saber aquilo que se quer. Assim, a educação tem por missão preparar a juventude para o mundo de amanhã (Costa, 2002). Desta forma, é possível considerar escola e o processo educativo que lhe está implícito como um catalisador e impulsionador das transformações desejadas, das inovações projetadas e das tradições que devem ser preservadas, pois o educador e o educando são participantes da mesma ação. O educador não é um mero funcionário, e o aluno não se reduz a um cliente. No processo de educação quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender, sendo desta forma patenteada a influência mútua do professor e aluno.

Todos os alunos inscritos numa instituição escolar pertencem, antes de serem membros da escola, a um corpo social que inclui a família e a comunidade da qual provêm. A escola irá somar-se aos organismos da sociedade para auxiliar o educando a construir a sua cidadania, isto é, a sua inserção na sociedade de forma madura e consciente. A “missão” conferida à escola é não só apaixonante, mas, também, política. Refiro-me à paixão porque sem ela não é possível ao educador educar e política porque a escola contribui na construção e transformação da comunidade. Isso faz com que os agentes escolares tenham a responsabilidade de conciliar o processo de ensino e aprendizagem às experiências e o modo de pensamento do educando, uma vez que este é proveniente de uma comunidade que o gerou e o dotou de uma bagagem cultural que não pode ser esquecida. A adaptação do ensino às características do aluno realiza-se quando o educador reconhece no educando um ser que não é uma “tábua rasa”, uma folha de papel em branco, mas sim alguém que possui uma densidade de conhecimentos e características próprias, a partir das quais tem início a educação na escola.

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Alimentar a reciprocidade e a troca entre os intervenientes do processo educativo é a essência da aprendizagem. Assim, se a instituição escolar, através da educação, realizar a articulação do social com os saberes que pretende transmitir, permitindo que se influenciem mutuamente, estará a corresponder aos desejos daqueles que apostam nela como instituição fomentadora de uma sociedade melhor. Para que a prática pedagógica tenha sentido deverá existir uma conjugação das experiências do professor e do aluno, trocando saberes e transformando-os em conhecimento (Laterza, 1971).

Creio ser possível afirmar que a educação é aquilo que uma pessoa conquista no fim de um processo que contempla a interação da prática e da teoria, da ciência e da técnica, do saber e do fazer, tendo todos estes pontos que ser partilhados, trabalhados e transformados pelo professor e aluno numa relação de reciprocidade e influência mútua. A educação escolar, isto é, a educação veiculada por uma instituição de ensino, é uma peça chave na montagem jurídica de filiação simbólica que toda sociedade precisa para ser, existir e conviver – uma forma particular de como uma sociedade se institucionaliza com o auxílio da escola (Legendre, 1994).

Partindo da certeza que a EF na escola tem uma importante ação na formação dos jovens (Costa, 2002), orientei todas as minhas ações no estágio por este propósito, pretendendo educar e formar homens e mulheres melhores, que certamente farão parte e serão parte ativa de uma sociedade melhor.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 33-39)