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Capítulo 2: Enquadramento curricular e teórico

2.2. Enquadramento curricular

O início do século XXI marcou uma mudança de paradigma em termos da metodologia de ensino, no geral. O Quadro Europeu comum de Referência para as

Línguas (QECRL), do Conselho da Europa (2001), explicitou os objetivos para as

línguas, passando as competências a estarem no centro do processo de aprendizagem (Guerra, 2009). Assistiu-se a uma alteração bastante significativa nas metodologias dos próprios manuais. No caso específico de Portugal, a estrutura dos manuais escolares sofreu uma grande modificação graças à mudança da estrutura curricular iniciada em 20016. Esta reforma curricular derivou de uma inspeção realizada a centenas de estabelecimentos de ensino portugueses (Guerra, 2009). No final da dita

6 Vd. Decreto-Lei n.o 6/2001 de 18 de Janeiro. Acessível em:

www.dgae.mec.pt/c/document_library/get_file?p_l_id=15446&folderId (Acedido a 3 de novembro de 2016)

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inspeção, o Ministério da Educação chegou à conclusão de que o ensino consistia sobretudo num ensino meramente prescritivo e uniformizado. Com a introdução do QECRL e da reforma curricular, muitas editoras passaram a dar mais importância a introduzir diálogos de situações prováveis nos manuais de línguas ao invés de diálogos improváveis.

No caso das línguas estrangeiras, o objetivo era agora o de tornar os alunos competentes numa determinada língua estrangeira. Muita atenção foi concedida então à competência da produção oral. Contrariamente ao que aconteceu durante as décadas anteriores, quando muitos professores focavam os seus métodos de ensino à gramática e aos exercícios de gramática, a adoção do QECRL fez com os professores, por exemplo, dessem uma importância especial à articulação de palavras e frases oralmente, por parte dos alunos (Guerra, 2009).

A tónica do processo ensino-aprendizagem no Programa de Inglês do 3º ciclo (Ministério da Educação, 1997), para o 9º ano, no que se refere ao "ouvir", recai sobretudo na análise dos tipos de discursos que se ouvem (língua, fonética e registos de língua das gravações) e dá pouco destaque a outras características como o contexto, as opiniões pessoais dos alunos a partir dessas gravações, ou a colocação de hipóteses sobre o que vão/ acabaram de ouvir. Segundo o Programa de Inglês, deve ser dado mais enfoque à mensagem que se quer transmitir ao aluno, numa dicotomia entre ouvinte e "intérprete no discurso", fornecendo muitas possibilidades ao nível das questões das hesitações, pausas e discurso e não explora outras características linguísticas e de contexto, devido à limitação do áudio. Na verdade, no âmbito daquilo que o Programa de Inglês designa como “ouvir”, o documento parece ser ainda muito arcaico nas possibilidades, referindo apenas que o aluno "reage a estímulos auditivos, de forma verbal e não-verbal" e "recria o texto áudio em imagens" (Ministério da Educação, 1997: 30). O Programa dá especial destaque à forma em detrimento do conteúdo: o aluno "identifica a função do stress e da entoação" e “distingue ideia principal e ideia(s) de suporte" (Ministério da Educação, 1997: 31-32). Em nosso entender, todo esse potencial descrito poderia ser melhor conseguido com a junção de outros elementos, distintos da competência ouvir/escutar, como o contexto espaço, cor e imagem que os materiais audiovisuais incluem e que podem funcionar em complementaridade.

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Por outro lado, nas Metas Curriculares adotadas para a disciplina de Inglês do 9º ano homologadas em 2013 pressupõe-se que o aluno deverá atingir o nível B1 (Utilizador independente, nível limiar), de acordo com o QECRL (Conselho da Europa, 2001). Para as Metas Curriculares, o domínio da compreensão oral baseia-se, primordialmente, em duas componentes: a de “compreender discursos produzidos de forma clara” e a de “compreender diferentes tipos de texto áudio/ audiovisual desde que adequados ao nível de conhecimentos do aluno” (Cravo, Bravo, Duarte: 2013, p. 27). No entanto, nas Metas Curriculares de 2015, já se prevê que o aluno possa atingir um “perfil de saída” de nível B1/B1+ no final do ano letivo. Por outro lado, no que à compreensão oral/ Listening diz respeito, os objetivos são simplificados num grande tema que é o de “Compreender, com alguma facilidade, discursos produzidos de forma clara”. Determina-se então que o aluno possa:

“1. Seguir conversas do dia a dia.

2. Seguir orientações detalhadas, mensagens e outras informações (planos de viagem, boletins meteorológicos, mensagens gravadas). 3. Seguir uma apresentação breve sobre temas estudados.

4. Seguir o essencial de programas de rádio e televisão sobre temas atuais ou de interesse cultural (notícias, documentários)”.

(Cravo, Bravo, Duarte, 2015: 5). Com a possibilidade do aluno poder atingir já no 9º ano de escolaridade o nível B1+, são alargadas as possibilidades de desenvolver esta competência. Na verdade, o uso dos recursos audiovisuais é, desde logo, exortado desde o 3º ano, com a possibilidade de “Identificar ritmos em rimas, chants e canções em gravações áudio e audiovisuais” (Cravo, Bravo, Duarte: 2015, p. 4), sendo este tipo de materiais mencionados nos 5º, 6º, 7º e 8º anos. No entanto, os mesmos recursos não são mencionados para o 9º ano. Ainda que o documento sugira o visionamento de “programas de rádio e televisão sobre temas atuais”, as Metas Curriculares não vão mais além disso mesmo. Nesse sentido, foi possível verificar que o documento é parco relativamente às potencialidades oferecidas pelos materiais audiovisuais e negligencia a miríade de recursos disponíveis online e offline, para uso da comunidade docente e dos professores de língua inglesa, em particular. Na verdade, há uma muito maior facilidade em aceder a conteúdos autênticos nos dias de hoje do que havia há umas décadas, mas poucos são os professores que estão ao corrente das

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múltiplas possibilidades que estes oferecem (Mishan, 2005).

Por outro lado, à semelhança das Metas Curriculares de 2013, também as Metas de 2015 definem o domínio da compreensão oral como apenas “Listening” e nunca em complementaridade com o “Watching”. No entanto, seria importante recordar que os recursos audiovisuais têm a vantagem de trazer para a sala de aula as características não-verbais que podemos encontrar na comunicação face-a-face (Reyes, 2004).

Ainda assim, no Caderno de Apoio nas Metas Curriculares do 2.º e 3.º ciclos (Cravo, Bravo, Duarte: 2015a), o BBC Learning English e o British Council são sugeridos como plataformas de recursos fiáveis para a compreensão oral, sendo também feitas várias sugestões de utilização de vídeos do Youtube (Cravo, Bravo, Duarte: 2015a, p. 5-6 e 8).