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Conheci Rita após ter acesso à uma listagem com estudantes que estavam lutando para concluírem o curso de graduação em pedagogia na FEUFF. Entrei em contato com todas as estudantes da listagem, porém apenas Rita me procurou de volta e aceitou ajudar, narrando sua experiência. Marcamos e nos encontramos no prédio da FEUFF num dia muito frio de agosto. Cheguei, e ela já estava lá com uma blusa do Flamengo, time arquirrival do meu. Com vergonha, tive receio em abordá-la e esperei que ela me percebesse e acenasse, mas nada aconteceu até que resolvi chamá-la: Rita! Ela olhou como quem olha com os ouvidos e mira de onde vem o som. Sentamos e começamos a conversar sobre aleatoriedades. Até que expliquei o trabalho e como era importante a colaboração dela. E como sempre, fiz apenas duas perguntas: O que te trouxe aqui e como chegaste até aqui? As conversas abrem muitos caminhos na pesquisa, e tenho percebido como são potentes. Por outro lado, essa pluralidade de sentidos não implica que a conversa não tenha uma sistematização como já disse.

Rita veio do curso normal do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho – IEPIC, Instituto de educação muito importante na formação de professoras e professores dos anos iniciais, localizado próximo à UFF. Diz que a princípio não queria fazer pedagogia. Queria ser professora de história. Conta que foi fazer um pré- vestibular - curso preparatório para o vestibular - de elite, que foi custeado por um tio que conhecia o dono. Sozinha, ela não tinha condições de pagar. Na época, seus pais estavam desempregados. Ajudada também pelo avô, foi seguindo no curso pré- vestibular com o que ele lhe dava para pagar a passagem e alimentação, despesas básicas do dia a dia.

Prestou vestibular para a Universidade Federal Fluminense e para Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mas não passou em nenhum dos dois vestibulares. Achou que não conseguiria e que não queria mais cursar história. Desistiu. O fracasso nas avaliações quase sempre é incorporado pelo estudante quando na verdade o fracasso faz parte de um sistema opressor e desigual que o ato avaliar as vezes mascara como propõe a professora Teresa Esteban (2002).

Desistindo da universidade pública, Rita foi estudar numa universidade de ensino privado, decidindo fazer pedagogia para dar aula para crianças. Com a bolsa de 50% de desconto na mensalidade que ganhara para custear seus estudos na

universidade, começou a fazer pedagogia. Antes de ingressar no curso de pedagogia, conseguiu um estágio numa escola de ensino básico privada que garantia que ela pagasse o restante da mensalidade da universidade. Ao me contar, Rita parecia não ver os obstáculos que lhe esperava ao ingressar na universidade. Após um ano de curso na universidade privada, tentou vestibular para a UFF de novo até que passou para o curso de pedagogia.

Com o alívio de passar para uma universidade pública, vieram as dificuldades. Matérias muito teóricas, dizia. Vinda do curso normal, dizia não estar familiarizada com aquele tipo de conteúdo, com aquele tipo de disciplina, com o tipo de texto e escrita que as disciplinas acadêmicas, em sua maioria, exigem. Diz que o ensino médio era muito focado para educação infantil e para o técnico.

Logo no início da faculdade de pedagogia na UFF, uma amiga começou a incentivar a fazer o processo seletivo para professora da rede de educação municipal de Niterói. Sendo selecionada, começou a trabalhar na escola Jacinta Medela, no bairro de Vila Ipiranga. Lá como professora, começou a jornada que além de alegria e satisfação, trazia cansaço e estresse. Também diz que foi na escola que conseguiu a experiência de sala de aula. O cotidiano escolar é um elemento fundamental na formação docente.

Rita pensava ser devido as demandas que ela não conseguia acompanhar suas colegas no processo de formação. Não conseguia ler os textos, não conseguia dar conta das atividades, não conseguia ter um bom desempenho na universidade. Se sentia cansada frequentemente e com dores de cabeça. Acreditava que era por causa de todas as demandas que acumulava. O casamento e as obrigações do lar que geralmente desabam sobre as mulheres, além do fato de conciliar trabalho e estudo. Porém, com o passar do tempo de nossa conversa, Rita conta que não eram as demandas que a prejudicava no seu processo de formação. Mas o que seria então?

Quando Rita me contou, entendi. Como poderia ela sobreviver nesse curso? Enxergou um problema que estava impedindo que ela tivesse um bom desempenho na universidade. O que deve ser descobrir aos 19 anos que você possui um problema na visão? Como reagir? O que pensar? O que resta pra enxergar como futuro diante de uma notícia dessa? Rita me diz que descobriu aos dezenove anos quando estudava para prestar vestibular que tinha baixa visão, que entrou na universidade

com essa questão, mas que não se sentia segura para expor, sentia vergonha e só algum tempo depois na universidade conseguiu falar sobre.

Quanto mais texto lia, mais dor de cabeça sentia. Já não queria mais ler, não conseguia ler. Mais uma vez a leitura me invade. Como já é tão difícil ler, sobretudo os textos acadêmicos. E ainda mais com problemas na visão. Como será mal conseguir enxergar o caminho por onde andar e ainda assim, ter que ler os textos copiados na universidade? Cada vez mais, sentia dificuldade de transitar entre a sua casa e a faculdade. Os caminhos se tornavam perigosos pela baixa visão. Encontrava mais obstáculos para chegar à universidade. Como se já não bastasse os obstáculos simbólicos, agora também Rita precisava sobreviver aos obstáculos físicos que sua baixa visão fazia com que ela não visse. Como ler um texto universitário de filosofia, de prática de ensino, seja ele qual for o tema, já com a sua densidade e com sua escrita rígida com baixa a visão? Como se já não bastasse toda escrita complicada da academia, Rita precisava também fazer um esforço físico descomunal para enxergar o texto que lia. Pelo menos dois processos: um esforço para enxergar e outro para entender.

Quem é que vai querer ir sozinha para a universidade e não saber onde está andando? Andar sozinha pelo Campus do Gragoatá? Até o semestre passado, primeiro semestre de 2019, não conseguia andar pelos arredores do prédio da FEUFF sozinha. Sobretudo, devido aos cortes, chamados de contingenciamentos, provenientes do ministério da educação, coisas básicas, como a poda das árvores do campus não podia ser feita por falta de verba, além de outras coisas que fazem parte de uma mínima estrutura de funcionamento de uma universidade federal.

Precisava de alguém para acompanhá-la. Diz que esse foi o ponto chave, que fez com que ela caísse em depressão. Não enxergava bem. Conta que as luzes do campus do Gragoatá viviam apagadas. O campus é muito escuro até para quem não tem problemas pra enxergar e por isso necessita estar bem iluminado. Por conta dessas questões, em depressão, Rita acaba pegando apenas uma disciplina por semestre. Em depressão, caso ela não pegasse disciplina alguma, poderia ter sua matrícula trancada e no mínimo iria adiar muito mais sua formatura,

Esta tática, porém, mantém Rita na faculdade. Como que tateando o currículo, Rita se inscreve em uma disciplina de cada vez. Cada semestre, uma única disciplina, com seus textos, seus trabalhos e suas provas. Desta forma, não teve a sua matrícula

naquele momento foi material e simbolicamente um jeito de sobreviver à universidade. Para Rita, foi um modo de manter um vínculo que a impulsionava continuar, que a fazia não desistir e também manter um vínculo institucional para se territorializar. Dizer: Ei, eu não desisti!

Até então Rita conta que não via que seu “desempenho” sofria perda em consequência de seu problema. Achava que seu “problema de desempenho” era devido ao cansaço, ou capacidade intelectual. Mesmo já com o diagnóstico da baixa visão, mesmo sabendo que possuía uma dificuldade sensorial, ela se culpabilizava.

Conta que se viu num dilema. Trabalhar ou estudar. Dilema esse, muito comum e recorrente nos estudantes das classes trabalhadoras. O trabalho sempre é uma questão, ou melhor, a conciliação entre os estudos e trabalho, claro, como se o fato de estudar não fosse esse já um trabalho. Isso demonstra como que o estudo no Brasil ainda é um privilégio das elites econômicas.

Acabou o contrato com a Prefeitura Municipal de Niterói e Rita começou a estudar de manhã para fugir da noite, para fugir da escuridão da noite. Assim, mudar de turno, estudar de dia estabelece como mais um movimento para sobreviver na universidade. Se a noite na universidade o campus se transforma uma espécie de campo minado onde ela não consegue saber por onde caminhar, que obstáculos estão à frente, quem está ao redor, ficando exposta a qualquer tipo de perigo, de manhã ela encontra a possibilidade de continuar seu processo de formação. Estudando de manhã a vida mudou. Mas a claridade deste vaga-lume não durou muito.

Rita se viu “obrigada” a voltar para noite por conta do trabalho. Quando digo que o trabalho é um elemento que muitas vezes impede alguns estudantes de seguirem, fica explícito nesse movimento de Rita como a conciliação entre trabalha- estudo é complexa. Diz que infelizmente precisa do trabalho para sobreviver e que está em vias de ser convocada por um concurso para professora e por isso está num dilema entre se inscrever em muitas disciplinas para concluir a graduação ou prolongar mais um pouco a graduação para que, caso o concurso a convoque, possa assumir e trabalhando, ter as condições materiais para se manter na universidade.

Hoje, porém, consegue andar sozinha de noite na UFF com um pouco mais de facilidade. Diz que aprendeu a andar com o tato. Imagine: Você está em casa, cumprindo os afazeres cotidianos. É noite e repentinamente falta energia, falta luz. Seus olhos, de repente são obrigados a se adaptarem ao ambiente, mas o breu

impede que veja com clareza. Precisa acender uma luz de emergência ou uma vela. Vai andando pela casa se guiando pelas paredes, os obstáculos no caminho. Algumas topadas. Abre um armário onde fica uma lanterna. Tateia como se os olhos estivessem agora nas pontas dos dedos. Lanterna acessa. Luz. A nossa casa apesar de ser um ambiente conhecido, quando falta luz, se torna um espaço de aventura. Precisamos enxergar com os dedos, tatear. Agora, imagine se essa condição for permanente. Se não for ativada apenas por uma repentina falta de energia. Imagine: Se já temos dificuldade de nos acharmos em nossa própria casa quando falta luz e não enxergamos bem, quem dirá na rua, num lugar que não controlamos ou que não estamos habituados.

Assim, Rita faz, porém não em sua casa. Faz na praça da Cantareira quando precisa chegar até a faculdade educação. A rua que separa o campus da UFF e a praça da Cantareira é uma rua muito movimentada em que os automóveis passam em alta velocidade. Ônibus, motos, transeuntes, bicicletas, vendedores ambulantes. Ao sobreviver à travessia entre a praça e a entrada do campus, ainda há uma rua até chegar na entrada do Gragoatá, campus onde se localiza a FEUFF. Entrando no campus, há um fluxo grande de pessoas, rua de paralelepípedo, calçadas, canteiros. Sem falar que essa é apenas uma pequena parte do caminho até a universidade.

Tudo isso, Rita faz enxergando com o tato. Não que ela coloque de fato as mãos para enxergar. Mas quando ela diz que “vai tateando”, acredito que ela queira dizer que seus passos são como se ela tivesse andando com a mão na parede, como usei no exemplo acima, porém na rua. Ou seja, precisa sempre ter uma referência do espaço que o olhar já não pode sempre lhe dar. O tato, tatear, como figura muito além das mãos, é como Rita se movimenta para sobreviver na rua, na vida, na/à universidade. Um tatear que responde também a uma outra temporalidade, o tempo de quem precisa sentir com atenção por onde anda.

Isso me remete à DELEUZE&GUATTARI (1996) quando trabalham o conceito de corpo sem órgãos (CsO). O que seria isso e como Rita e sua tática-tatear me leva a esse conceito?

Em Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol. 3, os autores vão produzir uma crítica ao capitalismo e à psicanálise, mais especificamente criticam a psicanálise como “máquina de controle social”. Assim, trazem o diretor-pensador de teatro

Antonin Artaud quando propõe o CsO16. Artaud discute o CsO dentro da prática

teatral, Deleuze&Guattari levam para a filosofia. Para Deleuze&Guattari, o CsO pode ser pensado a partir de uma perspectiva ontológica e outra perspectiva ética. A perspectiva que quero trazer um pouco para dialogar com a tática-tatear que Rita produz é a perspectiva ética.

O corpo tem sido alvo, objeto, lugar, território. Pode ser político, poético. Ser olhado por meio da medicina, arte, ciência. Muito já se perguntou sobre o corpo. Michel Foucault já disse que o corpo é o lugar de onde não podemos escapar. Baruch Spinosa perguntou: O que pode o corpo. Não cessa a inquietação sobre este, sobre isto que receio nomear, adjetivar. O que é o corpo?

Dentro do conceito de CsO, encontramos ao desmembrá-lo, corpo e órgãos. Mas o que é um corpo? O que são órgãos? O que é um CsO? Se não pretendo, não por falta de vontade, mas por capacidade, definir corpo, órgãos, quero ao menos, expor um pouco do que DELEUZE&GUATTARI propõem acerca do CsO. Para isso, uma pergunta: O que é e o que pode um corpo sem órgãos? “O CsO não é uma cena,

um lugar, nem mesmo um suporte onde aconteceria algo. Nada a ver com um fantasma, nada a interpretar” (DELEUZE&GUATTARI, 1996, p.12).

A perspectiva ética traz um caráter prático pro CsO. É preciso produzir um CsO para si. O corpo foi escravizado pelo organismo. Não pelos órgãos, mas por uma hierarquização e funcionalização que atribui a cada órgão uma utilidade. O olho vê, as mãos tateam, o nariz sente cheiros, a língua paladar...todos sentidos. Claro que o que os autores estão a propor é filosofia, Aqui, os órgãos extrapolam suas funções.

Isso mostra como mais uma vez Rita utiliza táticas-tatear para sobreviver na/à universidade. Não são os olhos que enxergam, mas todo o corpo, e toda a sua relação com o espaçotempo, e com os que habitam neste. Por ser o campus do Gragoatá um campus que ela tem familiaridade, por ser um lugar que ela conhece os caminhos, ela vai tateando e aos poucos conseguindo chegar ao prédio da educação sozinha. Rita diz que apesar da tendência de chegar à cegueira, ela passou algum tempo a enxergar melhor: hoje venho no tato porque eu decorei os caminhos, mas antigamente não tinha condições”. Diz que só faz os mesmos caminhos e que não anda sozinha à noite e nem por lugares que ela não conhece. “Sempre aparece um anjo” que a guie até o ponto. Conta que sempre tem alguém que vá com ela. Uma

amiga que sai junto da aula e acompanha até o ponto, mas que se não houver alguém tem que ir sozinha. Sobre as táticas tem algo que me inquieta e essa fala de Rita me traz de volta ao lugar dessa inquietação. As táticas aqui são vistas a partir de estudantes, mas são essas táticas produções individuais? Ou há coletividades implicadas? Desconfio que haja um conjunto de práticas, implicadas num currículo oculto, que são ensinadasaprendidas entre os estudantes coletivamente. E é isso que chamo de uma pedagogia da solidariedade. Quando avisam se tem assalto no caminho, quando fazem companhia para chegar ou sair, quando usam a mesma cópia do texto para as leituras, quando auxiliam nas provas (alguns chamam de cola), quando conversam sobre suas experiências: estas e outras táticas formam esta solidariedade no aprenderensinar.

Rita sempre procura chegar mais cedo nas aulas para aproveitar a claridade e diz que várias vezes precisou abandonar disciplinas por causa desse problema. Muitas vezes precisava sair cedo pois a companhia de algum colega era importante para sua sobrevivência e quando contava para o/a professor(a), ouvia que não poderia sair. Pergunto como os professores enxergavam e enxergam essa necessidade. Aqui, novamente eu esperava a denúncia da universidade opressora. E ela diz que recebeu muito apoio da coordenação e que alguns professores colaboraram e continuam colaborando muito com ela, por exemplo com a ampliação de textos que ela não conseguiu ler, com incentivos e mudança de metodologia de aulas.

Por outro lado, o uso de data show e projeção é algo que é impossível pois, Rita conta que não enxerga nada e o uso de data show na universidade é uma prática muito recorrente entre professores que produzem suas aulas e expõe conteúdo oralmente a partir dos slides. Uma professora disse “vou usar o data show, tem problema? Rita disse: “não, só não vou enxergar! Aí fica a seu critério”. Usar ou não os projetores é um problema? Toda tecnologia em sala de aula pode ser usada para melhorar os processos de ensinoaprendizagem, mas será que a tecnologia que usamos, os aparelhos que levamos para sala de aula são unânimes? Será que todos os estudantes se adaptam da mesma forma? Quanto de nossas de nossas aulas, construímos juntos com os estudantes, metodologicamente? Quanto estamos atentos aos estudantes e suas dificuldades e limitações físicas que por sinal, todos temos? Já houve professores que mesmo usando o data show colocavam um computador só para Rita, para que ela pudesse ver. Diz que mesmo depois de falar, romper com o

anonimato e expor seu problema, muitos professores ajudaram, mas outros não criaram condições para que ela pudesse acompanhar o conteúdo. Quando isso acontece ela precisa ir buscar em outro tipo de material, outro tipo de arquivo ou meio para não ficar sem tal conteúdo.

Todos e todas estudantes carregam um peso para concluírem a graduação. Precisam sobreviver ao curso. Na conversa com Rita podemos imaginar as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta para concluir. “Carreguei quatro vezes o peso nas costas”, diz Rita. Achava que o problema era comigo e eu tinha vergonha porque tinha 19 anos e não tinha coragem de falar isso para alguém.

Diz que descobriu o problema da baixa visão na época do vestibular e recebera uma sentença da médica. A médica disse para sua mãe: “fala para ela aproveitar a vida que ela vai ficar cega. Mande-a namorar, se divertir porque depois, ela não vai mais enxergar”. Conta que isso foi muito forte. Sua mãe começou a desconfiar por volta de seus 16 anos quando em algumas tarefas de casa ela não conseguia fazer direito. A princípio sua mãe achou que fosse preguiça, mas depois desconfiou que pudesse ser algo maior. Conta que não se lamenta e que segue sua vida. As pessoas perguntam como ela vai para faculdade sozinha, que alguém deve levá-la e ela diz que se for assim alguém terá que leva-la para todo lugar. Conta que essa condição fez com que ela tivesse que se muito comunicativa, apesar de tímida.

Primazia da visão - A baixa visão de Rita me remete à uma questão já muito discutida na filosofia e que aparece no documentário Janela da Alma (2001) dirigido por João Jardim e Walter Carvalho. No documentário, os diretores convidam alguns nomes para discutir o ver e a visão. Dentre eles: José Saramago (escritor ganhador do Nobel de literatura); A cineasta Agnès Varda; O músico Sivuca e o poeta Manoel de Barros. Há um profundo debate sobre a visão, o olhar e como apreendemos o mundo por meio deles. Se somos seres de linguagem e só existimos dentro dela, por onde apreendemos o mundo e produzimos linguagem? Não me arrisco em apontamentos nessa seara pois já muitos intelectuais produziram e contribuíram para esse campo. No entanto, o que me chama a atenção é como a visão, dentre todos os outros sentidos ocupou um lugar de primazia. A primazia da visão. Talvez tenha algo com a modernidade – termo esse tão complexo também – e talvez a escrita tenha ganho importância junto à essa primazia da visão. São divagações minhas, precisaria de mais tempo e cuidado nesse tema.

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