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CAPÍTULO 5 – CULTURA ORGANIZACIONAL E INFORMACIONAL

7.6 Entrevistas

7.6.2 Entrevista com o Gerente da Empresa B

Na categoria ‘Tecnologias de Informação’, assim como em relação às demais, a prioridade foi permanecer dentro do modelo conceitual, no qual as relações entre pessoas e tecnologia são mensuradas a partir do uso e do desempenho proporcionado pelas TICs, além de assistir aos comportamentos informacionais. Frisando que não se trata de contagens de freqüência de aparição, a presença do uso das TICs pode ser confirmada, apesar de ser uma ferramenta que se encontra presente na empresa, de forma breve, cuja implantação foi/é considerada “tranqüila” pelo sujeito. A palavra “tranqüila” parece indicar a ausência de barreiras e a ampla aceitação dos indivíduos/usuários pelas TICs adotadas. O uso é confirmado pela indicação da melhoria do processo decisório, da melhoria dos processos que envolvem a troca de informação, além de ajudar na busca da

informação. Porém, as informações que circulam nos sistemas de informação da empresa parecem advir como produtos dos processos realizados internamente, ou seja, as tecnologias de informação implantadas são usadas, visando otimizar o ambiente informacional interno da empresa. O sujeito nega que possa existir o uso de ferramentas básicas como a Internet – usada para prospectar, coletar e monitorar informações do ambiente externo – . Esse assunto se vincula às fontes de informação, abordado na categoria ‘Informação’ (Apêndices F).

A categoria ‘Tecnologias de Informação e Comunicação’ indica que existe aceitação desse tipo de ferramenta, em relação ao uso e melhoria no desempenho das pessoas, pois considera particularidades da empresa para adaptar a tecnologia à mesma. Contudo, é uma tecnologia explorada de forma insuficiente, situação sustentada e explicada por uma das crenças da cultura informacional da empresa.

A categoria ‘Informação’ (Apêndices F) demonstra a presença de ações, referentes à execução do comportamento informacional, tais como: a identificação das fontes de informação, uso da informação, acesso à informação, busca, identificação de fontes de informação. Também é possível verificar a presença de dependência com relação a um tipo de fonte de informação, bem como o desperdício de recursos destinados ao trabalho da informação. O acesso à informação é basicamente realizado de maneira informal, sem a preocupação em registrar a informação nos sistemas. Podendo ocorrer por meio de conversas, principalmente reuniões, de maneira insuficiente. Se o sistema não funciona corretamente, dificulta os fluxos de informação, constituindo barreira ao compartilhamento e à troca de informação.

È relevante destacar que as fontes de informação são restritas aos fornecedores e representantes da empresa, que são as fontes da empresa. Nesse sentido, fases ou ações da ICO são impraticáveis para essa realidade, tal como a prospecção e o monitoramento do ambiente da organização.

Portanto, a informação que circula na empresa não possui a finalidade de inovar processos e produtos, e nem proporcionar vantagem competitiva.

A categoria dedicada a discutir processos da cultura informacional da empresa trata de três temas: ‘Socialização’, ‘Mudança’ e ‘Comunicação’ (Apêndices F).

No primeiro tema, buscou-se abordar e fazer emergir o principal tipo de socialização que ocorre na empresa, qual seja, o treinamento. A título de

caracterizar a socialização que ocorre na empresa, identificou-se a presença do treinamento informal, principal característica da socialização no ambiente organizacional. Não existe um processo obrigatório pelo qual os indivíduos que ingressam na empresa ou que mudam de cargo e função são submetidos, com o intuito de fazê-los conhecer as tarefas e particularidades do cargo e da empresa. Sendo assim, não existe a tentativa de gerenciar o comportamento informacional dos indivíduos, pois não são expostas as regras, normas e tudo aquilo que é considerado correto para a empresa, isto é, as pessoas são norteadas pelo próprio bom senso e pela capacidade de aprender e assimilar os elementos e processos da cultura da empresa no dia-a-dia, para que possam praticar comportamentos adequados aos padrões da organização.

Outro processo considerado relevante para a cultura informacional é o da ‘Comunicação’ (Apêndices F). O tema visou evidenciar a existência de barreiras entre os líderes e os liderados, bem como o papel desempenhado para construir o conhecimento, além do compartilhamento de informação. A fala do sujeito indica a ausência de barreiras entre líderes e liderados, resultando em um fluxo de informação mais aberto. Além disso, deve-se supor que se trata de comunicação face a face, ou seja, sem a presença ou interferência das TICs. O fluxo de comunicação de informação é em parte informal ou, talvez, totalmente informal. Sendo assim, os fluxos informais parecem predominar na empresa, bem como os incentivos e demais elementos da cultura informacional. Portanto, o processo de comunicação presente na empresa não visa intensificar os fluxos de informação formais ou informais, mas se concentra, sobretudo, na troca de conhecimentos sobre os processos operacionais.

O terceiro processo inserido na categoria versa sobre a ‘Mudança’ (Apêndices F), onde o mais importante é demonstrar a adaptação da empresa frente às ferramentas tecnológicas e ao ambiente externo. A fala do sujeito indica que a empresa se adapta à tendência do que é apresentado no mercado, ou seja, se o ambiente externo da empresa muda, principalmente no que tange à concorrência, a organização adota, de fato, semelhante movimento. Além disso, a fala do gerente deixa transparecer que os indivíduos que dela fazem parte devem se adequar às novas ferramentas, seja em relação às TICs, seja em relação aos maquinários adquiridos para seguir as novas tendências do mercado. É importante ressaltar que a mudança e a adaptação são inerentes ao ramo de calçados e, nesse sentido,

pode-se inferir que a mudança, por acontecer freqüentemente no ambiente da empresa, talvez produza impactos menos significativos, principalmente porque a empresa está “sempre buscando a inovação”, além de considerar que “tem que se adaptar” para continuar atuando. Essa tendência em considerar que a mudança é inerente à ação da empresa é relevante para a cultura informacional, porque apresenta certa relação com as inovações das TICs; portanto, a predisposição em mudar poderia indicar também a presença da cultura informacional.

Em relação à categoria ‘Comportamento Informacional’ (Apêndices F) existem indicações e confirmações advindas do próprio sujeito sobre a presença da troca, da disseminação, da confiança e do compartilhamento de informação. Constatou-se que os incentivos ao comportamento estão restritos a motivações externas aos indivíduos, principalmente no que diz respeito às retribuições financeiras da empresa para aqueles que respondem com comportamentos positivos às solicitações. Embora a fala do sujeito não tenha colocado de forma explícita sobre os incentivos financeiros para os comportamentos gerais dos indivíduos, supõe-se que esse tipo de incentivo possa ser estendido a qualquer tipo de comportamento.

O compartilhamento de informação e de conhecimento, ainda que praticado na empresa, parece apresentar limitações e, portanto, impossibilidade de uma prática viável, cujas finalidades sejam a construção do conhecimento e a tomada de decisão fundamentada nessa ação. Portanto, os indícios apontam para a presença de comportamentos informacionais que visam a execução das tarefas mais rotineiras, sem o intuito de praticar a cultura informacional da empresa. Poder-se-ia colocar como hipótese, a partir do exposto, que talvez não exista a cultura informacional, pois se uma das formas de praticar a cultura é por meio do comportamento, então, o fato de não existir a prática poderia ser estendido à cultura?

Considerada uma categoria importante e inserida na categoria maior ‘Pessoas’, “Líder e Herói’ (Apêndices F) é um tema que, para a cultura informacional, não trata de discutir questões de poder e autoridade, mas os meios que proporcionam a relação entre líderes e liderados, bem como o produto dessa relação. Foi identificada a presença de comportamentos favoráveis em relação à cultura informacional por parte dos líderes, pois buscam a participação e colaboração dos liderados.

Outra questão evidenciada refere-se à comunicação favorável entre líderes e liderados, constituindo um canal aberto à solução de problemas, sejam eles profissionais ou pessoais. Uma última questão é relacionada ao repasse de informação que ocorre entre líderes e liderados. Apesar de seguir a hierarquia e, portanto, a estrutura rígida da empresa, existe a preocupação em manter todos informados. Essa categoria apresenta-se positiva, enquanto item importante para a constituição da cultura informacional.

A categoria destinada a expor a ‘História’ (Apêndices F) e os momentos críticos que marcam essa história encontra um fato importante narrado pelo sujeito: a empresa passou por uma fase de risco de extinção, ou seja, por algum fator não mencionado pelo sujeito, existiu o risco real da organização deixar de existir. O mais provável é que tenha sido alguma influência/impacto gerado pela política econômica do país. Contudo, a empresa conseguiu se readaptar e neutralizar as influências negativas sobre as ações organizacionais. No contexto mais recente da história da empresa está a adoção das tecnologias de informação, usadas com o intuito de serem ferramentas auxiliadoras dos sistemas de informação. Integrar e dinamizar o fluxo de informação podem ser os motivos principais para a implantação dos sistemas.

Não foi verificada a presença de algum momento crítico na implantação/adoção de TI, pela empresa, a não ser da necessidade de informação demandada pela empresa. Considerada o principal fator que a alavancou, a informação foi essencial para mudar o estado de paralisia ou inércia, que ameaçou a existência da empresa.

A partir da categoria que discute e evidencia as características dos ‘Valores’ (Apêndices F) da cultura informacional da empresa, registra-se a ausência da valorização explícita e direta em relação à informação e às tecnologias de informação e comunicação. Contudo, é relevante frisar alguns pontos presentes na fala do sujeito pesquisado. Um deles diz respeito à valorização das pessoas enquanto membros de um grupo, visto como uma família, pelo sujeito. Outro ponto diz respeito ao cumprimento das tarefas e objetivos individuais, ou seja, busca a execução das responsabilidades individuais e grupais. O terceiro valor identificado refere-se à valorização da pessoa enquanto produtora e executora das ações. Nesse ponto, é interessante acrescentar que não basta executar e atingir os objetivos diários para cada tarefa, pois a pessoa é valorizada em relação à

quantidade daquilo que produz. Como último valor e, talvez, o mais importante, porquanto aproxima a empresa da cultura informacional, é a valorização do conhecimento das pessoas da empresa, que se constitui como um valor voltado a cultura informacional.

Com relação à categoria ‘Normas e Costumes’ (Apêndices F) o que se pode constatar é a presença de comportamentos gerais aprovados, não específicos ao comportamento informacional. Além disso, a empresa demonstra preocupação com as normas que regem os padrões de qualidade, visto ser mais uma exigência do mercado atual. Também foi possível verificar a presença da aceitação das pessoas que trabalham na empresa, sobre o que é imposto pelas normas. O mais próximo de um costume, na fala do sujeito é a afirmação de que “ninguém briga”, ou seja, os indivíduos se comportam costumeiramente de tal forma que confrontos e divergências não existem. O que, também, não acrescenta muito em relação à cultura informacional.

Um outro elemento considerado importante para a cultura informacional é a ‘Crença’ (Apêndices F), que, traduzida em tema e subcategoria, se apresentou brevemente no discurso do sujeito. A primeira crença identificada é a presença da idéia de que todas as pessoas da empresa participam com suas idéias (informação e conhecimento). A segunda, cuja presença foi notada, é a crença de que o ambiente e a concorrência do ramo de calçados são previsíveis, por isso, classificados como “reto”, pelo sujeito, além de homogêneo em relação às condições e recursos aos quais todas as empresas têm acesso.

Portanto, principalmente, no que diz respeito à última crença, existe a possibilidade de despreparo da empresa em perceber o ambiente competitivo no qual está inserida, e não estaria preparada para galgar vantagens, pois acredita que não existem.

7.7 Avaliação das Culturas Informacionais das Empresas