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2.4.1 – Ensino desde a Revolução de 1974 até

Após o 25 de Abril, as duas principais alterações operadas na estrutura do ensino secundário verificaram-se na unificação do curso geral e na implementação de cursos complementares de via única para os dois ramos de ensino.

A unificação do ensino geral do ensino secundário inicia-se no ano letivo de 1975-76. É criado o 1º ano do curso geral unificado, constituído pelos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade obrigatória, que iguala os ensinos liceal e técnico, apresentando um tronco comum nos dois primeiros anos. O 9º ano, para além desse tronco comum, inclui uma área vocacional constituída por um grupo de disciplinas de opção de carácter pré-vocacional.

Em 1975, alegando-se a necessidade de reconstrução do país e, com o intuito de angariar mão de obra gratuita, é instituído o Serviço Cívico Estudantil (Decreto-Lei nº 270/75, do Diário do Governo, I Série, nº 124 de 30 de Maio de 1975). Num total de 17 artigos o Artigo 1.º do decreto, tem a seguinte composição:

«É instituído pelo presente diploma um serviço de âmbito nacional, a ser prestado por estudantes de ambos os sexos em regime de inscrição voluntária, denominado “Serviço Cívico Estudantil”.»

Os objectivos definidos pelo artigo 2.º regem-se pela contribuição que os estudantes podem dar ao país participando “nas tarefas da construção da democracia e do progresso do País”, tarefas estas consideradas urgentes e que não podem ser garantidas recorrendo ao mercado de trabalho.

75 O artigo 12.º refere que:

«No ano escolar em curso, a faculdade de inscrição no Serviço Cívico Estudantil será limitada aos candidatos à frequência do 1º ano das escolas oficiais do ensino superior, …».

Esta limitação deve-se ao fato da frequência do Serviço Cívico Estudantil ser um pré requisito instituído como acesso ao ensino superior.

Entre 1976 e 1986, no ensino privilegiam-se os aspectos curriculares, técnicos e profissionais, em detrimento das ideologias; e toma-se consciência de que a expansão do sistema educativo pode criar efeitos perversos, nomeadamente em relação à qualidade desse ensino.

Em 1977, o Ministério da Educação e Investigação Científica, em substituição do «Serviço Cívico Estudantil» criado em 1975, institui, a nível nacional, a iniciar no ano letivo de 1977-78, o Ano Propedêutico (Decreto-Lei nº 491/77, do Diário da República, I Série, nº 271 de 23 de Novembro de1977)140. O acréscimo deste ano é justificado no preâmbulo deste decreto pela discrepância verificada relativamente aos outros países da Europa, que, maioritariamente, tinham doze anos de ensino como escolaridade pré-universitária, e pela necessidade de alargar a formação em matérias que serviam de suporte a novos conhecimentos, cada vez mais complexos. O Ano Propedêutico, sob a supervisão da Direção Geral do Ensino Superior, também poderia ser ministrado através da Radiotelevisão Portuguesa e tem como objetivo preparar o ingresso no ensino superior. Este ano preparatório integra cinco disciplinas, de acordo com o curso que o aluno deseje frequentar, sendo que a língua portuguesa e uma língua estrangeira eram obrigatórias.

Em 1978, o ministro Sottomayor Cardia assina um decreto que determina que todos os estabelecimentos do ensino secundário passem a ter a designação genérica de escolas secundárias (Decreto-Lei nº 80/78, do Diário da República, I Série, nº 97 de 27 de Abril de 1978).

Decorridos dois meses foi emitido um documento, pelo Ministério da Educação e Cultura, que estrutura os cursos complementares do ensino secundário para o ano de 1978-79 e fixa os planos de estudos (Despacho Normativo nº 140-A/78, do Diário da República, I Série, nº 141 de 22 de junho de 1978).

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A partir de 10 de Abril de 1976, o diário oficial do governo até este momento designado de Diário do Governo passa a designar-se por Diário da República (Decreto nº 263-A/76, do Diário do Governo, I Série, nº 85 de 9 de

76 O ponto três do presente despacho refere que os cursos complementares integram um tronco comum constituído por quatro disciplinas da formação geral: Português e Filosofia com 3h semanais, Língua estrangeira (iniciada no curso unificado do ensino secundário) e Educação física com 2h semanais.

O curso complementar do ensino unificado (10º e 11º anos de escolaridade), criado em 1978 na continuidade do curso geral, fica organizado em cinco áreas de estudos141, que integram um tronco comum de disciplinas142, uma componente de formação específica e outra de formação vocacional. O despacho ainda prevê a criação do 12º ano de escolaridade para substituir o ano propedêutico.

Em 1980, o 12º ano de escolaridade é institucionalizado (Decreto nº 240/80, do Diário da República, I Série, nº 165 de 19 de julho de 1980), com o objectivo de constituir o ciclo terminal do ensino secundário e a função de ano preparatório para o ingresso ao ensino superior e preparação para o mercado de trabalho. Esse ano é estruturado em duas vias: a “via de ensino”, mais vocacionada para o ingresso ao ensino superior, e a “via profissionalizante”, com 31 cursos de "formação pré-profissional" orientados para actividades específicas143. Tal como é dito no ponto 2 e 3 do artigo 3º do decreto que cria o 12º ano:

«2 - A via ensino prepara especialmente para o prosseguimento de estudos e terá como objetivo reforçar a informação e a preparação nas disciplinas básicas adequadas ao ingresso nos diversos cursos do ensino superior.»

«3 – A via profissionalizante prepara especificamente para um primeiro nível de qualificação profissional, mediante uma informação e prática em áreas tecnológicas diversificadas.»

Nos cursos Via Ensino eram ministradas no mínimo três disciplinas tendo em vista a frequência de um dado curso superior: uma disciplina base (inscrição obrigatória), uma de escolha individual (frequência garantida) e outra de opção (3 opções possíveis de frequência em que uma é garantida), sendo a carga letiva em todas as disciplinas dos diversos cursos de 5 h semanais, segundo o artigo 9º da «Portaria nº 420/80 de 19 de Julho»

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O ponto número dois do despacho organiza os cursos complementares do ensino secundário em cinco áreas de estudo: A -Área de estudos científico-naturais; B - Área de estudos científico-tecnológicos; C - Área de estudos económico-sociais; D - Área de estudos humanísticos; e E - Área de estudos das artes visuais.

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Português e Filosofia com 3h semanais, Língua estrangeira (iniciada no curso unificado do ensino secundário) e Educação física com 2h semanais.

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Estes cursos estavam articulados com a formação vocacional que era oferecida no 11º ano e davam acesso ao ensino superior politécnico.

77 Existiam cinco cursos da via ensino, sendo que a disciplina de química só podia ser escolhida no 1º curso (Cursos de Ciências e Arquitetura) ou no 5ºcurso (Pintura e Escultura).Nos cursos via profissionalizante a disciplina era apenas ministrada no curso de Técnico Químico.

Nos planos de estudos de todos os cursos das vias de ensino e profissionalizante do 12º ano de escolaridade, para além das disciplinas ou atividades referidas, constam ainda a Religião e Moral e a Educação Física, cuja frequência é facultativa e a carga horária é respetivamente de uma e duas horas.

Em 1983, devido à necessidade de mão-de-obra qualificada, é relançado o Ensino Técnico- Profissional144, assim como diversos cursos experimentais, a ministrar após o 9º ano de escolaridade, que estabelece as normas de estruturação e funcionamento dos respetivos cursos. Estes cursos são criados ao abrigo do Decreto-Lei nº 47 587 de 10 de Março de 1967, conhecido como o decreto das “experiências pedagógicas”.

No ensino secundário, passam então a existir 4 tipos de cursos: Cursos Gerais (via de Ensino), Cursos Técnico Profissionais (10º, 11º e 12ª ano), Cursos Profissionais (10º. ano, seguido de um estágio) e Cursos Complementares Liceais e Técnicos, em regime nocturno (10º. e 11º. ano). Tais cursos, com a duração de 3 anos, correspondem aos 10º, 11º e 12º anos de escolaridade e conferem diplomas de fim de estudos secundários, que permitem o acesso ao ensino superior, e diplomas de formação técnico-profissional, para ingresso no mundo do trabalho.

Com a finalidade de promover o sucesso escolar, foi criado um serviço de apoio psicopedagógico às atividades educativas e ao sistema de relações da comunidade escolar designado por «Apoio psicológico e orientação escolar e profissional» em 1984, (Despacho nº 118/ME/84, do Diário da República, 2ª Série, nº 160 de 12 de julho de 1984).