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Neste início de século, aproximadamente 70% da população chinesa está concentrada na zona rural. Deste modo, a agricultura chinesa torna-se algo de fundamental importância para a sustentação do regime de estabilidade deste país. Segundo Pomar (2003):

Nos seis mil anos de história escrita da China, foi quase sempre o campo a principal fonte das instabilidades, distúrbios, insurreições, guerras civis, trocas de dinastias e mudanças de regimes políticos. Mesmo após a proclamação da República Popular, foram em geral problemas relacionados com a agricultura (e, portanto, com os camponeses) a fonte de muitas das dificuldades governamentais. Nessas condições, manter uma agricultura diversificada e pujante é uma questão estratégica para a China. (POMAR, Vladimir (2003). A Revolução Chinesa. – São Paulo: Editora UNESP, 2003.)

Em seu artigo “A Critical Appraisal of the chinese Model of Development”, Anthony M. Tang, diz algo que ilustra claramente a política agrícola chinesa:

O papel da agricultura na China é o de apoiar a industrialização prioritária (seletiva) com transferências de recursos na forma de alimentos, trabalho, matérias-primas e produtos agrícolas exportáveis. Quando a agricultura não cumprir as transferências de recursos completos exigidos pelo setor prioritário para o crescimento industrial, o setor agrícola se torna um empecilho para a industrialização. Tal foi o caso na República Popular, mesmo durante o apogeu econômico relativo de 1952-58. (TANG, Anthony M., A Critical Appraisal of the Chinese Model of Development. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 403-419.)

Devido à sua extensão territorial, a China possui problemas peculiares que denotam o aparecimento de questões diversas em diferentes regiões, simultaneamente. Desde o princípio, houve uma forte intervenção do estado, com um sistema de planejamento centralizado. O governo chinês adotou um modelo de especialização agrícola, onde as



regiões do país especializaram-se em determinados produtos agrícolas. Regiões com excedente de grãos abasteciam regiões densamente povoadas.

Em seu artigo “Prices, Markets, and the Chinese Peasant”, Nicholas R. Lardy busca explicar a disparidade existente entre as taxas de crescimento agrícola e industrial até o final dos anos 1970, e as mudanças na política econômica no período.

Lardy traça um panorama histórico, partindo do estudo de Dwight Perkins em sua obra Agricultural Development in China, que explica como a agricultura chinesa suportou o crescimento da população de 65 para 80 milhões no início da dinasta Ming em 1368 para 540 milhões em meados do século XX, mantendo uma produção per capita constante. Em seu estudo, Perkins sugere que apenas metade desse crescimento da população apoiou-se em uma expansão da área cultivada, tendo a agricultura chinesa tornado-se mais complexa e sofisticada com o passar do tempo.

Segundo Lardy, a crescente sofisticação da agricultura chinesa era evidente na evolução do cultivo ao invés de mudanças na mecânica tecnológica. Houve um estímulo a melhoras nos padrões de cultivo, com a introdução de novas variedades de arroz durante a dinastia Song (960-1126).

“A introdução de novas culturas como milho, amendoim, batata irlandesa, tabaco e algodão também contribuíram para o crescimento agrícola e as mudanças nos padrões regionais de povoamento. O cultivo de novas culturas não foi distribuído aleatoriamente em toda a China. Em vez disso, inovadores camponeses chineses tenderam a adotar o cultivo dessas culturas em regiões de vantagem comparativa”. (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)

Segundo Fairbank e Goldman (2008), após a queda dos Song do Norte para a dinastia Jin em 1126, houve um aumento da emigração do Norte da China para o Sul, acompanhada de um crescimento populacional e do cultivo de arroz do vale Yangzi.

“Por toda a costa sudeste de Zhejiang a Guangzhou novas terras foram formadas pelo represamento de campos de terra costeira baixa. Enquanto isso, pela formação de



terraços em colinas e montanhas, aumentou a área de cultivo de arroz em acres por todo o Sul da China.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)

A partir do século IX, a base de subsistência da economia rural foi alterada para um sistema de mercado cada vez mais complexo, com comercialização intra-rural com mercados inter-regionais. Segundo Lardy:

“O desenvolvimento das inter-regiões de mercados de arroz e outros produtos básicos começou logo na dinastia Tang (618-906) e se acelerou nos séculos XII e XIII, como aumento do cultivo da cana-de-açúcar e outros cultivos comerciais na costa sudeste, que foi facilitado por carregamentos de arroz e outros alimentos básicos de regiões com excedentes no Yangtse Delta, o Delta Canton, e o centro do Vale do Rio Kan.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)

Segundo Lardy, nos séculos XVII e XVIII estabeleceu-se um comércio triangular entre as regiões do Vale do Yangtse, meio Yangtse e menor Yangtse, com base no transporte aquático relativamente barato, o que contribuiu para o crescimento da produtividade. A partir de 1895, observou-se também um estímulo à produção baseada em vantagens comparativas decorrente do desenvolvimento ferroviário, principalmente no norte e noroeste da China, onde o transporte aquático era limitado.

“Assim, entre os séculos XIV e início do XX, os camponeses chineses responderam positivamente à disponibilidade de variedades de sementes melhoradas, novas culturas, melhores sistemas de transporte e aumento da demanda urbana.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)



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