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2.1 A Função do Ensino

A biologia lida com a vida e com os fenômenos biológicos e naturais, que precisam ser compreendidos, compartilhados e vivenciados. Portanto, cabe a nós professores procurarmos alternativas para concretizarmos, interpretarmos e contextualizarmos esse conhecimento.

O ensino da biologia, como o das demais áreas do conhecimento, possibilita a contraposição entre o místico e o científico nas explicações dos fenômenos naturais. Não se trata, aqui, de anular ou desrespeitar o universo cultural do aluno, e sim trazer a ele explicações que a ciência tem para tais fenômenos. Parece-nos fundamental que o aluno se aproprie desse conhecimento; é função da escola socializar esse conhecimento. Parece-nos, também, que a contraposição entre o místico e científico traz à tona o fato de que a ciência não tem resposta para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar

(SONCINI, 1995, p. 21).

É nessa linha de transformação e mudanças, que nós professores podemos atuar, exercendo uma prática educativa interativa e condizente com as necessidades dos nossos alunos, provocando uma busca constante de intercâmbio e construção do conhecimento. De fato, nesse sentido, muito se avançou. A tendência atual é mudar nossa maneira de pensar e agir,

procurando alternativas para tornar a nossa prática em sala de aula mais significativa para o aluno.

Segundo Tardif (2002), para ensinar, o professor deve ser capaz de absorver uma tradição pedagógica que se manifesta através de rotinas e hábitos; é necessário que possua uma competência cultural, oriunda de uma cultura comum e dos saberes cotidianos que partilha com seus alunos; ter capacidade de defender um ponto de vista e de se expressar com autenticidade, diante de seus alunos, bem como de gerir uma sala de aula de maneira estratégica a fim de atingir a aprendizagem. Para tanto, é necessário que o professor faça uso da reflexão em sala de aula, na busca de um diálogo, uma vez que não podemos apenas trazer as informações para os alunos, sem que possamos avaliar as suas compreensões, os seus interesses e suas participações.

2.2 – Perfil do Professor de Biologia

Conforme dados do Provão (2002), os professores de Biologia deveriam se enquadrar no seguinte perfil:

a) Ter conhecimento que permita interpretar e observar, com uma visão crítica e integradora, os fenômenos da natureza e os processos tecnológicos e biológicos correlatos;

b) Dominar os conceitos que caracterizam o conhecimento biológico; c) Ter capacitação para o ensino e/ou a pesquisa em Ciências

Biológicas;

d) Ter uma visão crítica da natureza, limitações da ciência e potencialidades;

e) Ter compromisso com a preservação da biodiversidade.

Esse perfil acima aponta algumas das competências a serem desenvolvidas por um professor de Biologia, no exercício da função, bem como mostra a grande responsabilidade desse docente, na formação do ser humano, na preservação do meio ambiente e na sua atuação. Deve atuar com compromisso e domínio de conteúdos, que funcionam como fatores relevantes ao desempenho de suas funções.

Espera-se que a sua formação inicial, realizada nos Cursos de Licenciatura, lhe proporcione esse perfil, que certamente refletirá na sua prática pedagógica.

Com relação ao papel dos Cursos de Licenciatura, Pimenta (2002, p.18) diz o seguinte:

Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano.

Por outro lado, sabemos que não existe aquele perfil ideal que possa funcionar como padrão, mas a atividade docente exige determinadas competências do professor, entre elas: o domínio do conteúdo, a capacidade

de investigar e uma boa bagagem sócio-cultural, que poderão ser frutos de sua formação e até adquiridos ou aprimorados no seu exercício profissional.

2.3 – A Reflexão na Ação

Esse processo de reflexão na ação é fundamental para a contextualização. Cabe ao professor fazer essa reflexão a cada momento em que estiver trabalhando o conteúdo, pois, precisa fazer uma busca constante, para perceber se o que está ensinando é claro para o aluno, ou seja, tem sentido, podendo ser compreendido e questionado.

Essa reflexão-na-ação tem uma íntima relação com o diálogo, ou seja, um depende do outro.

Esse argumento é defendido por Schön (2000, p. 128 ):

Quando o diálogo funciona bem, ele toma a forma de reflexão- na-ação recíproca. A estudante reflete sobre o que escuta o instrutor dizer ou vê fazer e também reflete sobre o ato de conhecer-na-ação envolvido em sua performance. E o instrutor, por sua vez, pergunta-se o que essa estudante revela em termos de conhecimento, ignorância ou dificuldade e que tipos de respostas poderiam ajudá-la.

Para que essa reflexão aconteça, é necessário que os conteúdos de Biologia sejam contextualizados, de maneira tal, que levem os alunos à compreensão de que o fenômeno vida é marcado por uma associação de processos organizados e integrados, tanto no nível do indivíduo, como no nível dos organismos no ambiente.

cada sistema ou aparelho, levemos em consideração as suas interações, uma vez que os alunos devem tomar conhecimento dos fatos como eles se processam (SONCINI, 1995).

Os conteúdos de Biologia devem ser trabalhados de forma articulada, uma vez que existe integração entre as diversas partes do corpo de cada organismo vivo, que interagem entre si e não funcionam separadamente.

É interessante salientar a relação que existe entre aparelhos e sistemas em nosso organismo e, o que nos chama atenção nessa integração é que não podemos tratar o assunto de forma isolada, pois, tão valioso quanto conhecer o processo de digestão é compreender a relação do aparelho digestivo com os demais sistemas e aparelhos do organismo.

Além disso, é fundamental, por exemplo, a compreensão de que o conhecimento sobre fisiologia humana não está acabado, mas, vem sendo construído através de diversos modelos teóricos. (SONCINI, 1995).

Logo, o ensino de biologia deverá possibilitar condições aos alunos de compreender o funcionamento do corpo em diversas dimensões, bem como proporcionará um entendimento de que esse conhecimento não está pronto nem acabado, mas, que pode vir a ser transformado.

2.4 – O Conhecimento Contextualizado

avanço para outras dimensões e facilitar a sua interpretação, evitando a sua transmissão como um produto pronto e acabado. Segundo Morin (2001), o conhecimento progride pela capacidade de englobar e contextualizar.

O conhecimento de biologia precisa ser contextualizado, criando situações semelhantes às vivenciadas pelos alunos, nas quais os conteúdos são explorados, partindo do conhecimento prévio dos alunos, investigando assim, como eles pensam sobre o meio em que vivem, de modo que possam transformá-lo, aplicando os conhecimentos científicos que vierem aprender na escola.

Nesse contexto de interação e participação dos alunos na atividade docente, recorremos a Tardif (2002, p. 49) que diz o seguinte:

O docente raramente atua sozinho. Ele se encontra em interação com outras pessoas, a começar pelos alunos.A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser conhecido ou uma obra a ser produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de interações com outras pessoas, num contexto onde o elemento humano é determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos, atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão que possuem, geralmente um caráter de urgência.”

Portanto, a interação deverá se processar através de uma atuação conjunta entre alunos e professores, de forma a construírem e reconstruírem o conhecimento, mediante o processo de contextualização.

A importância dessa contextualização reside no fato de que, para conhecermos o nosso corpo, além de termos de compreender o seu

funcionamento, precisamos também ter condições de tomarmos certas decisões, relativas à manutenção de nossa saúde e de utilizarmos determinados recursos para a preservação da vida e do meio ambiente.

A competência que precisa ser desenvolvida pelos professores de Biologia, para contextualizar os conteúdos, é aquela em que eles consideram os diferentes alunos, com os quais interagem e para os quais estão fazendo essa contextualização.

Essa heterogeneidade de ações desempenhadas pelos professores é referendada por Abramowicz (2000, p.143):

Sendo atividades interativas, nem sempre as aulas saem de acordo com o planejado. Professores lidam diariamente com situações complexas e considerando o ritmo acelerado das atividades e as múltiplas variáveis em interações, há pouca oportunidade para que possam refletir sobre os problemas e para que possam trazer seus conhecimentos à tona para analisá-los e interpretá-los.

A interação em sala de aula leva alunos e professores à troca de experiências, mediados pela contextualização dos conteúdos, proporcionando um intercâmbio de informações, ligadas ao conhecimento científico pelo lado do professor e, pelo lado do aluno, com o seu conhecimento prévio.

Dessa forma, professores e alunos serão sujeitos conhecedores, que participam da tarefa de compreender o real, através do conhecimento científico, além do conhecimento do senso comum.

é por meio da relação professor-aluno que o objeto que é o mundo é aprendido, compreendido e alterado, numa relação que é fundamental – a relação aluno-mundo -, propiciada pela relação professor-mundo. O professor é mesmo mediador – é específico de seu papel a mediação entre aluno e saber sistematizado, cultura e realidade. Para essa mediação exige- se um saber fazer bem, precisa-se de uma permanente visão crítica sobre ela.

Considerando que essa relação professor-aluno, funciona como ferramenta para uma boa compreensão dos conhecimentos, propomos a contextualização dos conteúdos como um processo de ensino-aprendizagem, que depende desse relacionamento, a qual resultará na união entre teoria e a prática, mediante uma aula ativa, produtiva e participativa, que conduzirá a uma aprendizagem significativa.

Conforme afirma Bastien (1992, apud MORIN, 2002 ), a evolução cognitiva não procura estabelecer conhecimentos abstratos, pelo contrário, procura a sua contextualização.

Acrescenta ainda que a contextualização é condição essencial para a eficácia do funcionamento cognitivo. Portanto, para contextualizarmos, temos que tornar o conhecimento mais concreto, ou seja, que se aproxime mais da realidade dos alunos e que possa ser partilhado e questionado em busca de sentido para a vida. Assim, poderemos explicar a importância desses conhecimentos e suas utilidades.

Enfim, o conhecimento contextualizado é caracterizado por um nível de compreensão e interpretação que permite ao aluno dar significado, envolver-se em um determinado contexto, investigar, comparar, relacionar e

associar esse conhecimento ao seu cotidiano, de forma que esse conhecimento científico seja concretizado e transformado.

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