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2 ESTUDOS DE RECEPÇÃO: ASPECTOS TEÓRICOS E

2.2 Metodologia do Trabalho de Campo

2.2.2 Entrevista

Outra técnica utilizada para obtenção de dados foi a entrevista, utilizada tanto com os produtores e apresentador do programa Tempo Quente quanto com a família participante do estudo de recepção. Segundo Duarte e Barros (2005, p. 62), a entrevista individual em profundidade é

[...] técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas respostas, não quantificação ou representação estatística.

A entrevista procura reunir respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, que foi selecionada justamente por deter informações a respeito do que se deseja conhecer, caso da presente pesquisa sobre o programa. Segundo Duarte e Barros (2005, p. 62-63),

[...] os dados não são apenas colhidos, mas também resultado de interpretação e reconstrução pelo pesquisador, em diálogo inteligente e crítico com a realidade. Nesse percurso de descobertas, as perguntas permitem explorar um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado, analisar, discutir e fazer prospectivas. Possibilitam ainda identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada.

Existem vários tipos de entrevista. No presente estudo foi utilizada, tanto com o apresentador do programa quanto com a família do bairro, a entrevista aberta, realizada a partir de um tema central e com a participação do pesquisador nos termos do informante. A entrevista parte de um tema e flui livremente, sendo aprofundada em determinado rumo de acordo com o objetivo do pesquisador. O entrevistado, por sua vez, é quem define os termos da resposta. Como não se trata de um questionário fechado, ele utiliza como referência seus conhecimentos, percepção, linguagem, realidade e experiência. Assim, uma resposta dá origem à pergunta seguinte e uma entrevista auxilia a direcionar a próxima. “A capacidade de aprofundar as questões a partir das respostas torna este tipo de entrevista muito rico em descobertas” (DUARTE; BARROS, 2005, p. 65).

Segundo esses autores, é necessária uma adequada formulação de procedimentos metodológicos para que se possa obter dados confiáveis. Para ele, validade e confiabilidade no uso dessa técnica estão relacionados a três questões:

1. seleção de informantes capazes de responder à questão da pesquisa; 2. uso de procedimentos que garantam a obtenção de respostas confiáveis;

3. descrição dos resultados que articule consistentemente as informações obtidas com o conhecimento teórico disponível (DUARTE; BARROS, 2005, p. 68).

Na presente pesquisa procurou-se seguir os pressupostos indicados por esse autor para garantir a confiabilidade e a validade das informações obtidas. A seleção dos informantes foi intencional; tendo-se em vista que, para dar informações sobre o apresentador e seu programa a fonte primária seria ele mesmo. No caso da família, era importante que assistisse ao programa e estivesse em um bairro de periferia entre aqueles que, eventualmente, aparecem no programa. Esses foram os critérios utilizados para a seleção dos participantes da pesquisa. Como instrumentos de coleta foram utilizadas anotações e, sempre que possível, a gravação.

Além da entrevista aberta, foram realizadas, com a família participante do estudo, entrevistas semi-estruturadas, em que foram focadas determinadas temáticas que são as próprias mediações. Para essa etapa, as entrevistas realizadas por Lopes, Borelli e Resende (2002), em seu estudo sobre telenovela, foram utilizadas como guia, por se entender que eram adequadas também à recepção do programa estudado.

Entrevista do consumo: buscou-se saber o que os pesquisados consomem em

em suas rotinas. Buscou-se também saber as preferências de gêneros e programas. Assim, é possível perceber como o receptor utiliza os meios.

Entrevista da subjetividade: procurou-se obter dados sobre o modo como o

entrevistado percebe a sua realidade e a realidade apresentada pelo programa, com ênfase nas representações feitas dos acusados de crimes, principalmente quando moradores da comunidade.

Entrevista do gênero jornalístico: objetivou-se saber o grau de compreensão do

produto entre os telespectadores; o grau de confiança e cumplicidade com o apresentador e se a linguagem utilizada é compreendida por eles. Também se buscou identificar se havia um repertório compartilhado entre produtores e receptores.

A história de vida também foi utilizada. Esse é um tipo de entrevista em profundidade em que se pede ao entrevistado que conte ou descreva sua história. Isso foi feito tanto com apresentador quanto com os membros da família para captar, da perspectiva do sujeito, as conexões de sentido que dão lugar às respostas. Normalmente, a história de vida implica uma série sucessiva de entrevistas em que o papel do entrevistador é apenas orientar a narração e ajudar o trabalho de rememorização. No caso do apresentador, o foco era sua história profissional e as entrevistas foram feitas no período de acompanhamento do programa, entre a primeira e a segunda edição, uma vez que, devido às ameaças, poucas pessoas têm acesso à sua intimidade. A pesquisa, entretanto, não foi prejudicada porque cumpriu a proposta de analisar a produção do programa, a construção da identidade do apresentador e as representações que faz em seu programa.

Na família avalia-se que um pouco mais de tempo para as entrevistas poderia ter proporcionado um resultado mais aprofundado, mas não se percebeu prejuízo para os objetivos do estudo.