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Ensino Fundamental: a História contada através do diálogo com os

CAPÍTULO I EDUCAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIA DE FRAGILIDADES E

1.1. Ensino Fundamental: a História contada através do diálogo com os

Atualmente, a lamentável situação das escolas brasileiras de Educação Básica, evidenciada pela mídia acerca dos resultados dos exames oficiais referentes à aprendizagem dos alunos, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), a Prova Brasil, deixa uma preocupação aos governos nas três esferas - federal, estadual e municipal -, assim como a toda a sociedade. Enfim, há necessidade de mobilização e planos de ação para reverter esse quadro desanimador.

Assim como é importante considerar a avaliação da aprendizagem como componente da avaliação interna da escola, acredito que a avaliação externa, realizada pelos sistemas de ensino acerca da Educação Básica é procedente,

quando os resultados são utilizados para a tomada de decisões pelos órgãos públicos, no sentido da melhoria da educação.

Os exames oficiais, sem pretender a promoção de classificação dos resultados, ganham sentido ao detectar os desafios de aprendizagem dos alunos e ao apontar as possíveis variáveis que estejam interferindo nos resultados.

Entretanto, o que ocorre comumente é que as avaliações externas são realizadas com o objetivo de divulgar os resultados, apontar os rankings das instituições escolares, comparando, premiando ou punindo as escolas e professores, de acordo com os resultados.

A afirmação procede, pois conforme resultados divulgados pela mídia acerca da Prova São Paulo (2007), a Folha de São Paulo divulgou em 14/03/2008, com o título “80% dos alunos de SP não sabem matemática”, as cinco melhores e piores escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. A representante do governo afirma em entrevista que a responsabilidade é da má formação dos professores. Como uma das medidas para solucionar a crise, o governo premiará com bônus as escolas e seus professores com melhor desempenho.

As avaliações do Saeb, realizado desde 1990, produzem dados a respeito da realidade educacional brasileira, por regiões, redes de ensino pública e privada nos estados e no Distrito Federal, por meio de proficiência de dois em dois anos, em Matemática e em Língua Portuguesa (leitura), aplicado em amostra de alunos de 4ª e 8ª do Ensino Fundamental e da 3ª série do ensino médio. A partir dessas informações, o MEC define ações voltadas para a solução dos problemas identificados, bem como aplicar recursos técnicos e financeiros às áreas prioritárias. Além da verificação da aprendizagem, os alunos respondem a um questionário de caracterização sócio-econômico e cultural, com o objetivo de detectar os possíveis fatores extra-escolares que possam interferir nas diferenças de desempenho.

A primeira Prova Brasil ocorreu em novembro de 2005 e permite a avaliação de cada escola e das escolas das diferentes redes de ensino. A Prova Brasil expõe à sociedade os resultados gerais de sua avaliação e coloca à disposição de todos os envolvidos uma série de informações que permitem um olhar mais qualitativo sobre as redes e cada instituição de ensino.

O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) foi implantado a partir de 1996 com o objetivo de obter dados a respeito da educação básica das escolas paulistas e da qualidade de ensino.

A revista Educação, em setembro de 2006, divulgou os resultados da Prova Brasil de 2005, mostrando que no âmbito da 4ª série, na avaliação de Língua Portuguesa, os melhores desempenhos foram no Distrito Federal (190,4), Minas Gerais (182,1), Paraná (180,6), Santa Catarina (178,5) e Rio de Janeiro (178,4). A média nacional foi de 172,9 pontos. Em Matemática, na mesma série, os melhores foram Distrito Federal (198,8), Paraná (191,5), Minas Gerais (190,5), Santa Catarina (187,4) e Rio Grande do Sul (185,4). A média nacional foi de 180 pontos. A região com melhor desempenho foi a Sul, com 179,2 pontos em Língua Portuguesa e 188,5 em Matemática. O último posto coube ao Nordeste, com 158,7 pontos em Língua Portuguesa e 166,4 em Matemática.

Se o desempenho médio foi ascendente nas 4ªs séries, o mesmo não ocorreu nas 8ªs. Os alunos das 8ªs séries só dominam os conteúdos previstos para os estudantes das 4ªs séries. O índice Brasil em Língua Portuguesa ficou cinco pontos abaixo do Saeb 2003 (de 225,7 para 222,6). Em Matemática, houve variação positiva de 0,5. O Mato Grosso do Sul teve o melhor desempenho em Língua Portuguesa com 233 pontos, Distrito Federal com (232,1), Rio de Janeiro (228,9), Espírito Santo (228,3) e Rio Grande do Sul (227,5). Em Matemática, Mato Grosso do Sul (248,8), Distrito Federal (248,7), Santa Catarina (247,6), Paraná (247,4) e Espírito Santo (245,5). A região com melhor desempenho médio é a Sul, tanto em Língua Portuguesa como em Matemática (227,4 e 246,2). Novamente, o Nordeste fica atrás nas duas disciplinas (211,2 e 224,8).

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação, ligado ao Ministério da Educação (INEP/MEC), afirma (2005) pela Internet que os grandes problemas da Educação são a exclusão, a evasão e a retenção. Quanto à exclusão, 97% das crianças brasileiras de 7 a 14 anos estão na escola; os 3% que estão fora correspondem a 1,5 milhão de crianças. Com relação à evasão e à retenção, de cada 100 alunos que entram na 1ª série, só 47 concluem a 8ª série na idade certa, 14 terminam o Ensino Médio sem repetir ou evadir e 11 conseguem ingressar no Ensino Superior.

O INEP/MEC apresenta dados com relação ao baixo nível de aprendizagem: Em língua portuguesa na 4ª série, 61% dos alunos não conseguem identificar as principais idéias de um texto simples; na 8ª série, 60% não sabem interpretar um texto dissertativo. Com relação à matemática, na 4ª série, 65% dos alunos não dominam as quatro operações e na 8ª série, 60% não sabem porcentagem.

Em janeiro/fevereiro de 2007, a revista Nova Escola também apresenta dados sobre a Prova Brasil de 2005, mostrando o desempenho médio das escolas por região. Em língua portuguesa na 4ª série, em ordem crescente, numa escala de 125 a 375 pontos: Nordeste (158,7), Norte (164,2), Centro-Oeste (176,3), Sudeste (179,1) e Sul (179,2). Em matemática, na mesma série: Nordeste (166,4), Norte (169,8), Centro-oeste (182,7), Sudeste (185,5) e Sul (188,5).

O jornal Folha de São Paulo em 05/12/2007 publica reportagem com o título

“Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura”, sobre os resultados do

Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. O Brasil ocupa a 53ª posição no teste de matemática, o 48º lugar em leitura e a 52ª posição em ciências.

Não tenho a intenção, com essa apresentação, de reforçar a atitude de ranking e de comparação, como comumente são explorados os resultados desses exames: o de culpar professores e escolas. Mesmo porque esses exames não consideram as diferenças de contextos políticos, econômicos, culturais e sociais de cada país, estado e município. Em outras palavras, para afirmar que o desempenho de um aluno da Finlândia é superior ao de um aluno brasileiro, acredito que não seria necessário aplicar provas e comparar resultados.

Os resultados devem ser considerados pelos interessados na geração de processos de reflexão local e melhoria da instituição, e especialmente para o governo indicar a necessidade de definição de políticas públicas voltadas à implementação de eficientes sistemas de ensino.

A respeito da divulgação dos exames, Carlini e Vieira (2005, p. 15-33) afirmam que alguns professores pesquisados confirmam a necessidade da avaliação dos sistemas de ensino, mas criticam os instrumentos utilizados e as condições de divulgação, de forma classificatória, dos resultados. Entretanto, para outros, os exames podem avaliar o desempenho com a finalidade de melhoria da educação.

Contudo, há que se considerar que os resultados dos exames tanto podem ser usados na perspectiva de uma avaliação formativa, da autonomia, do processo, da construção, do respeito à diversidade, como também pela lógica do mercado, do conformismo e da avaliação somativa.

Acredito que os órgãos oficiais devem, porque assim deva ser numa democracia e também por exigência legal da LDB 9394/96, no seu Art. 9º, inciso VI,11 avaliar a educação de suas escolas, buscando dados e divulgando-os com a finalidade de melhoria e não como manipulação com objetivos não educativos.

A minha intenção em apresentar os resultados expostos pela mídia é chamar a atenção para a situação da educação brasileira e reafirmar que os resultados divulgados devem ser utilizados de maneira diversa daquela que é usualmente usada pela mídia e pelos órgãos oficiais. Não é comparando escolas, premiando, punindo e colocando a responsabilidade unicamente nas mãos dos professores que a educação brasileira conseguirá mudar o quadro a fim de que cada aluno brasileiro, independente do nível de ensino em que esteja, possa exercer com autonomia o seu direito à cidadania.

Os resultados estatísticos só ganham sentido quando se associam a eles os aspectos qualitativos da problemática examinada. A respeito do mau uso que se faz dos resultados dos exames externos, De Sordi afirma que “uma vez taxado de bom ou mau, a velocidade de veiculação do rótulo, consagra a versão e esvazia a possibilidade de se interrogar o fato e fatores que interfiram na sua produção”. (DE SORDI, 2004, p. 113).

Para este trabalho, os resultados têm interesse, porque a maioria dos alunos adolescentes da escola pesquisada foi excluída do ensino fundamental regular, principalmente pelo fracasso e contínuas retenções nas séries. Por outro lado, muitos de seus alunos adultos possuem filhos no Ensino Fundamental regular e, ao retornar à escola, os alunos poderão acompanhar a escolaridade de seus filhos e ajudá-los no sentido de alterar para melhor.

Segundo Pinto: “A educação do adulto não pode ser conseguida separada da educação da criança, porque o adulto não desejará se alfabetizar se não

11 A LDB 9394/96 apresenta o Art. 9º, inciso VI- “assegurar processo nacional de avaliação do

rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino”.

considera necessário saber ao menos tanto quanto seus filhos”. (PINTO, 2005, p. 81).

Saber como anda o Ensino Fundamental regular interessa-me também, pois a EJA recebe dele alunos egressos ou evadidos e, na ótica da educação continuada, é imprescindível uma boa escolarização básica.

A repetência continua a consumir grande parte dos investimentos aplicados e a produzir a enorme distorção idade/série. Conforme publicado na mesma reportagem da revista Nova Escola, em 2000, de cada 100 alunos matriculados no Ensino Fundamental, 42 não tinham a idade adequada à série que cursavam, correspondendo a cerca de 8 milhões de alunos a mais que o correto. A defasagem idade/série apareceu nos resultados da Prova Brasil: alunos na idade correta tiveram média 183 na avaliação nacional, e os que têm um ano de atraso ficaram com 20 pontos a menos.

Sousa (2007, p. 76) ressalta que os altos índices de evasão e de repetência não serão resolvidos unicamente pela ação da escola, mas reconhece que os aspectos intra-escolares contribuem significativamente para o sucesso ou fracasso escolar.

Assim, diante do quadro alarmante da situação da educação fundamental no Brasil e, partindo do pressuposto de que a avaliação institucional pode ser significativa para a qualidade da educação pública, ganha relevância social a pesquisa aqui apresentada, referente à avaliação da escola em questão.

1.2. A Educação de Jovens e Adultos: Uma História específica no contexto da