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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.6 ENSAIOS DE SORÇÃO ESTÁTICO EM SISTEMA À SECO

Visando subtrair qualquer óleo retido nas paredes dos frascos foram realizadas provas em branco sem o material sorvente, e assim determinou-se a massa de óleo retida no frasco descontando-a da massa final da capacidade de sorção calculada em todos os ensaios. Os testes de branco foram realizados

com 60 minutos de contato, usando sete réplicas. A Tabela 17 apresenta os resultados das provas em branco

Tabela 17 – Provas em branco com óleo sem material sorvente (n=7)

Média [g] DPR [%] 0,05±0,003 6,86 Fonte: Autor, 2017

5.6.1 Ensaios de sorção para a avaliação do efeito da granulometria

Após a seleção das três granulometrias (MS35, MS100 e MS230) no ensaio granulométrico, foram realizados os ensaios de sorção com óleo diesel S-10 na ausência de água (à seco), para avaliar o comportamento da sorção com a variação granulométrica, com tempo de contato de 60 minutos. Observou-se que os valores médios de sorção do óleo diesel para as granulometrias estudadas, mostraram diferença significativa na interação do óleo versus granulometria. A Tabela 16 e a Figura 47 apresentam os resultados calculados quanto ao efeito da granulometria na sorção, onde se nota que a diminuição da granulometria do Mandacaru aumenta a capacidade de sorção de óleo, chegando a apresentar aumento de 78% de sorção.

Figura 47 – Avaliação da sorção do óleo diesel com efeito da granulometria

do Mandacaru in natura MS230 MS100 MS35 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 So rçã o mé d ia (g /g ) Mesh Fonte: Autor, 2017

Em estudos semelhantes utilizando biomassas como sorventes de óleo, verificou-se a dependência e a influência da área superficial disponível por grama de material sorvente (OLIVEIRA et al, 2016; FERLA-OLIVERA et al, 2011; KARAN, RENSAGASAMY; DAS, 2011; BEHNOOD et al, 2013; PENG et al, 2013; ANNUNCIADO et al, 2005; SAITO et al, 2003; LEE et al., 1999). Os autores Annunciado; Sydenstricker; Amico (2005) demonstraram que nas fibras naturais como: resíduos folhosos, bucha vegetal, fibra de coco, serragem e sisal, a redução na granulometria <3,35 mm para a faixa de 1,70 - 850µm, é responsável por um aumento de sorção média variando de 56-200%. Estes resultados confirmam a importância de se controlar a granulometria durante a comparação de estudos de sorção entre as diferentes fibras e que a sorção é dependente da área superficial disponível por grama de material sorvente.

Em ensaios efetuados por Lin, Huang e Shern (2008) com partícula de pó de pneu, com um tamanho de partícula de 2 mesh determinaram uma capacidade de sorção de óleo de 2,0 g/g, enquanto que para um mesh de 40, esse valor foi de 3,3 g/g. Os resultados de sorção encontrados para Mandacaru com um tamanho de partícula MS35 (≥ 500 µm) apresentou a média de sorção de 0,88±0.02 g/g, com a redução da granulometria para MS100 (na faixa de 500-150 µm), obteve-se-se um aumento na capacidade de sorção do óleo 78% (1,61±0.06 g/g). Entretanto, na faixa granulometria de MS230 (<75-63 µm) quando comparada com a de MS35, observou-se um aumento de 42% (1,25±0,02 g /g). A Tabela 18 apresenta a sorção média calculada para MS35, MS100 e MS230.

Tabela 18 - Sorção média de óleo diesel nas granulometrias MS35, MS100 e

MS230.

Granulometria S (g/g) Sorção média (g /g) DPR (%)

MS230 1,26 1,25±0,02 1,65 1,26 1,22 MS100 1,62 1,61±0,06 0,68 1,60 1,61 MS35 0,89 0,88±0,02 2,12 0,89 0,86 Fonte: Autor, 2017

A análise de variância da avaliação do efeito de granulometria mostrou diferença significativa pelo teste ANOVA (Tabela 19), confirmando a importância do controle da granulometria do Mandacaru para um bom desempenho de sorção (SHUKLA et al., 2002; ANNUNCIADO; SYDENSTRICKER; AMICO, 2005; LIN; HUANG; SHERN, 2008). É importante ressaltar que a variação dentro dos grupos calculado pelo ANOVA presentou valor muito baixo (0,001867), mostrando que é um método preciso (com baixos desvios padrão nas medidas).

Tabela 19 - Teste ANOVA para efeito da granulometria na sorção de óleo

Fonte da variação SQ gl MQ F valor-p F crítico Entre grupos 0,799356 2 0,399678 1284,679 1,26E-08 5,143253 Dentro dos grupos 0,001867 6 0,000311

Total 0,801222 8

Fonte: Autor, 2017

De maneira geral, a granulometria configurou-se como fator regulador da sorção de óleos em sistemas ausente de água. Sendo, a faixa granulométrica de MS100 a escolhida como padrão para os testes de sorção, por apresentar melhor capacidade de sorção frente ao óleo diesel S-10, com o tempo de contato de 60 min.

5.6.2 Avaliação da capacidade de sorção com variação do tempo 5.6.2.1 Estudo de sorção estática à seco – Mandacaru in natura

A Figura 48 apresenta a capacidade de sorção em diferentes tempos em sistema à seco para o Mandacaru MS100.

Figura 48 – Sorção de óleo diesel S-10 à seco pelo MS100.

0 10 20 30 40 50 60 1400 1410 1420 1430 1440 1450 0,0 0,5 1,0 1,5 MS100 So ã o m é d ia (g /g ) Tempo (min) Fonte: Autor, 2017

Analisando a Figura 48, verifica-se que a sorção do óleo teve pequenas variações ao longo do tempo, de 5 a 1440 minutos, apresentando valor médio de sorção de 1,61±0,06 g/g. Aos 5 min de teste o MS100 apresentou 97% da capacidade máxima de sorção, indicando que grande parte da sorção ocorre nos primeiros minutos. Karan, Rengasamy e Das (2011) destacam que óleos de menor viscosidade tendem a migrar rapidamente para o interior ou para a superfície das fibras, o que pode explicar o comportamento observado. A fibra de sisal estudada Annunciado et al, (2005) apresentou comportamento similar ao MS100, sorvendo 80% em 5 min, comparado com a capacidade máxima. Os demais sorventes estudados pelos autores (esponjas de Luffa cylindrica, fibras de coco, serragem e rejeitos folhosos) apresentaram capacidade de sorção crescente entre os tempos de 5 e 1440 min para gasolina, diesel metropolitano e diesel marítimo.

A serragem de madeira estudada por Paulauskienė; Jucikė, (2015) para sorção de óleo diesel combustível apresentou capacidade de sorção máxima de 1,628±0,022 g/g similar ao Mandacaru (MS100). Pesquisas desenvolvida por Oliveira et al., (2016) que estudaram a sorção no carauá e n turfa do biodiesel de 1,16 g/g e 0,85 g óleo/g, respectivamente, abaixo da capacidade do Mandacaru.

O Mandacaru in natura (MS100) apresentou valores de sorção para o óleo diesel nos ensaios de sorção em tempos curtos (5 a 60 min) e a longo

tempo (1440 min), maiores que biosorventes como a fibra de coco, a fibra de curauá, e a turfa estudados por Oliveira et al., (2016); Ferla-Oliveira et al., (2011), para o diesel e biodiesel (Tabela 20). Sendo a turfa mundialmente empregada em ações emergênciais envolvendo acidentes e derramamentos de óleos.

Tabela 20 – Sorção de óleo diesel e biodiesel por biosorventes Sorção (g/g) nos tempos (min)

Diesel Biosorvente 5 20 40 60 1440 Média Mandacaru ¹ 1,63±0,04 1,59±0,04 1,63±0,07 1,68±0,04 1,53±0,01 1,61±0,06 Turfa²;³ 1,26 1,17 1,21 1,26 1,28 1,23 Curauá² 1,10 1,18 1,27 1,32 0,74 1,12 Coco³ 0,68±0,22 0,66±0,08 0,70±0,09 0,73±0,08 0,98±0,16 0,76±0,16 Biodiesel Turfa²;³ 0,81±0,05 0,87±0,02 0,83±0,10 0,81±0,06 0,97±0,04 0,85±0,08 Curauá² 1,55 1,07 0,99 0,98 1,32 0,85 Coco³ 0,62±0,03 0,77±0,14 0,70±0,01 0,75±0,02 1,08±0,08 0,76±0,17

Fonte: ¹Autor, (2017); ²Ferla-Oliveira et al. (2016); ³Oliveira et al. (2011).

Annunciado, Sydenstricker e Amico (2005) estudaram várias biomassas para sorção de óleo cru (petróleo). Onde os resíduos das folhas apresentaram sorção de 1,40 g/g. Razavi, Mirghaffari, Rezaei (2015) estudaram a eficiência de sorção da casca de arroz para óleos de diferentes viscosidades: o óleo cru e óleo usado, apresentando sorção máxima de 1,00 g/g e 1,25 g/g, respectivamente, para o tempo variando de 1 a 60 min. E, como já discutido anteriormente a sorção do óleo no interior do sorvente é inversamente proporcional à viscosidade, pois a viscosidade aumenta a sorção uma vez que o óleo permanece por mais tempo nos poros, portanto é esperada uma menor sorção do diesel em comparação ao óleo cru, pois a sua viscosidade é mais baixa, porém o Mandacaru apresenta bons resultados frente a óleos de maior viscosidade.

5.6.2.2 Estudo de sorção estática em meio seco – Mandacaru modificado com cera de carnaúba

A Figura 49 apresenta os resultados do teste de sorção em sistema à seco para o Mandacaru MS100HFB.

Figura 49 – Sorção de óleo diesel S-10 à seco pelo MS100HFB.

0 10 20 30 40 50 60 70 1400 1410 1420 1430 1440 1450 0,0 0,5 1,0 1,5 So ã o m é d ia (g /g ) Tempo (min) MS100HFB Fonte: Autor, 2017

O processo de hidrofobização não contribuiu para um aumento da capacidade de sorção em relação à Mandacaru sem tratamento, apresentando capacidade de sorção máxima similar ao valor máximo do Mandacaru in natura (MS100). A Tabela 21 apresenta um comparativo entre os valores máximos de sorção do Mandacaru MS100 e MS100HFB.

Tabela 21 – Capacidade de sorção média do MS100 e MS100HFB (n=3).

Material Sorção máxima (g/g)

MS100 1,68 ±0,05

MS100HFB 1,62 ±0,01 Fonte: Autor, 2017

Como observado na Figura 41 do MEV do Mandacaru hidrofobizado (MS100HFB), o recobrimento do Mandacaru pela cera de carnaúba, houve diminuição da rugosidade da superfície o que pode ter diminuído a capacidade de sorção de óleo da fibra tratada. Já que o MS100HFB apresenta maior hidrofobicidade confirmada pelo teste de molhabilidade (θ=94 º), comparado ao Mandacaru in natura. Outro fator influenciador, pode ter sido a viscosidade do óleo. Segundo Ribeiro, Smith e Rubio (2000); Teas et al, (2001); Annunciado et

al, (2005) o óleo diesel usado nesse trabalho de viscosidade 1,9534 cP (a 20ºC) é dessorvido pelo sorvente com mais facilidade durante o processo de drenagem, diminuindo o desempenho de sorção do sorvente, e a diminuição da rugosidade com a hidrofobização o escoamento do fluido pode ter sido facilitado.

A análise de variância da avaliação dos tratamentos do mandacaru com cera de carnaúba comparado com a fibra in natura não mostrou diferença significativa pelo teste ANOVA (Tabela 22), (F calculado < F tabelado).

Tabela 22- Teste ANOVA comparativo do tratamento da certa de carnaúba com

mandacaru in natura

Fonte da variação SQ gl MQ F valor-p F crítico Entre grupos 0,01936 1 0,01936 3,891457 0,083995 5,317655 Dentro dos grupos 0,0398 8 0,004975

Total 0,05916 9

Fonte: Autor, 2017

5.6.2.3 Estudo de sorção em regime estático a seco – Mandacaru modificado por microemulsão

A Figura 50 apresenta os resultados do teste de sorção em regime estático a seco para o Mandacaru MS100µ1.

Figura 50 – Sorção de óleo diesel à seco pelo MS100 µ1 (10% AKT90/n-

butanol; 88% ADT; 2% hexano).

0 10 20 30 40 50 60 70 1400 1410 1420 1430 1440 1450 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 So ã o m é d ia (g /g ) Tempo (min) MS100 Fonte: Autor, 2017

O processo de modificação com a µ1 contribuiu para um aumento da capacidade máxima de sorção calculado de 111%, em relação à Mandacaru sem tratamento. A capacidade de média de sorção do Mandacaru tratado com µ1 (MS100µ1) foi de 3,33±0,04 g/g.

No estudo de sorção com o Mandacaru modificado com a microemulsão µ1, pode-se perceber um aumento significativo da eficiência na capacidade de sorção de óleo em tempos curtos (5 a 60 min) e a longo tempo (1440 min). A sorção do óleo aumenta ao longo do tempo de 5 a 1440 min, e com apenas 5 min atinge 87% da capacidade máxima de sorção de óleo. A Tabela 23 mostra os resultados encontrados quanto ao aumento da capacidade de sorção do Mandacaru MS100µ1 modificado com a microemulsão µ1.

Tabela 23 – Aumento da capacidade de sorção do MS100µ1

Tempo (min) Sorção média (g/g) DPR (%) Aumento na Sorção (%) 5 3,08±0,10 3,13 80 20 3,10±0,04 1,37 82 40 3,39±0,01 0,41 99 60 3,38±0,05 1,34 98 1440 3,54±0,08 2,21 111 Fonte: Autor, 2017

A menor percentagem de aumento na sorção foi de 80%, no tempo de 5 min de contato com óleo, comparado com 1,63±0,04 g/g do Mandacaru in

natura MS100.

A Figura 51 apresenta os resultados do teste de sorção em regime estático a seco para o Mandacaru MS100µ2.

Figura 51 – Sorção de óleo diesel à seco pelo MS100 µ2 (30%

AKT90/n-butanol; 35% ADT; 35% hexano).

0 10 20 30 40 50 60 70 1400 1410 1420 1430 1440 1450 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 So ã o m é d ia (g /g ) Tempo (min) MS1002 Fonte: Autor, 2017

O processo de modificação com a µ2 contribuiu para um aumento da capacidade máxima de sorção calculado de 54%, em relação à Mandacaru ao sem tratamento, apresentando capacidade de sorção média 2,32±0,07 g/g.

Para o estudo de sorção com o Mandacaru modificado com a microemulsão µ2, pode-se perceber um aumento da eficiência na capacidade de sorção de óleo em tempos curtos (5 a 60 min) e a longo tempo (1440 min). A sorção do óleo aumenta ao longo do tempo de 5 a 1440 min, e com apenas 5 min atinge 91% da capacidade máxima de sorção de óleo. A Tabela 24 mostra os resultados encontrados quanto ao aumento da capacidade de sorção do Mandacaru MS100µ2 modificado com a microemulsão µ2.

Tabela 24 – Aumento da capacidade de sorção do MS100µ2

Tempo (min) Sorção média (g/g) DPR (%) Aumento na Sorção (%) 5 2,31±0,03 1,38 37 20 2,32±0,06 2,39 38 40 2,36±0,08 3,19 41 60 2,30±0,11 4,48 37 1440 2,53±0,07 2,59 54 Fonte: Autor, 2017

A Figura 52 apresenta os resultados do teste de sorção em regime estático a seco para o Mandacaru MS100µ3.

Figura 52 – Sorção de óleo diesel à seco pelo MS100 µ3 (18%

AKT90/n-butanol; 2% ADT; 80% hexano).

0 10 20 30 40 50 60 70 1400 1410 1420 1430 1440 1450 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 So ã o m é d ia (g /g ) Tempo (min) MS1003 Fonte: Autor, 2017

O processo de modificação com a µ3 contribuiu para um aumento da capacidade máxima de sorção calculado de 21%, em relação à Mandacaru in

natura, apresentando capacidade de sorção média 1,98±0,05 g/g.

Para o estudo de sorção com o Mandacaru modificado com a microemulsão µ3, pode-se perceber um pequeno aumento da eficiência na capacidade de sorção de óleo. A sorção do óleo aumenta ao longo do tempo de 5 a 1440 min, e com apenas 5 min atinge 92% da capacidade máxima de sorção de óleo. A Tabela 25 mostra os resultados encontrados quanto ao aumento da capacidade de sorção do Mandacaru MS100µ3 modificado com a microemulsão µ3.

Tabela 25 – Aumento da capacidade de sorção do MS100µ3

Tempo (min) Sorção média (g/g) DPR (%) Aumento na Sorção (%)

5 1,82±0,04 2,08 9 20 1,87±0,06 3,29 11 40 1,83±0,01 0,59 9 60 1,91±0,02 0,81 14 1440 1,98±0,05 2,41 21 Fonte: Autor, 2017

Na Tabela 26 encontra-se um comparativo entre as capacidades de sorção calculados para o Mandacaru modificado pelas microemulções µ1, µ2 e µ3. Os melhores resultados de capacidade de sorção de óleo foram obtidos com o Mandacaru tratado com a microemulsão µ1. É importante ressaltar que a microemulsão µ1 utiliza pequena quantidade de matéria ativa (C/T) e fase orgânica, o que torna a modificação do Mandacaru com essa microemulsão mais viável economicamente, comparada com as demais.

Tabela 26 – Comparação entre as microemulsões µ1, µ2, µ3 na capacidade de

sorção de óleo diesel.

Micro Tipo de Microemulsão Sorção máxima (g/g)

µ1 O/A 3,49±0,05

µ2 Bicontínua 2,53±0,07

µ3 A/O 1,98±0,04

Fonte: Autor, 2017

Conforme observado na Tabela 26 as microemulsões que apresentaram maior capacidade de sorção µ1 e µ2 no Mandacaru. Os dois sistemas apresentam maior percentagem de fase aquosa (88% e 35%, respectivamente), o que facilita a interação das micelas no interior do Mandacaru, já que o mesmo é fortemente hidrofílico, com ângulo de contato para água (θ) igual zero. Enquanto a µ3 apresenta apenas 2% de fase aquosa. A interação das micelas no interior Mandacaru, modificaram a morfologia (Figuras 42; 43; 44) com ganho de porosidade e aumento da área superficial, segundo Rengasamy, Das e Karan, (2011) a porosidade permite a rápida difusão do óleo e grande retenção do mesmo no material sorvente. Quanto maior a porosidade, maior é a capacidade de sorção de óleo.

Na literatura não existe nenhum modelo proposto para Mandacaru modificado por microemulsão com micelas diretas, acredita-se que as micelas interagem com a lignina e hemicelulose, porém como observado nas micrografias do MEV a o aumento da área superficial, porosidade e organização da estrutura do Mandacaru, diferentemente do processo de deslignificação utilizando tensoativo não iônico (KUMAR et al, 2009). A Figura 53 apresenta o esquema da modificação do Mandacaru com a microemulção.

Figura 53 – Esquema de modificação do Mandacaru com

microemulsão (micela direta) do tensoativo não iônico ALKONAT-L90.

Fonte: Autor, 2017

A microemulsão µ3 apresentou a menor capacidade de sorção comparada com a µ1 e µ2, pois possivelmente houve o processo de deslignificação, ou seja, remoção da lignina pela microemulsão/tensoativo, o que levou a estrutura morfológica do Mandacaru ficar de uma forma desordenada e descompactada (Figura 44a), diminuindo a capacidade de sorção de óleo.

A análise de variância da avaliação dos tratamentos do Mandacaru com cera de carnaúba e microemulsão mostrou diferença significativa pelo teste ANOVA (Tabela 27).

Tabela 27 - Teste ANOVA para influência dos tratamentos do Mandacaru na

sorção de óleo

Fonte da variação SQ gl MQ F valor-p F crítico Entre grupos 8,357095 3 2,785698 184,6362 1,27E-12 3,238872 Dentro dos grupos 0,2414 16 0,015088

Total 8,598495 19

Fonte: Autor, 2017

Os resultados de sorção do Mandacaru modificado com microemulsão foram satisfatórios uma vez que apresentaram valores condizentes aos relatados pela literatura: Ribeiro, Rubio e Smith (2003) estudaram a capacidade de sorção da *Salvinia sp. em *vaselina (3,6 g/g,) esse valor é compatível com a capacidade máxima de sorção do Mandacaru

modificado MS100µ1 (3,49±0,08 g/g). Estes mesmos autores calcularam a capacidade de sorção de produto comercial canadense a PeatSorb® (turfa), comercialmente utilizado pela Petrobras para remediar derreamentos com óleo, como 2,7±0,2 g/g, para o um óleo de viscosidade 237 cP. Sendo o Mandacaru modificado MS100µ1 com capacidade de sorção 29% maior que o PeatSorb® e MS100µ2 com capacidade de sorção similar (Figura 54). Vale ressaltar que a capacidade de sorção do PeatSorb® e da Salvinia sp. foram realizadas com óleos de viscosidades maiores que o óleo usado nesse trabalho (1,9534 cP) e a sorção do óleo no interior do sorvente é inversamente proporcional à viscosidade, pois a viscosidade aumenta a sorção uma vez que o óleo permanece por mais tempo nos poros e não escoa durante a drenagem, portanto é esperada uma menor capacidade de sorção do diesel pelo do Peat Sorb® e da Salvinia sp. em comparação a veselina, lugol e óleo Marlin devido as suas viscosidade distinta.

Figura 54 – Comparação dos resultados de sorção do Mandacaru in natura,

modificado e PeatSorb®. MS100 MS100HFB MS100u1 MS100u2 MS100u3 PeatSorb® 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Sorção Máxima (g/g)

6 CONCLUSÕES

O Mandacaru (Cereus jamacaru DC.) in natura apresentou propriedades físico-químicas que permitem prever seu potencial uso como sorvente para óleo diesel.

Os testes de sorção para avaliar o efeito da granulometria (≥500 µm, <500-150 µm e <75-63 µm), apresentaram diferenças significativas de sorção. A diminuição da granulometria aumentou a capacidade de sorção entre 42 a 78%, fazendo-se necessário o controle rigoroso da granulometria para um bom desempenho de sorção do biosorvente.

A granulometria do Mandacaru MS100 (500-150 µm) apresentou a melhor capacidade de sorção. E com apenas 5 minutos sorveu 97% de óleo diesel. Esse resultado mostra que o material tem potencial para uso como sorvente de óleo em ações emergências.

Os resultados das análises de Molhabilidade e Ângulo de contato permitiram concluir que o Mandacaru in natura tem baixo valor de ângulo θ =0 para água e óleo, se classificando como molhável a água (hidrofílica) e molhável ao óleo diesel.

O Mandacaru modificado com as microemulsões MS100µ1, MS100µ2 e MS100µ3 foram classificados como molhável a água, e quando comparando com o Mandacaru in natura MS100 apresentaram maior ângulo de contato, ou seja, maior hidrofobicidade, enquanto o MS100HFB é hidrofóbico com θ =94,0.

O Mandacaru modificado com cera de carnaúba (MS100HFB), não apresentou aumento da capacidade máxima de sorção, não demonstrando eficiência na modificação, quando comparado ao Mandacaru in natura.

As microemulsões estudadas mostraram eficácia no processo de modificação do Mandacaru, aumentando de forma notável a porosidade e a área superfícial; através das análises de FTIR foi possível qualitativamente confimar a incorporação dos tensoativos não iônicos com um aumento do grau de ligações do tipo C-H e C-O.

Os resultados da MEV evidenciaram que o tratamento com microemulsão promove alteração na superfície do Mandacaru, melhorando a interação óleo/biosorvente.

As curvas TG/ DTG e DSC obtidas permitiram obter informações sobre a decomposição térmica da Mandacaru in natura, como também da Mandacaru modificado com cera de carnaúba e microemulsão.

Os valores de sorção encontrados indicam que o Mandacaru modificado MS100 µ1, MS100 µ2 e MS100 µ3 apresentam características potenciais como sorventes devido às altas taxas de sorção, com um perfil cinético rápido (> 85% de sorção em 5 min).

O mandacaru modificado com microemulsão MS100 µ1 pode ser aplicado em derrames ou vazamento de óleos na ausência de água, em filmes espalhados em superfícies planas, na forma de filtros ou em colunas de sorção. O Mandacaru (Cereus jamacaru DC.) modificado com microemulsão MS100 µ1 apresentou bons resultados para ser utilizado como material sorvente em derramamento de diesel e derivados de petróleo. Nas condições experimentais avaliadas, uma grama de MS100µ1 pode sorver cerca de 3,49 g de óleo diesel S-10.

A capacidade de sorção apresentada pelo Mandacaru modificado MS100µ1 foi superior à um sorvente comercial à base de Turfa (PeatSorb®) utilizado atualmente por empresas de petróleo, demonstrando capacidade de sorção de óleo diesel 29% superior, em aplicação em sistemas ausente de água.

REFERÊNCIAS

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