• Nenhum resultado encontrado

Estudo comparativo entre as economias agrícolas chinesa e brasileira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Estudo comparativo entre as economias agrícolas chinesa e brasileira"

Copied!
78
0
0

Texto

(1)

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS ECONOMIAS AGRÍCOLAS CHINESA E BRASILEIRA

Aluna: Mariana Keiko Yabuki

Orientador: Prof. Dr. Sebastião Neto Ribeiro Guedes

(2)

2

M

ARIANA

K

EIKO

Y

ABUKI

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS ECONOMIAS AGRÍCOLAS CHINESA E BRASILEIRA

ORIENTADOR:

PROF.DR.SEBASTIÃO NETO RIBEIRO GUEDES

MONOGRAFIA APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS.

(3)

3

DEDICATÓRIA

À minha amada mãe, que sempre acreditou no meu potencial e me apoiou na conquista dos meus sonhos.

Ao meu amado marido Alan que sempre esteve comigo durante esta pequena jornada, nos momentos felizes e também naqueles em que tudo parecia perdido e distante.

Ao corpo docente do Departamento de Economia da UNESP, em especial ao professor Sebastião que me confiou e orientou neste projeto peculiar.

(4)

4

(5)

5

SUMÁRIO

RESUMO ... 7

LISTA DE FIGURAS ... 8

LISTA DE GRÁFICOS ... 9

LISTA DE TABELAS ... 10

LISTA DE ANEXOS ... 11

1 BRASIL ... 12

1.1 A agricultura brasileira ... 12

1.2 A agricultura brasileira a partir de 1930: o declínio da hegemonia cafeeira ... 13

1.3 A agricultura brasileira a partir de 1960: a constituição dos complexos agroindustriais e a modernização conservadora ... 16

1.4 O retorno do processo inflacionário e a redução do crescimento: as consequências para a agricultura ... 24

1.5 Anos 1980: as consequências da crise externa para o desenvolvimento da agricultura brasileira ... 25

1.6 Anos 1990: as consequências das políticas neoliberais para a agricultura brasileira – a década perdida para a agricultura ... 26

1.7 Anos 2000: o crescimento do agronegócio... 33

2 CHINA ... 34

2.1 Introdução ... 34

2.2 Entendendo a agricultura chinesa ... 36

2.3 Os novos rumos a partir da revolução comunista ... 39

2.4 A busca da auto-suficiência em cereais e o fracasso das políticas utilizadas ... 41

(6)

6

3 COMPARAÇÃO ENTRE AS AGRICULTURAS BRASILEIRA E CHINESA A

PARTIR DE INDICADORES SELECIONADOS ... 53

3.1 Indicadores de Produtividade ... 55

CONCLUSÃO ... 68

REFERÊNCIAS ... 70

(7)

7

RESUMO

(8)

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Brasil – Político ... 74

Figura 2 – Brasil – Agricultura ... 74

Figura 3 – China – Político ... 75

Figura 4 – China – Agricultura ... 75

Figura 5 – Brasil – concentração populacional ... 76

(9)

9

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução na quantidade de tratores ... 21

Gráfico 2 - Evolução da produção de cana-de-açúcar, em milhões de toneladas, nas safras de 1948-1949 a 2006/2007 ... 23

Gráfico 3 - Evolução da produção de cana-de-açúcar – 1970-2006 em toneladas por região ... 23

Gráfico 4 - Divisão entre álcool e açúcar - safras 1950/1951 a 2006/2007... 24

Gráfico 5 - Evolução da Produção Agrícola – Safras 1986/87 a 1992/93 ... 32

Gráfico 6 - Série Histórica de Área Plantada, em mil hectares – safras 1981/82 a 1995/96 ... ... 33

Gráfico 7 - Série Histórica de Produção, em mil toneladas – safras 1981/82 a 1995/96 .... 34

Gráfico 10 - População rural e urbana chinesa – série histórica 1961/78 ... 47

Gráfico 11 - Elevação do poder de compra da população urbana chinesa – 1957/2010 ... 50

Gráfico 12 - Crescimento da produção de grãos chinesa, em mil toneladas – 1949/2009 (Utilização de médias móveis) ... 51

Gráfico 13 - Evolução da área irrigada chinesa, em mil hectares – 1949/2010 (Utilização de médias móveis) ... 51

Gráfico 14 - Volume de importações (Utilização de médias móveis) ... 52

Gráfico 15 - Evolução na Produção de Grãos e população – Brasil... 56

Gráfico 16 - Evolução na Produção de Grãos per capita – Brasil (em kg)... 56

Gráfico 17 – Terras aráveis per capita – Brasil ... 57

Gráfico 18 – Terra arável per capita e Grãos per capita - China ... 57

Gráfico 19 – Extensão de áreas cultivadas (em milhões de hectares) ... 58

(10)

10

Gráfico 21 – Proporção de terras Irrigadas em relação às Áreas Cultivadas – Brasil ... 59

Gráfico 22 – Produção de Grãos na China e População ... 60

Gráfico 23 – Evolução na utilização de Fertilizantes Químicos (em toneladas) – China ... 61

Gráfico 24 – Consumo de Fertilizantes Químicos (kg/ha) – China ... 61

Gráfico 25 – Número de tratores (em milhões) – China ... 62

Gráfico 26 – China – Índice de Tratorização (ha/trator) – tratores grandes, médios e minis . ... 62

Gráfico 27 – Brasil – Índice de Tratorização (ha/trator) ... 63

Gráfico 28 – Consumo de Fertilizantes Químicos (kg/ha) ... 64

Gráfico 29 – Flutuação da produção de Grãos da China – Regressão ... 65

Gráfico 30 – Importações Brasil e China ... 65

Gráfico 31 – Exportações Brasil e China ... 66

(11)

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tratores e arados existentes nos estabelecimentos agropecuário recenseados —

1920-1985 ... 20

Tabela 2 - Série histórica de produtividade – Safras 1976/77 a 1989/90 ... 30

Tabela 3 - Série histórica de produção – Safras 1976/77 a 1989/90 ... 31

Tabela 4 - Evolução da produção por hectare na China pós reforma agrária ... 43

Tabela 5 - Elevação do poder de compra da população urbana chinesa, em yuan – 1957/2010 ... 49

Tabela 6 - Comparativo entre os Principais Indicadores ... 54

Tabela 7 - Relação da área destinada à agricultura e número colheitadeiras utilizadas, para países selecionados entre 1990 e 2005 ... 63

Tabela 8 – Ranking das 10 Commodities mais produzidas no Brasil ... 67

Tabela 9 – Ranking das 10 Commodities mais produzidas na China ... 67

Tabela 10 – Dinastias Chinesas ... 77

(12)

12

LISTA DE ANEXOS

(13)

13

1. BRASIL

1.1A agricultura brasileira

O Brasil despontou nos últimos anos no cenário internacional, chegando à incrível marca de sétimo PIB do planeta. Juntamente com os demais países pertencentes ao BRICS, o país tem chamado a atenção internacional com seu crescimento econômico. A agricultura brasileira pode ser considerada como um dos principais fatores que proporcionaram este crescimento. E, neste estudo abordaremos a sua evolução durante as décadas.

Graziano (1996) traça um panorama desse processo de transformação, cujo fato mais relevante é a separação cidade-campo, com a transformação do artesanato doméstico (destruição da economia natural) e conseqüente industrialização da agricultura. Para Graziano, nesse processo de industrialização da agricultura, o homem passa a fabricar as condições naturais necessárias ao processo de produção agrícola (irrigação, adubação, defensivos químicos, drenagem, etc.). Deste modo, o homem passa a controlar a produção agropecuária (domínio do capital ao invés de domínio da natureza), e a agricultura torna-se um setor subordinado ao capital. Isso, segundo Graziano, implica a passagem de um sistema de produção artesanal para um sistema em base manufatureira.

(14)

14

“... Estabeleceu-se assim, a partir do complexo cafeeiro paulista, uma mudança fundamental, com a passagem de uma economia rural fechada e assentada em bases naturais para uma economia aberta e mercado interno que começava a estruturar-se a partir das indústrias montadas nas cidades, mas ainda voltada à demanda dos segmentos da própria agricultura.” (GRAZIANO DA SILVA, José (1996). A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1996.)

A partir de 1870, o complexo rural sofreu um processo de abertura e reajustamento, acarretando uma desagregação da economia natural, em decorrência da franca expansão do comércio exterior e crescimento da capacidade de importação brasileira. Para Graziano, essa dinâmica do crescimento agrícola, que ocorreu, sobretudo, entre 1850 e a crise de 1929 é marcadamente influenciada pelos movimentos do mercado externo.

Entre 1890 e 1930, vemos o auge do complexo cafeeiro, com a consolidação da indústria têxtil como a primeira grande indústria nacional, e o início da substituição de importações de um grande leque de bens de consumo “leves”. No período de 1929/33 (período conhecido como “a Grande Depressão”) vemos uma ruptura ocasionada pela crise. Isso muda os determinantes da dinâmica da economia nacional, passando a residir na capacidade produtiva interna, e também a dinâmica da agricultura, que passa também a ser determinando pelo mercado interno criado pela urbanização.

Segundo Villela & Suzigan, até o final dos anos 20, o crescimento da economia brasileira dependia basicamente da expansão da produção agrícola. Foi apenas em fins de 1929 que ocorreram as modificações nas tendências e estrutura da produção agrícola brasileira, com o início de um processo de diversificação agrícola no período de 1939 a 1943 e criação de um mercado interno devido ao processo de urbanização.

1.2A agricultura brasileira a partir de 1930: o declínio da hegemonia cafeeira

(15)

15

Café. O DNC, como passou a ser conhecido, financiou a retirada dos grandes estoques de café do mercado: cerca de 78,2 milhões de sacas entre 1931-1944, passando a destruí-los.

Segundo Delgado (2002), no período de 1930 a 1946, houve uma diversificação da agricultura, principalmente no estado de São Paulo, onde se avançou as economias sucro-alcooleira e a cotonicultura, até então concentradas no nordeste. Neste período, houve um declínio da hegemonia cafeeira, e incentivo à produção de trigo e arroz. Deste modo, Graziano afirma que o crescimento agrícola brasileiro, até os anos 60, se deu através da expansão das fronteiras próximas aos pólos mais urbanizados do Centro-Sul.

Entre 1930 e 1960, temos a fase de integração dos mercados nacionais, com a substituição de importações, tendo o café como principal instrumento de financiamento deste processo, sob a âncora dos mecanismos de diferenciação cambial que protegiam as indústrias que estavam surgindo no país, às custas de um confisco estabelecido sobre o preço da saca exportadora, segundo Graziano. Para Delgado (2002), “a política cambial foi uma espécie de carro-chefe da transferência intersetorial de renda no sentido agricultura-indústria.”

Segundo Delgado (2002):

“... no período considerado (1930-1946), a diversificação e o crescimento físico do conjunto da produção agrícola (exceto café) ocorrem em geral a taxas superiores ao crescimento populacional. Sobressaem em especial as produções de algodão, arroz e mandioca, cujo crescimento físico entre os anos mencionados é de 212%, 203% e 134%. Em segundo plano, as da cana-de-açúcar e do cacau crescem respectivamente 59% e 90% no período, enquanto que a população apresenta incremento em torno de 60%.” (DELGADO, C. Guilherme (2002). Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: Szmrecsányi, T; Suzigan, W (ORG). História Econômica do Brasil Contemporâneo – 2. Ed. Revista. - São Paulo, Hucitec/Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002).

(16)

16

máquinas e insumos. Deste modo, no segundo período Vargas dá-se início a uma preocupação governamental com o aumento da produtividade agrícola, promovendo o auxílio de técnicas modernas de cultivo, reconhecendo-se a necessidade montagem de uma indústria doméstica de fertilizantes e de máquinas agrícolas. Segundo Delgado (2002):

“As condições técnicas e econômicas da produção rural brasileira evoluíram muito lentamente no período anterior à Segunda Guerra Mundial, só vindo a incorporar mudanças técnicas “modernas” praticamente dos anos cinqüenta e sessenta em diante.” (DELGADO, C. Guilherme (2002). Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: Szmrecsányi, T; Suzigan, W (ORG). História Econômica do Brasil Contemporâneo – 2. Ed. Revista. - São Paulo, Hucitec/Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002).

Assim, data dos anos 50 o início do processo de modernização da agricultura, que, no entanto, encontrava dificuldades em se sobressair devido aos entraves de internalização do D1 (internalização do departamento produtor de bens de capital). Apesar disso, o setor cafeeiro não perdeu sua importância econômica e política de forma imediata, segundo Verena Stolcke, pois a industrialização por substituição de importações dependia grandemente, em seus recursos, das cambiais obtidas através do café.

Segundo Delgado (2002):

(17)

17

1.3A agricultura brasileira a partir de 1960: a constituição dos complexos agroindustriais e a modernização conservadora

O início dos anos 1960 foi marcado por um processo de estagnação da economia brasileira. Segundo Martone (1975), há algumas distorções que podem ser apontadas como responsáveis pelo cenário de estagnação econômica, e pela impossibilidade de recuperação da economia:

(a) o processo inflacionário crescente que acompanhou todo o esforço de industrialização;

(b) o próprio sentido da industrialização, que se fez mediante técnicas intensivas de capital e a baixo índice de absorção de mão-de-obra;

(c) aumento vertiginoso da participação do setor público da economia;

(d) a relativa estagnação do setor agrícola do ponto de vista da produtividade.

(MARTONE, Celso L. Análise do plano de ação econômica do governo (PAEG) (1964-1966). In: LAFER, Betty M. (org.). Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1975. p. 69-89.)

Essa relativa estagnação da produtividade agrícola foi responsável por um atraso no processo de modernização do setor, visto que os excedentes estavam sendo direcionados para o financiamento dos investimentos no setor industrial.

A partir de 1964, com a instauração do regime militar, o governo passou a dar maior ênfase à modernização do país, e assim, à modernização do setor agrícola. Foi instituído o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo), com o objetivo de firmar uma estratégia de crescimento para o período 1964-1966. Esse plano tinha uma visão basicamente ortodoxa. Segundo Massuquetti (2010):

(18)

18

consumidores, pois a produção era realizada em áreas cada vez mais distantes dos centros consumidores e havia a falta de uma eficiente infra-estrutura de transporte e de abastecimento; pela incapacidade de expansão e de diversificação da agricultura voltada para o mercado externo, principalmente, em razão da política cambial; pela estrutura fundiária que em alguns momentos impossibilitava o uso de máquinas, como é o caso dos minifúndios, ou de mão-de-obra e de terras de forma eficiente, como é o caso dos latifúndios; pela falta de um nível cultural, por parte dos proprietários e trabalhadores rurais, adequado para a aceitação e a incorporação de técnicas modernas de produção; e pela falta de uma definição precisa do papel que a agricultura deveria desempenhar no conjunto da economia (BRASIL, 1964). MASSUQUETTI, A.; SOUZA, O. T. de; BETOLDT, L. A. (2010). Instrumentos de Política Agrícola e Mudanças Institucionais. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/15/777.pdf> Acesso em: 15/09/2012

A partir dessa década, vemos a intervenção do Estado e de novos grupos chamados a orientar a produção agrícola, surgindo, então, um novo padrão agrícola com orientação fundamentalmente de integração vertical e para o incremento da produção através do aumento de produtividade, segundo Graziano. Massuquetti (2010) expõe como se desenvolveu essa nova política agrícola:

“... algumas metas foram determinadas para sanear os problemas presentes no setor agrícola e para promover o seu desenvolvimento como, por exemplo, a expansão da produção agrícola voltada para o mercado interno e externo (alimentos, matérias-primas e substituição de importações) e o treinamento para os trabalhadores rurais. No que se refere ao aspecto da oferta de produtos primários, as medidas de curto prazo estavam voltadas para a utilização de fertilizantes, a expansão de aviários, a melhoria de sementes, a ampliação da atividade pesqueira, o planejamento do sistema de armazenamento e de distribuição de grãos e o controle dos preços, entre outros. As medidas de longo prazo estavam direcionadas para a consolidação de uma política de crédito, de preços, de pesquisa e de extensão, para o incentivo na utilização de “insumos modernos” e para a ampliação da capacidade de armazenamento, ou seja, tinham como objetivo expandir a produção.” MASSUQUETTI, A.; SOUZA, O. T. de; BETOLDT, L. A. (2010). Instrumentos de Política Agrícola e Mudanças Institucionais. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/15/777.pdf> Acesso em: 15/09/2012

(19)

19

“Para Geraldo Müller, o fato mais importante que permite delimitar a década de 60 como um marco de um novo padrão agrícola é a constituição do complexo agroindustrial (CAI) brasileiro, a partir da negação do predomínio do complexo agro-comercial existente. A partir de 1964, no período de “industrialização expandida”, dois fatos importantes impactam a estrutura produtiva do CAI brasileiro: a diversificação das exportações (industriais e agroindustriais) e a substituição localizada de importações de matérias-primas estratégicas (petróleo, matérias-primas para fabricação de papel e outras)”. (GRAZIANO DA SILVA, José (1996). A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1996.)

Segundo Massuquetti (2010), o papel do setor agrícola naquele momento seria o de fornecer alimentos e matérias-primas para o mercado interno, ampliar as exportações, para, assim, gerar divisas para a importação de bens que possibilitassem o andamento do processo de substituição de importações. O setor agrícola deveria também absorver a mão-de-obra que não estava sendo absorvida pelo setor secundário. “A forma de se conseguir que a agricultura cumprisse essas funções seria por meio do seu processo de modernização (via “insumos modernos”) e consequentemente, de aumento da produção.” (MASSUQUETTI, 2010).

O governo instituiu então, em 1966, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), visando o aumento da produtividade agrícola.

Pode-se observar na tabela abaixo como esses incentivos governamentais elevaram a mecanização no campo:

Tabela 1 — Tratores e arados existentes nos estabelecimentos agropecuário recenseados — 1920-1985

ANOS CENSITÁRIOS TRATORES ARADOS

De tração animal De tração mecânica de

disco aiveca De 1920... 1 706 ... ... ... 141 196

1940... 3 380 ... ... 39 455 408 101

1950... 8 372 ... ... 54 576 659 683

1960... 61 345 ... ... 130 397 846 704

(20)

20

Se considerarmos apenas o número de tratores totais é possível observar um aumento de grande significância na quantidade total de tratores nos anos 1960.

Grafico 1 - Evolução na quantidade de tratores

FONTES — Elaborado a partir de: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. 2. ed. rev. e atual. do v. 3 de Séries estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

Delgado (2002) aponta como essa alteração se processou:

“... verifica-se que, já nas duas primeiras décadas do pós-guerra (1950 e 1960) houve uma sensível alteração para mais na “Frota de Tratores” e no consumo de NPK; mas que esta era ainda muito pequena em relação aos indicadores NPK/área cultivada ou trator/área cultivada, observados a nível internacional. Ao mesmo tempo, como observa Szmrecsányi (1986), essas médias de tratorização estavam fortemente concentrados na agricultura de três Estados – São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro).” (DELGADO, C. Guilherme (2002). Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: Szmrecsányi, T; Suzigan, W (ORG). História Econômica do Brasil Contemporâneo – 2. Ed. Revista. - São Paulo, Hucitec/Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002).

Destaca-se ainda, na década de 1960, o surgimento da “Questão Agrária”, movimento social pela reforma agrária, “oriunda de várias frentes e formas de luta pela posse da terra e melhoria das condições de trabalho” (Delgado, 2002). Para Delgado

1706 3380

8372

61345

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000

(21)

21

(2002), o golpe militar de 1964 encerra esse período delicado da história da política agrícola e agrária brasileira.

Nos anos seguintes temos o desenvolvimento do período conhecido como o “Milagre Econômico brasileiro”. Durante esse período, apesar de haver uma enorme oferta de terras e mão-de-obra, a produção para exportação substituiu a produção de alimentos para o consumo interno. Essa redução da produção de alimentos e de matérias-primas para o mercado interno acabou acarretando uma pressão inflacionária, o que levou a elevação dos custos de produção. “A agricultura deveria, por meio do aumento da produção, participar do processo de crescimento econômico.” (MASSUQUETTI, 2010)

Durante a década de 70, vemos a evolução do CAI, com uma dinâmica conjunta da indústria para a agricultura-agricultura-agroindústria. Neste processo há uma integração técnica intersetorial entre as indústrias que produzem para a agricultura, a agricultura propriamente dita e as agroindústrias processadoras, a partir da internalização da produção de máquinas e insumos para a agricultura, segundo Graziano. Para Serra (1983):

[...] afora as condições relativamente favoráveis da demanda externa e a política de minidesvalorizações (que incentivou as exportações agrícolas), outros fatores de peso contribuíram para explicar a evolução indicada, começando pelas características do processo de relativa ‘modernização’ que envolveu a agricultura brasileira desde os anos 50. Essa modernização, a nível tecnológico, beneficiou fundamentalmente as culturas do café, algodão, cana-de-açúcar, soja, laranja, batata e trigo, os cinco primeiros produtos de exportação. E foram estas culturas que puderam então desfrutar dos subsídios concedidos aos insumos químicos e que sofreram um processo de mecanização mais acentuado. Contribuiu no mesmo sentido a concentração do crédito rural especialmente em torno dos produtos citados e para os grandes proprietários, em função das maiores garantias que podem oferecer. (SERRA, José. Ciclos e mudanças estruturais na economia brasileira do pós-guerra. In: BELLUZZO, Luiz G. de M.; COUTINHO, Renata (orgs.). Desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaios sobre a crise. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. v. 1, p. 56-121.

(22)

22

álcool anidro (99,3% por volume) à gasolina com o objetivo de estabilizar o preço do açúcar no mercado interno. Abaixo, podemos observar a evolução na produção dessas culturas a partir da criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), nos anos 1970:

Gráfico 2 – Evolução da produção de cana-de-açúcar, em milhões de toneladas, nas safras de 1948-1949 a 2006/2007.

Fonte: Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2007).

Gráfico 3 – Evolução da produção de cana-de-açúcar – 1970-2006 em toneladas por região

Fonte:Elaborado a partir de IBGE, Censo Agropecuário 1920/1996. Até 1996, dados extraídos de: Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

0 50000000 100000000 150000000 200000000 250000000 300000000

1970 1975 1980 1985 1996 2006

(23)

23

Pode-se observar no Gráfico 4, como se deu a divisão da produção entre álcool e açúcar. Após o lançamento do Proálcool, vê-se um crescimento expressivo da produção de álcool:

Gráfico 4 – Divisão entre álcool e açúcar- safras 1950/1951 a 2006/2007

Fonte: Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2007).

Graziano (1996) destaca o importante processo de integração de capitais ocorrido nesses anos. Processo esse, de centralização de capitais industriais, bancários, agrários, etc. A terra tornou-se um ativo alternativo para o grande capital. O Estado passa a desempenhar o papel de regulação estatal, visando a financiar, patrocinar e administrar a captura de margens de lucro na agricultura. Para ele, o início do processo de modernização era dependente da importação. Com a internalização do processo de produção dos insumos e máquinas para a agricultura a modernização agrícola passa a depender somente do capital inserido nesta atividade.

(24)

24

“... o processo de integração técnica agricultura-indústria foi ainda fortemente impulsionado pela modernização da indústria processadora de produtos rurais, a qual em interação com o setor produtivo agrícola, a indústria de bens de capital e os serviços de apoio constituem verdadeiros complexos ou “sistemas agro-industriais” interligados.” (DELGADO, C. Guilherme (2002). Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: Szmrecsányi, T; Suzigan, W (ORG). História Econômica do Brasil Contemporâneo – 2. Ed. Revista. - São Paulo, Hucitec/Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002).

Delgado (2002) aponta o período 1965-1980 como o período de “modernização conservadora” resultante da derrota do movimento pela reforma agrária, caracterizando-o da seguinte maneira:

“1965-1980 constitui com muito maior clareza a etapa do desenvolvimento de uma agricultura capitalista em processo de integração com a economia urbana e industrial e com o setor externo.” (DELGADO, C. Guilherme (2002). Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: Szmrecsányi, T; Suzigan, W (ORG). História Econômica do Brasil Contemporâneo – 2. Ed. Revista. - São Paulo, Hucitec/Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Universidade de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002).

O caráter heterogêneo da agricultura, sob a ótica técnica, social e regional, se aprofundou durante o processo de modernização. Para Delgado (2002), “pode-se visualizar nele um pacto agrário modernizante e conservador”. Ainda segundo Delgado (2002):

(25)

25

1.4O retorno do processo inflacionário e a redução do crescimento: as consequências para a agricultura

A partir de 1974 houve o retorno do processo inflacionário brasileiro, e uma conseqüente redução do processo de crescimento econômico. A agricultura foi afetada, sobretudo, com a redução das taxas de juros, que eram subsidiadas pelo governo.

Segundo, Massuquetti (2010), a modernização da agricultura visava capitalizar o campo. Esse objetivo foi alcançado. Expandiu-se o setor agrícola, mas houve também uma concentração da renda do setor primário. O final da década de 1970 e início da década de 1980 foram marcados pela escassez de crédito e redução dos subsídios, que contribuíram para transformar a década de 1980 em um “período recessivo para o campo” (MASSUQUETTI, 2010).

A partir dessa nova realizada o governo então implantou a PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos), com o objetivo de garantir a rentabilidade dos produtores rurais e o crédito para a comercialização dos produtos. A PGPM teoricamente define um piso para os preços recebidos pelos produtores.

“O preço para cada produto coberto pelo Programa Garantia de preços mínimos (PGPM) é anunciado antes do início do plantio e teoricamente definiria um piso para os preços recebidos pelos produtores.” (BUAINAIN, A. M. (2007). Modelo e principais instrumentos de regulação setorial: uma nota didática. In: Ramos, P. (ORG) Dimensões do agronegócio brasileiro: políticas, instituições e perspectivas. Brasília: NEAD, 2007.)

A operacionalização dessa política se dá através de empréstimos (para retenção de safra) e aquisição da produção. Deste modo, evita-se uma “pressão baixista” sob os preços, beneficiando toda a gama de produtores. Atualmente, sabe-se que o governo não tem condições de garantir os preços.

(26)

26

atinjam bens, rebanhos e plantações. Além disso, o Programa garante a indenização de recursos próprios utilizados pelo produtor em custeio rural, quando ocorrer perdas por essas razões. “O PROAGRO foi criado com o objetivo de auxiliar o agricultor a adotar novas técnicas de produção e a dirigir a produção para produtos comerciais.” (MASSUQUETTI, 2010). Segundo Massuquetti (2010):

“Cabe salientar que tal desenvolvimento da agricultura se deu apenas em nível agrícola, promovido para uma pequena parcela de produtores rurais, caracterizando, dessa forma, a dita “modernização conservadora” do setor no Brasil.” (MASSUQUETTI, A.; SOUZA, O. T. de; BETOLDT, L. A. (2010). Instrumentos de Política Agrícola e

Mudanças Institucionais. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/15/777.pdf> Acesso em: 15/09/2012)

1.5Anos 1980: as conseqüências da crise externa para o desenvolvimento da agricultura brasileira

Após os abalos de dois choques do petróleo nos anos de 1973 e 1979, a economia internacional estava abalada, e os países capitalistas reagiram à crise com políticas recessivas, entre elas a elevação da taxa de juros.

No Brasil, seguiu-se então, entre outros, um aumento do valor das importações, da inflação e da dívida externa. Após a moratória do Mexico, em 1982, desencadeou uma pressão do FMI (Fundo Monetário Internacional) no sentido da adoção de uma política ortodoxa no Brasil. Todos esses fatores resultaram em uma recessão econômica, inflação elevada, endividamento externo, etc.

Vários planos econômicos foram propostos durante os anos 1980 com o intuito de estabilizar o país. Porém, nenhum deles teve sucesso:

ƒ 1986: Programa de Estabilização da Economia Brasileira (Plano Cruzado) e

Plano Cruzado II;

ƒ 1987: Plano Bresser; ƒ 1989: Plano Verão

(27)

27

política agrícola. O setor agrícola deveria gerar divisas para o pagamento dos serviços da dívida externa.

No final dos anos 1980, houve uma crise do setor rural brasileiro caracterizada pela maneira pela qual o governo conduziu a política econômica com o intuito de promover a estabilização, o que acabou por gerar efeitos negativos sobre a atividade agrícola. Segundo Rezende (1990):

[...] o setor agrícola brasileiro foi profunda e adversamente afetado pelo agravamento do quadro macroeconômico e, em particular, pelas estratégias - seja via ‘choques’, seja via ‘moeda indexada’ - adotadas pelo Governo para controlar a inflação. O setor agrícola, que encontrou espaço e recebeu estímulos para crescer na maior parte da década de 80, tornou-se, ao término desta, a principal vítima do descontrole inflacionário e da incapacidade demonstrada pelo Governo de combatêlo. (RESENDE, André L. Estabilização e reforma: 1964-67. In: ABREU, Marcelo de P. (org.). A ordem do progresso. Rio de Janeiro: Campus, 1990.)

Deste modo, segundo Almeida (2010), a economia brasileira passou de uma economia “predominantemente agrícola para uma economia alimentar industrializada”.

1.6Anos 1990: as consequencias das políticas neoliberais para a agricultura brasileira – a década perdida para a agricultura

Os anos 1990 são marcados, sobretudo, pelo neoliberalismo pelas várias medidas de estabilização econômica:

1990: Plano Brasil Novo ou Plano Collor (março de 1990) e Nova Política Agrícola (agosto de 1990);

1991: Plano Collor II (janeiro de 1991) e Projeto de Reconstrução Nacional (março de 1991);

1993: Plano Real.

(28)

28

Outras medidas foram adotadas, cujos objetivos eram a redução da participação do Governo no setor agrícola, como a criação da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) a partir da união da Comissão de Financiamento da Produção (CFP), da Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM) e da Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL); extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), Instituto Brasileiro do Café (IBC), Empresa Brasileira de Extensão Rural (EMBRATER) e Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC). (MASSUQUETTI, Angélica. A Mudança no Padrão de Financiamento da Agricultura Brasileira no Período 1965-97. 1998. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre).

Essa mudança de orientação política, aliada a um cenário econômico desfavorável trouxe conseqüências desagradáveis para a agricultura brasileira. Segundo Massuquetti (1998):

Os efeitos dessa nova orientação sobre os produtores agrícolas podem ser exemplificados com o caso do confisco dos ativos financeiros, já que os mesmos não tiveram recursos para realizar a colheita das culturas. Além disso, houve a falta de coerência entre a correção dos financiamentos rurais e dos preços mínimos, pois os primeiros foram corrigidos pela variação do IPC de março de 1990 (84%), enquanto a correção dos outros foi feita pela variação do BTN de março de 1990 (42%). O resultado disso foi a incapacidade de pagamento das dívidas. (MASSUQUETTI, Angélica. A Mudança no Padrão de Financiamento da Agricultura Brasileira no Período 1965-97. 1998. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre).

A nova política agrícola brasileira reunia quatro projetos:

ƒ Política de investimentos; ƒ Política de preços;

(29)

29

O crédito rural e o PGPM passaram por mudanças. Segundo Silva (1996):

[...] em relação ao crédito rural, manteve-se basicamente a mesma sistemática anterior de corrigir os empréstimos pela inflação passada e de fixar os limites de recursos emprestados em função do tamanho do produtor. Apenas aumentou-se a parte do financiamento contratado livremente às taxas de mercado. Na verdade, isso facilitou ao sistema bancário praticar uma ‘taxa média de juros’ para os empréstimos rurais bastante mais elevada que nos anos anteriores. No que tange aos preços mínimos as alterações foram mais profundas: houve uma regionalização, de modo a descontar o valor do frete entre os locais de produção e de consumo. O objetivo básico dessa regionalização era evitar aquisições significativas por parte do governo e simultaneamente estimular a transferência das agroindústrias para as proximidades das áreas produtoras. Também foi eliminada a correção mensal dos valores fixados, mantendo-se apenas a correção com base na variação da inflação passada na época da aquisição. A não indexação dos preços mínimos contribuiu para derrubar ainda mais os preços pagos aos produtores ao longo do ano de 1990, levando a uma situação paradoxal: queda na produção e queda nos preços recebidos. (SILVA, José G. da. Uma década perversa: as políticas agrícolas e agrárias dos anos 80. In: SILVA, José G. da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: IE/UNICAMP, 1996. p. 107-53).

(30)

30

Tabela 2 – Série histórica de produtividade – Safras 1976/77 a 1989/90

PRODUTO 1976/77 1977/78 1978/79 1979/80 1980/81 1981/82 1982/83 1983/84 1984/85 1985/86 1986/87 1987/88 1988/89 1989/90 ALGODÃO -

CAROÇO 430 376 447 413 413 515 460 636 742 683 836 961 913 964 AMENDOIM

TOTAL 1.413 1.365 1.605 1.559 1.443 1.371 1.312 1.576 1.739 1.312 1.408 1.705 1.666 1.599 AMENDOIM

1ª SAFRA 1.496 1.584 1.776 1.721 1.724 1.558 1.423 1.665 1.901 1.338 1.430 1.790 1.791 1.668 AMENDOIM

2ª SAFRA 1.222 868 1.306 1.094 916 950 994 1.380 1.337 1.252 1.337 1.491 1.347 1.384 ARROZ 1.501 1.297 1.395 1.489 1.303 1.535 1.497 1.694 1.818 1.749 1.752 1.965 2.071 1.906

AVEIA 940 971 920 1.000 1.076 536 1.036 1.040 1.202 937 1.279 1.061 1.146 1.309 CANOLA

CENTEIO 912 890 787 861 899 65 938 738 984 843 1.300 1.034 854 1.098 CEVADA 1.018 1.610 1.177 1.149 1.461 629 1.114 956 1.295 1.672 1.842 1.297 2.189 2.001 FEIJÃO TOTAL 488 509 531 374 423 503 319 494 469 398 370 473 452 465

FEIJÃO 1ª

SAFRA 591 670 687 531 615 645 437 558 630 356 467 600 525 534 FEIJÃO 2ª

SAFRA 433 409 440 281 313 411 243 459 375 404 280 382 375 377 FEIJÃO 3ª

SAFRA - - - 947 1.211 1.052 1.244 1.187

GIRASSOL - - - - - -

MAMONA 806 1.141 929 688 593 429 595 541 810 617 387 678 453 489 MILHO TOTAL 1.632 1.276 1.461 1.665 1.752 1.692 1.631 1.735 1.773 1.549 1.832 1.881 2.025 1.841

MILHO 1ª

SAFRA 1.632 1.276 1.461 1.680 1.777 1.713 1.643 1.750 1.789 1.565 1.862 1.923 2.084 1.880 MILHO 2ª

SAFRA - - - 540 523 500 320 1.174 1.297 1.109 1.056 848 932 966 SOJA 1.748 1.250 1.251 1.700 1.781 1.536 1.728 1.674 1.808 1.369 1.851 1.693 1.953 1.740

SORGO 2.450 2.183 1.710 2.319 2.335 1.770 1.627 1.853 1.545 1.873 1.949 1.698 1.374 1.792 TRIGO 655 953 734 879 1.049 652 1.134 1.008 1.654 1.441 1.786 1.675 1.657 1.006

TRITICALE - - - - - -

BRASIL 1.258 1.045 1.108 1.267 1.293 1.235 1.281 1.379 1.465 1.268 1.544 1.549 1.692 1.496

(31)

31

Tabela 3 -Série histórica de produção – Safras 1976/77 a 1989/90

PRODUTO 1976/77 1977/78 1978/79 1979/80 1980/81 1981/82 1982/83 1983/84 1984/85 1985/86 1986/87 1987/88 1988/89 1989/90 ALGODÃO -

CAROÇO 1.176,0 989,5 1.075,3 1.105,7 1.115,7 1.290,7 1.081,1 1.301,4 1.786,5 1.478,0 1.172,4 1.610,9 1.325,9 1.228,5 AMENDOIM

TOTAL 314,3 342,4 458,4 524,6 320,3 348,2 274,6 219,7 326,6 212,6 202,3 167,9 148,6 143,9 AMENDOIM

1ª SAFRA 231,8 275,8 322,8 429,4 249,5 273,9 220,7 159,8 254,4 151,9 155,9 126,0 114,8 113,6 AMENDOIM

2ª SAFRA 82,5 66,6 135,6 95,2 70,8 74,3 53,9 59,9 72,2 60,7 46,4 41,9 33,8 30,3 ARROZ 8.993,3 7.296,0 7.589,9 9.638,3 8.640,4 9.156,8 8.225,4 8.992,0 8.761,2 9.813,8 10.578,5 11.762,8 11.093,0 7.967,9

AVEIA 37,4 53,9 57,6 75,5 89,7 61,1 105,2 120,6 170,5 115,4 157,1 141,1 240,7 255,9 CANOLA

CENTEIO 8,3 7,3 8,5 10,5 19,6 3,8 4,5 3,1 12,4 4,3 5,2 3,0 3,5 4,5 CEVADA 95,3 143,9 97,1 85,0 141,7 101,2 143,4 76,5 142,1 175,2 184,8 142,2 249,6 210,1

FEIJÃO

TOTAL 2.215,2 2.337,3 2.225,4 1.895,3 2.407,3 3.097,7 1.654,8 2.616,2 2.534,9 2.350,3 2.108,4 2.753,2 2.367,4 2.345,7 FEIJÃO 1ª

SAFRA 935,0 1.179,6 1.054,5 1.000,0 1.274,0 1.566,0 890,3 1.058,7 1.257,3 714,0 947,2 1.180,4 823,0 911,0 FEIJÃO 2ª

SAFRA 1.280,2 1.157,7 1.170,9 895,3 1.133,3 1.531,7 764,5 1.557,5 1.277,6 1.531,3 985,3 1.416,8 1.307,9 1.180,7 FEIJÃO 3ª

SAFRA - - - 105,0 175,9 156,0 236,5 254,0

GIRASSOL - - - - - -

MAMONA 201,5 392,5 345,8 302,3 263,8 201,5 189,2 224,8 393,0 272,2 115,1 181,3 126,3 118,2 MILHO

TOTAL 19.255,7 14.017,1 16.513,8 19.435,3 21.283,8 21.604,8 19.015,0 21.178,2 21.174,7 20.264,8 26.759,0 25.224,3 26.267,6 22.257,8 MILHO 1ª

SAFRA 19.255,7 14.017,1 16.513,8 19.356,5 21.156,8 21.490,8 18.981,8 20.796,7 20.690,9 19.754,8 26.179,4 24.778,0 25.647,0 21.757,0 MILHO 2ª

SAFRA - - - 78,8 127,0 114,0 33,2 381,5 483,8 510,0 579,6 446,3 620,6 500,8 SOJA 12.145,0 9.726,0 10.200,0 14.887,4 15.484,8 12.890,9 14.532,9 15.340,5 18.211,5 13.207,5 17.071,5 18.127,0 23.929,2 20.101,3 SORGO 435,1 227,5 121,9 182,3 228,1 228,3 237,1 328,7 305,6 398,4 468,2 347,4 257,4 342,5

TRIGO 2.066,0 2.680,0 2.861,0 2.729,0 2.217,0 1.876,1 2.191,4 2.029,3 4.324,3 5.632,7 6.126,8 5.846,5 5.478,4 3.304,0

TRITICALE - - - - - -

BRASIL 46.943,1 38.213,4 41.554,7 50.871,2 52.212,2 50.861,1 47.654,6 52.431,0 58.143,3 53.925,2 64.949,3 66.307,6 71.487,6 58.280,3

Fonte: Elaborado própria a partir de dados da CONAB

Diante desse cenário pessimista, o governo introduziu algumas alterações na política agrícola, de modo a minimizar possíveis desestímulos ao plantio dos produtores. Dentre elas, destacam-se o Plano Agrícola (julho de 1991), o Plano Nacional Agrícola (outubro de 1991) e o Plano de Reconstrução da Agricultura (março de 1992). Segundo Silva (1996):

(32)

32

Podemos observar no gráfico abaixo a evolução da produção agrícola diante das políticas implementadas:

Gráfico 5 – Evolução da Produção Agrícola – Safras 1986/87 a 1992/93

Fonte: Elaborado própria a partir de dados da CONAB

Em 1993, o novo governo Itamar Franco implantou o Programa de Ação Imediata (PAI), com o objetivo de combater a inflação e ampliar a abertura da economia. O novo governo deu continuidade às medidas do governo anterior, e buscou também fortalecer mecanismos novos de política agrícola.

Em 1994, assumiu o governo Fernando Henrique Cardoso em meio à implantação do Plano Real (1993). O governo Fernando Henrique almejava elevar a competitividade no mercado externo da atividade agrícola brasileira, nos quesitos qualidade e preço dos produtos oferecidos, assim como garantir o abastecimento do mercado interno a níveis de preço satisfatórios. Segundo Massuquetti (2010) essa nova fase se deu da seguinte maneira:

Primeiramente, os produtores rurais, principalmente os endividados, foram penalizados com as medidas desse novo plano, já que os custos de produção elevaram-se enquanto os preços recebidos mantiveram-se estáveis. Além disso, os gastos do governo com o setor agrícola foram de, aproximadamente, 1,9% do dispêndio total da União em 1993 (os valores em 1990, 1991 e 1992 foram de, aproximadamente, 1,9%, 4,4% e 2,5%, respectivamente), sendo que em torno de 84% dos recursos concentraram-se nos

10.578,5

11.762,8

11.093,0

7.967,9

9.997,2 10.103,1 9.903,0

1.000,0 2.000,0 3.000,0 4.000,0 5.000,0 6.000,0 7.000,0 8.000,0 9.000,0 10.000,0 11.000,0 12.000,0 13.000,0

(33)

33

programas de Administração, de Organização Agrária, de Abastecimento e de Recursos Hídricos. Quanto aos subsídios em 1993, esses foram equivalentes a 1,5% do produto real do setor agrícola do mesmo ano. (MASSUQUETTI, A.; SOUZA, O. T. de; BETOLDT, L. A. (2010). Instrumentos de Política Agrícola e Mudanças Institucionais. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/15/777.pdf> Acesso em: 15/09/2012)

As grandes dificuldades enfrentadas pelo setor agrícola no período, desencadeadas pela política do laissez faire e por fatores como a concorrência dos produtos nacionais com os importados e a tributação (ICMS), aliadas ao alto endividamento no setor, acabaram por desencadear a falência de produtores, o desemprego rural e o decréscimo da área plantada e da produção na safra agrícola de 1995/96. É possível visualizar o panorama da situação vivida pela agricultura brasileira através dos gráficos 6 e 7.

Gráfico 6 - Série Histórica de Área Plantada, em mil hectares – safras 1981/82 a 1995/96

Fonte: Elaborado própria a partir de dados da CONAB

41.174,9

37.212,3 38.020,9 39.692,7

42.534,0 42.062,1 42.810,7 42.243,3

38.945,0 37.893,7 38.492,3 35.621,3

39.094,0 38.538,9 36.970,9

0,0 5.000,0 10.000,0 15.000,0 20.000,0 25.000,0 30.000,0 35.000,0 40.000,0 45.000,0

(34)

34

Gráfico 7 - Série Histórica de Produção, em mil toneladas – safras 1981/82 a 1995/96

Fonte: Elaborado própria a partir de dados da CONAB

1.7Anos 2000: o crescimento do agronegócio

Para Almeida (2010), segundo dados da CONAB, entre as safras 1993/1994 e 2007/2008, a produção grãos brasileira saltou de 76,04 para 144,11 milhões de toneladas, um crescimento de 88,63%, proveniente, em grande parte de ganhos de produtividade (toneladas/hectare). Com esse crescimento houve um aumento da exportação agrícola. Esse processo desencadeou uma intensificação na utilização de insumos degradantes ao meio ambiente, entre eles os fertilizantes.

50.861,1 47.654,6

52.431,0 58.143,3

53.925,2

64.949,3 66.307,6 71.487,6

58.280,3 57.899,6

68.400,1 68.253,2 76.035,0

81.064,9 73.564,7

0,0 10.000,0 20.000,0 30.000,0 40.000,0 50.000,0 60.000,0 70.000,0 80.000,0 90.000,0

(35)

35

2. CHINA

2.1Introdução

A China, país mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, tem uma história milenar marcada, desde seus primórdios, por uma presença central do Estado na organização da vida social.

Na Idade Média, a China foi uma grande potência, com domínio tecnológico e um projeto global de intercâmbio de saber, respeito religioso e comércio. Mas, após a morte de seu imperador Zhu Dhi, da dinastia Ming, seu filho Gaozhi ordenou o desmonte da indústria naval e o fechamento das fronteiras chinesas. Segundo Fairbank e Goldman (2008):

Após 1474, e durante todo o século XVI, a construção de grandes muros de tijolo e pedra com suas muitas centenas de postos de vigilância formaram o que chamamos hoje de Grande Muralha, gesto militar bastante pueril, mas que exprime claramente a mentalidade chinesa de isolamento. (FAIRBANK, John King; GOLDMAN Merle (2008). China – Uma Nova História. 3 ed. – Porto Alegre, RS : L&PM, 2008.)

Assim, a China isolou-se por seis séculos. E, o seu isolamento trouxe conseqüências para o império, que passou por diversas invasões de potências em emergência nos séculos seguintes.

(36)

36

As diretrizes modernizantes de Deng Xiaoping sempre sinalizaram no sentido da necessidade da construção de um ambiente externo favorável ao crescimento chinês. Desde então, três estratégias interconectadas têm sido perseguidas.

Em primeiro lugar, há a busca de redução dos conflitos com os vizinhos, o que determinou, desde meados dos anos 1980, a restauração ou estabelecimento de relações diplomáticas com Cingapura (1990), Indonésia (1990), Brunei (1991) e Coréia do Sul (1992) e intensificação das relações com a Índia (1988) e Filipinas (2000).

Em segundo lugar, há a ampliação da participação em organismos multilaterais regionais e globais, com o país evitando atuar de forma isolada. Por fim, a China vem utilizando seu crescente peso econômico para oferecer alternativas de mercado e fontes de financiamento para parceiros considerados estratégicos.

A “Abertura ao mundo exterior” se deu em etapas. Inicialmente, foram eleitas quatro regiões estratégicas para a introdução de um regime comercial e de atração do investimento direto estrangeiro, as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs). Estas nada mais eram do que as típicas Zonas de processamento de Exportações (ZPEs), que já se espalhavam pelas economias em desenvolvimento, particularmente na Ásia. Nas ZPEs, assim como nas congêneres chinesas, são estabelecidas regras diferenciadas de tratamento do comércio exterior, com redução de procedimentos administrativos para a exportação e importação e, principalmente, a forte redução – no limite, a eliminação – dos impostos de importação sobre insumos utilizados para a produção voltada ao mercado internacional. Adicionalmente, podem ser ofertados subsídios fiscais, na forma de tributação diferenciada, para atrair investidores estrangeiros que, além de fornecerem capitais e tecnologia, possuem canais de comercialização em escala global.

Atualmente, segundo Serra (1997), nas estatísticas chinesas as empresas são dividas da seguinte maneira:

• Pequenas empresas,

• Propriedade estatal e coletiva, e

(37)

37

2.2Entendendo a agricultura chinesa

Neste início de século, aproximadamente 70% da população chinesa está concentrada na zona rural. Deste modo, a agricultura chinesa torna-se algo de fundamental importância para a sustentação do regime de estabilidade deste país. Segundo Pomar (2003):

Nos seis mil anos de história escrita da China, foi quase sempre o campo a principal fonte das instabilidades, distúrbios, insurreições, guerras civis, trocas de dinastias e mudanças de regimes políticos. Mesmo após a proclamação da República Popular, foram em geral problemas relacionados com a agricultura (e, portanto, com os camponeses) a fonte de muitas das dificuldades governamentais. Nessas condições, manter uma agricultura diversificada e pujante é uma questão estratégica para a China. (POMAR, Vladimir (2003). A Revolução Chinesa. – São Paulo: Editora UNESP, 2003.)

Em seu artigo “A Critical Appraisal of the chinese Model of Development”, Anthony M. Tang, diz algo que ilustra claramente a política agrícola chinesa:

O papel da agricultura na China é o de apoiar a industrialização prioritária (seletiva) com transferências de recursos na forma de alimentos, trabalho, matérias-primas e produtos agrícolas exportáveis. Quando a agricultura não cumprir as transferências de recursos completos exigidos pelo setor prioritário para o crescimento industrial, o setor agrícola se torna um empecilho para a industrialização. Tal foi o caso na República Popular, mesmo durante o apogeu econômico relativo de 1952-58. (TANG, Anthony M., A Critical Appraisal of the Chinese Model of Development. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora

The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 403-419.)

(38)

38

regiões do país especializaram-se em determinados produtos agrícolas. Regiões com excedente de grãos abasteciam regiões densamente povoadas.

Em seu artigo “Prices, Markets, and the Chinese Peasant”, Nicholas R. Lardy busca explicar a disparidade existente entre as taxas de crescimento agrícola e industrial até o final dos anos 1970, e as mudanças na política econômica no período.

Lardy traça um panorama histórico, partindo do estudo de Dwight Perkins em sua obra Agricultural Development in China, que explica como a agricultura chinesa suportou o crescimento da população de 65 para 80 milhões no início da dinasta Ming em 1368 para 540 milhões em meados do século XX, mantendo uma produção per capita constante. Em seu estudo, Perkins sugere que apenas metade desse crescimento da população apoiou-se em uma expansão da área cultivada, tendo a agricultura chinesa tornado-se mais complexa e sofisticada com o passar do tempo.

Segundo Lardy, a crescente sofisticação da agricultura chinesa era evidente na evolução do cultivo ao invés de mudanças na mecânica tecnológica. Houve um estímulo a melhoras nos padrões de cultivo, com a introdução de novas variedades de arroz durante a dinastia Song (960-1126).

“A introdução de novas culturas como milho, amendoim, batata irlandesa, tabaco e algodão também contribuíram para o crescimento agrícola e as mudanças nos padrões regionais de povoamento. O cultivo de novas culturas não foi distribuído aleatoriamente em toda a China. Em vez disso, inovadores camponeses chineses tenderam a adotar o cultivo dessas culturas em regiões de vantagem comparativa”. (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins

University Press, 1984. p. 420-435.)

Segundo Fairbank e Goldman (2008), após a queda dos Song do Norte para a dinastia Jin em 1126, houve um aumento da emigração do Norte da China para o Sul, acompanhada de um crescimento populacional e do cultivo de arroz do vale Yangzi.

(39)

39

terraços em colinas e montanhas, aumentou a área de cultivo de arroz em acres por todo o Sul da China.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore,

Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)

A partir do século IX, a base de subsistência da economia rural foi alterada para um sistema de mercado cada vez mais complexo, com comercialização intra-rural com mercados inter-regionais. Segundo Lardy:

“O desenvolvimento das inter-regiões de mercados de arroz e outros produtos básicos começou logo na dinastia Tang (618-906) e se acelerou nos séculos XII e XIII, como aumento do cultivo da cana-de-açúcar e outros cultivos comerciais na costa sudeste, que foi facilitado por carregamentos de arroz e outros alimentos básicos de regiões com excedentes no Yangtse Delta, o Delta Canton, e o centro do Vale do Rio Kan.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora

The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 420-435.)

Segundo Lardy, nos séculos XVII e XVIII estabeleceu-se um comércio triangular entre as regiões do Vale do Yangtse, meio Yangtse e menor Yangtse, com base no transporte aquático relativamente barato, o que contribuiu para o crescimento da produtividade. A partir de 1895, observou-se também um estímulo à produção baseada em vantagens comparativas decorrente do desenvolvimento ferroviário, principalmente no norte e noroeste da China, onde o transporte aquático era limitado.

“Assim, entre os séculos XIV e início do XX, os camponeses chineses responderam positivamente à disponibilidade de variedades de sementes melhoradas, novas culturas, melhores sistemas de transporte e aumento da demanda urbana.” (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins

(40)

40

2.3Os novos rumos a partir da revolução comunista

Em 1949, ocorreu a Revolução Comunista. Segundo Pomar (2003), ela deveu-se à tradição dos conflitos entre os senhores feudais, das rebeliões camponesas e das guerras pela unificação nacional:

Mesmo após a República, em 1911, a China permaneceu um mosaico de regiões dominadas por senhores de guerra, proprietários rurais com exércitos próprios, lutando entre si pelo predomínio nacional. Esse, juntamente com o crescimento dos movimentos populares agrários e urbanos, foi um fator crucial para que a Revolução Chinesa ocorresse. (POMAR, Vladimir (2003). A Revolução Chinesa. – São Paulo: Editora UNESP, 2003.)

O Partido Comunista tomou o poder e o Estado rapidamente implementou uma política de reforma agrária e desenvolvimento da indústria pesada como principais objetivos. “Durante o período de 1950-52, 300 milhões de camponeses receberam 730 milhões de metros quadrados de terra.” (Guoying 2004). Houve estágios de coletivização dos camponeses, que se deram de forma coercitiva, não levando as preferências dos camponeses em consideração. Segundo Nove (1989):

No período entre 1949 e 1957, o sistema chinês de planificação evoluiu no sentido de uma cópia do modelo soviético, assistido pó rum volume significativo de ajuda soviética. (NOVE, Alec (1989). A Economia do Socialismo Possível. São Paulo, Atica, 1989.)

(41)

41

Tabela 4: Evolução da produção por hectare na China pós reforma agrária Ano Área Cultivada, em mil

hectares Produzida, em mil Quantidade toneladas

Produção por hectare

1949 109.959,00 111.211,00 1,011386062

1950 114.406,00 129.647,00 1,133218537

1951 117.769,00 140.885,00 1,196282553

1952 123.979,00 160.649,00 1,295775898

Fonte: Elaborado a partir de dados do USDA (United States Department of Agriculture)

Entre 1949 e 1953, o Estado realizou compras crescentes de matérias-primas agrícolas em mercados rurais para suprir a demanda de seus estabelecimentos industriais. No outono de 1953, o Estado introduziu um sistema de tributação do produtor, que visava tornar menos oneroso ao Estado os termos de troca entre ele e o campesinato. Deste modo, o Estado introduziu um sistema de quotas de entrega de mercadorias agrícolas ao governo e um sistema de produção arrecadatório.

Na visão de Lardy:

Dentro de um ano da introdução do sistema de produção arrecadatório, o governo iniciou um sistema de cupons de racionamento para distribuir cereais adquiridos pelo estado e os óleos vegetais comestíveis para a população urbana. Por volta de 1955 esse sistema foi estendido para toda a população urbana. Uma vez que as quantidades de ração foram relativamente generosas e os preços de mercado eram superiores aos preços de ração, o volume de vendas no mercado pelos camponeses diretamente aos consumidores urbanos foi reduzido substancialmente. (LARDY, Nicholas R., Prices, Markets, and the Chinese Peasant. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins

University Press, 1984. p. 420-435.)

Na visão de Guoying:

(42)

42

1952, o valor da produção total de cereais do país foi de 164 milhões de toneladas, um crescimento 44,8% maior que o de 1949, superando em 150 milhões de toneladas (incluindo a soja) a produção de 1936. O preço de mercado do cereal em 1952 estava estável. Em 1953, a situação dos cereais sofreu uma mudança. De 2 de julho de 1952 a 30 de junho de 1953, o volume de mercado de cereais foi de 17,4 milhões de toneladas, tendo as empresas estatais e cooperativas de compra e venda comprado 70% dos grãos e não cumprido o plano de compra da produção. Os mercadores de cereais adotaram práticas especulativas, aumentando consideravelmente o preço dos grãos. Enquanto isso, sob a situação internacional da época, os novos líderes do Estado tinham grande desejo de fortalecer o poder de defesa nacional, através do desenvolvimento da indústria pesada e do aumento do status internacional da China. Nessa situação, o governo central decidiu formalmente adotar a política do monopólio estatal de compra e venda de grãos em outubro de 1953. (GUOYING, Dang (2004). Realizações Agrícolas e Reforma Rural na Nova China.In: BELLUCCI, Beluce. (Comp.) Abrindo os Olhos para a China. Rio de Janeiro: EDUCAM, UCAM, 2004. p. 159-190.)

O Estado passou a subsidiar os alimentos. Os preços estavam sujeitos ao controle deste (Ministério de Alimentos e suas agências locais). Os impostos de grãos eram pagos em espécie, e as quotas de fornecimento tinham preços fixos. Conseqüentemente, houve uma queda acentuada no volume de transações de grãos nos mercados rurais até 1955. Essa política de compras governamentais levou a uma queda dos preços recebidos pelos agricultores, e uma conseqüente redução dos incentivos à produção. Segundo Guoying (2004), o preço estipulado pelo governo era “inferior ao nível racional (preço-fantasma)”, contribuindo para a geração de baixos estoques agrícolas.

2.4A busca da auto-suficiência em cereais e o fracasso das políticas utilizadas

(43)

43

tungue e produtos florestais). Segundo Nove (1989), “... a excessiva mobilização de camponeses para obras públicas desviou a atenção da agricultura e levou a uma escassez de alimentos.” (NOVE, Alec (1989). A Economia do Socialismo Possível. São Paulo, Atica, 1989.)

Durante o “Grande Salto para a Frente” (1958-61), o governo criou “comunas populares”, na tentativa de, segundo Nove (1989), “introduzir formas extremas de vida comunal e de restringir e até mesmo abolir, os direitos dos camponeses a terras e gado privados.” Para Guoying (2004):

O "Movimento de Cooperativas Agrícolas", iniciado em 1953, e o "Movimento das Comunas Populares", em 1958, encarnaram concretamente essa linha durante o período de transformação do sistema econômico rural. O Movimento de Cooperativas Agrícolas experimentou uma série de estágios diferentes – da primária para alta cooperativa – e, finalmente, tornou-se um sistema econômico rural que foi chamado de "propriedade coletiva". As principais características desse sistema são:

1) A terra e outros meios principais de produção foram passados para a comunidade, os habitantes do coletivo, mas o direito de membros da comunidade de abster-se era extremamente restringido: a propriedade comum não retornava ao membro da comunidade em recursos (Lin Yifu, 1990).

2) Antes de 1978, a comunidade incluía apenas uma ou algumas vilas naturais. A propriedade e os produtos entre as comunidades não podiam ser alocados ou transferidos sem pagamento.

3) Os produtos da produção agrícola cooperativa eram distribuídos de acordo com a quantidade de trabalho dos membros da comunidade e os seus familiares. Entretanto, as contribuições em trabalho dos membros da comunidade na produção coletiva eram muito difíceis de ser supervisionadas e contabilizadas, dessa forma levando ao fenômeno de "empurrar o trabalho com a barriga", que geralmente existe na produção cooperativa. Essa era uma das grandes razões por que a produtividade das cooperativas era baixa.

(44)

44

Tamanho foi o desastre que as estatísticas foram suprimidas, voltando a ser publicadas apenas em 1979. As grandes mudanças institucionais e políticas do “grande salto para frente” combinadas à uma série de desastres naturais, culminaram, nos anos entre 1958-1961, no período que ficou conhecido como “A Grande Fome Chinesa”. Um número estimado entre 20 e 40 milhões de pessoas morreram neste período. O “ salto para frente” foi abandonado. Segundo Castelli (2010):

Os planos quinquenais que se seguiram no país se apresentaram desastrosos para a agricultura, pois entre 1957 e 1958 a produção agrícola cresceu apenas 1% para uma população que cresceu 2%, enquanto a produção industrial cresceu entre 1953 e 1957 18% e agricultura neste mesmo período, 3,8%. (CASTELLI, T.; Almeida, R. M. (2010). Revolução chinesa: da reforma agrárias às transformações recentes na agricultura. Anais XVI – Encontro Nacional dos Geógrafos, Porto Alegre - RS, 2010).

Para que o Estado chinês conseguisse o seu objetivo de industrialização foi necessário desenvolver a agricultura. No entanto, segundo Tang:

Promover o desenvolvimento na agricultura, extraindo o máximo de excedente revelou-se um problema de política difícil. O problema chinês foi dramatizado pelo slogan "A agricultura é a base" na década de 1960 após o Salto para Frente desastroso (1958-60). (TANG, Anthony M., A Critical Appraisal of the Chinese Model of Development. In: EICHER, Carl K. (Edited). Agricultural Development in the Third World. Baltimore,

Maryland: editora The Johns Hopkins University Press, 1984. p. 403-419.)

De 1952 a 1977, segundo Tang, houve um aumento considerável no uso de recursos para aquisição de insumos para agricultura no exterior. Já para Lardy, no período entre 1953 e 1978, o estado distribuiu 12 por cento do seu investimento para a agricultura e 60 por cento para a indústria. Para Lardy:

(45)

45

Development in the Third World. Baltimore, Maryland: editora The Johns Hopkins

University Press, 1984. p. 420-435.)

Em 1966, com a Revolução Cultural (1966-76), observa-se um grande retrocesso para a China como um todo. Segundo Pomar (2003):

Essa “revolução” constituiu a tentativa mais extremada de implementar a idéia de que as massas mobilizadas são capazes de remover qualquer montanha. Todas as experiências de participação maciça para elevar a produção, desenvolver as ciências e a tecnologia, governar o Estado, exercer a democracia direta e implantar o igualitarismo foram praticadas durante seus dez anos de duração.

Apesar de contar com a direção de Mao Zedong até quase o seu final, a Revolução Cultural entrou em processo de esgotamento já em 1969, ao se transformar numa grande luta de facções, danificar a unidade e a estabilidade do país e não alcançar seus elevados objetivos na economia e na sociedade. Ao findar, em 1976, não tinha mais nenhum apoio social. Seus defensores ficaram totalmente isolados, abrindo campo para que as Quatro Modernizações fossem ampliadas e transformadas num programa de grande duração, de reforma e abertura no socialismo chinês.

(POMAR, Vladimir (2003). A Revolução Chinesa. – São Paulo: Editora UNESP, 2003.)

Com a queda da confiança em Mao Tse-Tung, o poder foi passado para Liu Shaochi e Chu Enlai, que implantaram políticas de cunho mais moderado de modo a corrigir os prejuízos objetivando a retomada do progresso. Ainda assim, não pode-se deixar de afirmar que o sistema continuava altamente centralizado.

2.5A morte de Mao Tse Tung e o início das reformas modernizantes com a agricultura como suporte

(46)

46

cargos lhe conferiu a possibilidade de manutenção desse poder adquirido, e também lhe proporcionou as condições necessárias para a implementação das reformas econômicas. No mesmo ano, iniciou-se o Programa das Quatro Modernizações (agricultura, indústria, defesa nacional e ciência técnica), parte de um plano trienal para o período de 1978 a 1980.

A implementação do programa iniciou-se pela agricultura, com a dissolução das comunas agrícolas deu-se início ao processo de liberalização da economia rural. Segundo Serra (1997):

Foi assim que foram dissolvidas as comunas agrícolas e se iniciou um amplo processo de entrega de terras aos camponeses com consequente processo de liberalização da economia rural. Reflectindo esta nova política, em Março de 1979 é decidido um aumento de 20% dos preços dos produtos agrícolas. Por outro lado, a produção em comunas foi progressivamente substituída pelo estabelecimento de contratos com os produtores rurais em que estes ficaram obrigados a vender ao Estado determinada quantidade da sua produção --- agora paga a preços mais elevados do que anteriormente embora ainda fixados administrativamente ---, ficando com liberdade de venda do excedente. (SERRA, A. M. de Almeida. China: as reformas económicas da era pós-Mao, 1997. Disponível em: < http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/chinarevmac.pdf> Acesso em: 23/09/2012)

(47)

47

Gráfico 10 – População rural e urbana chinesa – série histórica 1961/78

Fonte: Elaborado a partir de dados da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations)

Esse processo de liberalização da economia rural chinesa resultou em uma elevação da taxa de crescimento agrícola de cerca de 7,6% na década de 80, acima da taxa de 2,7% do período 1953-78, segundo Serra (1997).

O processo de reforma extendeu-se logo aos demais setores da economia chinesa. Serra (1997) destaca o processo de alteração das orientações em relação às relações econômicas externas como o principal ponto de mudança no sistema chinês. O processo de abertura iniciou-se pela região sul, revelando, assim, o temor das autoridades chinesas de que o processo saísse ao controle.

Outro domínio, talvez o principal, de todo o processo de reformas foi a alteração das orientações que até aí tinham comandado as relações económicas externas. Privilegiava-se agora a abertura da economia chinesa ao exterior através, nomeadamente, da liberalização do acesso de empresas estrangeiras ao mercado nacional como forma de, simultaneamente, modernizar o aparelho produtivo. É neste quadro que se liberaliza também o investimento directo estrangeiro e se reforma o regime de comércio internacional, se regulamenta a associação entre empresas chinesas e empresas estrangeiras (joint ventures), se criam as Zonas Económicas Especiais (ZEE) (Maio de 563180 566862 572491 580891 592551607545 625335 645025

665382 685398 704734723284 740562 756093

769561 780668 789462 796428

118169 123594 127795131211 134202

137026 139798142556

145279 147994150857 154045

157631 161654166165 171221

176904 183306 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 1000000 1100000

Referências

Documentos relacionados

Por isso, o trabalho é uma categoria fundante do ser social, que viabiliza as transformações nas relações materiais de produção e reprodução humana, tendo no

Era de conhecimento de todos e as observações etnográficas dos viajantes, nas mais diversas regiões brasileiras, demonstraram largamente os cuidados e o apreço

264-279 Maio/Ago.2018 Kyriacou e Chien (2004), ao investigarem professores de Taiwan, verificaram que estes avaliaram a profissão como muito ou extremamente

DANTO, Arthur C.. Dentro do vasto campo da Arte Contemporânea, esta pesquisa tem foco nas Artes Públicas, mais especificamente nas Intervenções Artísticas em Meio Urbano. Dentre

Efeito do DHA sobre o dano celular isquêmico: Apoptose neuronal, infiltração microglial e astrócitos reativos nas regiões corticais e subcorticais em ratos submetidos

Outro ponto importante referente à inserção dos jovens no mercado de trabalho é a possibilidade de conciliar estudo e trabalho. Os dados demonstram as

De acordo com esta conceptualização teórica, a satisfação é vista em função dos valores mas também da relação que estes estabelecem com a saliência dos papeis, podendo

Valores médios, desvio padrão (DP) e número de dados considerado (N), para parâmetros físico-químicos analisados em reservatórios portugueses (Monte Novo, Roxo e Vigia) e brasileiros