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2.3.2.4 – Reforma de Galvão Teles

Em 1967 é instituído o Ciclo Preparatório do Ensino Secundário 137, (Decreto-Lei nº 47:480, do Diário do Governo, I Série, nº 1 de 2 de Janeiro de 1967), que substitui tanto o 1º ciclo do ensino liceal como o ciclo preparatório do ensino técnico profissional. Assinado por Galvão Teles, este decreto também cria no Ministério a “Direcção de Serviços do Ciclo Preparatório”. Este novo ciclo de ensino é constituído por dois anos (5ª. e 6ª. Classe) comuns aos liceus e às escolas técnicas. A justificação para esta reforma é explicada no ponto 2 deste decreto. Segundo o sistema em vigor, a instrução primária abrangia apenas quatro classes e findo este ciclo os alunos que desejassem seguir estudos eram obrigados a optar entre o ensino liceal e o ensino técnico, forçando-os a uma escolha demasiado precoce. Assim, aumentando a escolaridade obrigatória e criando este ciclo preparatório, esta escolha seria realizada mais tarde. Terminado o 2º ano deste ciclo, os alunos eram submetidos a um exame de aptidão dependente do ramo de ensino secundário por que tivessem optado. Quanto aos alunos que não desejassem prosseguir estudos, a habilitação seria obtida mediante um exame de fim de ciclo. O artigo 10.º do presente decreto refere que o ensino deste ciclo “será ministrado em regime de separação de sexos.”

No mês de Março seguinte, é emitido um decreto que permite determinar ou autorizar a realização de experiências pedagógicas em estabelecimentos de ensino público (Decreto-Lei nº

137

O Estatuto do Ciclo Preparatório e respectivos programas foram publicados em 9-IX-1968. As escolas preparatórias do ensino secundário são criadas em 1968 (Portaria nº 23 600, do Diário do Governo, I Série, nº 213

70 47:587, do Diário do Governo, I Série, nº 59 de 10 de Março de 1967), pelo que surgiram turmas-piloto em várias escolas espalhadas pelo país, em que eram experimentados diferentes programas e novas abordagens curriculares de temas lecionados anteriormente.

Os planos de estudo em vigor estavam de acordo com o decreto emitido em 1947 (Decreto-Lei nº 36 507, do Diário do Governo, I Série, de 17 de setembro de 1947), e passados vinte anos apenas muda a carga horária da disciplina de matemática no 3º ciclo, que é reforçada em uma hora (passa de 4 para 5 h), em detrimento do desenho (passa de 4 para 3 h), alterações estas introduzidas pelo (Decreto-Lei nº 48 038, do Diário do Governo, I Série, nº 267 de 16 de Novembro de1967).

Como consequência das remodelações instituídas, são extintos os exames de admissão (aos liceus e escolas técnicas), permitindo-se deste modo a expansão de todo o ensino secundário. As duas modalidades de ensino passaram a ter uma estrutura idêntica, mantendo-se todavia como duas vias diferenciadas. Nos Liceus, poucas alterações ocorreram. Mas nas escolas técnicas, houve uma verdadeira revolução: os cursos gerais são reduzidos para 3 anos, e são criados cursos complementares técnicos de 2 anos, à semelhança dos cursos complementares dos liceus.

Em Agosto de 1968, o presidente do Conselho, Oliveira de Salazar, foi vítima de um grave acidente, sendo exonerado das suas funções em 27 de Setembro, e substituído por Marcelo Caetano, professor catedrático da Faculdade de Direito. No decorrer desta problemática Galvão Teles é exonerado e José Hermano Saraiva ocupa a pasta da Educação, que manteve durante ano e meio, período durante o qual se viu envolvido no célebre conflito com a academia de Coimbra de 1969.

Numa tentativa simultânea de pacificar e inovar o sistema de ensino, Marcelo Caetano, convida, a 15 de Janeiro de 1970, o professor da Universidade de Coimbra, José Veiga Simão, doutorado em Física, para ocupar a pasta da educação.

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2.3.2.5 – Reforma de Veiga Simão

Para Veiga Simão, o grau de ensino mais carenciado de reforma era o universitário, consequentemente inicia o mandato com a anulação das penas impostas aos estudantes de Coimbra em consequência dos incidentes ocorridos em Maio de 1969. Durante o seu mandato, este ministro tentou sempre resolver os conflitos e problemas, promovendo conversas diretas com os interessados, e não hesitou em solicitar ajuda a individualidades que não seguiam a doutrina oficial do estado. A «democratização do Ensino»138 era uma expressão frequentemente utilizada nos seus discursos.

Em 16 de Janeiro de 1971, o ministro apresentou, ao país, dois projetos de reforma, designados: Projecto do Sistema Escolar e Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior. Ainda nesse mesmo ano, a 27 de Setembro é promulgada a Lei Orgânica do Ministério da Educação (Decreto nº 408/71, do Diário do Governo, I Série, nº 228 de 27 de setembro de 1971) através da qual são criadas várias direções gerais, entre as quais a Direção Geral do Ensino Secundário, que só veio a ser organizada dois anos mais tarde (Decreto-Lei nº 44/73, do Diário do Governo I Série, nº 36 de 12 de fevereiro de 1973).

Como resultado das transformações operadas no ciclo preparatório, o ministro Veiga Simão inicia a reconversão do ensino técnico, reduzindo a nove cursos gerais os sessenta e quatro existentes, como consta na Tabela 1 (Silva, et al., 1981 p. 196).

«A estrutura dos cursos gerais assentava na existência de disciplinas afins das dos cursos gerais do ensino liceal complementadas por outras de iniciação técnica, numa tentativa de cobrir simultaneamente dois objetivos: obtenção de um nível suficiente de cultura geral e de iniciação profissional.» (Silva, et al., 1981 p. 195)

No entanto, esta estrutura apresentava algumas deficiências, entre as quais um currículo com excessivo número de horas e de disciplinas, e um elevado número de disciplinas com duas horas semanais. Os cursos complementares sequenciais entraram em funcionamento, em Outubro de 1973, com a seguinte estrutura:

138

Rómulo (Carvalho, 1986) p.808, nota 78, refere que Rui Grácio, em Sistema de Ensino em Portugal, informa que esta expressão não foi utilizada pela 1ª vez por Veiga Simão, mas sim o próprio chefe de Estado, Américo Tomás, em 1969, em mensagem aos deputados recém-eleitos para a Assembleia Nacional.

72 «Um grupo de disciplinas obrigatórias, uma disciplina optativa, normalmente no sector das línguas estrangeiras, e um conjunto de disciplinas de natureza tecnológica a escolher de acordo com o ramo do ensino superior pretendido ou área vocacional escolhida.» (Silva, et al., 1981 p. 195).

Tabela 1 - Articulações diretas de cursos gerais e complementares do Ensino Secundário Técnico (Silva, et al., 1981 p. 196)

73 No ano de 1972-73, criou-se o ensino liceal noturno para possibilitar o complemento de habilitações em escolaridade de segunda oportunidade.

Em 1973, é aprovada a lei que permite uma nova reforma do sistema educativo (Lei nº 5/73, do Diário do Governo, I Série, nº 173 de 25 de Julho de 1973) e que, pela primeira vez, introduz o conceito de democratização no âmbito de um regime político nacionalista e conservador. Segundo esta reforma, o sistema educativo passava a contemplar a educação pré-escolar, a educação escolar e a educação permanente. A educação escolar abrangia o ensino básico obrigatório139 (primário e preparatório de quatro anos cada), o ensino secundário (composto de dois ciclos, de 2 anos cada um, o primeiro de caráter geral e o segundo complementar), o ensino superior com cursos de curta duração, longa duração e pós-graduações, e os de formação profissional para os que possuíssem a habilitação do curso básico ou do curso geral ou Complementar e optassem por esta formação. Nas Faculdades de Ciências, passam a existir dois tipos de cursos, os de especialização científica e os de formação educacional.

A reforma Geral do Sistema Educativo não chega a ser implementada devido ao golpe militar em Abril de 1974.

139

Extensão da escolaridade obrigatória de seis para 8 anos (Decreto-Lei nº 524/73, do Diário do Governo, I Série, nº

74

2.4 - O Ensino Durante a III República

Com a instauração da democracia em Portugal, após Abril de 1974 e até final do século XX, só foi implementada uma verdadeira reforma do ensino, em 1986, pois todas as outras a que assistimos não passaram de reformas curriculares ou ajustamentos curriculares.