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Noticiabilidade da enunciação radiofônica

5 RÁDIO E DIFUSÃO: ASPECTOS SOCIAIS E INSTITUCIONAIS

5.3 A ENUNCIAÇÃO RADIOFÔNICA: ASPECTOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS

5.3.1 Noticiabilidade da enunciação radiofônica

Na complementação do estudo dialógico da fala, a partir de cortes simbólicos da enunciação e dos enunciados no rádio, o jornalismo como prática social tem o “papel de

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Cançado (2005) apresenta a distinção entre hiponímia e acarretamento. Para autora, este se dá pela relação entre sentenças e aquela, relação entre palavras. No acarretamento o sentido de um enunciado está no sentido

organizar discursivamente”, conforme Gomes (2000, p. 19), antes mesmo de informar, orientar e entreter.

O excesso de fatos que chega aos estúdios impede que todos se transformem em notícias. A perspectiva teórica do newsmaking procura organizar no tempo a lógica de produção, o que, não isenta o poder de decisão de alguns jornalistas sobre como, ou não, vão elaborar e divulgar as notícias. A sistematização de critérios foi descrita por alguns autores como Wolf (2003), Lage (2001), Traquina (2004), Pena (2005) e Sousa (2002). Na versão desses autores, a Teoria do Newsmaking define requisitos para a rotina de produção, além de estratégias para a conquista da audiência. Assim, os critérios de noticiabilidade ou os valores- notícias contemplam os seguintes elementos: proximidade, atualidade, factualidade, identificação (humana e social), intensidade, ineditismo, oportunidade, importância, qualidade, equilíbrio, composição e formato para os conteúdos. As fontes, “[...] fatores determinantes para a coleta e qualidade de informação [...]” (Wolf, 2003, p. 222) dividem-se em duas partes: “a primeira, referente às partes, propriamente ditas, e a segunda, às agências de informação”. Para o autor as fontes constituem-se a partir de fatores como: “[...] a. a oportunidade antecipadamente revelada; b. a produtividade; c. a credibilidade; d. a garantia; e. a respeitabilidade” (WOLF, 2003, p. 225).

Como condição para a enunciação jornalística no rádio, e, consequente atuação de sua performance mediatizada, a notícia é definida segundo Lage (2001) como um fragmento de aparência que se constitui a partir de uma enunciação, uma transformação e uma ação. O autor acrescenta que a organização da notícia se dá pelos “componentes lógico e ideológico”. A seguir, ao resgatar o exemplo (1) tem-se na notícia, coletada em 05 de abril de 2006:

Quadro 06 – Descrição dos Critérios de noticiabilidade na notícia

Critérios de Noticiabilidade – A Teoria do Newsmaking (Condição de Enunciação Jornalística)

Valores-Notícia Fontes

Proximidade

Ex.: “[...] bem conhecida a rua [...]”

Independente

Ex. 1: “[...] pessoal ontem tava me ligando [...]”

Ex. 2: “[...] Os moradores da rua João Praxedes [...]”

Ex. 3: “[...] duas senhoras me ligaram ontem, no final da tarde dizendo o seguinte: [...]”

do outro. Porém, as sentenças não precisam necessariamente serem verdadeiras. Pode-se obter a negação que, ainda sim, não ficarão contraditórias.

A indeterminação do sujeito de referir-se genericamente aos envolvidos evidencia mencionar nomes para abster o enunciador. A Secretaria de Obras não foi ouvida e, implicitamente mencionada na notícia, nem contatada. A instituição como fonte, neste caso, apresentaria – ao menos - duas versões, tão requisitada pela prática e “objetividade” jornalística.

Atualidade ou Factibilidade

Ex.: “[...] Tem uma ponte de madeira ali e o pessoal ontem tava me ligando”.

Identificação Social

Ex.: “[...] Tem um enorme buraco no meio da ponte [...]”.

Importância e Relevância

Ex.: “[...] se não tomar providências o mais rápido possível, se essas tábuas não forem trocadas daqui a pouquinho pode cair uma criança ali que se utiliza da ponte pra vir pras escolas”.

Equilíbrio

A notícia levou, em média, 30 segundos para a leitura. O equilíbrio entre o tempo e a clareza do ato de enunciação contribui para o entendimento da informação, mesmo com as alternâncias de períodos caracterizados pela redundância.

Oportunidade

Ex.: “[...] Então a gente chama a atenção da Secretaria de Obras. A ponte fica ali na rua João Praxedes, [...]”

Formato

Os aspectos de maior para os de menor importância hierarquizam a notícia enunciada e atendem a regra geral da prática jornalística ao responder as clássicas seis perguntas do lead.

O quê? A ponte está numa situação precária, com um buraco no meio e solicitam intervenção da Secretaria de Obras

Quem? Os moradores reclamam e estão ligando

Quando? A reclamação aconteceu ontem. Onde? Na rua João Praxedes, no bairro Passo do Gado

Como? As motos que não deveriam passar continuam transitando pelo local

Por quê? Necessidade de utilização. Os moradores (pedestres, ciclistas e

motoqueiros) necessitam utilizar o meio para irem aos trabalhos e as escolas.

Os períodos dos enunciados seguem-se um após o outro, pela ordem direta, marcados pela redundância, linguagem coloquial e voz ativa.

Nota-se, a partir do exemplo (1), os seguintes aspectos de Teoria do Newsmaking, que a notícia contempla muitos dos critérios de noticiabilidade com os valores-notícia”, com exceção das fontes oficiais ou institucionais que não foram ouvidas, como a Secretaria de Obras, por exemplo.

No Programa Show do Rádio da “Super” Tubá, corpus do presente estudo, seria natural apostar, após pesquisa de campo e entrevistas, os critérios de noticiabilidade propostos pela Teoria do Newsmaking não se caracterizam como um manual pré-estabelecido para os jornalistas, mas um modelo teórico sugerido a partir da própria atuação desses profissionais. Leva-se em consideração a característica do improviso na rotina de produção por falta de conhecimentos ou enquadramento argumentativo, que Breton (2003, p. 89) denomina de “apelo a pressupostos comuns”.

A tabela a seguir apresenta os critérios de noticiabilidade que também fazem parte da entrevista, exemplo (2), coletada em 14 de novembro de 2005. Do tipo noticiosa, de opinião, com personalidade, grupo, enquete ou coletiva, segundo Ferraretto (2001) tem a finalidade de obter informação ou opinião a partir de um diálogo entre entrevistador e entrevistado. Medina (1995, p. 8) completa a definição: “A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais/ pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação”. A autora atenta que a interação entre entrevistador/entrevistado na prática da entrevista deve buscar na criatividade do diálogo diferentes iniciativas e formas para não pasteurizá-la numa pauta fechada com perguntas e respostas.

O equilíbrio entre a informação e o subjetivismo das opiniões é essencial para que a entrevista possa estar mais próxima do diálogo social, do que do advento de um acordo.

Quadro 07 – Descrição dos Critérios de noticiabilidade na entrevista

Critério de Noticiabilidade – A Teoria do Newsmaking (Condição de Enunciação Jornalística)

Valores-Notícia Fontes

Proximidade

Exemplo fala do LOC 1: “[...] O ex- governador Esperidião Amin vai estar na região da Amurel, dias 24, 25 e até 26 deste mês. O que que está programado pra ele aqui na região?”

Exemplo fala do DEP: “[...] Mas aqui na minha região, até pra compensar um pouco da ausência [...]”.

Institucional Ex. fala LOC 1:

“[...] vamos ao telefone conversar com o deputado Joares Ponticelli”

Ex. fala DEP:

“[...] eu apresentei – portanto há um ano e meio atrás – o requerimento de número 67/04 que foi aprovado na Assembléia [...]”

Atualidade ou Factibilidade

Exemplo fala do LOC 1: “Bem, então nos dias 24, 25 e 26 toda essa programação sendo desenvolvida aqui na nossa região [...]”

Exemplo fala do DEP: “[...] Isso já no dia 25, em São Martinho. E, depois, retornaremos a Tubarão. No dia 26, pela manhã, nós vamos fazer uma visita [...]” Identificação Social

Exemplo fala do LOC 2: “Bom, outro assunto, na semana passada o senhor apresentou algumas fotos da Escola Noé Abati [...]”

Exemplo fala do DEP: “[...] a situação precária que se encontrava o prédio do Noé Abati [...]”

Identificação Humana (olimpiana)

Exemplo fala do LOC 1: “E o ex-governador é bom de bola?”

Exemplo fala do DEP: “[...] o ex-governador teve tanta sorte que não foi arranjado não, ele acabou dando certo, marcou um gol. Daí o Ginásio inteiro fez igual ao Pelé, saiu da partida no auge.”

Importância e Relevância

Exemplo fala do LOC 2: “O senhor vai continuar cobrando então?”

não desaba na cabeça das crianças. Por pouco não provoca uma tragédia.”

Equilíbrio

A entrevista durou, em média, 8 (oito) minutos. O equilíbrio entre o tempo, a clareza do ato enunciativo, o conhecimento prévio e articulação entre locutores e entrevistados para os assuntos abordados é essencial para o sucesso da entrevista. Na entrevista em análise foram abordados dois assuntos (a programação da vinda do ex- governador para a Amurel e a situação precária do prédio da Escola Noé Abati, sem progressão relacional dos locutores na passagem de uma informação a outra, conforme exemplo:

LOC 2: “Bom, outro assunto, na semana passada o senhor apresentou algumas fotos da Escola Noé Abati na Assembléia Legislativa, né? Qual foi o motivo?”

Oportunidade Olimpiana

Exemplo fala do DEP: “Olha, eu tenho feito uma programação com o ex-governador Amin, o ex-presidente Hugo Biehl em todo o Estado, uma vez que os dois são pré- candidatos ao governo”

Oportunidade Noticiosa

Exemplo fala do DEP: “(...) No dia 7 de fevereiro, 7 de abril de 2004, eu apresentei – portanto há um ano e meio atrás – o requerimento de número 67/04 que foi aprovado na Assembléia, dirigindo a Secretaria de Educação [...]”

Formato/Tipo

Percebe-se na entrevista a disposição de dois formatos: o noticioso e o opinativo.

O primeiro apresenta as informações e os fatos articulados pelo entrevistado, descrevendo-os numa narrativa.

Já o segundo formato leva em consideração a opinião e credibilidade da fonte, e sua importância ou relevância são o que determinam a qualidade no que se apresenta, uma característica do “olimpiano” que universaliza sua particularidade.

Intensidade

Exemplo fala DEP: “[...] À noite, fui em Nova Veneza onde filiamos 384 novos companheiros nossos do partido. Depois fui

para a festa do 11, em Sangão, uma festa pra juventude que reuniu mais de 1000 pessoas no município [...]”