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GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO

Na década de oitenta do século XX a lógica capitalista tem vindo a ocasionar desequilíbrios tanto na sociedade como no trabalho (Castells, 2002). Verifica-se uma diminuição significativa do “emprego regular” (Martins, 1999), um desenvolvimento da “multiatividade” e do trabalho independente, de um trabalho cada vez mais descentralizado (Dias, 1996; Martins, 1999) e de novos horários - o trabalho a tempo parcial ou integral, temporário ou subcontratado -, sendo que cada vez é menos visível o denominado trabalhador intermédio ou tradicional (Martins, 1999). A segurança e as perspetivas de promoção e qualificação profissional estão a desaparecer. As desestruturações e as desregulações laborais das últimas décadas têm criado novos desequilíbrios na organização das relações laborais, a destruição das trajetórias profissionais, a desqualificação e o “menosprezo” pelo significado de carreiras profissionais, o que tem como consequência a não valorização dos saberes práticos e dos diplomas. “A precariedade do trabalho surge sustentada numa elevada inevitabilidade de liberalização estrutural e organizacional da economia e do trabalho, a que é associada uma espécie de “novo paradigma que vem substituir a regulamentação e o direito do trabalho”, afirma Silva (2007, p. 59).

Dentro das consequências das desestruturações e das desregulações laborais, é necessário referir também o aumento do desemprego, a flexibilidade no trabalho (contratos instáveis), menos proteção institucional e estatal e menos direitos sociais (Martins, 1999; Gelpi, 2003).

37 Castells (2002), ao abordar as transformações relacionadas com o trabalho, partilha inquietações relativamente ao futuro do emprego e das relações capital-trabalho. Colocando o processo de trabalho no centro da estrutura social, Castells formula a hipótese de se estar perante “uma força de trabalho global”, marcada pela inevitabilidade do “trabalhador flexível” (p. 264), no contexto de sociedades com emprego e estruturas sociais crescentemente dualistas (capital e trabalho).

As funções e as tarefas parecem cada vez mais abrangentes e complexas, alteradas cons- tantemente, exigindo uma renovação de saberes e comportamentos relativamente ao trabalho (Martins, 1999). Este novo modelo parece individualizar o processo de trabalho (Beck, 1992), conduz à diversificação das relações laborais e beneficia a criatividade dos mais fortes.

Os programas de estágios para melhorar a formação e a empregabilidade confrontam- se constantemente com a “escassez” dos postos de trabalho e não garantem a continuidade profissional. Apesar dos dilemas inerentes a este modelo de trabalho, Stefani (2003) fala da importância de um modelo de trabalho “aberto” que conduza a uma organização participante, unida, pacífica e reflexiva.

As organizações do trabalho social encontram-se cada vez mais vulneráveis, atingidas pelo enfraquecimento e pela diminuição das políticas de intervenção do Estado social (Andrade & Franco, 2007) e pelos mecanismos de individualização próprios das organizações do trabalho (Autès, 2003).

Os profissionais da área social como os educadores sociais deparam-se com uma tarefa cada vez mais complicada na procura e na obtenção de trabalho. A diminuição dos projetos, em consequência dos cortes que têm sido feitos pelo Estado, é um dos fatores que condiciona a sua colocação profissional. Por outro lado, os educadores que se encontram a trabalhar deparam- se com algumas fragilidades nos seus contextos, os recursos materiais e humanos cada vez mais limitados levam a um aumento substancial de tarefas e trabalho, que se vêm sobrepor ao “verdadeiro” trabalho do educador social.

Em Portugal, os trabalhadores sociais possuem um salário relativamente baixo, comparando com outras profissões técnicas ou ligadas ao turismo e à restauração. Se se tiver em conta o terceiro sector, o principal setor da área social, pode concluir-se que os salários são inferiores relativamente aos dos indivíduos que trabalham nos outros dois setores. Muitos trabalhadores só se mantêm neste setor por falta de alternativas de emprego, ou porque existem outras mo- tivações, que não as económicas, para que permaneçam (Andrade & Franco, 2007). Estas moti- vações podem estar relacionadas com as causas e as missões dos contextos em que trabalham. Estes profissionais enfrentam dificuldades e para desenvolver o seu trabalho necessitam de: i) tentar ir além das soluções assistencialistas, de curto prazo; ii) promover ações interventivas específicas para o problema base; iii) promover nas comunidades a participação, a autonomia e a responsabilidade. O educador social deve acompanhar as pessoas ou os grupos no seu processo de inserção e de participação nas redes de sociabilidade, adotando como estratégia privilegiada a dinamização de projetos educativos comunitários (Sáez & Molina, 2006).

Investigação em Educação Social – prática e reflexão

NOVOS PERFIS PROFISSIONAIS

As alterações ao nível da organização do trabalho exigem novos perfis profissionais no sentido da polivalência e da multivalência (Martins, 1999, p. 71) e de novos saberes, mais amplos, que não se limitem ao desempenho de uma tarefa ou de uma função específica, mas que se constituam como fundamentos práticos e científicos de uma área profissional. A formação inicial tem um papel preponderante na transmissão de competências que ajudem o profissional a lidar com as variáveis políticas, sociais, ideológicas e económicas da sua profissão e dos seus contextos de trabalho.

Para responder aos desafios colocados (Martins, 1999), os trabalhadores necessitam de ser flexíveis, versáteis, responsáveis, autossuficientes, “aprendizes” e disponíveis para a mudança (Sifre, 2003). Com estas competências, o profissional poderá otimizar a sua prática e contribuir para a reestruturação dos mercados de trabalho segmentados, direcionar a sua prática para problemáticas específicas e contornar os constrangimentos que possam ocorrer (Sifre, 2003). Ou seja, os contextos profissionais procuram pessoas altamente qualificadas que possuam ferramentas para o desenvolvimento do trabalho proposto, profissionais capazes de manusear e aplicar o seu saber para a resolução de problemas.

Os novos perfis, contrariamente aos perfis tradicionais, implicam coordenação de respon- sabilidades, delegação de decisões, conhecimentos técnicos amplos, conhecimento e aptidão para relações humanas, capacidade de gestão e capacidade de articular o serviço (Martins, 1999). Estes novos perfis, segundo o Projeto Tuning Educational Strutures in Europe (Gozález & Wagennar, 2003), devem apoiar-se em competências instrumentais, sistémicas e interpessoais1.

A par da exigência de novas competências, Foster (2003), reforça ainda que um trabalhador capaz e competente para os dias de hoje se define pela sua educação apropriada e contínua, pela sua capacidade de coordenar e inter-relacionar a educação com outras ferramentas da sociedade e do mundo, como a internet, e por competências específicas, para ser competitivo no mercado de trabalho.

Hoje em dia, as pessoas necessitam de delinear objetivos específicos para a sua vida e de ir fazendo opções de acordo com esses objetivos. Isto pode implicar vários empregos num curto espaço de tempo, uma reciclagem e uma manutenção dos conhecimentos e das aptidões, na sua área ou noutras semelhantes, alargando a sua ação a vários contextos profissionais.