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A morte de Mao Tse Tung e o início das reformas modernizantes com a agricultura

Mao Tse Tung morreu em setembro de 1976. Após a sua morte deu-se início a um processo de modernização, com o retorno de Deng Xiaoping à função de Vice-Primeiro Ministro em 1977, assim como as novas funçõe de Vice-Presidente do Partido Comunista Chinês (PCC) e Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. A união de todos esses



cargos lhe conferiu a possibilidade de manutenção desse poder adquirido, e também lhe proporcionou as condições necessárias para a implementação das reformas econômicas. No mesmo ano, iniciou-se o Programa das Quatro Modernizações (agricultura, indústria, defesa nacional e ciência técnica), parte de um plano trienal para o período de 1978 a 1980.

A implementação do programa iniciou-se pela agricultura, com a dissolução das comunas agrícolas deu-se início ao processo de liberalização da economia rural. Segundo Serra (1997):

Foi assim que foram dissolvidas as comunas agrícolas e se iniciou um amplo processo de entrega de terras aos camponeses com consequente processo de liberalização da economia rural. Reflectindo esta nova política, em Março de 1979 é decidido um aumento de 20% dos preços dos produtos agrícolas. Por outro lado, a produção em comunas foi progressivamente substituída pelo estabelecimento de contratos com os produtores rurais em que estes ficaram obrigados a vender ao Estado determinada quantidade da sua produção --- agora paga a preços mais elevados do que anteriormente embora ainda fixados administrativamente ---, ficando com liberdade de venda do excedente. (SERRA, A. M. de Almeida. China: as reformas económicas da era pós- Mao, 1997. Disponível em: < http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/chinarevmac.pdf> Acesso em: 23/09/2012)

Não se pode o desvincular o fato das reformas terem se iniciado pela agricultura, ao fato de todas as revoltas chinesas terem ocorrido pela união dos camponeses insatisfeitos. Veja no Gráfico 10 como se dava a distribuição da população chinesa:



Gráfico 10 – População rural e urbana chinesa – série histórica 1961/78

Fonte: Elaborado a partir de dados da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations)

Esse processo de liberalização da economia rural chinesa resultou em uma elevação da taxa de crescimento agrícola de cerca de 7,6% na década de 80, acima da taxa de 2,7% do período 1953-78, segundo Serra (1997).

O processo de reforma extendeu-se logo aos demais setores da economia chinesa. Serra (1997) destaca o processo de alteração das orientações em relação às relações econômicas externas como o principal ponto de mudança no sistema chinês. O processo de abertura iniciou-se pela região sul, revelando, assim, o temor das autoridades chinesas de que o processo saísse ao controle.

Outro domínio, talvez o principal, de todo o processo de reformas foi a alteração das orientações que até aí tinham comandado as relações económicas externas. Privilegiava- se agora a abertura da economia chinesa ao exterior através, nomeadamente, da liberalização do acesso de empresas estrangeiras ao mercado nacional como forma de, simultaneamente, modernizar o aparelho produtivo. É neste quadro que se liberaliza também o investimento directo estrangeiro e se reforma o regime de comércio internacional, se regulamenta a associação entre empresas chinesas e empresas estrangeiras (joint ventures), se criam as Zonas Económicas Especiais (ZEE) (Maio de

563180 566862 572491 580891 592551607545 625335 645025 665382 685398 704734723284 740562 756093 769561 780668 789462 796428 118169 123594 127795131211 134202 137026 139798142556 145279 147994150857 154045 157631 161654166165 171221 176904 183306 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 1000000 1100000 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978



1980) e se procede à abertura de determinadas cidades costeiras ao investimento directo estrangeiro (Março de 1984). Terminava assim o desenvolvimento 'para dentro' que caracterizara o período desde 1949 até 1978, substituindo-o por uma estratégia de desenvolvimento mais aberta ao mercado internacional. (SERRA, A. M. de Almeida. China: as reformas económicas da era pós-Mao, 1997. Disponível em: < http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/chinarevmac.pdf> Acesso em: 23/09/2012)

A partir de 1984, decidiu-se ampliar o processo de reformas, com a ampliação do grau de autonomia das empresas públicas, comércio externo e IDE. Segundo Serra (1997):

A partir de então, de forma mais marcada do que no passado, as regiões costeiras foram abertas ao exterior através, nomeadamente, da abertura dos deltas dos rios Yangtze (em Xangai) e das Pérolas (região de Cantão, Macau e Hong Kong) (Fevereiro de 1985). (SERRA, A. M. de Almeida. China: as reformas económicas da era pós-Mao, 1997. Disponível em: < http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/chinarevmac.pdf> Acesso em: 23/09/2012)

Esse processo de modernização acarretou um crescimento da pressão sobre a produção agrícola existente desencadeado por uma elevação do poder de compra, acompanhada de uma elevação do padrão de vida da população. Para Pomar:

“... nas periferias das cidades, as novas estradas, avenidas, fábricas e zonas habitacionais avançaram sobre as terras agrícolas suburbanas, que sempre desempenharam papel importante no abastecimento citadino, reduzindo as áreas de cultivo.” (POMAR, Vladimir (2003). A Revolução Chinesa. – São Paulo: Editora UNESP, 2003.)

É possível observar claramente essa elevação do poder de compra da população urbana chinesa, ao longo dos anos, conforme a Tabela 5 e o Gráfico 11:



Tabela 5 - Elevação do poder de compra da população urbana chinesa, em yuan – 1957/2010

Ano Renda disponível per capita Despesas com alimentos, per capita Despesas com custo de vida, per capita

1957 - 129,70 222,00 1981 - 420,40 456,80 1982 - 432,10 471,00 1983 - 464,00 505,90 1984 - 514,30 559,40 1985 739,10 351,40 673,20 1986 899,60 418,90 799,00 1987 1.002,20 472,90 884,40 1988 1.181,40 567,00 1.104,00 1989 1.375,70 660,00 1.211,00 1990 1.510,20 693,77 1.278,89 1991 1.700,60 782,50 1.453,80 1992 2.026,60 884,80 1.671,70 1993 2.577,40 1.058,20 2.110,80 1994 3.496,20 1.422,50 2.851,30 1995 4.283,00 1.766,00 3.537,57 1996 4.838,90 1.904,70 3.919,50 1997 5.160,30 1.942,60 4.185,60 1998 5.425,10 1.926,90 4.331,60 1999 5.854,00 1.932,10 4.615,91 2000 6.628,00 1.971,00 4.998,00 2001 6.859,58 2.028,00 5.309,00 2002 7.703,00 2.272,00 6.030,00 2003 8.472,20 2.417,00 6.511,00 2004 9.421,00 2.709,60 7.182,10 2005 10.493,00 2.914,40 7.942,90 2006 11.759,45 3.111,92 8.696,55 2007 13.785,81 3.628,03 9.997,47 2008 15.780,80 4.259,80 11.242,90 2009 17.174,65 4.478,54 12.264,55 2010 19.109,40 4.804,70 13.471,50



Gráfico 11 - Elevação do poder de compra da população urbana chinesa – 1957/2010

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do USDA (United States Department of Agriculture)

Segundo Pomar, esse processo de modernização resultou em um crescimento da produção de grãos, de 304 milhões de toneladas, em 1978, para aproximadamente quinhentos milhões de toneladas em 2000. No entanto, a produção agrícola chinesa não consegue mais crescer com as tecnologias tradicionais, o que torna urgente a introdução de tecnologia que possibilite o aumento da produtividade do solo e do trabalho para que possa ser dada continuidade em sua política agrícola de auto-suficiência. Por outro lado, o crescimento da produtividade agrícola está aumentando a mão-de-obra excedente. Esta tem sido utilizada na indústria ao derredor.

O Gráfico 12 ilustra essa trajetória de crescimento da produção de grãos chinesa: 0 5000 10000 15000 20000 25000 1957 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Renda disponível per capita Despesas com alimentos, per capita



Gráfico 12 – Crescimento da produção de grãos chinesa, em mil toneladas – 1949/2009 (Utilização de médias móveis)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do USDA (United States Department of Agriculture)

Pode-se destacar o aumento considerável da área irrigada um fator crucial para o aumento da produtividade agrícola chinesa. Veja o Gráfico 13:

Gráfico 13 – Evolução da área irrigada chinesa, em mil hectares – 1949/2010 (Utilização de médias móveis)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do USDA (United States Department of Agriculture)

111.211,00 462.175,00 0,00 50.000,00 100.000,00 150.000,00 200.000,00 250.000,00 300.000,00 350.000,00 400.000,00 450.000,00 500.000,00 550.000,00 600.000,00 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 16.000,00 66.667,00 60.378,00 0,00 10.000,00 20.000,00 30.000,00 40.000,00 50.000,00 60.000,00 70.000,00 80.000,00



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Segundo Jabbour (2006), o processo de acumulação individual (poupança) gerado a partir do aumento da produtividade da agricultura chinesa resultou em mais de 400 milhões de pessoas que deixaram a condição de pobreza extrema.

Em 2006, o governo chinês extinguiu todos os impostos agrícolas, caracterizando uma série de novas políticas voltadas à agricultura, que também contaram com a ampliação da assistência médica no campo, educação e previdência social.

Gráfico 14 – Volume de importações (Utilização de médias móveis)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FAOSTAT

A China destaca-se como o maior importador, na atualidade, de soja (57.005.718 de toneladas – dados da FAO para o ano de 2010), ao mesmo tempo em que o Brasil destaca-se como o maior exportador dessa commoditie (25.860.785 de toneladas – dados da FAO para o ano de 2010).

0,00 5.000.000,00 10.000.000,00 15.000.000,00 20.000.000,00 25.000.000,00 30.000.000,00 35.000.000,00

Figura 3 - Ranking da produção agrícola chinesa - década de 2000 Figura 2 - Ranking da produção agrícola chinesa - década de 60 Figura 1 - Ranking da produção agrícola brasileira - década de 2000 



3. COMPARAÇÃO ENTRE AS AGRICULTURAS BRASILEIRA E CHINESA A PARTIR DE INDICADORES SELECIONADOS

Ao analisarmos China e Brasil, nos deparamos com dois países de grandes dimensões continentais. China, com a terceira maior extensão territorial e o segundo maior PIB mundial (US$ 7,2 trilhões), e Brasil com a quinta maior extensão territorial e o sétimo maior PIB mundial (US$ 2,3 trilhões), segundo dados do FMI.

Mas, nosso principal objetivo neste trabalho é entender também os pontos que mais distanciam essas economias emergentes. Para isso trabalharemos com a utilização auxiliar de indicadores para o nosso estudo comparativo agrícola Brasil-China.

Na Tabela 6, podemos observar uma das maiores discrepâncias entre os dois países: a densidade demográfica. A população chinesa, é a maior do planeta, com mais de um bilhão e trezentos milhões de habitantes. O Brasil, por sua vez, possui uma população bem mais modesta, com os seus quase duzentos milhões de habitantes. Isso nos remete a um questionamento: como alimentar tantas pessoas e ao mesmo tempo ter uma economia competitiva, em crescimento e com equidade? Mostrarei como esses dois países estão crescendo e se adaptando aos novos paradigmas deste milênio.



Tabela 6 – Comparativo entre os Principais Indicadores

INDICADOR BRASIL CHINA ÁREA DE TERRA 8.459.420,0 km² (2010) 9.327.480,0 km² (2010)

ÁREA FLORESTAL 61,4% (2010) 22,2% (2010)

TERRA ARÁVEL 7,2% (2009) 11,8% (2009)

TERRA CULTIVADA 65 mi hectares (2010) 122 mi hectares (2008)

POPULAÇÃO 196,7 milhões (2011) 1,344 bilhões (2011)

POPULAÇÃO RURAL 26.317.773,4 18.435.075,8 (número de 737.403.030,8 (55%) pobres rurais) DENSIDADE DEMOGRÁFICA 22,4 hab./km2 (2011) 140 hab./km2 (2011)

CRESCIMENTO

DEMOGRÁFICO 1,17% ao ano (2010) 0,606% ao ano (2007)

POPULAÇÃO

ECONOMICAMENTE ATIVA 53% (2010) 57% (2010)

TAXA DE DESEMPREGO 5,5% (2012) 4,1% (2011)

MOEDA Real Yuan

PIB (US$) US$ 2,477 trilhão US$ 7,318 trilhão

RNB PER CAPITA (US$) 9.390,0 4.270,0

AGRICULTURA, VALOR

ADICIONADO (% PIB) 5,8 (2010) 10,1 (2010)

PRINCIPAIS CIDADES São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador e Brasília.

Xangai, Pequim (Beijing), Tianjin, Shenyang,

Wuhan, Guangzou (Cantão), Nanquim e Hong

Kong (Região especial administrativa). COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO brancos (47,3%), pardos (43,1%), pretos (7,6%), amarelos (2,1%) e indígenas (0,3%) – IBGE 2011.

chineses han 92%, grupos étnicos minoritários 7,5% (chuans, manchus, uigures,

huis, yis, duias, tibetanos, mongóis, miaos, puyis, dongues, iaos, coreanos, bais, hanis, cazaques, dais,

lis), outros 0,5% (dados de 1990).

IDIOMAS Português mandarim (principal), dialetos regionais (principais: min, vu, cantonês). RELIGIÕES catolicismo romano (73,8%), protestantismo (15,4%), sem religião (7,4%), espiritismo (1,3%), outros cristãos (1,2%), outras (0,9%).

sem religião (40,2%), crenças populares chinesas (28,9%), budismo (8,5%), ateísmo (8%), cristianismo (8,5%), crenças tradicionais (4,4%), islamismo (1,5%) - dados do ano de 2005. PRODUÇÃO DE

ELETRICIDADE 475 Bilhões KWH (2010) 4700 Bilhões KWH (2011) EXTENSÃO DAS ESTRADAS

DE FERRO 28 mil km (2010) 93 mil km (2011)

EXTENSÃO DAS RODOVIAS 1.736.000 km (2008) 4.080.000 km (2011) Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, FAO e IBGE



Para facilitar nossa análise, verificaremos a partir de agora, de modo escalar: • População brasileira e chinesa;

• Produção de grãos;

• Disponibilidade de grãos per capita; • Terras aráveis;

• Balança comercial (importação e exportação); • Utilização de fertilizantes;

• Irrigação;

• Índice de Tratorização.

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