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2. Prisão: Uma Instituição de todas as Sociedades Sua Génese, características e funções.

2.3. O Ensino no Estabelecimento Prisional

O Ensino nos estabelecimentos prisionais portugueses segue, há muitos anos, as recomendações internacionais sobre esta matéria, nomeadamente no que diz respeito à colaboração dos estabelecimentos de ensino do exterior e à adopção de programas que podem ter continuidade após a libertação do individuo recluso.

Em 1979 é estabelecido um acordo entre o Ministério da Justiça e o Ministério da Educação através do qual as escolas tuteladas por este último, recrutam e afectam a cada estabelecimento prisional uma equipa de professores que assegura o funcionamento do ensino básico e secundário. Os programas, as metodologias e o sistema de avaliação são os mesmos que são adoptados no exterior (Ensino de Adultos), eventualmente são feitas adaptações adequadas ao meio prisional.

A Escola no EP elabora um projecto educativo próprio que terá que submeter à aprovação do director(a) do EP e à Direcção Regional de Educação da sua área. Esse projecto é pensado e elaborado pelos professores(as) a leccionar no EP e tem em conta as necessidades dos alunos/reclusos, a especificidade da população com que se trabalha, a realidade do espaço e as questões de segurança que devem ser sempre asseguradas. Nesse projecto são contempladas disciplinas extra curriculares (educação não formal) que pretendem criar uma dinâmica de escola e possibilitar a expansão de saberes e descoberta de potencialidades e/ou formas de evasão. São exemplo disso mesmo, as actividades de Educação Física, Português para Estrangeiros, Oficina de Teatro, Oficina de Jornalismo, Música, entre outras. As actividades extra curriculares estão abertas a toda a população reclusa e não apenas aos alunos da escola.

Cada EP tem uma escola associada e essa funciona de forma independente e tem autonomia para decidir as suas próprias regras de funcionamento e os procedimentos que entende ter para dar resposta às necessidades dos alunos, da escola e da própria instituição prisão. A escola deve atender sempre ao facto de que, faça o que fizer, a segurança nunca deve ser posta em causa. Desta forma, a promoção de actividades no exterior está condicionada aos alunos/reclusos no gozo de medidas de flexibilização passíveis de

permitirem deslocações à comunidade e, também, desta forma, trabalharem o processo de ressocialização dos alunos/reclusos.

Os reclusos que se encontrem a frequentar o ensino superior têm acesso à escola, consultam o material que entenderem consultar, são apoiados, sempre que o solicitem, pedagogicamente pelos professores da escola e podem participar em todas as actividades por ela promovidas.

As inscrições para a escola estão abertas a toda a população prisional e não é feita qualquer selecção em função de idade, raça, religião, etnia, orientação sexual ou crime cometido.

Como incentivo à frequência e ao aproveitamento escolar, é atribuído, pela Direcção Geral dos Serviços Prisionais, um prémio pecuniário, calculado em função do número de unidades de formação em que foram certificados.

O ensino em EP acontece em 47 estabelecimentos prisionais. Tal situação não se verifica no Hospital Prisional e em 2 estabelecimentos cujo tempo médio de permanência dos reclusos não justifica a organização formal destes cursos.

Actualmente, e depois de ter sido abandonado o Ensino Recorrente por Unidades Capitalizáveis, a oferta da escola no EP são os cursos EFA. Os Cursos de Educação e Formação de Adultos são uma oferta formativa, integrada na iniciativa Novas Oportunidades e têm vindo a afirmar-se como um instrumento central das politicas públicas, para a qualificação de adultos, promovendo assim, a redução dos seus défices de qualificação.

Os cursos EFA podem ter vários percursos formativos: Nível Básico (B1, B2, B1+2, B3, B2+3) e Nível Secundário (NS).

Os cursos EFA podem ter três itinerários diferentes: Dupla Certificação (quando conferem uma habilitação escolar e tecnológica/profissionalizante); Escolares (quando conferem apenas uma habilitação escolar); apenas com a componente de formação tecnologia, para formandos já detentores do EB ou do ES (ao abrigo do ponto 4, artigo 1º da Portaria nº 230).

O público-alvo destes cursos deverá ter idade igual ou superior a 18 anos à data de início da formação (a titulo excepcional, poderá ser aprovada a frequência de formandos com idade inferior, desde que estejam inseridos no mercado de trabalho); ter a pretensão de completar o 4º, 6º, 9º ou 12º ano de escolaridade; desejar obter uma qualificação profissional de nível 1, 2 ou 3; apenas os candidatos com idade igual ou superior a 23 anos

tempo integral (período equivalente à duração diária de trabalho prestado, correspondente, para este efeito, a 7 horas/dia). Neste aspecto, e embora não entre no âmbito desta investigação, perguntamo-nos da viabilidade desta condição em contexto prisional. Cada vez mais os reclusos são bastante jovens e esta imposição de idade para a frequência dos cursos EFA Secundário poderá impedi-los da frequência da escola. Também é questionável a carga lectiva, 7 horas/dia, as rotinas e horários de um EP colidem com a possibilidade de cumprimento desse horário.

No nível básico os cursos EFA compreendem uma formação de base que integra, de forma articulada, 4 áreas de Competências – Chave: Cidadania e Empregabilidade (CE), Linguagem e Comunicação (LC) / (LCE) (Língua Estrangeira), Matemática para a Vida (MV), Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o Módulo de Aprender com Autonomia (AA).

No nível Secundário, os cursos EFA compreendem uma Formação de Base que integra, de forma articulada, 3 áreas de Competência-Chave: Cidadania e Profissionalidade (CP), Sociedade, Tecnologia e Ciência (STC), Cultura, Língua e Comunicação (CLC) e a Área de Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (Área de PRA).

No nível secundário existem 3 percursos tipificados: Tipo A (para formandos com o 9º ano de escolaridade); Tipo B (para formandos com o 10º ano de escolaridade); Tipo C (para formandos com o 11º ano de escolaridade).

Os cursos EFA compreendem uma avaliação formativa (permite obter informação sobre o desenvolvimento das aprendizagens) e ainda uma avaliação sumativa (serve de base à certificação final).

Nos cursos EFA de nível secundário, a avaliação formativa ocorre, preferencialmente, no âmbito da área de PRA, a partir da qual se revela a consolidação das aprendizagens efectuadas pelo adulto ao longo do curso. Nestes cursos, a avaliação traduz- se ainda na atribuição de créditos, de acordo com o referencial de competências-chave de nível secundário, com efeitos na certificação dos formandos.

Em termos de certificação estes cursos podem conferir uma dupla certificação (escolar e profissional), uma certificação apenas escolar ou apenas profissional. Na eventualidade de conclusão, com aproveitamento, de um curso EFA, correspondente a um qualquer percurso formativo, o formando obterá um Certificado de Qualificações. Na eventualidade de não conclusão do curso EFA, o formando poderá ver registadas as unidades de competência (componente de formação de base dos cursos de ensino básico) e

as Unidades de Formação de Curta Duração numa Caderneta Individual de Competências e obterá um Certificado de Qualificação discriminando as unidades efectuadas.

Os adultos que concluam o ensino básico ou secundário através de um curso EFA e que pretendam prosseguir estudos estão sujeitos aos respectivos requisitos de acesso das diferentes modalidades de formação.

A certificação escolar resultante de um curso EFA de nível básico permite-lhe o prosseguimento de estudos através de um curso EFA de nível secundário ou o ingresso num processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) com vista à obtenção de uma qualificação de nível secundário; A certificação escolar resultante de um curso EFA de nível secundário permite o prosseguimento de estudos através de um Curso de Especialização Tecnológica ou de um curso de nível superior, mediante as condições definidas na Deliberação nº 1650/2008, de 13 de Junho, da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, ou nos termos do Decreto-Lei nº 64/2006, de 21 de Março (acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos).

CAPITULO II