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Para Aristóteles, um silogismo (συλλογισμός) é um argumento em que, certas coisas tendo sido estabelecidas, algo diferente dessas coisas estabelecidas

necessariamente resulta em decorrência delas (Anal. Ant., 24b 13-15). Para C. D. C. Reeve, as coisas estabelecidas são as premissas do argumento, ao passo que o resultado necessário constitui sua conclusão. Tais argumentos consistem em uma premissa maior, uma premissa menor e uma conclusão, em que as premissas têm exatamente um único

termo médio em comum e a conclusão contém apenas os outros dois termos extremos,

quais sejam, o termo menor e o termo maior. O termo predicado da conclusão é o termo maior, oriundo da premissa maior; seu sujeito é o termo menor, oriundo da premissa menor. O termo médio deve ser sujeito de ambas as premissas, predicado de ambas as premissas ou sujeito de uma e predicado da outra (REEVE, 2014: 91-92).

Semelhantemente à definição exarada nos Analíticos Anteriores, o Estagirita define o silogismo nos Tópicos como o discurso em que, estabelecidas certas coisas, outras coisas diferentes se seguem necessariamente das primeiras. O silogismo é uma ἀπόδειξις, ou seja, uma demonstração científica, quando suas premissas são verdadeiras, primeiras, imediatas, mais cognoscíveis que a conclusão, anteriores a esta e que sejam causas dela. Assim, o silogismo científico tem lugar quando as premissas são verdadeiras, isto é, quando elas exprimem o que efetivamente são as coisas, não sendo possível existir ciência de um estado de coisas que não existe. Quando são primeiras e imediatas, ou seja, quando são indemonstráveis, pois se as premissas devessem ser sempre demonstradas ad

infinitum seria impossível a ciência. As premissas devem ser a causa da conclusão, porque

ter ciência de algo significa conhecer pelas causas. Devem ser anteriores para poder ser a causa da conclusão, e ainda devem ser mais conhecidas que esta. Escreve Aristóteles a este respeito (Seg. Anal., 71b 19-24):

Assim, se o conhecer cientificamente é como propusemos, é necessário que o conhecimento demonstrativo provenha de itens verdadeiros, primeiros, imediatos, mais cognoscíveis que a conclusão, anteriores a ela e que sejam causas dela. Pois é deste modo que os princípios serão de fato apropriados ao que se prova. É possível haver silogismo mesmo sem tais itens, mas não é possível haver demonstração. Pois tal silogismo não poderia propiciar conhecimento científico.

No que tange ao silogismo dialético(διαλεκτικὸς συλλογισμός), que é semelhante ao retórico, as suas premissas não são verdadeiras e primeiras, mas são endoxais, ou seja, apoiam-se nasἔνδοξα, que grosso modo são as opiniões geralmente aceitas. Todavia, são verdadeiras e primeiras aquelas coisas nas quais se acredita em virtude de nenhuma outra coisa que não seja elas próprias, pois acerca dos primeiros princípios da ciência, é

descabido buscar mais além o porquê e as razões dos mesmos. Aliás, cada um dos primeiros princípios deve impor a convicção da sua verdade em si mesmo e por si mesmo (Tóp., 100a 28-100b 20). Ἔνδοξα, por sua vez (Ibid., 100b 22-24), são aquelas opiniões que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos, e dentre estes os mais notáveis e eminentes (Ἔνδοξα δὲ τὰ δοκοῦντα πᾶσιν ἢ τοῖς πλείστοις ἢ τοῖς σοφοῖς, καὶ τούτοις ἢ πᾶσιν ἢ τοῖς πλείστοις ἢ τοῖς μάλιστα γνωρίμοις καὶ ἐνδόξοις).

Depois das breves considerações sobre o silogismo científico e o silogismo dialético, convém analisarmos mais detidamente o silogismo retórico. Este, conforme já esboçado, foi desenvolvido por Aristóteles na Retórica, e é denominado de entimema (ἐνθύμημα), cujas premissas são derivadas das proposições que veiculam probabilidades e sinais (τὰ δ᾽ ἐνθυμήματα ἐξ εἰκότων καὶ ἐκ σημείων). A probabilidade (εἰκός) é definida por Aristóteles como aquilo que geralmente acontece, mas não absolutamente, antes versa sobre coisas que podem ser de uma maneira ou de outra, e relaciona-se no que concerne ao provável como o universal se relaciona com o particular (Ret., 1357a 45-48). Todavia, segundo o dicionário de Henry George Liddel e Robert Scott (A Greek-English Lexicon), a palavra grega “εἰκός” pode ser traduzida tanto pelo adjetivo “verossímil” (likelihood), como por “provável” (probable), e muitos tradutores assim procederam, empregando distintamente ora uma, ora outra, sem se aperceberem que ambas as palavras podem ser utilizadas no mesmo contexto, rementendo-se ao termo original grego “εἰκός”, mas com

significados diferentes: a primeira (verossímil) designaria uma concepção lógica enquanto que a segunda (provável) uma concepção ontológica.

Em sua análise do fundamento do discurso verossímil na retórica de Aristóteles, A. M. Yamin argumenta que a oscilação da tradução da palavra εἰκός, que ora é traduzida por verossímil, ora por provável, explica-se pela oscilação entre o plano do discurso e o plano dos fatos. Assim como é possível falar de discurso e fato verdadeiros, também é possível falar de discurso e fato εἰκός. E uma vez que não haveria dois termos diferentes para discurso e fato verdadeiros, emprega-se o mesmo termo para discurso verossímil e fato provável. Para Yamin, o εἰκός é tanto o discurso que enuncia o estado de coisas, como o próprio estado de coisas:por um lado é uma “proposição geralmente admitida”, ou seja, um discurso, um juízo, e por outro é “aquilo que sabemos que acontece a maior parte das vezes”, que corresponderia aos fatos. Um discurso é verossímil porque está de acordo com o que realmente acontece a maior parte das vezes em um determinado domínio. O discurso εἰκός não é, de forma alguma, independente do estado de coisas, pois

se é possível um discurso εἰκός, verossímil, é em virtude da possibilidade de um fato, isto é, aquele que acontece a maior parte das vezes, que neste caso recebe a designação de provável.Além disso, o εἰκός é definido como uma proposição geralmente admitida, o que significa que não é qualquer coisa regular que dá lugar ao εἰκός, já que ele faz parte do universo cultural, ou de crenças geralmente admitidas num determinado contexto social. Desse modo,palavras verossímeis serão aquelas que correspondam à regularidade própria do universo político ao qual pertence aquele auditório particular.No entanto, na medida em que o εἰκός não se limita ao plano do discurso, mas relaciona-se com as coisas que de fato acontecem, nada impede que as coisas que ocorrem no domínio da natureza sejam consideradas εἰκός, posto que também ocorrem com regularidade. À vista disso, o εἰκός, enquanto discurso, é o enunciado endóxico que veicula um evento que acontece a maior parte das vezes, assim como também é o próprio evento, de modo que, se esse enunciado é verossímil é porque ele enuncia a opinião dos homens ao testemunhar um evento provável, que pode ser tanto social quanto natural (YAMIN, 2016: 149-153).

Com o fim de lograr maior esclarecimento sobre o significado da palavra εἰκός no pensamento retórico de Aristóteles, cabe ainda salientar a visão de Roland Barthes sobre a matéria. Para este, o εἰκός designaria uma ideia geral que repousa no conceito que os homens criaram através de experiências e induções imperfeitas. No verossímil aristotélico existiriam, então, dois núcleos. O primeiro núcleo expressaria a ideia de geral, enquanto se opõe à ideia de universal. O universal seria necessário e constituiria um atributo da ciência. O geral, por sua vez, significaria o não-necessário; seria um geral humano determinado estatisticamente pela opinião do maior número. O segundo núcleo expressaria a possibilidade de contrariedade. Efetivamente, o entimema é recebido pelo público como um silogismo certo, pois parece partir de uma opinião, em que ele pode acreditar como absolutamente certo. Mas, no que tange à ciência, o verossímil admitiria o contrário, porque nos limites da experiência humana e da vida moral, que se relacionam diretamente com o εἰκός, o oposto sempre seria possível (COHEN, 1975: 192-193):

Mas, relativamente à ciência, o verossímil admite o contrário: nos limites da experiência humana e da vida moral, que são as do eikos, o oposto nunca é impossível: não se pode prever, de maneira certa (científica), as resoluções de um ser livre: “quem goza de boa saúde verá o dia de amanhã”, “um pai ama seus filhos”, “um roubo cometido na casa, sem arrombamento, terá sido obra certamente de um familiar”, etc., está certo, mas o contrário é sempre possível. O analista, o retórico, sente bastante a força dessas opiniões, mas honestamente as mantém à distância, introduzindo-as por um esto (seja) que lhe tira a responsabilidade aos olhos da ciência, em que o contrário jamais é possível.

À vista disso, pode-se determinar que o εἰκός sumariamente significa que tendo em vista a impossibilidade de se obter uma verdade universal e necessária é preciso contentar- se com o verossímil, isto é, com aquilo que parece provável, por ser compartilhado pela maioria das pessoas. Desse modo, quando não se pode ter acesso à verdade científica, convém ficar satisfeito com aquelas opiniões que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos, e dentre estes os mais notáveis e eminentes (que Platão ordenava descartar em benefício da ciência). Pois, quando não se pode fazer uma demonstração pelos silogismos científicos que partem de premissas admitidas ou demonstradas a conclusões necessárias, deve-se ficar satisfeito com os silogismos retóricos que partem de premissas verossímeis para conclusões também verossímeis.

No silogismo retórico, além das proposições que veiculam probabilidades, existem aquelas que veiculam sinais (σημεία). O sinal, com efeito, é um indício de que algo aconteceu ou existe e supõe a relação entre dois fatos. Se a relação entre os fatos for estimada necessária, o sinal recebe o nome de tecmérion (τεκμήριον), do contrário a conclusão se reduz a uma simples possibilidade. Dentre os sinais, Aristóteles distingue a premissa que é verdadeira e necessária – o τεκμήριον – da premissa que apesar de ser verdadeira não é necessária (Ret., 1357a 37). No tocante a esta última Aristóteles afirma não existir nome peculiar que traduza sua diferença em relação ao τεκμήριον, mas pode- se afirmar que ela expressa um indício mais ambíguo, mais incerto que o τεκμήριον. Por exemplo, a marca de sangue na roupa de algum suspeito supõe um homicídio, mas não com absoluta certeza, pois o sangue pode proceder de um sangramento no nariz ou de um sacrifício (COHEN, 1975: 193). Os sinais não necessários são aqueles que, não sendo por si só suficientes a tirar toda a dúvida, mas juntos com outros indícios possuem muita força probatória. Desse modo, o sangue parece ser um forte sinal de homicídio, mas porque o tal sangue pôde ter caído nas roupas do suspeito, ou da vítima, ou do nariz, ou coisa que o valha, não se segue necessariamente que, quem tem as roupas ensanguentadas cometeu um assassinato.

Para Aristóteles, o τεκμήριον se evidencia quando se julga impossível refutar o que foi enunciado. É um indício que se caracteriza por um tipo de necessidade, em contraste com um indício possível, o qual pode ser de uma maneira ou de outra. O τεκμήριον é o indício certo, o sinal necessário e indestrutível, aquele que é e não pode ser de outra forma.

O τεκμήριον, então, implica que o nexo que liga dois fatos é de natureza necessária38. Aristóteles lança mão de dois exemplos para elucidar o significado de τεκμήριον como sinal necessário: “é sinal de uma pessoa estar doente o ter febre”; ou “de uma mulher ter dado à luz o ter leite”. Tais proposições aproximam-se muito daquelas que inauguram o silogismo científico, embora se fundamentem numa universalidade de experiência. Isto posto, o τεκμήριον é um indício que possui efetivamente o caráter de necessidade, e por essa razão é irrefutável (Ret., 1357 b 3-9; 16-21):

Destes sinais, os necessários são argumentos irrefutáveis, os não necessários não têm nome peculiar que traduza a diferença. Chamo, portanto, necessários àqueles sinais a partir dos quais se pode formar um silogismo. E, por isso, é argumento irrefutável o que entre os sinais é necessário, pois quando se pensa que não é possível refutar uma tese, então pensa-se que se aduz um argumento concludente ou irrefutável [tekmérion], como se o assunto já estivesse demonstrado e concluído; [...] O outro, o sinal necessário, é como alguém dizer que é sinal de uma pessoa estar doente o ter febre, ou de uma mulher ter dado à luz o ter leite. E, dos sinais, este é o único que é um tekmérion, um argumento concludente, pois é o único que, se for verdadeiro, é irrefutável.

E, a fim de ilustrar uma proposição possível em contraste com uma proposição necessária Aristóteles se utiliza de outro exemplo: “um sinal de que os sábios são justos é que Sócrates era sábio e justo”. Este é um sinal, mas refutável, pois embora seja verdade o que se diz, não é possível demonstrar de maneira inexorável que os sábios sejam justos. Aristóteles ainda fornece o seguinte exemplo: “é sinal de febre ter a respiração rápida”. Para ele, mesmo que esta proposição seja verdadeira é passível de refutação, porque a despeito da febre pode a respiração ser ofegante (Ibid., 1357b 14-18).

Outrossim, diferente da espécie de silogismo ligada à demonstração científica, o entimema é um silogismo incompleto, truncado, já que não possui tantas partes, nem estas são tão distintas como no silogismo científico. De acordo com Aristóteles, para concluir que Dorieu recebeu uma coroa como prêmio da sua vitória, basta dizer que foi vencedor em Olímpia, sem que haja necessidade de acrescentar à Olímpia a menção da coroa, porque os ouvintes já saberiam. Portanto, se alguma das premissas retóricas for bem

38 De acordo com Marco Fábio Quintiliano, o τεκμήριον se distingue em três tempos: passado, presente e

futuro. “Uma mulher, que pariu, necessariamente teve trato com homem”. Este sinal seria do tempo passado. “É necessário haver ondas, quando ventos fortes caem sobre o mar”. Este sinal seria do tempo presente. Enfim “há de morrer infalivelmente aquele, cujo coração está ferido”. Este sinal pertenceria ao futuro (Inst. orat., I. VII. § II).

conhecida pelo público, nem sequer é necessário enunciá-la, porque o próprio ouvinte a supre. Escreve Aristóteles a este respeito (Ibid., 1357a 18-28):

De sorte que é necessário que o entimema e o exemplo se ocupem de coisas que podem ser para a maior parte também de outro modo: o exemplo como indução e o entimema como silogismo e em geral menos do que as do silogismo primário. Porque, se alguma dessas premissas for bem conhecida, nem sequer é necessário enunciá-la; pois o próprio ouvinte a supre. Como, por exemplo, para concluir que Dorieu recebeu uma coroa como prêmio da sua vitória, basta dizer: pois foi vencedor em Olímpia, sem que haja necessidade de acrescentar à Olímpia a menção da coroa, porque toda a gente o sabe.

Com efeito, além da função de veicular probabilidades e sinais o entimema possui outra importante característica: a premissa maior, a premissa menor, ou até ambas as premissas, podem estar subentendidas na argumentação retórica, sem nenhum prejuízo para a persuasão (MEYER, 2007: 72). A admissão prévia de alguma premissa pode ser classificada em três ordens distintas, segundo a premissa suprimida: o entimema de primeira, de segunda e de terceira ordens. O entimema de primeira ordem ocorre quando a premissa maior do silogismo não é enunciada. O entimema de segunda ordem ocorre quando a premissa suprimida é a premissa menor. E, no entimema de terceira ordem, tanto a premissa maior quanto a premissa menor são suprimidas (SOARES, 2003: 103). Tendo como exemplo, o entimema de primeira ordem pode ser elucidado através do seguinte argumento: “a justiça é uma virtude, por isso é boa”. A premissa maior “toda a virtude é boa” foi suprimida deste argumento cuja disposição formal, conforme o esquema da primeira figura do silogismo sob o modo BARBARA39 seria a seguinte: “toda a virtude é boa; toda a justiça é virtude; logo, toda justiça é boa”. A propósito, este tipo de silogismo é o que Aristóteles considera o protótipo dos silogismos válidos, também chamado de “silogismo perfeito”(Anal. Ant., 26b 37).

39 A figura de um silogismo é definida em função da posição do termo médio nas duas premissas (maior e

menor). E, como o termo médio não pode entrar na conclusão, sua posição se restringe somente às premissas, nas quais pode ocupar o lugar de sujeito ou predicado. Desse modo, existem três figuras válidas do silogismo segundo a exposição de Aristóteles nos capítulos 4 a 6 do primeiro livro dos Analíticos

Anteriores. No tocante à primeira figura do silogismo o termo médio ocupa a posição de sujeito na premissa

maior e predicado na premissa menor, cujos modos válidos, dependendo da quantidade e da qualidade das proposições, podem ser de quatro maneiras: BARBARA, CELARENT, DARII e FERIO. A segunda figura do silogismo consiste em possuir o termo médio como predicado em ambas as premissas cujos modos são CESARE, CAMESTRES, FESTINO e BAROCO. Finalmente, a terceira figura do silogismo consiste em possuir o termo médio como sujeito em ambas as premissas cujos modos são, DARAPTI, DISAMIS, DATISI, FELAPTON, FESAPO e FERISON.

É manifesto que o entimema é um silogismo, mas um silogismo imperfeito, posto que pode suprimir uma das duas premissas ou até ambas. Todavia, se o entimema é um silogismo imperfeito, isso só pode ocorrer no âmbito da lógica formal, pois no âmbito da comunicação com as multidões cujo escopo é a persuasão, ele permanece irretocável. Portanto, no âmbito do discurso retórico, os raciocínios completos e formalmente elaborados, que veiculassem aos ouvintes todas as premissas de um argumento, além de serem enfadonhos, correriam o risco de cair no ridículo, haja vista que algumas delas seriam óbvias. Aliás, utilizam-se as premissas ausentes que são óbvias no cotidiano pela linguagem natural e não somente no discurso retórico e, reiterá-las poderiam cansar inutilmente os interlocutores.

Com o escopo de se obter melhor esclarecimento sobre a estrutura lógica do entimema, seria proveitoso o exame minucioso da maneira pela qual algumas premissas são subentendidas no âmbito de um discurso retórico. Forbes I. Hill analisa uma série de entimemas tal como poderiam surgir num discurso retórico em comparação com silogismos cujas premissas não são subentendidas. Ele assim procede a fim de mostrar que as regras formais da lógica no interior da argumentação entimemática corresponde às regras formais da silogística em geral exposta por Aristóteles nos Analíticos Anteriores. Segue o exemplo de entimemas alvitrado por Hill: “Por que deveríamos marchar até Queroneso e combater contra Filipe? A própria conservação; esta é a razão. Porque se não fazermos ele vencerá nossos aliados um atrás do outro até que restemos somente nós para lutar”. Segundo Hill, ao se colocar todas as premissas que estão subentendidas nestes entimemas, sob a forma dos silogismos válidos, expressa por Aristóteles nos Analíticos

Anteriores, então, os entimemas se desdobrariam nos seguintes termos: “Todos os meios

de autoconservação constituem o maior dos bens para Estado. Possuir aliados é um dos meios de autoconservação. Logo, possuir aliados é um dos maiores bens para o Estado. Possuir aliados constitui um dos maiores bens para o Estado. Filipe é um homem que destruirá nossos aliados. Portanto, Filipe é um homem que destruirá um dos maiores bens para o Estado. Todos os homens que querem destruir um dos maiores bens para o Estado são homens que devemos combater. Filipe é um homem que quer destruir um dos maiores bens para o Estado. Sendo assim, Filipe é um homem que devemos combater” (MURPHY, 1989: 45-47).

A disposição dos argumentos na forma geral do silogismo permitiu-nos examinar a validez estrutural que se encontra nas “entrelinhas” da exortação ao combate exposto

no primeiro caso pelos entimemas, porém, sua exposição completa, como já frisado, não seria exequível num discurso efetivo. Além disso, com base nas regras formais estabelecidas por Aristóteles nos Analíticos Anteriores, as quais foram verificadas sumariamente no desdobramento dos entimemas, foi possível assegurar que os argumentos entimemáticos são logicamente válidos.