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Parte I AS THERMAS E A VIDA BALNEÁRIA

1.3 Entre a cura e o prazer

As cidades de águas tinham em seus médicos os escudeiros fiéis de suas águas milagrosas. Embora relegadas ao desconhecimento até as primeiras décadas do século XX, essas cidades, outrora fontes, proporcionavam aos seus visitantes, ilustres ou não, doentes ou sãos, privilégios de desfrutar de emoções antes descritas apenas em guias turísticos, livros médicos e literaturas internacionais que revelavam intimidades ou confidências daqueles que iam às cidades onde aconteciam as estações das águas. No guia turístico de “Vichy” de 1927 os aspectos convidativos da cidade se concentram na

166 BILAC, Olavo. Ironia e Piedade. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1916. p. 245 167 NETTO, Op. cit

168 COMMELIN, P. Nova Mythologia Grega e Romana. Tradução brasileira de Thomaz Lopes. 6 edição. Rio de Janeiro:

descrição detalhada das principais fontes e suas curas, dos principais estabelecimentos termais e é claro, das distrações, dos esportes e das excursões. Essas atividades constituíam uma rede de práticas que propagava um modelo específico de condutas conquistadas através da cura hidromineral. Cassino e balneário disputavam ao mesmo tempo a atenção dos curistas. Afinal, o benefício dos banhos girava sempre em torno de dois pólos: a sua função hedonista e o seu valor terapêutico. Por isso nos guias turísticos e teses médicas da década de vinte pesquisados, a construção de um itinerário emotivo era prática recorrente.

Dentre as principais secções recreativas, apontaremos a do Casino, com sua sala de conversação, de concertos, de bailes, de leitura, de jogos variados, de café; e, como complemento desta secção, e a ella ligado – um theatro que satisfaça por inteiro as exigências de uma sociedade em villegiatura: a de uma orchestra, que, além dos concertos e das noites theatraes, - toque uma ou duas vezes por dia no parque, ou nas galerias para isso organisadas.169

O grande cassino oferecia aos seus visitantes uma série de distrações de extrema variedade. Óperas, óperas-cômicas, operetas, comédias e music-halls, além de grandes manifestações organizadas por uma comissão específica de festas.170 Essa descrição das novas emoções e a possibilidade de vivenciá-las num lugar onde a apreciação da paisagem natural não era apenas estética, mas remédio para a alma e para o corpo, acabou por transformar essas cidades de águas medicinais em modelos de desejo desde o final do século XIX. Em 1875, Ramalho Ortigão ao descrever Caldas da Rainha em Portugal, já alertava o leitor desavisado sobre a vida que seria encontrada nessas estações.

A mudança de alimentos, o exercício, a distração, são agentes poderosos para auxiliar em muitos casos o tratamento hydrotherapico. Por essa razão em todos os estabelecimentos de banhos se tem em vista distrahir alegremente o doente. Para este fim a primeira coisa que se organisa é um Club para os banhistas.

169

REZENDE, Pádua. As águas mineraes do Brasil. Rio de Janeiro: Litho Typographia Fluminense, 1922. p. 11

170 “Vichy offre à ses visiteurs toute une série de distractions d’une extreme varieté: au Grand Casino (ópera, opératants); au

Casino de Fleurs (opérette, comédie et music-hall); à l’Élysée- Palace, au Jardin de Vichy et au Petit Casino (music-hall et attractions diverses), sans oublier les grandes manifestations organisées par son Comite des Fêtes: batailles de fleurs, fêtes vénitiennes sur le lac de l’Allier, fêtes enfantines, fêtes régionalistes, etc.” In: VICHY offert par le syndicat d’initiative, 1927.

Na sociedade das terras de águas estrangeiras, em Baden, em Wiesbaden, em Spa, em Ems, em Hombourg, o clube representa um papel importante e dá a feição mais saliente da vida local durante a estação balneária.

Cumpre advertir porém aos banhistas que as pessoas que geralmente freqüentam durante o período das águas os Casinos da Bélgica e da Alemanha não propriamente os doentes. São as pessoas ricas e ociosas que procuram Baden ou Spa, como outras escolhem Mônaco ou o Cairo, como simples lugares de prazer e de jogo, com prasos anuais dados à moda, ao chic, ao amor fácil, à toillette ligeira.

Nessa população ruidosa e garrida figuram principalmente os jogadores de profissão, as cocottes e os crevés, que não vão diretamente às águas, mas sim à roleta. O que para eles se trata de fazer saltar não são os reumatismos, são as bancas. Ora, leitor querido e leitora amável, é preciso que distingamos: Se o vosso caso é um fim de therapêutica, ou uma preoccupação de dandysmo. Se o que tendes principalmente em vista é ostentar as vossas toilletes de verão: tu, leitora, as tuas de luvas de dezesseis botões, os teus sapatos de pellica cor de palha, as tuas meias de seda listadas de azul e de cor de rosa e os teus vestidos de foulard de fundos frescos e pallidos semeados de pequeninas flores silvestres, e tu, leitor, os teus cknickerbokar de veludo, os teus cavallos, os teus cães, as tuas preciosas malas de couro de Varsóvia e os teus estojos de toillete de crystal e oiro; se o que quereis é valsar nos braços um do outro sob o gaz, apostar, jogar a roleta ou o rouge et noir, e beber champagne frappé desde pela manhã, como se faz em Newport, onde os homens mudam quatro vezes por dia de toillete e onde as mulheres gastam por dia vinte libras só em luvas, - neste caso não é para vós este livro, nem livro algum”.171

No Brasil, Olavo Bilac, Coelho Netto, Carlos da Maia e João do Rio abrem caminho para a leitura romantizada de Poços de Caldas e também para a linguagem propagandista a respeito da importância fisiológica das águas sulfurosas; descritas anteriormente apenas por médicos e sua

171 ORTIGÃO, Ramalho. Banhos de Caldas e Águas Mineraes..Porto: Livraria Universal de Magalhães & Moniz Editores,

linguagem técnica nas diversas teses que proliferam nos anos vinte sobre a cura a partir das águas termais.

Essa maneira específica de narrar cidades de águas minerais corresponde ao que Walter Benjamin havia feito com o seu flâneur172, ao descrever Paris no século XIX e todas as percepções visuais da cidade moderna. Coelho Netto, Olavo Bilac, Carlos da Maia e João do Rio, apesar da distância temporal, trabalharam muito próximos em suas obras, pois foram observadores in loco do cotidiano milagroso e ocioso das águas de Poços de Caldas.

É comum encontrarmos opiniões parecidas a essa maneira de narrar as estações de cura. Em sua maioria, seus autores retratam “todas as expressivas insignificâncias que constituem a vida artificial de uma cidade de águas”173ou no melhor dos casos, a compreendem como cenário de “uma espécie de

festa prolongada para os que nela iam passear e ali viviam num mundo diferente.” 174

Esse tipo de imagem enraizada na memória e história oficial das cidades hidrominerais brasileiras é por si só, um tanto reducionista de uma única maneira de se compreender a vida urbana desses locais. Porque antes de serem superficiais, elas nos retratam um conjunto maior de significações históricas num momento específico da sociedade brasileira cujos sentimentos de medo e perigo dentro do processo civilizador corroboraram para a criação desses locais de cura e para a institucionalização de hábitos repletos de significados encontrados somente nesses redutos, onde a cura e o prazer andavam de mãos dadas. Afinal, o que é a cura senão o prazer de sentir-se curado?

Oito anos antes de Carlos da Maia fazer a sua estação que resultou no livro de crônicas “Nas Caldas”, João do Rio, em 1917 publicava nas páginas do jornal n’O País a obra intitulada “A Correspondência de uma estação de Cura”, romance epistolar no qual o autor, através de seus treze missivistas, retratava alguns tipos específicos de modelação do indivíduo a uma sociedade onde a água tornara-se processo civilizador. Nesse romance de narrativa plural e descontínua não é a descrição física da cidade e nem a descrição social dos banhistas que assegura a eficiência desse romance histórico, como observou Antonio Candido. Na verdade, as diversas cartas remetidas por diversos banhistas a amigos, parentes e pessoas de negócios nas cidades do Rio de Janeiro, Petrópolis e São Paulo conferem ao romance, uma espécie de testemunha fidedigna da informação, num lugar onde o

172 Cf: BOLLE, Willi. A metrópole: palco do flâneur. In: Fisiognomia da Metrópole Moderna. Representação da história

em Walter Benjamin. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.

173 RIO, p. VII 174

toque de mistério das águas termais possibilitava o encontro de relações novas e situações inesperadas, apesar dos dias na estação serem totalmente moldados e controlados pelas prescrições médicas de então. O local, um ambiente totalmente ajustado por uma mudança de sentimentos do homem com o seu meio natural e por uma teoria médica que se iniciara em meados do século XVIII na Europa, era o resultado de sonhos e emoções corporificados na construção de importantes cidades hidrominerais, onde Poços de Caldas, das estâncias brasileiras tornou-se a mais famosa no século passado.

De Teodomiro Pacheco ao Senhor Godofredo de Alencar, homem de letras Jockey-Club – Rio

A minha neurastenia! Perguntas se melhorei da minha neurastenia? Decididamente não conheces uma estação de cura no Brasil. É o caos de uma grande cidade abrindo em vício num local ingênuo. Cá encontrei toda a gente das festas e toda a gente menos boa do Rio e de São Paulo. Duas horas depois de chegar comecei a ouvir rumor das fichas, compassado pelos sons roucos dos ancinhos nos panos verdes. Era no hotel. Disseram-me que, se saísse depois do banho, apanharia uma gripe. Saí. E o som das fichas continuou a seguir-me. Às vezes vem de cima e parece um regato saltando nas pedras de uma cascata; quase sempre é rés-do-chão e temos de costeá-lo como se ao lado das ruas fosse molemente de encontro às paredes a vaga de um oceano. O terrível Aristófanes, fazendo falar os pássaros como ao pobre Eurípides, inventava palavras onomatopaicas!. Eu ouço agora a linguaguem das fichas. Mais do que em Nice. Mais do que em Monte Carlo, onde só se ouve as fichas quando se quer. Para exprimir esse ruído seria preciso inventar, como Aristófanes, uma série de onomatopéias sem sentido. É uma eterna e irônica música, uma cavatina indiferente e cínica. Dá-me a impressão de Satanás remexendo em pastilhas os ossos dos pecados e atraindo, como um alquimista, todos os doentes, todos os ambiciosos, todos os levianos que acreditam na transmutação dessas pastilhas em moedas de ouro. Puro delírio!175

175

Na coluna social da revista carioca “Selecta” de 1917, sob o título de “Cidades de Verão”, é possível encontrarmos fragmentos imagéticos de “Poços de Caldas a “famosa estação de águas de Minas”176

.

176

Revista Selecta Anno III, n° 18, Rio, 5 de maio de 1917.

Figura 9: Cidades de Verão. Poços de Caldas. A famosa estação de águas de Minas.

In: Revista Selecta Anno III, n° 18, Rio, 5 de maio de 1917

Lê-se: Poços de Caldas, a famosa estação de águas de Minas, embora ao fim da estação ainda regorgita de veranistas. As nossas photografias representam: 1) Senhoritas Nenê Rodrigues e Lucia Souza Queiroz, 2) Um grupo alegre de veranistas, 3) Senhorita Maria de Lourdes Pires Fonseca. Ao centro um grupo de veranistas. 4) Sra Attilano Chrysostomo e senhorita Carmo Oliveira, 5)Grupo de veranistas cariocas, 6) Roberto, filho do Dr° Oscar Thompson, diretor da Escola Normal de São Paulo, 7) Grupo de veranistas, entre os quais o Dr° Joaquim Lisboa.

Embora já no fim da estação, notamos o aspecto festivo e feliz das pessoas que ali estiveram no intuito de aproveitar a elegantíssima e concorrida temporada daquele ano de 1917. Os dias nas Caldas foram intensos e de todos os prazeres da viagem, talvez o melhor deles, fosse o momento de voltar para casa. O registro fotográfico fazia do viajante “uma personagem integrante do quadro, uma parte dele”177

, verdadeiro espectador estabelecido diante de suas recordações. Melhor ainda quando a recordação fosse compartilhada entre outros de seu meio social, comprovando a sua seletividade ao participar da vida modelada da cidade do momento.

Essas recordações, além do mais sonoras, refletiam o burburinho frenético de uma grande cidade, assim como nos apresenta Teodomiro Pacheco, personagem do escritor João do Rio.

Escrevendo do mesmo lugar e da mesma estação, a cidade para Teodomiro era uma cidade ritmada, caótica e viciante, embora amoldada num local ingênuo. Talvez para ele a natureza do campo tivesse mais revelações, intimidades e confidências do que aquela vida agitada que ele participava. E as águas, quem sabe, pudessem o ajudar na cura de sua neurastenia. Sua resolução tinha sido extrema. “O Rio enerva-me. São Paulo faz-me perder a calma. Para onde ir?”178 Partiu para as Caldas e qual a sua surpresa, ao encontrar numa cidade do interior as mesmas pessoas, as mesmas festas e o mesmo barulho? Não havia novidades e o que restava era matar o tempo numa daquelas dezenas de casas, onde a roleta, “santa roleta”179

era a oração principal.

Os jogos nasceram com a cidade e a cidade cresceu pelos jogos. As fontes, antes guardadas por ninfas, eram agora delírios do pecado. Os clubs pagavam elevadas somas anualmente a prefeitura para explorarem francamente o jogo. Na estação de março de 1925, três mil veranistas estavam em Poços.180 Duas possantes locomotivas todas as tardes traziam “centenas e centenas de veranistas”181

que lotavam os hotéis e intensificavam essa ruidosa vida do lugar. Como espécie de chamariz para comprovar a fama da estação das águas, jornais locais publicavam em suas colunas nomes ilustres dos últimos que chegavam. Santos Dumont honrava a estância naquela estação.182 A necessidade da presença de membros da elite intelectual e política do país era uma estratégia já bem antiga de atrair os “distingués”

177 ORTIGÃO, op. cit, p. 273 178 RIO, op. cit, p. 24 179

Refiro-me a sua crônica “Santa Roleta. Confissões de “Ponto” escrita em Poços de Caldas no ano de 1906, quando fez a sua primeira estação. A crônica foi publicada na Gazeta de Notícias em 31/10/1906 e posteriormente no livro João do Rio

– um escritor entre duas cidades. IMS, 1992.

180 Jornal Vida Social. 15 de março de 1925. n° 382, Ano IX 181 Idem

182

para a cidade das águas. Nesses casos, saraus com bailes de máscaras assinalavam inegavelmente a nota mais culminante da presente temporada. Essas festas distintas e seletas eram posteriormente relatadas nos jornais locais que chamavam a atenção para “as riquíssimas toilletes femininas”183

, aparato da distinção de “exmas famílias e cavalheiros do mais alto nível social que a ela compareceram.”184

“Os Rimac´s, bailarinos típicos americanos, Elza Tavares, cançonetista brasileira, Lili Delfi, bailarina clássica e Carlito, o gigante nas suas transformações”185

, faziam parte de um vantajoso cardápio de opções que empolgavam “a alma da multidão”186, quando “Poços nestes dias de estação, sorri coletivamente e se diverte e vive”187

.

A cidade era das águas, a cura, o fim terapêutico, mas nos anos vinte, Poços de Caldas tornara- se a cidade da vilegiatura188 brasileira. Suas imagens, textuais e fotográficas, atraiam milhares de pessoas. Muitos, doentes, outros tantos, apenas indivíduos modernos, que assim se fizeram a partir da descoberta de fazer a experiência de seus próprios limites. Determinadas pessoas contribuíram decisivamente para a celebração desse lugar como reduto da cura. O prazer, desdobrado em uma nova maneira de experimentar o corpo, tornou-se também um artefato da modernidade. Médicos e literatos inauguravam uma nova maneira de escrever sobre essas cidades. Os mistérios das águas atrelados ao fascínio da modernidade corroboraram para uma civilização muito específica das cidades hidrominerais. Os balneários, lugares eleitos pelos indivíduos modernos, nada mais eram do que a mistura da dor e do prazer, locus da individualidade para a experimentação de novas sensações, antes contidas no refinamento de um autocontrole das emoções humanas dentro do processo civilizador. Esses sentimentos de dor e de prazer, a escuta de si próprio no momento privativo do banho189, a

183 Jornal Vida Social 24 de fevereiro de 1924. n° 327 Anno VIII. 184

Idem

185

Jornal Vida Social, Suplemento de 10 de fevereiro de 1924.

186 Jornal Vida Social. 25 de setembro de 1924. n° 358. Anno VIII. 187 Idem

188

Vilegiatura significava uma viagem até um local previamente determinado e único, durante uma temporada. Baseava-se mais no repouso do que no movimento impresso pela viagem. Foi uma prática social distintiva, de que só uma classe abastada podia dispor. Cf: QUINTELA, op. cit. p.10

189 Sensual no Banho: A água se turva – amorosamente – de ondas de rosas/risonhas entre o musgo e o mármore

puro/porque uma carne ilumina o azul úmido/ acaba de mergulhar ai com os rodopios de ondas felizes / ... O banhista! ... o seu riso é o segredo!/ as carícias da água, seus desejos maduros se abrandam/t você aprecia a clareza fresca, essas flores que beijam/ seus seios de pérola, seus braços claros, teu corpo madrepérola/ e você se pasma com os clarões de

luz/ Desdenhoso/ dos amantes e das pessoas jovens! O banhista/ Você que dentro da piscina, espera a hora ou o súbito/ as fogueiras se acendem vermelhas no céu vazio/ sua nudez se inflama e você nada esplêndida/ na rica luz obscena do banho...

emergência do lazer e sua comercialização contribuíram definitivamente para o surgimento de inúmeras formas de sociabilidade cultural, nas estações termais do país. A surpresa, outro sentimento moderno, possibilitava o encontro tenso das relações, individuais e coletivas, ajustadas antes de tudo, por prescrições médicas fundamentadas na antiga tradição hipocrática. A água, elemento civilizador harmonizava o espaço ritualizado entre as distrações, os prazeres e as obrigações descortinando-se em cenas sociais que se iam constituindo numa nova e inesperada maneira de vivenciar e experimentar essas cidades brasileiras.

Luxurieuse au Bain

L’eau se trouble – amoureusement – de roses vagues Riantes parmi la mousse et lê marbre pur,

Car une chair, illuminat l’humide azur,

Vient d’y plonger, avec des ronds d’heureuses vagues!... …O baigneuse! … de ton rire c’est le secret!...

Aux caresses de l’eau, tes mûrs désirs s’apaisent Tu chéris la clarté fraíche et ces fleurs qui baisent Tes seins de perle, tes brás clairs, ton corps nacré. Et tu te pâmes dans les lueurs! Dédaigneuse Des amantes et des jeunes gens! O baigneuse, Toi qui , dans la piscine, attends l’heure ou soundain Les bûchers s’allument, rouges, sur le ciel vide, Ta nudité s’enflamme et tu nages splendide Dans la riche lumière impudique du bain…

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