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Conheci João em 2018 quando entramos juntos para o mestrado em Educação na UFF. Todos muitos nervosos naquela sala no 5º andar da Faculdade de Educação. Era uma aula de Temas de Pesquisa, aula essa onde apresentamos aquilo que queríamos estudar. Além dessa disciplina, também cursamos juntos: “Epistemologia e Educação”, “Mulheres, Gêneros e Sexualidades” e foi durante esse percurso que percebi o quanto o João tinha para colaborar a partir de suas experiências.

Decidi que João seria um dos estudantes que eu gostaria de conversar, mas ainda faltava apresentar a pesquisa e perguntar se ele toparia fazer parte. Levou algum tempo até que tomasse coragem para apresentar a pesquisa ao João. Apresentei e ele topou. Foi demasiado difícil no começo - não que agora esteja sendo fácil - conversar e transformar as conversas em “pesquisa”. Não tem sido uma tarefa fácil. Vendo os grandes nomes que utilizam as conversas, sobretudo no campo do cotidiano, até parece um movimento “fácil”. Ledo engano. Assistindo Eduardo Coutinho em seus filmes quase pensei ser fácil. Quanta pretensão. Pensava em fazer um documentário junto à dissertação. Coisa que hoje é impensável devido à dinâmica veloz do mestrado. Mas vou voltar ao João.

Depois de algumas conversas, comecei, com ajuda de Nivea Andrade sempre, professora doutora da Faculdade de Educação da UFF e minha paciente (des)orientadora, a perceber que João me deslocava, sobretudo naquilo que eu já havia cristalizado sobre a pesquisa. João, numa de nossas primeiras conversas fez algo comigo que me deslocou - óbvio que não falarei o que foi. Carece atravessar o texto. O desvio começou a se manifestar nas nossas conversas. Em suas narrativas, comecei a perceber que o desvio era um elemento muito presente.

Aceitei os desvios e segui por eles. Abandonei a linha - reta - que havia tomado. Comecei a buscar aporte teórico para dialogar com as experiências que João ia me narrando. Encontrei em Gilles Deleuze o referencial teórico para pensar sua cartografia, identificar suas linhas de fuga e movimentos rizomáticos - elementos que me sustentaram e ajudaram (e continuam ajudando) a seguir. Lembrando que meu interesse era/é perceber nas narrativas desses estudantes como eles sobrevivem à/na universidade. O que fazem para isso?! Em João, comecei a ver que o desvio era antes um movimento de sobrevivência, um jeito de permanecer na universidade. Numa linha reta, única e rígida, não há desvio. Mas numa rede, onde milhares e

milhares de linhas se cruzam, onde cruzam-se nós, a possibilidade de desvio é real, promissora e libertadora. Em João poderemos ver isso.

Neste platô, pretendo apresentar o que foi sendo tecido nas conversas com um estudante do curso de pedagogia da UFF a partir de uma perspectiva que em Deleuze&Guattari (1995) chamarei de rizomática. Junto com as conversas vou apontar alguns caminhos, “métodos”, que trilharei aqui. Assim pretendo encaminhar esse platô o platô apontando como a universidade foi um espaço potencializador para esse vaga-lume chamado João.

Era uma quinta-feira, saímos da aula de “mulheres, gêneros e sexualidades” quando, como de costume, convidei João para minha casa. O Bandejão - Restaurante Universitário - estava paralisado por uma greve dos funcionários da UFF e nesse tempo, oportuno, após o almoço, sentamos e conversamos com o gravador ligado.

Nesse dia, em minha casa no bairro de São Domingos - Niterói, próximo à UFF - Campus Gragoatá, depois de um almoço simples como nós estudantes podemos preparar, sobretudo num dia em que o restaurante universitário - O restaurante universitário, chamado de ”bandejão” é de suma importância para permanência de estudantes das classe trabalhadora uma vez que muitos precisam passar horas na universidade, as refeições servidas - por 0,70 centavos - são de extrema importância. Quando por algum motivo o restaurante universitário não funciona, como ficam esses estudantes? Discutir permanência universitária é também garantir que os estudantes se alimentem com dignidade nas jornadas diárias na universidade - não estava funcionando, João me contara algumas coisas de sua vida.

Morou no município de São Gonçalo, no bairro de Bandeirantes, perto de Santa Izabel. Se quisesse comprar algo ou ir ao shopping, precisava pegar um transporte e viajar mais de 1 hora até o município de Niterói. Se precisasse ir ao centro de São Gonçalo, gastaria pelo menos 40 minutos. O bairro de Santa Izabel é um bairro considerado “afastado”. Hoje, mora no bairro do Arsenal, outra região de SG.

Diz que veio de uma família simples e conservadora e que isso foi sempre uma questão complicada para ele. Por que esse conservadorismo sempre foi uma questão? Vou lhes contar, mas não agora. Peço um pouco de paciência. É que carece dizer outras coisas antes. Diz ele vir de uma família humilde. Não duvido. Mas há uma espécie de associação feita entre humildade e pobreza como se fossem sinônimos e não são. Acredito que ele usa aqui humilde como sinônimo de poucos recursos econômicos.

João estudara num convento nos primeiros anos de sua formação. Ali teve o primeiro contato com escolarização. Conta que era uma escola muito conservadora e que apesar disso lembra com bastante carinho. Logo se dá um desvio. Apesar da escola ser conservadora, há nessa rememoração um bom afeto, me parece. Diz que lembra que sempre teve gosto pela leitura e que gostava de ouvir as histórias que a professora lia. Diz também que era aluno dedicado e que a professora “tomava” leitura na carteira de cada aluno.

O termo “tomar” leitura quer dizer que a professora “avaliava” a capacidade de decodificação desses alunos. Por outro lado, penso que “tomar” a leitura nessa lógica conservadora muitas vezes retira da criança a vontade de ler. Então, de fato, retira dela a o prazer da leitura. De fato, toma a leitura.

Com uma régua, e nada mais simbólico do que uma régua - instrumento que mede, afere - a professora chamava atenção dos alunos com batidas nas mesas. Como se fosse possível medir a leitura, como se houvesse uma hierarquia capaz de medir quem lê mais ou menos, a professora tomava a leitura e com a régua ameaçava os alunos. A régua era tanto um instrumento simbólico quanto material na tomada da leitura. Primeiro porque aqueles que liam mal, eram punidos com a régua, segundo porque a régua serve para medir. E qual era o parâmetro da medição? A régua sempre mede a partir de um parâmetro. Será que todos os alunos se enquadravam nesse parâmetro linear da régua? Quantos centímetros cada um alcançava ao

lerescrever?

Assim, muitas vezes também atua a universidade nos processos de

ensinoaprendizagem.11 Na universidade, encontramos disciplinas, provas, que

medem quanto os estudantes aprendem ou deixam de aprender. Que desconsideram o erro como caminho para o acerto. "O que sabe quem erra"? (ESTEBAN, 2002). O que sabe quem fracassa? Quase sempre numa lógica positivista-quantitativa, essas formas de avaliar desconsideram as trajetórias de vida dos estudantes da classe trabalhadora. Estudantes que percorrem alguns municípios até o trabalho antes do dia aparecer, que enfrentam uma jornada árdua de trabalho até a noite irem para universidade e num esforço cognitivo muito grande precisam cumprir as demandas cobradas pelos professores. Como será ler Deleuze num ônibus, num

11 Usarei algumas palavras aglutinadas, pois assim como é tradição nos estudos com os cotidianos,

engarrafamento a caminho do trabalho, e depois de um dia inteiro, ainda ter capacidade de discutir? Como são entendidos e será que são percebidos esses esforços? Estou a falar de como esses estudantes produzem táticas para permanecerem-sobreviverem na/à universidade.

Depois do “convento” João foi para a escola pública no município de São Gonçalo. No sexto ano do ensino fundamental, ele encontrou o teatro. Hoje conhecendo um pouco de sua trajetória é quase impossível pensar a arte fora de sua vida. Escreve letras de música e poemas. Expõe que por vir de família tradicional foi preciso desconstruir algumas “ideias” que construíra sobre o mundo. A alma exige esses movimentos. É preciso dar vazão, senão a gente sufoca. A arte muitas vezes nos dá fôlego.

Diz que o teatro foi importante para sua formação. Eu desconfio que o teatro tenha sido para ele uma forma de inventar um roteiro para sua própria vida. Tenha sido uma maneira de fazer. Enquanto na escola os desvios eram punidos com régua, no teatro não havia régua para medir a capacidade de ser/estar no mundo. Era como se pudesse ser ator protagonista do seu próprio destino. Era de alguma forma no teatro que ele conseguia dirigir o espetáculo de viver. A fantasia que ele vivia no teatro, que também é política, era uma forma de sobreviver à/na dureza da vida muitas vezes interditada. Talvez no teatro ele quebrasse a quarta parede - A expressão vem do teatro quando os atores interagem com o público, com o espectador quebrando assim uma parede imaginária que separa plateia e palco - que o aprisionava. Produzia no teatro suas táticas, suas práticas desviantes. Assim como atuava no teatro, atuava também na vida, por meio de desvios.

O teatro para ele foi o que teceu a leitura crítica do mundo. As muitas leituras dos textos do teatro deram instrumentos para produzir uma maneira desviante de fazer. Assim como no teatro, na prática teatral, na atuação, quando estava na prática docente fez também. Diz que o teatro é um elemento presente em sala de aula nas suas práticas cotidianas. Quando ainda estava estagiando, já trabalhava teatro com as crianças.

Nas conversas, João se desculpa, dizendo que não fala muito bem. De fato, João possui uma dinâmica própria ao se expressar, mas não acho que ele fale mal. Aliás, o que seria de fato falar mal ou bem, senão seguir um modelo hegemônico de domínio de códigos da leitura e da escrita?! Mesmo assim ele solta: “eu sou todo não

linear! Estou dando voltas e voltas. Eu não estou sendo, não estou tendo um pensamento linear.”

É curioso. Ao contarmos nossas histórias de vida aos outros, quase sempre adotamos uma linearidade temporal como se nossa vida fosse um filme com começo, meio e fim como os filmes hollywoodianos e suas narrativas clássicas. Essa prisão do tempo que a moderno-colonialidade inventou, a da linearidade temporal, ou como Boaventura de Sousa Santos (2004) propõe, essa “monocultura do tempo linear” reduz e aprisiona nossa percepção, nossa experiência com o tempo. Quando falamos em monocultura, pensamos em cultivos de apenas um gênero. Mas nenhuma população, nenhum povo, vive apenas de um cultivo. É preciso sempre mais que um único item na alimentação. Do mesmo modo, funciona a ciência, a cultura, a arte. Nenhum povo vive só de pão, nem só da própria cultura. É preciso inundar-se de outras formas de conhecer, de experienciar o mundo. Em vez de uma monocultura, precisamos sempre de uma cultura plural.

João possui um tempo de fala particular. Lembra muito uma personagem do Edifício Master (2002) - filme de Eduardo Coutinho, sobre os moradores de um edifício da zona sul do Rio de Janeiro - que diz que não olha nos olhos das pessoas e as pessoas pensam que ela faz isso porque não diz a verdade. Cada sujeito possui uma dinâmica própria na interação com o outro. Nesta dinâmica da conversa, vamos aprendendo com o outro.

Comecei a nossa conversa querendo mostrar o quanto a universidade é opressora com os seus estudantes e que não poderia ser um espaço para potencialização desses estudantes. Que triste a minha hipótese felizmente já desmontada por João. Se a universidade é o lugar privilegiado da opressão, e sendo assim não houver brecha, como poderiam esses alunos, como João, sobreviverem?

Queria falar das dificuldades, das limitações, dos discursos vazios de prática na Universidade. Quando sentei para conversar com João, ele disse uma frase simples, mas que marcou toda a minha pesquisa, me desviando, confrontando as minhas ideias, mostrando o valor da conversa nas pesquisas com os cotidianos. João simplesmente me disse:

- “A universidade me colocou num lugar!”

Mas como, se eu pensava que a universidade só produzia opressão? Que lugar foi esse? E o que é lugar, se os estudos com os cotidianos trabalham com a noção

de espaçotempo? E o que é espaçotempo se minha formação passa pela geografia? Uma única frase me deslocou a tal ponto que precisei me debruçar sobre a contribuição de alguns autores com pressupostos diferentes para, com perdão do trocadilho, encontrar o meu lugar. João me deslocou e me mostrou que a universidade o potencializou. João me desviou!

Neste momento, farei um rápido debate sobre o conceito de lugar e espaço em Michel de Certeau. Não busco fazer um longo debate conceitual sobre a questão do “lugar e do espaço”, isso daria uma vida de pesquisa e estudo. A minha intenção é, expor um quadro conceitual para que o leitor possa identificar como o autor trabalha os conceitos e como eu vou me apropriar deles neste trabalho.

Para CERTEAU (2011) lugar é ordem. Uma contiguidade de posições que possui um próprio. Em A invenção do cotidiano (2011) Michel de Certeau coloca uma distinção entre espaço e lugar.

Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. Aí se acha, portanto, excluída a possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar. (CERTEAU, 2011, p.184)

Assim, diferente do lugar, o espaço para CERTEAU existe:

[...] sempre que se tomam em conta vetores direção, quantidade de velocidade e a variável tempo. O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. (CERTEAU, 2011, p.184)

Logo, para Michel de Certeau, o espaço pressupõe fluxo, uso. Sem praticantes o lugar é um fixo, estável, mas as práticas dão vida ao lugar.“O espaço é um lugar praticado” (CERTEAU, 2011, p.184). Ou seja, uma rua só é espaço se for apropriada e praticada pelos pedestres, pelos passantes. Ou a universidade, só é espaço se apropriada pelos praticantes, do contrário é um lugar, um fixo.

A entrada de João na universidade foi um evento. Ao atravessar aquele portão da entrada do campus em que a Faculdade de Educação está, o horizonte de possibilidade existencial dele foi ampliado. Foi um fator de potência das experiências. João diz que na universidade pôde ter experiências que lhe eram negadas. Naquele espaço, encontrou pessoas que lutavam por causas sociais, militavam em partidos

políticos, buscavam uma sociedade menos desigual. Se instrumentalizou com teorias e mergulhou numa prática contra opressões. No movimento estudantil, participou de eleições do departamento acadêmico dos estudantes do curso de pedagogia. Numa dessas eleições sofreu golpes dos quais não conseguiu desviar.

Ao entrar na universidade, conheceu pessoas que lhe inspiraram e, nesse espaço, se sentiu potente para afirmar sua homossexualidade. Ele poderia nas conversas, colocar essa questão como algo que se deu em disputa, e provavelmente conflitos se deram para que ele se afirmasse - ou não se afirmasse gay - num ambiente machista como a academia. Mas por que ele coloca essa questão como algo que o fez ser mais (FREIRE, 1983) sendo o grupo de pesquisa que fazia parte um elemento potencializador?

A minha hipótese era que na universidade não haveria espaço para esse tipo de estudante, que a opressão era constante e uma via de mão única. No entanto, como ainda continuar pensando que a opressão na universidade é constante se o grupo foi um espaço potente para João? Se a tática espera o momento oportuno para burlar e golpear, como pode a universidade atuar todo tempo oprimindo? Não teria um momento de distração dessa opressão? Um momento em que a luz intermitente do vaga-lume brilha? Essas são questões que me desviaram.

Anteriormente eu disse que as conversas são importantes pois elas possibilitam que venha à tona coisas que não esperamos encontrar. Aqui está uma marca desse movimento. Talvez, sem as conversas, a fala de João fosse apropriada por mim para provar aquilo que eu queria provar.

Assim o desvio se deu. Ele me deslocou quando disse que a universidade o colocou num lugar e que foi nela que ele se sentiu mais, se sentiu potente para afirmar-se. Desse modo:

Esses personagens conceituais “operam os movimentos que descrevem o plano de imanência do autor, e intervêm na própria criação de seus conceitos”.[28] É o personagem conceitual, o heterônimo, portanto, que acaba sendo o sujeito da filosofia, é ele quem manifesta “os territórios, desterritorializaçães e reterritorializaçães absolutas do pensamento”. (DELEUZE&GUATTARI, 1993, p. 29)

Como um personagem que dribla e desvia, assim me provocou também esse desvio. A palavra desvio foi uma marca na minha narrativa dos encontros com João

porque o desvio é um movimento comum em sua trajetória, tanto espacial quanto trajetória de vida. O pensar dele atua numa lógica do desvio, em linhas de fuga (DELEUZE & GAUTTARI, 1995) e sua fala também. Muitas vezes se desculpa por achar que não se expressa bem. Na verdade, se desculpa por não seguir uma lógica linear no raciocínio, em suas narrativas. Os desvios corpóreos que a sociedade exigiu que aprendesse como tática, se manifestam também na forma de pensar.

Certa vez, precisou correr e desviar de pedradas homofóbicas que desferiram contra ele no bairro de Bandeirantes, que era, segundo ele um lugar muito conservador. O desvio, das pedras, dos golpes, aparece como uma maneira de fazer marcante na trajetória tecida por João. Além das pedras e golpes, houve um dia que precisou desviar ao sair da aula, à noite, como sempre fazia. Foi andando da Faculdade de Educação onde estudava para o terminal de ônibus de Niterói como muitos alunos fazem. O caminho, entre a UFF e o terminal, pode ser desafiador. Há dias que pode ser tranquilo, outros uma desventura em série.

Há primeiro a praça Leoni Ramos, mais conhecida como praça da Cantareira, onde muitos alunos se reúnem para beber e aliviar as tensões do dia. A praça é também um espaço de formação muito importante, pois congrega pessoas de todos os tipos. Pessoas da classe trabalhadora e pessoas da classe média e elite. Ali há intervenções culturais e conversas entre pessoas que vivem trajetórias de vida extremamente distintas. A praça da Cantareira é um espaço urbano onde se estabelecem muitas tensões e afetos. Ao passar pela praça, vencendo todos os convites para uma saideira, nome dado ao ato de tomar a última cerveja - que a propósito nunca é a última, mas isso é outra questão - os estudantes passam pela praça e seguem. Há duas possibilidades. Ir pelo caminho Niemeyer ou pela rua de dentro. Muitos estudantes, temem o caminho Niemeyer por causa do ambiente escuro e deserto. A outra possibilidade é a rua de dentro onde há mais iluminação e maior movimentação de pessoas. Mas esse caminho parece mais longo.

Certo dia, alguns estudantes disseram, como sempre fazem, que havia tido assaltos numa das ruas. Há uma espécie de cooperação entre os estudantes. Desconfio que há uma espécie de rede de cooperação em que uns ensinam aos outros algumas táticas para sobreviverem na universidade. Seria uma pedagogia da sobrevivência? Mas voltemos ao dia que estava a lhes contar. Nesse dia, saiu João e com o aviso do assalto, tomou uma outra rua, desviou. Não foi suficiente. Apesar do desvio, da tática, ele sofreu uma tentativa de assalto. Houve truculência,

xingamentos. João correu e novamente driblou aquele acontecimento como aprendera a fazer desde pequeno. Isso me faz lembrar como o drible surgiu no futebol como nos conta o professor Renato Nogueira.

João, assim como os grandes craques do futebol, usou o drible como uma forma de desviar dos golpes que recebia. Para NOGUEIRA (2013), o drible surge no futebol - para mim como uma espécie de tática de sobrevivência - como um movimento para desviar dos golpes que os atletas brancos desferiam contra dos atletas negros. Esses atletas negros sofriam com o racismo que (re)cortava seus corpos. Os jogadores negros precisavam ser mais ágeis e mais habilidosos pois, não podiam contar com o cumprimento das regras do jogo. Eram prejudicados em favor dos jogadores brancos. Desse modo, o drible surge como tática, como desvio no sentido físico mesmo, dos ataques impetrados pelos atletas brancos. Assim João

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