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ENTREVISTA: O “QUASE-DIÁLOGO” NO RADIOJORNALISMO

3 JORNALISMO EM MÚLTIPLAS CONCEPÇÕES

3.4 ENTREVISTA: O “QUASE-DIÁLOGO” NO RADIOJORNALISMO

Se na notícia o jornalismo, dentre os vários gêneros, tem a particularidade da síntese da informação, e na reportagem a possibilidade investigativa de um fato, é na entrevista - no jogo de perguntas e respostas - que o acordo ou o “quase-diálogo”28 acontece. Mesmo com dificuldade de classificação padrão, pois todos os gêneros jornalísticos são notícias, não há fronteiras estabelecidas e são formas interpretadas e apropriadas pela linguagem. Souza sustenta que:

A entrevista enquanto gênero jornalístico deve distinguir-se da entrevista enquanto técnica de obtenção de informações por meio de perguntas a outrem. A entrevista, enquanto técnica de obtenção de informações, é indissociável da atividade jornalística: o jornalista faz entrevistas sempre que contata fontes. No entanto, o jornalista nem sempre usa o género [sic] jornalístico ‘entrevista’ para divulgar as informações recolhidas” (SOUSA, 2005, p. 171 e 172).

Na entrevista a interação verbal pela conversação se manifesta. Suas técnicas, muito utilizadas na psicologia, emprestam à atividade jornalística, metodologias e formatos de um “quase-diálogo” num espaço constituído de reciprocidade e intersubjetividade.

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Lage (2001, p. 103) o define como “o primeiro parágrafo da notícia em jornalismo impresso; por extensão, a abertura do texto nos noticiários radiofônicos”. Conforme o autor, o lead clássico, a partir dos critérios de noticiabilidade seria ordenado do aspecto mais importante para o de menor importância.

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Segundo Kock (1992, p. 13) é “[...] a manifestação concreta de uma frase, em situações de interlocução”. Já segundo a autora a enunciação determina no discurso “os porquês” na utilização de determinados enunciados em condições e circunstâncias distintas.

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Nomenclatura adotada na presente pesquisa devido a impossibilidade de uma simetria completa entre o entrevistador e entrevistado nos veículos de comunicação.

Para Lage (2001, p. 73) é pela entrevista que o jornalismo relaciona de maneira explícita fatos e fontes.

A entrevista é o procedimento clássico de apuração de informações em jornalismo. É uma expansão da consulta às fontes objetivando, geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos.

A palavra entrevista é ambígua. Ela significa:

a) qualquer procedimento de apuração junto a uma fonte capaz do diálogo;

b) uma conversa de duração variável com personagem notável ou portador de conhecimentos ou informações de interesse para o publico;

c) a matéria publicada com as informações colhidas em (b).

A metodologia imposta pelo entrevistador ou por determinado veículo de comunicação de massa nas entrevistas e a sua aplicação prática com o entrevistado estabelece o exercício, a efetivação do poder ou a proximidade com as formas de diálogo. De qualquer forma jamais a troca de informação na mesma proporção, a simetria, será alcançada. Conforme Bueno (2002) a assimetria e a unilateralidade orientam a entrevista na qual um pergunta ou responde mais do que o outro, numa efetiva variação de autoridade à alteridade entre os envolvidos.

As formas de preparação e condução da entrevista são essenciais para que o entrevistador ou o entrevistado conquiste seus objetivos. Nessa perspectiva excluem-se perguntas rotineiras, pautas pré-estabelecidas e a exagerada liderança na relação do “quase- diálogo”.

É preciso oportunizar e ouvir o entrevistado mediando e questionando-o a partir de suas considerações.

Às vezes, a entrevista deixa de ter aquele vivo interesse humano que a deve caracterizar tornando-se assim monótono, mecânica e relativamente sem valor. Isso se deve não ao conhecimento do rico intercâmbio entre o pensamento de uma pessoa e outra, mas à ignorância que nos leva a considerar a entrevista como rotina de perguntas preestabelecidas e obtenção de respostas a serem registradas (GARRETT, 1991, p. 17).

Além da questão técnica, a situação psicológica também influencia no momento da entrevista. A falta de experiência de um entrevistador ou a insegurança do entrevistado em opor-se à determinada situação pode ocasionar respostas prudentes, tendenciosas e até mesmo bloqueios.

É na entrevista que a criatividade e o improviso acrescem à referencialidade do discurso noticioso, espaços para um “quase-diálogo” ou um acordo. Caberá ao entrevistador ter a aptidão para conduzir e preparar o conteúdo, acomodar o entrevistado, encadear

perguntas e respostas e ter a sensibilidade para driblar atitudes inesperadas. Assim, a partir do envolvimento do entrevistado, a técnica e o gênero entrevista poderão se constituir como interação social.

A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais. Pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação (MEDINA, 1995, p. 8).

No diálogo interativo, a partir dos veículos de comunicação de massa, a entrevista pode possibilitar, além da atuação de entrevistador e entrevistado, a manifestação do público. Erbolato (1985 apud SOUSA, 2005, p. 172 e 173) distingue as seguintes categorias para o gênero entrevista:

a) Quanto à origem: entrevistas de rotina e caracterizadas;

b) Quanto ao estilo: entrevistas perguntas-respostas e discurso indireto; c) Quanto aos entrevistados: individuais e de grupo;

d) Quanto aos entrevistadores: coletiva e pessoal;

e) Quanto ao tipo: personalidade, declarações, mista, inquérito ou mesa- redonda;

f) Quanto ao tamanho: curta e grande.

Fraser Bond (1959 apud FERRARETTO, 2001, p. 272 e 273) propunha a uma categorização, descrevendo mais cinco modalidades de entrevistas: a noticiosa, de opinião, com personalidade, de grupo e coletiva.

As entrevistas podem acontecer ao vivo, por gravação, por telefone ou por escrito. Uma das primeiras que se tem notícia, no Brasil e no mundo, foi com José Bonifácio de Andrada e Silva, no jornal O Tamoyo, em 2 de setembro de 1823. O patriarca da independência foi o fundador do jornal e o primeiro a ocupar um ministério no reino em 1822 (ALTMAN, 1995).

No radiojornalismo, a coloquialidade e as perguntas com períodos curtos e diretos prevalecem. O entrevistador deve sempre reconduzir sua fonte a discorrer sobre a temática proposta, evitando transgressões. Ferraretto (2001, p. 177) afirma que a arte da entrevista “reside em um ciclo de saber perguntar, ouvir a resposta, reprocessar o que foi dito e questionar novamente”:

Figura 2 – Estrutura padrão utilizada para notícia no radiojornalismo. Fonte: FERRARETTO, 2001.

Com a expansão dos mercados, a constituição de veículos de massa e, como consequência, a mitificação29 e o culto à personalidade, a mídia consegue pela entrevista transformar cidadãos em estrelas com um frequente risco de sensacionalismo. Para Medina (1995), o segredo para o “diálogo possível” nas entrevistas está em equilibrar a expressividade com a eficácia da informação.

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