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OS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE

3 JORNALISMO EM MÚLTIPLAS CONCEPÇÕES

3.2 OS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE

A informação sempre esteve presente no rádio, desde 1920, a partir de um funcionário da Westinghouse, Frank Conrad, na Pensilvânia, que intercalava a leitura de notícias, a partir dos jornais, e músicas nas programações (JUNG, 2004).

Os propósitos, as intenções e o maniqueísmo do jornalismo pragmático precisavam se organizar no tempo e no espaço para atingir seus objetivos a partir de uma realidade múltipla que necessitava ser fragmentada para a sua representação.

Então, foi necessário estabelecer critérios ou requisitos para a rotina de produção, para que o jornalismo pudesse empreender seu poder político, econômico e ideológico. Caberia aos jornalistas, diretores ou editores o poder de decidir como construir as narrativas e o que seria publicado mediante os acontecimentos.

A forma de intervenção da realidade para a produção de informação (newsmaking) nos meios de comunicação de massa passou a definir dois limites, segundo Wolf (2003, p. 188): “[...] a cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos produtivos”.

É preciso estabelecer uma ordem para o excesso, a previsibilidade ou a imprevisibilidade dos fatos. É neste momento “que os critérios de noticiabilidade, usados como um conjunto de instrumentos e operações que possibilitam ao jornalista escolher os fatos que vão se transformar em notícias evidenciam-se nos valores-notícia” (PENA, 2005, p. 73).

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O sensacional passou a fazer parte da produção jornalística. Como nas industrias é necessário chamar atenção e vender, neste caso com a particularidade de vender notícia com estratégias de sedução para leitores, telespectadores e ouvintes.

Embora o “fazer jornalismo” envolva mais do que a produção de notícias, é com ela que a perspectiva teórica do newsmaking está preocupada.

A “negociação” pragmática entre jornalistas, fontes e organizações define os critérios de noticiabilidade: diferentes forças e interpretações, que atuam na composição e organização das informações.

Em síntese, julgo poder dizer, retomando a proposição inicial, que a noticiabilidade, a seleção e a hierarquização informativa de acontecimentos e dados sobre esses acontecimentos passam então, como vimos, por critérios que, em jeito de conclusão, parecem partilhar (a) influências pessoais (como as idiossincrasias de um jornalista, (b) um pendor social, sobretudo organizacional, por exemplo, relacionado com a postura social da organização noticiosa (como a inter-relação desta com os restantes

news media), (c) um pendor ideológico, visível, por exemplo, no destaque noticioso

dados às figuras-públicas do poder político e econômico e (d) um pendor cultural, resultante das culturas profissionais, de empresa e do meio (SOUSA, 2002, p. 99). Cada veículo de massa, mediante seu contexto, estabelece os próprios critérios de noticiabilidade, seus sistemas de valores para informar, distorcer, fragmentar e aprofundar os temas apresentados. A partir da noticiabilidade pode-se delimitar uma componente, os “valores/notícia (news values)”, que conforme cita Wolf (2003) obedecem aos seguintes critérios:

a) Substantivos: grau de importância e o número de envolvidos no acontecimento; impacto sobre a nação e interesse nacional; relevância;

b) Relativos ao produto: brevidade; atualidade; qualidade (ação, ritmo, caráter exaustivo e clareza da linguagem); equilíbrio;

c) Relativos ao meio de comunicação: frequência; acessibilidade; formatação; d) Relativos ao público: proteção; identificação; serviço;

e) Relativos à concorrência: exclusividade; expectativa; modelos de referência. Além desses critérios, Sousa (2002), Lage (2001) e Ferraretto (2001) ainda acrescem a imprevisibilidade, continuidade e negatividade.

Na preparação das notícias são os critérios de noticiabilidade, com os valores- notícia, que determinam a forma de abordar os fatos e acontecimentos.

[...] Os valores/notícia funcionam, concretamente, para tornarem possível a rotinização do trabalho jornalístico. Isto é, são contextualizados nos procedimentos produtivos, porque é aí que adquirem o seu significado, desempenham a sua função e se revestem daquela aparência de << bom senso >> que os torna, aparentemente, elementos dados como certos (WOLF, 2003, p. 217 e 218).

apuração (nas fontes), passam pela edição e terminam na apresentação pública. O resultado ou o impacto do ato comunicativo é consequência do papel que desempenham numa “cadeia comunicativa” que, conforme apresenta Eco (1984, p. 168) pressupõe os seguintes elementos:

A cadeia comunicativa pressupõe uma Fonte (ou Emissor) que, por meio de um Transmissor, emite um Sinal através de um Canal. No fim do Canal, o Sinal, através de um Receptor, é transformado em Mensagem para uso do Destinatário. Essa cadeia normal de comunicação prevê obviamente a presença de um Ruído ao longo do Canal de modo que a Mensagem deva ser redundada para que a informação seja transmitida de modo claro. Mas o outro elemento fundamental dessa cadeia é a existência de um Código, comum tanto à Fonte quanto ao Destinatário. Um Código é um sistema de possibilidades prefixadas e só com base no código estamos aptos a determinar se os elementos da mensagem são intencionais (desejados pela Fonte) ou consequência do Ruído.

A necessidade de obter um fluxo intenso de informações faz com que na fase de apuração ou recolha, os jornalistas possam contar com as fontes pessoais ou independentes, institucionais, oficiais e oficiosas que dão credibilidade e legitimam aquilo que se noticia:

As fontes oficiais são sempre as mais tendenciosas. Têm interesses a preservar, informações a esconder e beneficiam-se da própria lógica do poder que as colocam na clássica condição de Instituição. Governo, institutos, empresas, associações e demais organizações estão nessa categoria. Como classificação conceitual, entretanto, se a pessoa que fala por elas não está autorizada, então a fonte é oficiosa. E quando não tem nenhum vínculo direto com o assunto em questão, trata-se de uma fonte independente (PENA, 2005, p. 62).

As agências de informação, empresas especializadas na cobertura de acontecimentos, completam a classificação das fontes, segundo Wolf (2003). O autor salienta que os critérios para a escolha ou preferência de determinadas fontes em detrimento de outras dizem respeito à oportunidade antes correspondida, sua produção, crédito; respeito e garantia junto aos jornalistas e organizações. Além disso, as agendas de serviços também constituem num método, mesmo perseguido por alguns jornalistas, de organizar fontes para emitir informações em acontecimentos noticiados dados como certos.

Na edição, os fatos passam por uma triagem e são selecionados a partir de interpretações e critérios do jornalista e do veículo de massa. É a etapa que muitas vezes descontextualiza os fatos da realidade social e os recontextualiza a partir do formato dado a notícia pelos critérios de noticiabilidade (WOLF, 2003).

A apresentação pública é a última fase de produção de notícias no jornalismo. Caberá ao público avaliar, consumir ou descartar o que foi noticiado. O processo de reconhecimento torna-se difícil, uma vez que é mediado e orientado sistematicamente por

estratégias de manipulação, persuasão e ordenação dos acontecimentos.

A noticiabilidade não é um processo estático. Sua performance dinâmica a partir das diferentes relações entre jornalistas, veículos e fontes faz com que sua atuação seja heterogênea e composta por diferentes variáveis.