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Capítulo II – Enquadramento Metodológico

4. Técnicas de recolha e análise dos dados

4.2. Observação direta

Tal como refere Lafon (1963), citado por Ketelle e Roegiers (1999, p. 23), a observação requer “… concentração electiva da actividade mental que comporta um aumento da eficiência num sector determinado e a inibição das actividades concorrentes.”. Este processo, dentro do campo percetivo disponível para o observador, requer um ato inteligente de modo a selecionar as informações pertinentes e adequadas para o estudo, de encontro ao quadro teórico de referência (Ketelle & Roegiers, 1999). É uma faculdade que tem de ser treinada e a concentração da atenção é uma regra para evitar a dispersão, aprendendo-se praticando (Máximo- Esteves, 2008). Por sua vez, Bell (2008), frisa que é necessária muita prática para se planear e conduzir estudos de observação, mas depois de dominada, estes estudos podem revelar características de sujeitos ou de grupos, “… impossíveis de descobrir por outros meios.” (p. 161).

Segundo Carmo e Ferreira (2003) o observador tem de saber identificar indícios através de um treino persistente da atenção, tem de ter um boa preparação empírica e teórica e uma sólida formação metodológica. Para estes autores e para Bogdan e Biklen (1994) um bom observador deve ter capacidade para se distanciar do objeto de estudo, esteja este em que situação estiver, e deve ter capacidade de interpretação de determinados comportamentos face à diversidade cultural.

Quivy e Van Campenhoudt (2003) referem que a validade do processo de observação depende do rigor e da precisão dos registos de observação, sendo necessário planear criteriosamente o quê e como observar.

Para Ketelle e Roegiers (1999, p. 24), “[o]bservar alguém é lançar um olhar sobre ele, é possui-lo como objecto.”, ou seja, o processo de observação permite um conhecimento dos fenómenos tal como eles acontecem num contexto determinado, num espaço característicos e próprio onde decorrem as interações e as ações dos sujeitos que nele vivem (Máximo-Esteves, 2008). Observar é saber selecionar, através do recurso à metodologia e teoria científica e através dos órgãos dos sentidos, informação pertinente para descrever, interpretar e agir na realidade em estudo (Carmo & Ferreira, 2003).

Patton (1990) refere que a observação possui muitas vantagens, nomeadamente, permite ao observador compreender o contexto em estudo, permite transcender as perceções seletivas dos sujeitos e ganhar informação oculta ou não disponível.

Para Bell (2008) existem dois tipos de observação: a participante e a não participante. Segundo Carmo e Ferreira (2003) as técnicas de observação distinguem- se pelo envolvimento do observador no contexto do objeto de estudo, ou seja, pode ser participante, participante despercebida pelos observados ou não participante.

Na observação participante o investigador assume o seu papel perante os sujeitos observados, participando na vida desses sujeitos. Lacey (1976), citado por Bell (2008, p. 162), define a observação participante como “…a transferência do indivíduo total para uma experiência imaginativa e emocional na qual o investigador aprendeu a viver e a compreender o novo mundo.”. O observador não é passivo, participando em atividades relacionadas com o estudo ou desempenhando algum papel no contexto que está a ser estudado (Yin, 1994). Este tipo de observação permite que se entenda, profundamente, o estilo de vida de uma população, contudo, é muito morosa.

A observação participante despercebida pelos sujeitos, segundo Carmo e Ferreira (2003), permite que o observador passe tenuemente e desapercebido aos sujeitos observados, nomeadamente, estudos sobre os comportamentos de uma claque de futebol ou estudos sobre expressões associativas de grupos minoritários.

Na observação não participante o observador não interage com o objeto de estudo e está distanciado e, por vezes, oculto dos sujeitos. Reduz a interferência do observador no observado, dando o primeiro autorização para ser observado. Esta técnica permite a utilização de instrumentos de registo sem influenciar o grupo e possibilita o controlo das variáveis a observar. É uma técnica limitada, segundo Carmo e Ferreira (2003), pois só algumas instituições possuem o equipamento adequado necessário para se realizar estes estudos.

Estrela (1994) apresenta como formas de observação direta: a observação naturalista, a observação ocasional e a observação sistemática.

A observação naturalista caracteriza-se pela descrição dos comportamentos dos sujeitos no seu contexto natural, sem seleção das dimensões nem dos elementos a observar, permitindo a acumulação de dados não seletivos. Estes dados serão analisados segundo as características, a ligação com a situação em que surgem e com os objetivos do estudo. Não havendo uma seleção das situações nem dos comportamentos a observar, a observação naturalista exige que se registem todos os comportamentos e é na análise dessa continuidade que se pode obter a significação intrínseca dos comportamentos.

A observação ocasional incide nos comportamentos ou situações que são significativos perante os objetivos do estudo, realizando-se, ocasionalmente, através de um conjunto de procedimentos de registo de uma situação-problema, para a qual se utiliza, geralmente, a técnica dos incidentes críticos (Flanagran, 1954, citado por Estrela, 1994)

O mesmo autor refere, ainda, que a observação sistemática implica uma seleção dos aspetos a observar e, normalmente, exige a elaboração de um instrumento de recolha de dados, nomeadamente, uma escala de graduação, uma lista de verificação ou uma grelha de registo de categorias ou sinais. A elaboração destes instrumentos decorre, por vezes, de resultados de análises de observações naturalistas.

Neste estudo, optou-se pela observação sistemática e, para tal, elaborou-se uma grelha de observação em escala graduada que permitiu avaliar as competências da linguagem oral e escrita das alunas, atendendo ao nível real de escolaridade da amostra do estudo. Para a elaboração desta grelha, baseámo-nos na check-list da Association for Children and Young People with Speech and Language Difficulties (1984) e nas Metas de Aprendizagem para a educação Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico (2010). A grelha foi preenchida, através de observações diretas, pela DEE e pela PI à Sofia (anexo 8) e à Alice (anexo 9).

Com o intuito de se avaliarem os objetivos de cada uma das sessões, foram ainda elaboradas grelhas de observação em escala graduada, preenchidas, através de observações diretas, pela PI (anexo 10).

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