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Capítulo II – Enquadramento Metodológico

4. Técnicas de recolha e análise dos dados

4.1. Entrevista

Utilizámos a entrevista como uma técnica de recolha e análise de dados, devido à sua adaptabilidade aos sujeitos e aos contextos, e, principalmente, para compreender o que foi observado pelo investigador aquando da observação direta. Segundo Ketelle e Rogiers,

“[a] entrevista é um método de recolha de informações que consiste em conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas selecionadas cuidadosamente, a fim de obter informações sobre factos ou representações, cujo grau de pertinência, validade e fiabilidade é analisado na perspectiva dos objectivos da recolha de informação. “ (1999, p. 22)

Quivy e Campenhoudt (1992) referem que os métodos de entrevista salientam a comunicação e a interação humana, permitindo que o investigador retire informações e elementos muito reflexivos, quando o entrevistado exprime as suas perceções,

interpretações e/ou experiências acerca de um determinado tema. Para Estrela (1994), a entrevista tem como finalidade a recolha de dados de opinião, que permitem facultar pistas para a caraterização da investigação e para conhecer os intervenientes do estudo.

De acordo com Bogdan e Biklen, “[a]s boas entrevistas produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas dos respondentes.” (1994, p. 136). A entrevista permite-nos aceder ao que não é diretamente observável nos sujeitos, nomeadamente: sentimentos, pensamentos e intenções. O investigador deve, previamente, recolher informações acerca do tema investigado e acerca do entrevistado; não deve induzir as respostas; deve conduzir a entrevista para os objetivos pretendidos, através de perguntas pertinentes, numa linguagem acessível ao entrevistado. Para a sua preparação têm de se selecionar os tópicos, elaborar as questões, considerar os métodos de análise e preparar e testar um plano. Os mesmos autores referem, ainda, que se deve ter em atenção a parcialidade do investigador no processo da entrevista, já que é difícil, por parte do mesmo, evitar o seu ponto de vista em relação ao tema. Deve exercer um controlo constante sobre ele próprio e estar ciente dos problemas, de forma a ter um cuidado especial na formulação das questões, procedendo com total objetividade.

A imparcialidade é um ponto muito importante, na medida em que os investigadores não devem influenciar os entrevistados. O investigador deve ser objetivo, imparcial e colocar as questões de forma consistente, evitando o seu ponto de vista em relação aos temas abordados. O investigador deve, também, estipular uma hora e um local adequado, de modo a que a entrevista ocorra sem incidentes e sem serem incomodados. Deve informar o entrevistado do objetivo da investigação e da duração prevista da entrevista, tentando não ultrapassar esse tempo. O investigador deve ser honesto e integro na condução e na reprodução das entrevistas. (Bell, 2008)

Na investigação qualitativa, existem vários géneros de entrevistas e diversas terminologias, segundo o autor que se tenha referência.

Bogdan e Biklen (1994) distinguem as entrevistas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas. Esta classificação tem por base a flexibilidade do guião, ou seja, se o entrevistador segue rigidamente o guião (estruturada), se, inicialmente, o entrevistador coloca uma questão e as restantes vão surgindo de acordo com as respostas e estímulos do entrevistado (não estruturada) ou se o entrevistador tendo um guião, pode adequar-se ao entrevistado, alterando a ordem das questões e colocando outras (semiestruturada).

Carmo e Ferreira (2003) abordam a tipologia de Grawitz (1983), que apresenta seis tipos de entrevista, classificados em três grupos: as entrevistas dominantemente

informais (entrevistas clínicas e entrevistas em profundidade), as entrevistas mistas (entrevistas livres e entrevistas centradas) e as entrevistas dominantemente formais (entrevistas com perguntas abertas e entrevistas com perguntas fechadas). A diferença entre elas caracteriza-se pelos objetivos a que se propõem, dependendo da situação onde e em que ocorrem e divergindo também no grau de estruturação de estratégia, tal como as anteriores referidas por Bogdan e Biklen (1994).

De acordo com Máximo-Esteves (2008), existem vários géneros de entrevistas, tais como a entrevista em profundidade (pouco estruturada, com questões abertas), a entrevista de história de vida ou biográfica (estrutura muito branda, longos monólogos

do entrevistado), a entrevista focalizada em grupo (focus group – pouco estruturada,

grupo de cinco a dez sujeitos familiarizados com o tema em estudo) e a entrevista semiestruturada (guião estruturado e flexível).

A entrevista, segundo Sanches (1995), é a estratégia mais usada na metodologia qualitativa, optando-se, nesta investigação, pela sua utilização numa perspetiva semiestruturada, conduzida a partir de um guião, cuidadosamente preparado para obedecer aos objetivos do estudo. Burnaford (2001) mencionado por Máximo-Esteves,

“… considera que as entrevistas são um instrumento muito útil na investigação- acção, não só para os professores aprenderem, mas também para desenvolverem a comunicação com os colegas acerca dos seus contextos de trabalho e até mesmo para captar a perspectiva dos pais acerca da aprendizagem dos alunos.” (2008, p. 99)

No início da investigação, durante o mês de fevereiro, elaborou-se um guião, com o intuito de se poder realizar uma entrevista a cada um dos encarregados de educação das alunas que participaram no estudo (anexo 1). Este guião foi composto por seis

blocos: I – Legitimação da entrevista e motivação do entrevistado; II – Apoios

recebidos; III – Relação da família com outros agentes educativos; IV – Caraterização linguística e funcional da criança; V - Perspetivas para o futuro e VI – Agradecimento.

Elaborou-se, também no início da investigação, um guião de entrevista aplicado à DEE (anexo 2), composto por seis blocos: I – Legitimação da entrevista e motivação

do entrevistado; II - Conhecimento da docente face aos currículos funcionais e suas

implicações; III - Planificação da intervenção para crianças com défice cognitivo com Currículos Específicos Individuais; IV - Estratégias adotadas com alunas com Currículos Específicos Individuais, V - Continuidade do currículo funcional a nível organizacional e familiar e VI – Agradecimento.

No final do estudo, durante o mês de junho, elaborou-se um novo guião de

Legitimação da entrevista e motivação do entrevistado; II – Opinião da docente face ao plano de intervenção; III – Resultados da intervenção; IV – Continuidade do plano de intervenção a nível profissional; V – Agradecimento.

Realizaram-se, assim, quatro entrevistas individuais, que decorreram no gabinete de Educação Especial do Agrupamento de Escolas.

Aquando a entrevista, na primeira fase, procedeu-se ao esclarecimento do primeiro bloco referenciado no guião, ou seja, legitimou-se a entrevista e motivou-se o entrevistado para a mesma. Solicitou-se autorização para proceder ao registo da entrevista, através de um gravador áudio e garantiu-se o anonimato do entrevistado. De seguida, colocaram-se as questões referidas no guião e outras, que tentaram explicitar melhor os objetivos propostos, às quais os entrevistados responderam de uma forma sintética e direta.

As entrevistas foram posteriormente transcritas (anexo 4, 5, 6 e 7).

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